Fernando
 Fernandes foi campeão nacional, ibérico, europeu, intercontinental e 
mundial numa vida desportiva dedicada ao Kickboxing. É um caso ímpar de 
sucesso desportivo. Prémio Stromp, um orgulho para qualquer atleta do 
nosso clube, concedeu-nos uma entrevista exclusiva na antecâmara da sua 
visita ao 
podcast Sporting160.
A
 primeira parte dessa entrevista em formato escrito foca os momentos 
enquanto atleta, na segunda feira à noite falaremos com ele sobre o que 
tem sido a sua vida enquanto treinador e como foi a experiência de 
escrever um livro.
O Kickboxing chegou à vida de Fernando Fernandes em 1983. De que forma? Já tinha praticado algum desporto antes?
Como
 já tive oportunidade de referir várias vezes, o filme Luta de Gigantes,
 protagonizado por Chuck Norris, teve um papel decisivo no meu início no
 KickBoxing. O filme era especial porque foi o primeiro que debateu o 
início da modalidade que tinha acabado de surgir. Para além deste 
impulso, comigo as coisas têm acontecido de forma bastante natural e não
 tenho dúvidas de que o espírito do desporto de combate já estava dentro
 de mim, e este filme apenas despoletou aquilo que eu andava à procura.
No
 meu início tenho de destacar o papel fundamental do Mestre Raúl 
Cerveira do Judo Clube de Portugal, em Outubro de 1980, pois foi com ele
 que comecei a treinar.
Entrou para o Sporting em 1992, como era a sua vida de Sportinguista antes disso? Com vivia o dia a dia do clube?
Era
 praticamente como hoje com a diferença que na altura estava do lado de 
fora e agora estou dentro de um sonho, o de estar dentro e a trabalhar 
no Sporting.
Desde
 pequeno seguia bastante o dia-a-dia do Sporting e o que fazia desde 
muito novo foi aumentando ao longo dos anos. Foi como amador que 
conquistou os seus primeiros títulos relevantes, campeão nacional de 
kickboxing em 90 e 91, campeão europeu e ibérico de full contact em 90. 
Que memórias guarda desses tempos?
Guardo
 o facto de ter sido o início e preparação de uma longa caminhada, mas 
guardo ainda mais que nessa fase era tudo muito baseado em ilusão e 
sonho, no querer fazer mais, ir mais além, era tudo uma descoberta, uma 
novidade e sobretudo ainda era tudo muito “puro”, ou seja, a forma como 
tudo era encarado ainda era com uma grande dose de juventude mas 
essencial para preparar as base da minha carreira.
Depois
 entrou no Sporting onde viria a conquistar os títulos mais importantes 
da sua carreira. Quer nos contar como foi a passagem para o Sporting?
A
 minha passagem para o Sporting deu-se num momento em que já tinha 
relevância no desporto, fruto dos títulos que já tinha conquistado, e a 
isto conciliou-se o facto de na altura o Sporting através do Carlos 
Rodrigues, que coordenava as modalidades de combate no clube ter 
decidido avançar com o KickBoxing e andar à procura da pessoa certa para
 criar e comandar a nova modalidade. 
Falaram
 comigo e chegámos à conclusão que tendo em conta os objetivos do clube e
 as minhas características, tudo junto se fundia na perfeição e que era a
 pessoa certa para fundar o KickBoxing.
Quais são os passos fundamentais para passar de Amador para Profissional, e que sacrifícios são necessários?
A
 passagem claro que é difícil mas considero que é sobretudo uma questão 
de aumentar o nível de treino e também o competitivo para um patamar 
muito mais duro. O nível passa a ter de ser superior em todos os 
aspetos, como a parte técnica e velocidade e potencia, que claro, passam
 a ser mais difíceis. 
Exemplo
 da mudança é que em amador utiliza-se capacete e em profissional não, 
parece algo simples mas reflete bem a grande diferença. 
Viveu
 um período incrível enquanto atleta profissional do Sporting nos anos 
de 92 a 94. Foi 3 vezes campeão nacional, 2 vezes campeão europeu, 
intercontinental e o célebre título de campeão mundial em 94. Foi o 
período mais áureo da sua carreira, sentia-se invencível? 
Nunca
 me senti invencível e acho que se o tivesse sentido não teria 
conquistado muitos dos títulos que conquistei, sentia sim com capacidade
 e preparação para enfrentar qualquer atleta, e que conseguia vencer 
qualquer um. Isto aliado ao trabalho e a minha vontade, foram os fatores
 decisivos para ir conquistando títulos. 
Quem foi a sua referência no KickBoxing? Tinha algum ídolo? 
A minha grande referência era/é o Jean-Yves Thériault. 
Em
 1994 foi distinguido com o prémio mais importante que o Sporting pode 
atribuir, Stromp na categoria Especial Mundial. Um orgulho, certamente, o
 que nos pode contar sobre esse momento? 
Sempre
 foi para mim difícil descrever esse tipo de momentos mesmo sendo único 
como é o caso, mas a palavra que melhor descreve o que senti, é 
reconhecimento. No momento para além da muita alegria e orgulho, sentido
 muito reconhecimento. 
Fez
 23 anos que o Fernando Fernandes foi campeão do mundo em Kickboxing. O 
encontro foi transmitido na SIC em directo, a Nave de Alvalade estava 
completamente cheia com 1.500 espectadores. Como foi esse dia, esse 
momento absolutamente histórico?
Sem
 dúvida um dos dias mais felizes da minha vida. Sinto que muito do que 
fiz durante a minha carreira foi para me preparar para aquele momento, 
um momento perfeito, foi em Portugal, foi em nossa casa, nave cheia com o
 apoio de quem melhor sabe apoiar, tudo. Todos os dias me recordo e me 
recordam aquele momento. 
Mais um momento que me deixa muito orgulhoso e feliz pois foi história e ficará para sempre na história.
Com
 este título, o Fernando Fernandes entrou para a restrita lista de 
campeões do mundo que foram atletas do Sporting, Carlos Lopes, 
Ramalhete, Rendeiro, Sobrinho, Xana, Livramento e Chambel. Como é ver o 
seu nome ao lado destes incríveis atletas?
É
 ser um atleta tão bom como eles mas numa modalidade diferente. É algo 
que me deixa muito orgulhoso porque está e ficará para sempre na 
história. 
A
 sua história enquanto treinador mistura-se com a de atleta, o Fernando é
 o grande responsável pela escola de formação do kickboxing do Sporting,
 onde em 2013 já tinham recebido mais de 10 mil atletas. Sente-se uma 
referência para tantos e tantos jovens que passaram pelas suas “mãos”? 
Nunca
 fui de falsas modéstias e respondo que sim, sobretudo porque felizmente
 o que fiz no passado e tenho feito não é esquecido e é constantemente 
reconhecido. Por exemplo, todos os dias há alguém que vem falar comigo 
por me conhecer ou também porque é pai de algum ex-atleta ou atleta ou 
também por já ter sido meu atleta. O que conquistei penso que me 
legitima para me poder sentir uma referência para os mais jovens, é algo
 normal, quando somos mais jovens e não só, temos as nossas referências e
 no desporto costumam ser aqueles que mais vencem, portanto acho natural
 eu sentir-me uma referência, mas é algo que gosto principalmente por me
 obrigar sempre a estar em alto nível em todas as áreas. 
Que conselhos pode dar a um jovem que quer seguir o KickBoxing? 
Os
 melhores conselhos que posso dar são o de escolher o treinador e a 
equipa que se identifiquem com ele, com os seus objetivos e com a sua 
forma de ser. Isto para mim é o principal, o resto, ambição, sacrifício,
 etc é algo basilar na vida.