Play-off da Liga dos Campeões, o "ponto de Arquimedes" de toda uma época?
Arquimedes dizia que se lhe dessem um ponto de apoio ele conseguiria mover a Terra. É sob esse princípio que funcionam as alavancas. O nível de exigência da tarefa que Jorge Jesus tem pela frente não é tão grande, mas ninguém ignora a enorme importância do play-off da Liga dos Campeões na época do Sporting.
O cumprimento de um dos objectivos da época logo no seu início equivaleria a um importante reforço da confiança do grupo e dos adeptos. Tão importante como o prestígio ou o acesso a receitas extraordinárias que mais nenhuma competição permite. Poderia equivaler à alavancagem necessária para uma boa época.
O contrário equivalerá à formação de condições de instabilidade sempre desnecessárias, mais ainda num momento tão precoce da época. Não só pelo histórico de mingua de bons resultados, apesar do avolumar de investimentos, mas também por ter pela frente um adversário que, pelo menos no campo teórico, está perfeitamente ao seu alcance.
Sporting 2017 versão 1.0?
A importância do deste jogo é tal que é bem provável que algumas decisões finais sobre a constituição do plantel estejam ainda por tomar. É nesse enquadramento que estará o reforço da defesa, a possibilidade de partida de William e/ou Adrien e até mesmo o reforço do ataque. Provavelmente estamos ainda a ver a primeira versão da temporada, que durará pelo menos até à definição do futuro europeu do Sporting, ou até mesmo ao dia 31 deste mês.
O primeiro obstáculo, o Desportivo das Aves, foi ultrapassado sem brilhantismo, mas revelando já com alguma consistência. Na presença maciça de adeptos, o Sporting esteve num plano muito razoável a defender e, mesmo sem conseguir aproveitar a eficácia de Dost e sem nota artística elevada, facturou por duas vezes, mantendo intacta a baliza de Patrício.
A recepção ao Setúbal confirmou a solidez defensiva, algo que tinha deixado algumas notas de preocupação nos jogos de pré-época. Mas este segundo jogo mudou o foco das atenções para os sectores mais adiantados, deixando perceber que há ainda muito para afinar na construção do jogo ofensivo. Num cenário que se irá repetir a cada recepção, os oitenta e sete minutos que levou a conseguir desfazer o nulo justificam as dúvidas sobre o estado de prontidão da equipa para estes jogos com adversários muito preocupados em permanecer fechados atrás.
O que poderá mudar?
A disputa do play-off com os romenos do Steua de Bucareste representará outro tipo desafio bem diferente do que encontrou nas duas primeiras jornadas. E, independentemente do que aconteça na eliminatória, há retoques que continuam a parecer necessários a esta versão inicial. A classificação torna-os mais exequíveis do ponto de vista financeiro e quase obrigatórios para enfrentar o grau de exigência da Liga dos Campeões.
Mesmo considerando apenas o consumo interno, o reforço da defesa parece desde já inevitável. E ainda mais obrigatório se torna perante a intenção de JJ em jogar com três defesas. Se as primeiras opções pareceram estar à altura, as dúvidas são ainda muitas relativamente à capacidade atlética de enfrentar o elevado número de jogos e curto espaço de tempo e são ainda maiores relativamente às segundas linhas. Mathieu e Ceontrão estão na primeira linha das interrogações.
Tobias ainda precisa de crescer e dificilmente o conseguirá jogando pouco, sendo muito mais provável nessas condições de ir acumulando erros e hesitações quando for chamado. André Pinto tem ainda que provar que está à altura e que não sente a diferença do peso da camisola. As laterais estão fechadas, estando finalmente encontrada a concorrência para Piccini. Não falta aqui ninguém?...
À data de hoje a linha intermediária parece ser o sector que menos preocupações inspira. Os problemas sentidos o ano passado cada vez que Adrien se ausentou por lesão e o mesmo sucedia com a melhor forma de William parecem pertencer mesmo ao passado. Há pelo menos dois elementos por posição e em alguns casos (posição 6, p.ex.) até mais do que um. E de tal forma assim é que apenas a saída do segundo (William) significaria um ida obrigatória ao mercado, pela especificidade e importância das suas funções no colectivo de Jesus. As primeiras impressões revelam um Bruno Fernandes capacitado para ser o substituto de Adrien caso a partida se confirme.
Enquanto nos interrogamos se afinal Doumbia é parceiro ou alternativa a Bas Dost há outra dúvida que ressalta: pode o Sporting enfrentar a época com apenas estes dois pontas-de-lança? Depois é também claro que as soluções encontradas para servir para o holandês são pouco provásseis de funcionar com êxito com Doumbia. Uma possível ausência por lesão ou castigo de Dost representará sempre uma enorme contrariedade a que acrescerá a obrigatoriedade de alteração da forma de jogar. Basta até olhar para as soluções disponíveis em número e qualidade para os treinadores rivais para se perceber necessidade de existência de um terceiro "ultimo elemento", isto é, um "9".
Muitas destas dúvidas poderão ter na eliminatória com o Dínamo de Bucareste a resposta ou a solução. Como se dizia acima, começar a cumprir os objectivos da época logo no seu dealbar é um reforço de um dos pilares de uma boa época: a confiança.
Nota: este artigo foi escrito para o site Fairplay
Steaua Bucareste
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