O comboio fantasma de Alvalade
Rúben Amorim
Tem uma grande virtude: dá a cara e não se refugia em desculpas. Mas precisa de parar para pensar. Precisa de maior jogo de cintura e de ser menos dogmático. Não apenas na questão do sistema e do modelo, porque não tem a importância que lhe estão a dar, as pessoas gostam geralmente de novidades mas por vezes nem as percebem quando estas passam por baixo dos olhos.
É pouco importante mudar para 442 ou 433 se as dinâmicas não estiverem bem compreendidas e rotinadas e se não existirem jogadores com caraterísticas para executar. Mais importante é perceber que os avançados não estão a ser bem servidos, que o recurso ao cruzamento constante não é caminho e porque se abandonou a procura do jogo interior. Porque jogamos quase sempre em inferioridade numérica no meio campo e os adversários aparecem de forma tão consentida nas zonas centrais da nossa defensiva, onde fazer golo é sempre mais fácil.
A este propósito ressaltou do clássico um nota que pode ter passado despercebida: o FCP teve a sorte do jogo e não jogou melhor que nós. Mas ainda assim dispôs de três oportunidades apenas com Adan pela frente. Nós apenas uma, que Chermiti falhou. O Sérgio Conceição percebeu há muito que para ganhar jogos, além de poder contar aqui e ali com "a mão que embala o berço", é preciso presença física para quando os solistas não estão inspirados.
Mais a questão do avançado único (e não pode ser Chermiti a única alternativa a Paulinho) tal como as questões de mérito: Adán não pode andar a dar casas atrás de casas e seguir como se nada fosse. Dessa forma está a dizer aos outros que lá estão que aconteça o que acontecer não conta com eles. Se assim é então não acautelou devidamente todas as eventualidade.
O Presidente / o CD
Varandas
nunca foi nem será um presidente popular. Nem nunca fez nem fará para o
ser. Mal andará o Sporting se a relação com o clube, o que nos faz ir
aos estádios e pavilhões depender do "estilo do presidente".
Cabe à liderança apontar o caminho. E esse papel é ainda mais determinante quando as dúvidas se instalam e os maus resultados impõem um nevoeiro amnésico sobre onde estávamos, o que éramos há bem pouco tempo e o que foi conseguido em duas boas épocas. É preciso sair do silêncio e isolamento, falar com as bases, apontar o rumo.
A
nobreza - e a força - do Sporting está nos valores que defende e não na
origem social exclusiva dos seus adeptos. E o Sporting é clube de raiz
popular, uma federação de vontades, credos e paixões muito diversas. É
preciso saber o que pensa e onde anda esse povo. Porque não vão à bola,
ao andebol, ao hóquei, etc. Nenhum dirigente do Sporting deveria poder
dormir tranquilo ao olhar para as bancadas despidas no pavilhão e do
estádio.
O Público / os adeptos
Os adeptos são essenciais mas apenas quando jogam com a equipa. E jogar com a equipa é por vezes fazer das tripas coração quando as coisas correm mal e gritar, gritar em apoio. Assobiar a equipa quando mais precisa é juntar-se ao adversário. Insultar o presidente é responsabilizar os jogadores, que sentem a culpa como ninguém (como ontem se percebeu pelo que disse Pote) porque têm uma relação de grande estima e confiança muito próxima com ele e com o treinador. De outra forma estão a dar razão a quem acha que o titulo só foi possível porque não estava ninguém nas bancadas.
Ninguém é obrigado a gostar do Sporting e no seio de muitos adeptos Varandas é desde sempre um nome riscado. Em alguns o ódio é latente, nunca perdoaram a eleição após a destituição do CD anterior. Alguns haverá até que sofreram com o titulo conquistado, pelos sorrisos amarelos, sabe-se lá se uma gastrite ou úlcera até. São os que hoje comentam com ainda maior azedume e esfregam até fazer sangue os maus resultado. Esta é a sua praia, parece que o momento tão ansiado está para chegar.
São os que cantam com gáudio e paixão "Oh Varandas, o que fazes aqui", em total antítese do que deve ser uma claque. É justamente por se terem perdido do seu caminho que estas se tornaram cada vez mais malquistas pelos Sportinguistas. A divisão de bancadas é a subtração da sua força e a instalação da cacafonia em Alvalade. Mal andará o Sporting se o convívio na mesma bancada, se o remar no mesmo barco não puder ter lugar.
Mas é preciso não perder a noção de quando tudo é volátil no futebol e no desporto em geral. Saímos de uma das piores épocas de sempre para um titulo tão desejado e, quando parecia ser possível consolidar o salto dado estamos a lutar novamente contra a adversidade.
É preciso saber viver o Sporting, com paixão sempre, mas sem a negatividade e o tremendismo que nos caracteriza. É preciso saber superar os maus momentos sem o sentimento de catástrofe permanente e ânsia de acerto de contas e desejo de cabeças a rolar. O Sporting não pode ser um clube de formação de dirigentes e profissionais que, depois do curso, estágio, pós-graduação e doutoramento vão exercer para outros lugares. Até o comboio fantasma depois do seu percurso de horrores sai para luz.
Nenhum treinador ganha sempre. Sobretudo se lhe vendem três jogadores titulares de um plantel em construção. Lembro-me de o JJ no galinheiro, fazer duas épocas horríveis, acabando por fazer épocas magníficas. O Liverpool está de rastos, etc, etc.
ResponderEliminarO importante é que temos um excelente treinador que trabalha muito bem e há bases para fazer um trabalho a longo prazo.
A irracionalidade das multidões acaba sempre por triunfar e acredito que em breve voltaremos aos gloriosos tempo de dois treinadores por época e 20 anos sem campeonato. Vê-se por aí muitas saudades. Trocam facilmente a realidade por fantasias.
"Lembro-me de o JJ no galinheiro, fazer duas épocas horríveis, acabando por fazer épocas magníficas." - "Insultos, afirmações provocatórias ou ofensivas serão rejeitados liminarmente" ?
ResponderEliminarAss. B. Salvador, Benfiquista que lê (também) blogs de Sportinguistas.