Como vai o Sporting sair desta tempestade perfeita?
Talvez a última vez sobre Amorim
Quem "folhear" os artigos aqui escritos testemunhará a profunda admiração pelo trabalho do antigo treinador. Mesmo até quando falhou, e foram várias as vezes que tal sucedeu, não deixei de manifestar a minha vontade que permanecesse por muitos mais e bons anos. Mas Amorim queria sair, como ficou demonstrado pelo triste episódio da viagem de verão e que se viria a confirmar agora. Deixei-me iludir pela promessa feita no Marquês, o que foi prometido como "vamos ver" era apenas um compasso de espera por uma proposta irrecusável, não um compromisso solene. Essa proposta irrecusável nunca teria um timing ideal, ter acontecido num momento como o actual, onde se definem as sortes nas diversas competições, acabou por funcionar como verdadeiro terramoto. A ambição de Amorim é legitima e, com frieza, fomos agora vitimas da mesma ambição que o levou a deixar o Braga com poucos meses de liderança no clube.
A hora da SAD demonstrar o estado da arte
Ter que escolher o sucessor do melhor treinador das últimas décadas nunca seria uma tarefa fácil. Porque Amorim não tinha ganho apenas títulos no Sporting, tinha conquistado os adeptos e era o dono do balneário e do plantel que foi construído nos mais de quatro anos de liderança. Frederico Varandas começou por gerir bem a passagem de testemunho, conseguindo a manutenção de Amorim por um período onde foram alcançados resultados importantes que mantêm em aberto as nossas ambições em todas as competições em que estamos envolvidos. Os jogos com o City e Braga parecem tirados de uma produção de Hollywood, pelas exibições, pelos resultados e pelas emoções. Seguir-se-ia a apresentação de João Pereira, onde se dispensaria bem a hipérbole da apreciação sobre as qualidades de um treinador praticamente desconhecido e sem trajecto no futebol ao mais alto nível.
Hoje é fácil castigar a escolha, na altura a todos pareceu natural. Para se defender Varandas poderia escolher um "treinador de topo", como muitas vezes se ouviu dizer. Despejar nomes é fácil, especialmente sem ter em conta quanto custam e se quereriam vir. Pelo que se percebeu nem Abel nem Vítor Pereira quiseram trocar os campeonatos onde militam para o regresso a uma liga menor e pior paga. Mas o que mandam são os resultados e estes é que validam as escolhas e, nesse sentido, João Pereira juntou-se a uma lista de treinadores cuja escolha marcam negativamente os mandatos de Frederico Varandas. São do acaso e méritos de terceiros a contratação de Amorim e o período que se seguiu são mérito exclusivo do próprio treinador. Varandas ficou apenas com a loucura de entregar em mão a choruda cláusula de rescisão a António Salvador.
Varandas não tem muitas preocupações em fazer amigos, quer fora do clube, quer internamente e por isso não surpreende que se assista a considerações como "o Sporting era o Amorim e o resto era paisagem" como uma forma de menorizar o que alcançou o clube sobre a sua liderança e dessa forma todo um clube centenário. Não creio que isso seja uma preocupação para ele e não creio que precise de advogado de defesa. Mas é uma afirmação injusta para o trabalho que tem sido feito na requalificação do futebol profissional do Sporting, muito em particular para as dezenas de profissionais que o suportam. Trabalho esse do qual o próprio Amorim também beneficiou e lhe permitiu evoluir para o treinador que é hoje. O Sporting está hoje muito melhor preparado e de forma transversal para estar à altura das suas ambições. Ninguém ganha sozinho como certamente hoje Amorim percebe melhor do que ninguém em Manchester.
Rui Borges, o que se segue à entrada de Leão?
Acertar na escolha da liderança técnica é um segredo que clubes como por exemplo o Manchester, Arsenal, bem pagariam para possuir. Será ele Rui Borges?
A coragem de assumir uma equipa campeã que se encontrava completamente derrotada logo para um compromisso para o dérby rendeu dividendos ao novo treinador. Enquanto teve pernas o Sporting foi melhor e além de ter sido a única a marcar foi a que criou os lances de maior perigo. Um verdadeiro milagre operado por Rui Borges ao resgatar o plantel das profundezas da descrença e da parede que se parecia ter levantado entre o presente e o passado. Mas o jogo de Guimarães veio recolocar muitas interrogações. Um jogo que até começou bem, mas o hat trick de Gyokeres ajudou a iludir quem não viu a equipa do Sporting demasiadas vezes e demasiado tempo à mercê do adversário.
Não foi uma equipa autoritária, não conseguiu controlar o adversário, não se percebe muito bem como quer pressionar ou reagir à perda e, dessa forma, não surpreende que tivesse menos bola que o antagonista, ao que também não será alheio o facto de acumular erros consecutivos na construção, entregando bolas atrás de bolas. Uma coisa tenho como certa: uma equipa que defende tão mal não consegue ser campeã. Uma equipa com tais ambições não pode perder ou empatar um jogo onde consegue marcar quatro (!) golos.
Não deixa de ser curioso que o que tanto se criticou ao infeliz João Pereira - querer impor rapidamente ideias próprias sobre uma equipa rotinada pelas ideias do antecessor - agora pareça ser o grande mérito do actual treinador. Isto quando ainda por cima existe muito pouco tempo para treinar e por isso para implementação e consolidação de novas ideias. O mais evidente de todas as mudanças operadas por Rui Borges foi o recurso da defesa a quatro. Não sendo propriamente uma novidade, também não é menos verdade que foi nesse sistema que a equipa soçobrou na Supertaça, depois de parecer já com o troféu no bolso, tal como aconteceu agora em Guimarães.
O treinador tem razão quando diz que o sistema é apenas o desenho inicial com que as equipas se apresentam, sendo tão ou mais importante a forma como a equipa o interpreta em função do que o jogo pede. E aí o jogo de Guimarães deixou muitas interrogações. Como pretende ele que a equipa pressione? Como se organiza após a perda? Como reage de forma a evitar a pressão do adversário? `Questões que saltaram à vista pela forma como o Sporting se viu impedido pelo adversário de ter bola, anulando assim a possibilidade Gyokeres continuar a explorar o muito espaço que dispunha. E veremos nos jogos seguintes que ferramentas fornecerá para desmontar os autocarros estacionados em pleno relvado de Alvalade.
Rui Borges tem muito trabalho para frente e sobretudo muitas decisões difíceis para tomar sobre um plantel que não foi construido por si nem à sua imagem e semelhança. Há posições claramente deficitárias em número (para alternativa a Pote, é mais gritante) como em qualidade, sendo a baliza o mais notório. Num campeonato que prevê disputar ao milímetro a posição de guarda-redes tem de valer pontos, mas não para os adversários. Na época passada era possível ser campeão sem guarda-redes, tão poucas oportunidades o Sporting concedia. Este ano não vai ser assim.
O que pude ver de perto em Guimarães, pela posição privilegiada na bancada, foi uma defesa desconfiada de um guarda-redes que não saía debaixo da trave da sua baliza. E já todos tínhamos visto o primeiro golo perfeitamente defensável. De pouco nos valerão os golos de Gyokeres sem uma presença que infunda confiança aos nossos defesas e seja olhado como uma autoridade no seu posto pelos adversários.
Estimado Leão de Alvalade,
ResponderEliminarHá muito tempo que sigo o seu blogue (vários anos mesmo..), sendo a minha referência para outros.
Entendo perfeitamente o seu silêncio durante esta mudança, e no qual me revejo dada a situação.
De muito difícil avaliação e interiorização, pois não tivemos timoneiro… espero termos agora.
Revendo o campeonato nestas últimas jornadas, não sei porquê, dá-me a sensação que o Porto é quem está melhor posicionado para ganhar.
Não digo que estão melhores ou que vão ser muito melhores … mas souberam gerir expectativas, e neste momento são os que têm menos pressão (ainda por cima a fase difícil foi a meio da primeira volta, com derrotas em competições totalmente diferentes), e são os que estão em primeiro, teoricamente, com o melhor calendário!
Valha-nos o Gyökeres e maltinha! E o Lage, claro…
Caro Daniel, antes de mais obrigado pela fidelidade. Relativamente ao meu silêncio segui uma máxima de um amigo com quem falo quase diariamente sobre o nosso clube: se não tenho nada de bom a dizer mas vale ficar em silêncio. E o facto é que á saída de Amorim foi tudo demasiado mau e tão repentino que se tornou dificil perceber o que estava a acontecer. Concordo que neste momento é o FCP a equipa mais equilibrada e o calendário mais favorável. Sobretudo está a ganhar de forma mais ou menos tranquila enquanto me parece que ainda precisamos de tempo para estabilizar. Assim o RB o consiga. O jogo de hoje é por isso tão importante porque não há melhor do doping do que as vitórias. SL
ResponderEliminar