Um Sporting maduro e uma geração que pede passagem
Há jogos que, mais do que pelos golos ou pela estatística, valem pelo que revelam sobre o estado de uma equipa. A vitória do Sporting frente ao Marinhense enquadra-se exatamente nessa categoria: um teste controlado, quase académico, mas cheio de sinais que confirmam o momento sólido que o clube vive — e a profundidade crescente de um plantel que, esta época, parece finalmente preparado para resistir a tempestades.
Rui Borges voltou a apresentar o seu já identificado 3+2 na construção, com Vagiannidis recuado para completar a linha de três e garantir superioridade na fase inicial do jogo. Não era preciso muito para perceber que o plano estava bem oleado: Mangas e Blopa abriram o campo até ao limite e, repetidamente, o Sporting atraiu por um lado para procurar o lado oposto.
Mas o que verdadeiramente marca este jogo não é a tática, mas sim a coragem de mexer. Rui Borges não fez uma revolução completa, mas arriscou o suficiente para percebermos que, hoje, o Sporting tem estofo para navegar por entre lesões, desgaste ou calendários densos. A diferença para a época passada é gritante: o banco já não é um lugar vazio de soluções, mas sim um viveiro de alternativas reais.
Muito desse salto qualitativo explica-se por Alcochete. A equipa B, rejuvenescida mas mais madura, está a competir num ambiente mais duro e exigente — a Segunda Liga — e isso nota-se na forma como os jovens sobem ao palco principal. Não chegam tímidos, chegam preparados. E isso, para um clube que vive tanto da formação, é ouro.
Rodrigo Ribeiro é o exemplo perfeito da importância da paciência. Aos 20 anos, carrega nas pernas mais histórias do que pode parecer a alguém com tão tenra idade. Os empréstimos falhados a Inglaterra e Aves atrasaram-lhe a afirmação, mas o talento parece intacto. Hoje está mais solto, mais leve, mais sénior. Não se sabe ainda a posição onde mais renderá — referência, segundo avançado, — mas percebe-se claramente que voltou a acreditar no seu próprio jogo. E quando um talento acredita, o resto vem por arrasto.
Já Salvador Blopa parece ter acelerado etapas. Tem um perfil fisico diferenciado do que se espera de um extremo e uma forma também diferente de interpretar o jogo. Flávio Gonçalves, por seu lado, foi lançado num jogo já mais morno e por isso não pôde mostrar cabalmente do que é capaz. Alguma cautela nas comparações com Pedro Gonçalves não fariam mal, mas parece ter talento para se poder contar com ele no futuro.
No fundo, o jogo foi sempre do Sporting. Foi resolvido cedo e gerido com serenidade, sem perder foco nem qualidade. E isso, mais do que qualquer goleada, é o sinal de uma equipa adulta: faz o que tem de fazer, sem barulho nem hesitações.
Noite perfeita para testar, rodar, crescer e confirmar que Alcochete continua a ser o motor silencioso que prepara o futuro de Alvalade.
Agora, fecha-se o capítulo da Taça. A Champions espera — e este Sporting, tão profundo como maduro, parece preparado para a chamada.
12:48
Academia, Blopa, Flávio Gonçalves, Formação, futebol formação, Rodrigo Ribeiro, Taça de Portugal 25/26
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