O veredicto do Tio Patinhas de Alvalade sobre as contas do semestre
Como decerto repararam, no passado dia 28 de fevereiro, foram publicadas as contas semestrais da Sporting SAD, que dizem respeito ao período compreendido entre 1 de julho e 31 de dezembro de 2017. Já passaram uns dias, é certo, mas a minha atividade profissional neste início de março não me deixou tempo para as analisar com a calma necessária para poder escrever antes.
No próprio resumo feito pela SAD, verificamos que o volume de negócios atingiu os 82 Milhões de Euros e que o Resultado Líquido do Exercício foi de 10 Milhões de Euros. Ao nível do Balanço, é realçada a diminuição do Passivo Global em 40 Milhões de Euros e uma redução do passivo bancário e obrigacionista em 23 Milhões de Euros.
Ao analisar o Volume de Negócios, verificamos que na generalidade, as receitas exceptuando as transações com jogadores continuam a subir. A participação na Liga dos Campeões rendeu mais 5 Milhões de Euros que o ano passado (prémio de qualificação na pré-eliminatória e mais 4 pontos alcançados na Fase de Grupos) e as receitas com Gameboxes e Bilheteira (aumento de 25% face ao ano anterior).
As vendas na Loja Verde aumentaram cerca de meio milhão de Euros enquanto que as vendas de Material Sporting ao Retalho / Distribuição caíram 225 mil Euros. Exceptuando as receitas operacionais, a outra grande fonte de proveitos tem sido as transacções de jogadores. Mesmo no final da janela de transferências, Adrien foi vendido para o Leicester por 20 Milhões de Euros, abdicando o jogador da sua parte da transferência, conforme o acordo que tinha sido estabelecido com o Sporting, aquando das suas renovações de contrato. Assim, o montante da alienação dos direitos desportivos e económicos de Adrien representa a fatia de leão dos 28,7 Milhões de Euros atingidos.
Por seu lado, os custos operacionais aumentaram cerca de 4 Milhões de Euros, face a igual período do exercício transacto, montante explicado essencialmente por mais um aumento dos Custos com Pessoal, que totalizaram 37 Milhões de Euros no semestre. Verificamos assim que os custos operacionais foram de 54 Milhões de Euros, excedendo 800 mil Euros, os ganhos operacionais (excluem-se os rendimentos relativos à transação de jogadores). E neste parâmetro, salta-me à vista a minha maior preocupação com as contas deste Semestre. Se por um lado, o Resultado Líquido do Exercício é de 10 Milhões de Euros, verificamos que o operacional sem transações é deficitário neste semestre. E no Volume de Negócios, temos uma verba de quase 20 Milhões de Euros relativas à participação na Liga dos Campeões que não existirá no segundo semestre.
Embora o Sporting esteja bem encaminhado para chegar aos Quartos de Final da Liga Europa, os prémios pagos por esta andam bem longe da Liga milionária (e o fosso, vai aumentar ainda mais). Ora sabendo do princípio da especialização dos exercícios, verificamos que as receitas de bilheteira (incluindo Gameboxes) e direitos televisivos deverão ser similares no segundo semestre, pelo que estimo que seja necessário vender jogadores para que o Resultado Líquido do Exercício seja positivo no final do ano. Pelo histórico, prevejo que o Volume de Negócios sem transações com jogadores fique num valor entre os 85 e os 90 Milhões de Euros enquanto que os custos operacionais ficarão muito perto dos 100 Milhões de Euros.
Apesar de no Relatório de Contas referir que o atual Conselho de Administração apostar numa fixação de limites de gastos em função das receitas estimadas, eu gostaria que os Custos de Pessoal não disparassem ano após ano, sem o devido retorno desportivo (pelo menos, no que ao Campeonato) diz respeito. Felizmente que nos últimos anos, a espiral de transferências tem aumentado e o Sporting tem beneficiado bem com isso, tendo algumas transferências atingidos valores muito bons face ao que seria expectável há uns anos atrás. Por se tratar do Relatório Semestral e não do anual (onde os valores são discriminados), ficamos sem perceber o aumento para mais do dobro dos Encargos com os Órgãos Sociais.
No que ao refere ao Balanço, verificamos que ocorreu uma diminuição do passivo bancário de 16,7 Milhões de Euros e que finalmente, a Doyen desapareceu das contas, com a anulação de provisões e o recebimento das receitas retidas pela UEFA. Adicionalmente a estes factos, verificamos que a reestruturação financeira empreendida no primeiro mandato de Bruno de Carvalho permitiu uma melhoria significativa dos resultados financeiros, fruto da redução dos encargos com juros e afins. O investimento no plantel também permitiu o crescimento do seu valor no Ativo, representando um valor de cerca de 66 Milhões de Euros. O montante de depósitos restritos atinge pela primeira vez os 5 Milhões de Euros, o que é igualmente bastante positivo. E a título pessoal, espero que o nosso scouting funcione ainda melhor para não empatarmos alguns milhões de Euros em jogadores que não rendem o esperado (como Alan Ruiz), consumindo recursos financeiros que seriam importantes para o nosso futuro.
O “famoso” factoring baixou da fasquia dos 25 Milhões de Euros, totalizando cerca de 22,5 Milhões de Euros, o que é de realçar, apesar de como ter dito no passado, não me preocupar muito (é apenas um instrumento financeiro, como outro qualquer).
Em resumo, um primeiro semestre positivo para a SAD do Sporting, mas com alguns pormenores que exigem alguma cautela na condução dos destinos do nosso Clube, nomeadamente o constante crescimento dos Custos com Pessoal. Nos últimos 3 anos, o Sporting tem crescido, ano após ano, as suas receitas operacionais independentes das transações com jogadores, sendo um mérito indesmentível da atual Direção. Mas perante o cenário de perda de um Clube na próxima edição da Liga dos Campeões (e o fosso cada vez maior entre as duas maiores competições da UEFA), os custos com pessoal serão quase incomportáveis senão alcançarmos pelo menos o segundo lugar no Campeonato.
Aguardemos então pelas contas do terceiro trimestre, que não tarda, estão aí.
Despeço-me desejando que ganhemos todos os jogos do Campeonato até ao final, que façamos o churrasco no Jamor e que o nosso Clube brilhe na Liga Europa, chegando até ao magnífico estádio do Lyon, onde pude ver ao vivo, Portugal empatar com a Hungria no Euro 2016.
O vosso “Tio Patinhas” de Alvalade
Uma pergunta, o R&C apresentado foi só da SAD ou foi o consolidado Clube/SAD?
ResponderEliminarApenas da SAD
EliminarA especialização dos exercícios não funcionou para uma grande maioria dos proveitos que vieram da Champions. Os cerca de 20M entraram todos no 1º semestre, a grande maioria (~17M) no 1º trimestre.
ResponderEliminarO mesmo aconteceu no ano que passou (16/17), teve um resultado operacional negativo de 17M.
Este ano prevê-se um prejuízo operacional maior, entre os 20M e os 25M.
Os custos operacionais serão da ordem dos 110M ou superiores.
Na 2ª parte do ano, as receitas tendem a descer (a especialização do exercício não existe) e os custos a subir, especialmente quando há prémios de desempenho das várias modalidades a pagar.
Estes buracos nas contas podem ser tapados com vendas de activos/jogadores, algo que o Porto anda a fazer há dezenas de anos, com os resultados pouco felizes que conhecemos.
Quando ganhamos 1000 euros por mês e gastamos 1500 euros, podemos tapar o buraco mensal com venda de activos, couves, cenouras, tomates que cultivamos no quintal, mas também com o aumento do passivo (empréstimos) ao banco (o SPC está interditado).
Também podemos pedir fiado aos donos da mercearia, do padeiro, do talho, etc. Mas só até certo ponto, quando deixam de nos fiar.
Faltou dizer isso.
Os proveitos da Liga dos Campeões estão bem especializados, uma vez que a participação do Sporting na mesma terminou em Dezembro. O prémio de qualificação é devido na altura da mesma e os valores de desempenho aquando das prestações desportivos. Se o Sporting se tivesse qualificado para uma fase mais avançada, seriam então quantificados os valores no semestre seguinte (e mesmo o prémio de qualificação, poderia haver base para que fosse quantificado no semestre a que se “ganhou” direito a ele.
ResponderEliminarOs prémios de desempenho das modalidades encontram-se no Relatório do Clube e não da SAD.
Estamos todos de acordo que com o atual volume salarial do Sporting que existe um défice operacional. E que o mesmo tem de ser coberto com receitas resultantes da alienação de direitos desportivos de jogadores. No último exercício, o Sporting conseguiu com um dos negócios do “século” compor as contas do segundo semestre. Falo da venda do Ruben Semedo por 14 Milhões de Euros. E podendo haver as vendas milionárias (de 20 Milhões de Euros para cima), gostaria muito que o cenário de rentabilização de ativos não cruciais para o projeto desportivo do Clube continuasse, ou seja, que Paulos Oliveiras, Ruben Semedos, Zeegelars e Cia fossem vendidos por alguns milhões tapando esse mesmo défice operacional. Até porque todos nós gostávamos de ver o Gelson, o Bruno Fernandes, o William por mais uns anos, de leão rampante ao peito. Mas sinceramente, e em ano de Mundial, parece-me que o caminho de William connosco vai chegar a um fim. Esperemos que um final duplamente feliz. Com os nossos cofres cheios e o William transferido para um Clube condizente com a dimensão futebolística que me parece, inegavelmente, ter.