Bruno de Carvalho: defeito ou feitio?
É muito provável que a corda parta do lado mais fraco que neste caso é Marta Soares. Nunca foi um nome consensual, não tem a popularidade de Bruno Carvalho, não se sabe até que suporte terá dentro do órgão a que preside. De forma quase irónica poderá sair quando proferiu a sua declaração mais consensual, pelo menos no momento em que foi proferida:
"Bruno de Carvalho não tem condições para continuar. Com Bruno de Carvalho não há paz no Sporting!"Acontece que depois destas declarações, Marta Soares remeteu-se ao silêncio e, sem se saber exactamente que iniciativas possa ter tomado entretanto, sabe-se apenas que terá realizado algumas auscultações de sensibilidades. Manterá a vontade de convocar uma nova assembleia geral?
Da parte do Conselho Directivo foi particularmente notório o silêncio inicial. Nem declarações, nem palavras de circunstância, apenas um silêncio tremendo de quem nada pode fazer, mas percebe a gravidade do ocorrido. Depois o silêncio tornou-se estratégico. Jogava-se com o tempo, esperando que os animos esmorecessem e a memória do sucedido se fosse esbatendo, mas sem se notar qualquer estratégia para controlo de danos.
Esse seria feito pelos actores do costume. Os mesmos de sempre, os mesmos nomes, as mesmas ideias, os erros de sempre: os mesmos estafados e já descredibilizados Barrosos, Zeferinos, Pedro Madeira Rodrigues, etc, etc. Naquele momento foram os melhores aliados de Bruno de Carvalho, ao chamar a si o foco das atenções, poupando-o ao fogo em que se consumia cada vez que saía a terreiro a proferir uma declaração pior do que a anterior. Foram eles a abrir caminho à relativização e à indiferença e ajudaram a transformar Bruno de Carvalho de autor da crise em vitima. No que foram coadjuvados por uma comunicação social cujo único objectivo, nos infindáveis programas sem grande conteúdo, parecia ficar-se pelo fazer render o triste espectáculo que lhes havia sido servido em bandeja.
A anunciada vontade de convocar nova AG parece ter perdido o interesse para todos os intervenientes. De Marta Soares já falamos. Bruno de Carvalho, pela interposta pessoa do vogal do CD Bruno Mascarenhas, já fez saber que pelo menos a demissão e eleições são cenário que só será colocado se a isso forem obrigados. Aguarda-se o que pretende fazer para concretizar a ameaça de apear Marta Soares, o que só não acontecerá se for de todo impossível, o que também é fácil de prever. E, ao ao contrário do que é muitas vezes anunciado pela comunicação social e aceite estrategicamente pelo Conselho Directivo, não há uma oposição constituída e com força para desencadear um processo que leve até à convocação de uma assembleia, apenas vozes isoladas e sem grande representatividade colectiva.
Estamos agora ainda na fase de controlo e contenção de danos. Primeiro foi o abandono do Facebook por parte do presidente, seguido do recuo na intenção de processar disciplinarmente a quase totalidade do plantel. Mas nem uma nem outra medida parecem ter sido tomadas com grande convicção, como se percebe pelas declarações efectuadas a este propósito pelo próprio Bruno de Carvalho, A que acrescem as mensagens enviadas por sms ao plantel.:
"Se o Sporting CP fica mais forte desta forma, seja feita a vontade da maioria. Para mim ficará a missão de gerir o Clube da forma que acham melhor. Erradíssima mas o Clube é vosso."Talvez ainda mais sintomático seja o facto de que Bruno de Carvalho não ter percebido as consequências que os seus posts no Facebook estavam a produzir, o que é particularmente notório ao afirmar
"Vamos novamente perder todo o respeito que aos poucos estávamos a ganhar em alguma comunicação social e em muitos Stackholders. Isso vai morrer."Ora questão era exactamente a oposta e de maior gravidade: o problema não estava na ferramenta (o Facebook), mas sim no utilizador. Assim, com ou sem Facebook, e sem ter percebido o essencial, é muito provável que o que aconteceu no triste episódio pós-Madrid se volte a repetir.
Essa é agora a questão principal, juntamente com outras igualmente pertinentes: como ficarão agora as relações nas três frentes de batalha que Bruno de Carvalho abriu? Será Bruno de Carvalho capaz de restaurar a confiança perdida junto do treinador, do plantel e dos adeptos em simultâneo? Estará ele interessado em fazê-lo?
O treinador é aqui o elo mais fraco. Jorge Jesus subiu na consideração geral pela ponderação, sangue frio e acção na preservação do interesse colectivo revelado na gestão de uma situação para a qual não há capítulos escritos nos manuais de formação de treinadores. Falta saber se Bruno de Carvalho lhe perdoará o protagonismo por ter agido também como o presidente que ele deveria ter sido e não foi.
Quanto ao plantel é certo que não pode ser refeito de um dia para outro sem que o mercado fareje o sangue e compareça aos saldos. Mas em ano de Mundial é muito provável que Bruno de Carvalho aproveite a oportunidade para se desfazer dos rostos que são reconhecidos como lideres do balneário e cuja relação parece estar já exposta a profundo desgaste.
A ideia de que parece estar mais preocupado com preservação do seu poder do que em exercê-lo em prol dos que o elegeram e do bem geral do clube é uma das acusações que terá que dificuldade em rebater. Especialmente quando se lhe juntam as imagens das sucessivas assembleias gerais que agitaram o clube, num momento em que a equipa da modalidade mais representativa parecia confortável e segura de si na disputa da liderança do campeonato. Assembleias que emperraram justamente pelos pontos que denunciavam o reforço e ampliação do seu poder, que não parecia satisfazer-se com o apoio ractificado pelos sócios de forma arrasadora. Assembleias que acabariam também por coincidir com o pior período da equipa e, falta ainda a história fechar definitivamente, o adeus ao ambicionado titulo.
Esta é uma crise imposta ao clube por Bruno de Carvalho. Foi assim que foi percepcionada pelos adeptos que por isso o invectiveram. Não foi ingratidão, mas sim por imposição do próprio presidente na sequência da catadupa de post no Facebook. Entre um e outro os adeptos quiseram dar conta da sua escolha.
Desta feita não foram os "sportingados", a de quem ele se valeu para agitar fantasmas para a aprovação das alterações que pretendia ao regulamento disciplinar. Não foi uma das muitas facções ou "sensibilidades" tantas vezes mencionadas como causa das entropias que impede o avanço do clube. Não foram os inimigos externos nem os poderes ocultos do futebol. Por isso terá que ser ele a demonstrar que aquela que parece ser agora a justificação escolhida "foi um erro, e quem nunca errou que atire a primeira pedra" é justa e não uma desculpa circunstancial. De outra forma a imagem de que tem apenas perfil de um líder de transição, o ideal para tirar o clube do marasmo, mas incapaz da indispensável consolidação do clube acabará por vingar.
Mas esta justificação de um erro sem repetição tem três problemas: o próprio Bruno de Carvalho, pelo trajecto e passado recente. E por tardar em reconhecer que errou e sobretudo, como vai deixando no ar, a cada intervenção que faz, que não se perderá pela demora. Estará ele a fazer o número daquele que se faz de morto e vai dizendo entre dentes: deixa-os pousar?...
Um segundo, que é o da identidade e da representatividade. O discurso de Bruno de Carvalho é cada vez mais pontuado pelo "eu" e cada vez menos pelo nós. Não são apenas as alterações estatutárias desnecessárias e inoportunas apenas para controlar o clube. São as suas declarações impensadas e inconsequentes, o "mau gosto" do discurso e dos comportamentos, a depreciação de uma marca centenária que se construiu em volta de valores, e que por isso tem subsistido aos períodos de mingua dos resultados. Há cada vez mais quem não se reveja e não se sinta representado por esta conduta, o que é um problema se atendermos a que o presidente é ou deveria ser não só a figura de proa mas também o maior guardião dos valores do clube.
O outro é o diagnóstico de "burnout" do seu amigo e mentor, Eduardo Barroso. Ou o clínico se enganou, pelo que a tentativa de minimização do sucedido cai por terra e continua a ser necessária a explicação e prestação de contas. Ou então o presidente precisa quanto antes de repousar e de se refazer, até porque o futuro imediato do clube vai requer - requer sempre! - uma luta incansável e sem tréguas . Ao fim e ao cabo a pergunta que nasce daqui e cuja resposta tentam muitos Sportinguistas obter há dias para cá é essa: o que este episódio nos revela sobre Bruno de Carvalho é o seu feitio e por isso não há lugar a qualquer esperança de mudança ou tratou-se de um mero acidente (defeito) de percurso?
Verde Protector
ResponderEliminarSão ambas as coisas. Faz parte do feitio de BdC e que é um dos principais defeitos. Mesmo os seus defensores admitiram o erro relativamente aos comunicados aos jogadores. BdC admitiu algum erro? Não. Fechou o facebook a contragosto. Não admite que se tenha enganado em nada.
Não tem condições para continuar. De momento, temos uma paz podre. Está incompatibilizado com o plantel e nem vai ver os jogos. Tem sustentabilidade a longo prazo? A relação com Jesus também já conheceu melhores dias. Perdeu também alguns dos seus principais apoios, Sobrinho e Ricciardi.
Um aspecto importante e que pode ditar a continuidade de BdC é o sucesso do novo empréstimo obrigacionista e se consegue adiar o pagamento para Novembro.
Tinha uma secreta esperança que o homem aprendesse com os erros mas ontem lá voltou a abrir a boca. É uma questão de tempo para voltar ao mesmo, com ou sem FB como diz no post. É também uma questão de tempo para se fazer cair ele mesmo. Uma pena.
ResponderEliminarAlém da esperança não tenho já paciência para aturar isto. O homem julga-se acima de tudo e de todos, seguramente que está doente, provavelmente sempre esteve e agora é que se percebe. Vai acabar por ficar até se perceber o fim de linha e nessa agonia quem perde é o clube. Parabéns pelo texto, equilibrado e sensato.
ResponderEliminarAcho que é claro para toda a gente com pelo menos dois neuróticos funcionais que a história do "burnout" não passou de uma papagueada do Barroso. Acho que também ficou claro que, mesmo que BdC não entusiasme muitos dos sportinguistas, a mera hipótese de as múmias do passado e os Severinos desta vida voltarem a ocupar os lugares de direcção no clube, leva a um juntar de tropas em torno do atual presidente.
ResponderEliminarBdC sabe-o e aproveitar-se-á disso mesmo para consolidar a sua posição de poder. Aliás, veja-se o que ele tem dito no seu périplo pelo "circuito da carne assada", i.e. pelos núcleos; os seu único interesse é contar as espingardas para reforçar a sua posição... que interessa o Sporting, a equipa, etc...
É melhor estarmos preparados para uma noite das facas longas assim que a época terminar. Ninguém duvide que JJ, RP e WC já têm o destino traçado.
O único "presidente licenciado" parece ser o menos inteligente de todos não aprende com os erros. Está mais interessado em ter razão custe o custar do que melhorar e avançar. Também tenho pena, por ele e pelo clube.
ResponderEliminarQual crise?
ResponderEliminarA das 3 vitórias da equipa de futebol desde o raspanete?
BdC esteve mal mas pior estiveram os jogadores, o JMS e todos os outros abutres a quem metem um microfone à frente. Esta suposta crise é apenas mantida por quem não tem mais que falar do que I estilo do presidente do Sporting.
Se foi severo? Foi, mas a verdade é que um puxão de orelhas era preciso. Agora o plantel parece que descobriu motivação para jogar sem fazer merda, se bem que em Belém tenha sido algo tremido. E têm mais é que ganhar o jogo com o porco amanhã, comendo a relva se for preciso.
Acha bem um comunicado a confirmar a suspensão dos jogadores a 2 horas dum começo do jogo? Bruno não tem noção nenhuma de liderança. O Vale e Azevedo também criticou os jogadores do Benfica depois dos 7-0 em Vigo, obrigando o João Vieira Pinto a emitir um comunicado a pedir desculpa. Vale e Azevedo também tinha consigo esta “cultura de exigência”, a mesma que o Brunout apregoa.
EliminarEm directo do admirável planeta brunista: As derrotas e as vitórias explicam-se com puxões de orelhas, motivação e comer a relva. Aos 3-3 no Restelo os jogadores do Sporting estavam desmotivados e de má-vontade (razão tinha o parasita), mas aos 3-4 "descobriram a motivação para jogar" (razão tinha o prasita).
EliminarSe o Sporting perde o parasita tinha razão. Se o Sporting ganha o parasita tinha razão. Se o Sporting ganha 3 vezes o parasita COMO É ÓBVIO SÓ PODIA ter razão.
Estes anencefálicos são pelo menos coesos; o registo não muda. (Quase escrevia coerentes.)
MM, LdA, Virgílio e outros amigos leões
ResponderEliminarDigam-me um presidente que já tenha sido melhor que este, por favor.
Estimado The Cure, esse desafio não responde à pergunta "É Bruno de Carvalho um bom dirigente (sequer presidente)?". Em todo o caso, sem que tenha qualquer significado, A. Dias da Cunha foi provavelmente melhor dirigente e presidente do que este alguma vez será.
EliminarJa agora respondo: Da minha memoria, que vai desde Jorge Goncalves, JEB e GL sao os piores de sempre. Jose Roquete e Dias da Cunha, os melhores. O BdC esta ao nivel do Soares Franco (ao nivel de resultados desportivos e financeiros) e da Sousa Cintra (de comportamento). Amado de Freitas e Santana Lopes nao tiveram impacto relevante que permita avaliar: Nao estragarma nada o que ja nao foi mau.
EliminarQue o Bruno venha a seguir dos piores de sempre nao deve iludir que ele nao e melhor que nenhum dos outros que os antecederam.
EU DIGO..........EH PÁ.....DEIXA CÁ VER, TENHO 39 ANOS...............................................................................POIS É, NÃO ME RECORDO, E NÃO ME PARECE QUE SOFRA DE QUALQUER TIPO DE DEMÊNCIA, AO CONTRÁRIO DO QUE VOU LENDO POR AQUI.
ResponderEliminarSL
Agradeço todas as opiniões que se inscrevam no que é pedido na caixa de comentários mas não em maiúsculas pelo que significam.
EliminarThe Cure,
ResponderEliminarterei todo o prazer em ter essa discussão mas não hoje e agora. Não quero fugir a ela mas agora quero respirar fundo e gozar a qualificação para o Jamor.