Frederico Varandas nasceu
a 19 de setembro de 1979, em Lisboa, filho de lisboetas, um médico e
uma professora, e irmão de um advogado que fez parte da direção de
Godinho Lopes. Entrou na Academia Militar aos 18 anos, e toda a gente
achava que ele, um menino surfista da Praça de Londres, com aquelas mãos
fininhas, só ia aguentar quatro no internato. Foi à procura de uma
“mesa de pingue-pongue” e puseram-no a “encher dez flexões”, mas
aguentou-se até ao fim. Tirou Medicina no Campo de Santana, entrou no
Vitória de Setúbal porque gosta muito de bola, de ver e de jogar a
trinco — “duro, mas leal” —, e teve de ir seis meses para o Afeganistão
porque a tropa a isso obrigava. Foi contra a vontade do pai e apanhou o
maior susto da vida, em 2008, numa emboscada de talibãs à coluna militar
de Comandos onde seguia. Pensou que “ia lá ficar, aos 28 anos”, e ainda
hoje ouve os sons dos tiros e o silvo dos RPG. Entrou no Sporting em
2011, como médico da equipa, e por lá ficou até apresentar a demissão na
passada quinta-feira. É o primeiro rosto da oposição a avançar contra
Bruno de Carvalho, num dos momentos mais conturbados da história do
clube: no dia 23 de junho vota-se em assembleia-geral a destituição da
direção. Conheça o homem que detesta “jogadores que fazem fita e ronha”,
que garante que aquele spray milagroso “não faz absolutamente nada” e que manda passear o futebolista quando ele lhe aparece “com uma dorzinha no pé”.
O que o leva a avançar?
A
minha demissão já vinha a ser maturada há umas semanas, mas os últimos
acontecimentos — aquilo que aconteceu na Academia de Alcochete e a final
da Taça — foram decisivos, embora deva dizer que o Jamor, para mim, foi
o clique. Lembro-me perfeitamente de ver os jogadores sentados, a
chorar, quando pensei: “O meu tempo chegou ao fim.”
Porquê?
Porque
o Sporting não está dividido — está completamente partido. Nos órgãos
sociais, nas bancadas, entre adeptos e profissionais. Jogámos contra nós
próprios na final da Taça, e isso é impensável. Para mim, foi muito
difícil tomar esta posição, porque eu gostava realmente do que fazia.
Não há nada mais indigesto do que o autoelogio, mas sou competente e
tive convites do Mónaco, do Valência e, recentemente, de um clube da
Premier League que não vou revelar. Pagavam-me muito mais, mas eu
fiquei. E o Bruno de Carvalho reconheceu isso, confiou sempre em mim,
embora saiba que agora ele irá dizer muitas outras coisas de mim. O
Sporting está doente, precisa de ser tratado e, depois, de se
fortalecer.
O que levou o Sporting a essa tal doença?
Sou
médico militar e respeito a cadeia de comando: o número um manda no
número dois, o número dois manda no número três... Quem é que manda no
Sporting? O número um. Quem é o número um? O presidente. Nestes últimos
meses vi o Sporting deixar de ser o Sporting especial do qual os adeptos
sempre se orgulharam: um clube transparente, digno. Isto degradou-se
nos últimos tempos.
No post em que se anunciou como alternativa a Bruno de Carvalho falou em “comportamentos desviantes” da direção atual...
Bruno
de Carvalho deixa um legado importante no primeiro mandato (e eu fiz
parte desse momento), e não quero que o Sporting regresse ao pré-Bruno
de Carvalho, dos tais ilustres e dos notáveis. Mas também não me falem
em ‘sportingados’. Ele devolveu o clube aos sócios, mas depois criou
fissuras irreparáveis. O número um tem de criar condições para uma boa
relação entre os sócios/adeptos e os profissionais de futebol. E isso
ele nunca conseguiu, o que é uma loucura do ponto de vista da gestão. O
Sporting está numa autêntica guerra civil.
Tem apoios?
Tenho, dos sócios.
Isso é vago.
Venho
das bases, fui da Juve Leo, ia ver jogos fora, em casa, Game Box...
Tenho esse lado irracional, mas também tenho o lado técnico. Trabalho há
onze anos no futebol, sete deles no Sporting, e sempre estive perto da
casa das máquinas de Alvalade. Conheço a estrutura toda como a palma das
minhas mãos. É importante gostar de futebol, mas também perceber de
futebol.
Bruno de Carvalho não percebe de futebol?
Acho que percebe.
Então, é preciso mais do que apenas gostar de futebol e vir das bases para chegar a presidente.
Trabalhei
com treinadores de altíssima qualidade, sei como é um balneário, sei
que jogadores dão problemas e sei como resolver esses problemas; e sei o
apoio que é preciso dar a uma equipa. E tenho uma vantagem, que vem da
tropa: capacidade de liderança. Sei trabalhar em equipa. Bruno de
Carvalho é muito mais individualista.
Um
dos elogios que se faz a Bruno de Carvalho é a escolha dos treinadores.
E uma das críticas que também se faz é a progressiva deterioração da
relação entre ele e os treinadores. Concorda?
É um
facto, mas tem de perguntar aos treinadores porquê. Eu sei a resposta,
mas não lhe digo. Há coisas que são públicas, é fácil de ver. É um
problema de base, de liderança e de comunicação. Houve sempre um
problema de comunicação, porque nada foi genuíno. E, depois, deu nisto,
que é surreal, de comunicados para aqui, comunicados para acolá... Vou
dar-lhe um exemplo militar: quando temos um ato de indisciplina num
recruta, pune-se esse recruta; quando temos um segundo caso de
indisciplina, pune-se; num terceiro caso, o problema já está no
comandante do pelotão e não no recruta.
Falou diretamente com Bruno de Carvalho para comunicar a sua demissão?
Não, enviei um SMS.
E ele respondeu-lhe?
Até agora, não.
A direção disse que a sua demissão era “inusitada”.
Conheço
muito bem Bruno de Carvalho e estou preparado para isto. Tenho a
coragem e a competência. Repito: conheço muito bem Bruno de Carvalho,
porque trabalhei muito perto dele durante vários anos.
Tem os jogadores e o treinador do seu lado?
Se
eu digo que tenho competência para liderar este processo é porque tenho
as minhas armas. E essa é uma delas. Conheço o futebol por dentro, sei
lidar com jogadores e treinadores diferentes e absolutamente distintos,
como Leonardo Jardim e Jorge Jesus.
Já tem nomes para a sua equipa?
Olhe, o core da minha equipa será gente nova, que nunca tenha estado em direções anteriores.
João Benedito é uma dessas pessoas?
Não vou falar sobre isso, ainda.
Viveu aquela tarde de Alcochete por dentro...
Tive
dias muito piores do que aquele, mas admito que a situação foi muito
complicada e só não foi pior por sorte. Podia ter sido uma tragédia,
porque as pessoas que foram fazer aquilo perderam o controlo.
Não foram lá só para falar...
Não,
não foram lá só para falar. Acha que queriam falar com o Bas Dost? Ele
estava a apertar as chuteiras e levou com um cinto na cabeça. Isso é
falar? Eu estava no meu gabinete, apercebi-me do barulho, disse à
secretária para não abrir a porta e fui em direção ao balneário... e o
Bas Dost estava deitado no chão. É um dos episódios mais negros da
história do Sporting.
E isso explica o desempenho dos jogadores na Taça?
Eles
ganharam o jogo ao decidirem jogar. Temos miúdos de 18, 19, 20, 22, 23
anos... Os mais velhos têm o quê?, 29 anos? Eles não tinham condições
para ir a jogo.
O argumento da direção é de que esta oposição, da qual o Frederico é agora um rosto visível, irá condicionar a próxima época.
No
Afeganistão, fui parar ao hospital de campanha e comecei a receber
mutilados. E lá andava eu de garrote, a tratar de braços, pernas, e um
tenente-coronel vira-se para mim e diz: “Esquece os braços, o importante
é mantê-los vivos.” O Sporting precisa que o seu órgão vital esteja a
funcionar. Sem um coração forte, o braço está morto. Há problemas muito
mais graves do que o jogador que vem ou que sai.
A direção está agarrada ao poder?
Não
consigo compreender como é que a direção não quer compreender o que se
está a passar: órgãos sociais partidos, agressões em Alcochete, o
presidente não vai ao Jamor, os jogadores vão prestar declarações ao
Montijo e o presidente não está lá. Isto é normal? Um diretor de futebol
proibido de exercer funções pelo Ministério Público é normal? Eu não
quero acreditar que o ‘Cashball’ seja verdade, mas acredito muito menos
em teorias da conspiração. Quando o Benfica fala em teorias da
conspiração nos casos que o envolvem, eu acredito no Ministério Público e
na Justiça, que são pilares da nossa democracia. Quero ser competitivo,
mas ter valores éticos. Gosto de ganhar lealmente. Não jogo sujo, mas
não vou permitir que joguem sujo contra mim.
O que acha das contratações de Inácio e Fernando Correia, dos benefícios retirados à Juve Leo?
São
remendos, cola. E a cola, se vier muito calor, derrete. E vem aí um
verão muito quente. Custa-me que Bruno de Carvalho não esteja a ver o
inevitável.
E o que é inevitável?
Que ele saia. E eu quero que ele saia com a máxima dignidade, por tudo o que fez anteriormente.
Entrevista publicada no Expresso em 25/05/2018
Este Blogue...presta-se a cada papel!?!?
ResponderEliminarsó uma pergunta, quando são as ELEIÇÕES?
SL
Eu gosto de me prestar a este papel, o de informar os Sportinguistas, especialmente aqueles que, por alguma razão, não acede fácilmente à informação.
ResponderEliminarQuando souber quando serão as eleições também informarei.
Uma boa entrevista meu caro Leão. Um bom homem e um bom profissional, o Dr Frederico Varandas. Se será um bom candidato ver-se-á mais à frente. Depende de muitos factores. Mas, entrevistas como esta, têm o mérito de clarificar as razões que o levam a avançar e a perceber aquilo que mudou nos orgãos sociais no passado recente. Permite-nos perceber que a lógica de devolver o Sporting aos sócios, foi pervertida por uma lógica do "Sporting-sociedade-unipessoal" em que em vez de ser dos sócios o Sporting está cativo de Bruno de Carvalho e do conjunto de assalariados e prestadores de serviços dele dependentes, que ainda mantêm o Conselho Directivo activo.
ResponderEliminarFrederico Varandas teve o mérito de avançar num momento inicial, rompendo com a argumentação falaciosa que associa qualquer critica a BC com o regresso dos barões que dominaram o Sporting ao longo de décadas. Estamos a falar de alguém que até ao triste episódio de Alcochete trabalhou no Sporting sob a actual presidência.
O varandas esta fortissimo nas metaforas... em suma é um beto de lisboa que teve tudo na vida de mão beijada.
ResponderEliminar"Teve tudo na vida de mão beijada"... Ate umas férias no AfeganistaA em são convívio com talibãs... Se o ridículo matasse... Já o BdC de betinho, não tem nada!! Ahahahah...
ResponderEliminarSemelhanças e diferenças entre Bruno de Carvalho e José Sócrates
ResponderEliminarDe: Filipe Arantes Gonçalves, Médico Psiquiatra e Psicanalista
Ambos tentam compensar défices na auto-estima com um narcisismo doentio, embora José Sócrates mantenha o contacto com o real, enquanto Bruno de Carvalho perde essa relação através do delírio paranóide.
Muitos cidadãos portugueses já terão comparado as personalidades de Bruno de Carvalho e José Sócrates. Não haja dúvidas que ambos apresentam aspetos narcísicos muito significativos no seu funcionamento mental. Por exemplo: ambos apresentam ideias de grandiosidade e megalomania, gostam de ser o centro das atenções, estão fortemente autocentrados e dependem fortemente dos estímulos externos para a regulação da sua auto-estima, utilizam a desvalorização dos outros como forma de preservar uma imagem de territorialidade e superioridade que é só deles e são arrogantes, entre outras características que descrevem uma personalidade narcísica.
No entanto, apesar de ambos partirem de um narcisismo patológico, os caminhos psicopatológicos que o psiquismo de cada um escolheu vão desembocar em pontos de
chegada bem diferentes.
Vejamos então: José Sócrates apresenta aspetos psicopáticos inegáveis que o terão levado à prática de crimes de corrupção que assumiram danos inimagináveis para a Economia do nosso país. Fê-lo, com certeza, com claridade de consciência no que respeita ao desrespeito pelas condutas sociais, éticas e morais que regem a nossa vida em sociedade. Ou seja, trata-se de uma “loucura sem delírio”, segundo o psiquiatra Esquirol, ou de uma “psicose agida” de acordo com psicanalistas contemporâneos. Assim sendo, em José Sócrates a tendência à falsidade, a ausência de remorso, o desprezo pelos demais cidadãos à sua volta e as suas irritabilidade e agressividade (por exemplo com jornalistas) são as suas notas dominantes.
Pelo contrário, Bruno de Carvalho não parece ter um componente psicopatológico psicopático tão apurado mas apresenta aspetos paranóicos (ligados à sua personalidade) e paranóides (na estruturação do seu delírio) na relação com o real. Para tal, basta assistir a uma das suas conferências em que afirmou não se demitir: aqui deparamo-nos com palavras que pertencem à temática paranóide por excelência como são os casos de “ataque sem precedentes”, “ameaças”, “conluio”, ou ainda “deslealdade”, entre outras. Por outro lado, Bruno de Carvalho perde a relação com o real, na medida em que cada vez está mais isolado, o que lhe aumenta os sentimentos de suspeita, humilhação, e desconfiança progressivamente maiores, formando-se um circuito vicioso paranóide. Quanto mais usa a projecção das suas angústias para os outros, mais esvaziado fica. Ao contrário de Sócrates, a temática paranóide só exacerba o rancor.
Em jeito de conclusão, ambos procuram compensar os seus défices na auto-estima com um narcisismo doentio embora Sócrates mantém o contacto com o real, fazendo mesmo um uso perverso e manipulando-o como se estivesse acima de todos nós, mas tentou fazê-lo de forma dissimulada e com a ajuda de outros especialistas nestas manobras do crime público. Já Bruno de Carvalho, perde a relação com o real através do delírio paranóide que o leva a atacar os outros (incluindo os presidentes da república e da assembleia da república), pois sente-se ele próprio atacado e perseguido. A situação do perseguido-perseguidor foi bem descrita por Lásegue na Psiquiatria Francesa.
Uma vez traçados os diagnósticos, resta saber se há tratamento para estes dois casos. Arriscaria dizer que na psicopatia não há tratamento eficaz, e na paranóia existe mas trata-se de um percurso dificílimo. Para efeitos de futuro, fica o desafio da prevenção que está nas mãos de todos, desde os profissionais de saúde até à sociedade na sua amplitude máxima. Em suma, mais uma vez estamos em presença do exercício da cidadania para a prática do bem no mundo de hoje.
Por lapso omiti a fonte. Mas só por lapso. Também deve ser croquete. Até porque ainda ninguém tinha percebido nada.
Eliminarhttps://observador.pt/opiniao/semelhancas-e-diferencas-entre-bruno-de-carvalho-e-jose-socrates/
Isto está a subir de nível!!! já estamos no campo da psicanálise...enquanto isso la vamos ganhando uns canecos.
ResponderEliminarPessoal, sábado há mais...pelas 15:00.
Se entretanto ninguém for internado😁😁😁SL
E o único comentário que é razoável fazer ao diagnóstico psiquiátrico ou psicanalítico do Dr Filipe Arantes Gonçalves é que, o mesmo deveria ser enviado à Ordem dos Médicos para avaliarem da total quebra de conduta deontológica ao fazer um "diagnóstico" público de 2 pessoas que, tanto quanto se sabe, não são seus pacientes e não foram por ele vistos, entrevistados ou analisados.
EliminarÉ o absurdo Warroliano total em que se transformou a nossa sociedade: todos querem os seus 15 minutos de fama … nem que para isso vendam a sua alma (ou a sua profissão) ao diabo!
saudações leoninas
Eu quando oiço ou leio algum psiquiatra a falar de Hiltler também penso sempre o mesmo. Que abuso...
EliminarÉ lampião! Só pode! E vai já levar com um processo. Onde é que já se viu analisar comportamentos públicos em público?
Eliminarp.s. É quase a mesma coisa que chamar terroristas aos rapazinhos das claques que foram a Alcochete. Primeiro há que os deitar no divã.
LOL
ResponderEliminarDeve ser o maior disparate que já li em meses.
Tanta letra junta e não forma nada em concreto. Um piadão caneco estes pseudo-psicólogos à distância que se metem em bicos de pés para aparecer.
Já a entrevista....bem e o populista é o outro(!). Até gostava de ver uma campanha eleitoral só para refrescar o leque de piadas de caserna
Se há aqui algum pseudo não é um médico do SNS com várias obras editadas de certeza. Já outras figurinhas...
EliminarAgora que se sabe do envolvimento de Varandas e do CM no Cashball seria interessante rever está entrevista :)
ResponderEliminar