São grandes os desafios que o Sporting enfrentará na próxima temporada e uma parte substancial das dificuldades que terá que enfrentar serão a consequência directa ou indirecta do fiasco da que ainda está em curso. Faltará apenas perceber quanto tempo e quão intensos serão os sintomas de ressaca depois da ter vivido la vida loca de contratações a esmo da presente temporada. Talvez a melhor ilustração para esta afirmação seja a contratação de um jogador dispendioso como Douglas para quarto central.
A primeira consequência directa será a obrigação madrugar na preparação da candidatura à tão desejada e necessária Liga dos Campeões, pela via muitas vezes ingrata da pré-eliminatória. Um caminho já percorrido no ano de estreia de Jorge Jesus no comando e que não correu bem. É ainda cedo para antecipar os adversários, mas não é preciso ter dons de adivinhação para saber que a este nível não há adversários fáceis, há apenas nomes mais ou menos consagrados.
Como consequência indirecta, mas de grande impacto na formação de plantel, é a gestão do orçamento para a sua constituição. Dever-se-á contar ou não com os prémios de presença na Champions como adquiridos, ou "simplesmente" ter como fito na respectiva constituição o objectivo principal da época - o campeonato - assumindo que tal é suficiente para a formação de uma equipa à altura das lides europeias?
De forma não tão directa, mas igualmente importante e condicionadora, estará a valorização de jogadores, tradicional fonte de receita para a obtenção de reforços. A presente época não proporcionou revelações e, embora não se possa afirmar que depreciou os valores seguros (Patrício, Coates, William, Adrien), também não os tornou mais apetecíveis.
Dificilmente encontraremos por isso a mesma apetência e a mesma generosidade que existiu na procura de Slimani e João Mário. A venda de qualquer um deles criará a necessidade de serem substituídos por elementos de igual valor, vendo aumentados os riscos que estas operações acarretam e cujos exemplos estão ainda bem vivos nas mentes de todos. Da presente época sobreviverão problemas por resolver, alguns deles implicarão inapelável recurso ao mercado, outros poderão encontrar solução nos quadros do clube.
Questões laterais
O problema dos defesas laterais está mais que identificado, mas a sua resolução tem sido sucessivamente adiada. É sentimento maioritário entre muitos adeptos que foi aí que a época começou a ficar perdida. Em equipas como as de Jesus, com forte propensão atacante, eles são tão importantes a criar imprevisibilidade no ataque como a gerar reequilíbrios na reorganização da equipa quando perde a bola. Não parece que o problema possa ser resolvido satisfatoriamente sem recurso ao mercado e em mais do que um nome.
Questões centrais
A possibilidade de saída de Adrien e/ou William seria um festim para Carlos Vieira, o homem das finanças, mas um pesadelo para Jorge Jesus e grande parte dos adeptos, sobretudo se acontecessem em simultâneo. Mais ainda se tivermos em conta que, pelo que esta época foi demonstrando, que nem as suas ausências episódicas (castigos, lesões) ou baixas de forma encontram ainda resposta no plantel.
Faltará perceber se a baixa de Bryan Ruiz é um sintoma definitivo da veterania que se vai inapelavelmente instalando, precisando de alternativa, ou se poderá recuperar a influência determinante da primeira temporada. Ou se o ciclo de adaptação de Alan Ruiz está conseguido. Será igualmente interessante perceber que papel destinará Jorge Jesus a jogadores como Francisco Geraldes, Matheus e Podence, Palhinha, por exemplo.
Questões avançadas
Pode parecer paradoxal mas, em época de desilusão como a actual, é no ataque onde se encontram os dois jogadores que poderão suscitar maior cobiça externa. Falo obviamente de Gélson Martins e de Bas Dost. Martins pelo potencial e qualidades já demonstradas e o holandês pela capacidade goleadora, ainda por cima numa equipa que nem sempre o serviu bem ou revelou essa preocupação. Algo que deverá mudar nos jogos que restam com a candidatura agora em aberto ao ceptro de goleador-mor do continente.
A partida de qualquer um deles abriria um problema semelhante à de Adrien ou William, embora me pareça ainda de mais difícil solução o abandono do holandês que, também de forma semelhante, não teve este ano alternativa. Felizmente não teve que se ausentar ou as coisas ainda se teriam complicado mais para Jorge Jesus.
Questões de gestão e comando
Embora muitas vezes as discussões se centrem nas individualidades as histórias das grandes conquistas escrevem-se pela força colectiva. Tudo começa no planeamento rigoroso, na escolha de nomes, datas, adversários, locais de estágio, etc. E se há algo que hoje parece pacifico constatar é que algo falhou na escolha do perfil de vários jogadores, o seu número e também o timing da sua incorporação, face à prontidão de resposta que se exigia, tendo em conta os compromisso da equipa.
Ora tempo é algo que o Sporting já terá que estar "comprar", porque não terá em abundância para apresentar uma equipa nos níveis competitivos que as pré-eliminatórias da Champions costumam colocar. Isto é, é bom que haja ideias claras sobre a organização da próxima temporada. Dificuldade que acresce com a reputação de exigência e dificuldade que a compreensão e adequação que o modelo de jogo Jesus coloca aos seus jogadores, em especial, obviamente as que chegam de novo.
Quer Jorge Jesus quer Bruno de Carvalho sabem que está em jogo a sua sobrevivência como dupla e que à terceira ou será de vez e ou vai ou racha.
As vendas de um ou dois dos três jogadores com mais mercado (e vontade de sair), Adrien, William e Gelson - excluo Dost, porque vendê-lo seria o suicídio - condiciona todos os raciocínios. O problema das laterais é chave, mas se fosse fácil, não teríamos tido os nossos rivais a patinar nessa posição, ano após ano, antes de acertar. No 4-3-3 é uma posição decisiva e muito difícil de preencher. Claramente não precisamos de guarda-redes, centrais e alas/extremos (mesmo que vendamos Gelson). No centro, acho que seria criminoso desperdiçar Ryan Gauld, que tem tudo para ser o nosso Verratti (até tem mais 2 cm!), em especial se for para apostar num Alan Ruiz sem intensidade. Obviamente, precisamos de um segundo avançado (que até poderá ser Yuri, ou talvez não). Por fim, a mim, custar-me-ia ver sair Bryan Ruiz. Não acredito que sejam os 31 anos a quebrar a classe de um jogador daquele calibre. A sua enorme classe foi uma das razões para brilhante época 15/16 e o seu evidente ocaso acho que foi mais uma consequência do que uma causa da corrente má época. SL! JPT
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