Algumas considerações antes de ir ao tema do post. Creio que se justificam, uma vez que eles decorrem quer do período que a antecedeu a conferência de imprensa, quer esta propriamente dita.
As portas fechadas a Jesualdo
Foi ontem avançado pelo Record que Jesualdo Ferreira foi dispensado a seguir ao jogo com o Beira-Mar. Decisão que se compreende, face ao anúncio que se pretendia fazer do acordo com Leonardo Jardim. Menos compreensível seria a confirmação da noticia de que o treinador lhe viu negada a possibilidade de se despedir dos jogadores. A gratidão e as portas abertas da despedida oficial seriam assim contrariadas na prática sem uma razão aparente que tal justificasse. Agir assim não honraria o clube.
A incomodidade pelo 3º elemento
Motivo de muita conversa em campanha afinal o 3º elemento era como a pescada, antes de ser já o era, é o próprio presidente. Nunca me mereceu atenção muito particular, nunca percebi a necessidade de secretismo. Se ela havia seria mais justificada aplicar-se a Inácio, que estava a trabalhar num clube com o qual teríamos que disputar ainda um jogo. Não me parece que a solução encontrada possa merecer alguma recriminação, pelo menos se a decisão resultar de uma ponderação entre o que foi idealizado e, na aplicação prática, se ter entendido resultar melhor assim.
Serei dos menos (ou até nada) incomodado com a revelação. A ideia de um circulo restrito ao nível decisório é-me muito mais grata que uma profusão de cabeças pensantes. Foi essa a critica que deixei em tempo de campanha ao modelo sugerido, a que acrescia ou virão acrescer ainda Freitas Lobo e Tomás Morais. Quem então "morreu" pela sua bondade e acerto que se incomode. Ou dê uma cambalhota...
Escolha de Leonardo Jardim
Tornei clara a minha posição relativamente à continuidade de Jesualdo. No entanto, percebendo que o entendimento entre ele e o presidente resultaria difícil, o final da relação entre o clube e o treinador era inevitável. Preferível agora que a meio do campeonato. Entendê-lo assim foi o último serviço prestado ao clube pelo professor e uma boa decisão do presidente. Deveria ser sempre assim em qualquer circunstância, com as dificuldades que se adivinham no imediato, o pior que poderia suceder seria uma relação resultante de um armistício artificial e não desejado. Uma paz a apodrecer no tempo e com as dificuldades e a espalhar-se pelos corredores.
Jardim não era até anteontem um técnico
da minha preferência, isto pelo que representava o futebol das equipas
que treinou. Na verdade também Jesualdo não o era e acabei por gostar do
trabalho que realizou.
Só por ingenuidade se pode pensar que escolha de Jardim foi feita em 24 horas ou aproximado, como vi muitas vezes reproduzido. Mas foi indiscutivelmente bom que o seu anúncio fosse feito de forma célere. Foi uma decisão ecológica, poupou-se muita tinta e árvores para papel.
Já o referi anteriormente, dos técnicos falados, era talvez a escolha mais segura. Um talvez porque, como ontem muito bem referiu o LMGM, o Sporting é uma realidade muito específica e sem paralelo. Fossem apenas as suas qualidades e teríamos razões para estar descansados. São pelo menos suficientes para tal, talvez para mais do que isso.
Perfil
Jardim é discreto. Assim o entendo por ter a noção que a sua passagem até agora pelo futebol não está marcada por declarações marcantes apesar do tempo que leva já no futebol nacional. As referências de quem com ele trabalhou são as melhores: organizado, objectivo, estudioso, versão benevolente do workaholic. Ter conseguido "sair a nado" da Madeira também nos diz alguma coisa. Não é fácil num mundo futebolístico tão reduzido conseguir ser notado e, até agora, ter justificado a atenção.
Ser Sportinguista é uma característica distintiva. Adivinho que seja essa uma das razões que estará na base da sua decisão de rumar a Alvalade. Não apenas o cumprimento de um sonho de criança. Também um misto de espírito de uma missão que cabe a cada um de nós adeptos e a atracção pelo risco de triunfar profissionalmente numa necrópole de treinadores e de sonhos.
Curriculum
Jardim chega com 2 títulos a Alvalade. O da II divisão com o Chaves na fase inicial da carreira e de campeão da Grécia no último trabalho. Não completou o campeonato mas não é possível não lhe reconhecer o mérito, atendendo ao facto de ter saído com apenas um empate e 10 pontos de avanço sobre o segundo classificado e ainda com um jogo a menos.
Não é a primeira vez que o seu nome aparece ligado ao Sporting. Foi dos nomes mais falados para ser o primeiro treinador de Godinho Lopes, juntamente com Laudrup e depois Domingos. Comprometeu-se com o Braga de Salvador quando este, por Janeiro,e com o Braga em dificuldades, deixou de acreditar em Domingos. Domingos havia de "ressuscitar" e levar o Braga a uma impensável final europeia, Salvador torceu-se, mas já era tarde.
Sair. É o verbo que marca as suas últimas ligações. Foi assim com o Beira-Mar, quando estava a ser a equipa sensação da prova. Quando nada o fazia suspeitar, após uma boa época em Braga. E, como foi lembrado acima na Grécia. Neste último tendo sido ligado a um boato tão inverossímil como cómico, face às circunstâncias.
A saída do Olimpiacos começou a ficar desenhada numa vitória de Pirro: ganha ao Arsenal mas fica de fora da segunda fase da Champions, com 9 pontos! Os adeptos gregos não gostavam da forma como a equipa ganhava os jogos, não lhes chegava o colosso de Rhodes que era a distância pontual, queriam nota artística. Um problema que, infelizmente, não é plausível virmos a ter no curto prazo...
Objectivos
Sem se saber qual a matéria humana à sua disposição é difícil estipular metas. Em teoria não me parece saudável que o Sporting abdique logo de inicio da vontade pelo 3º lugar. Não pela história, ou pelos pergaminhos, mas por razões de dimensão lógica: mesmo com uma drástica redução orçamental o Sporting continuará dispor de mais dinheiro do que os demais que competirão abaixo do segundo lugar. Não tem sido a sua falta que nos tem atirado para os lugares que tanto estranhamos.
Missão
As circunstâncias são-lhe favoráveis, é difícil fazer pior do que a época que agora acabou. Serão, como quase sempre os resultados a marcar a sua passagem. Para mim não apenas os 3 possíveis em cada jogo de futebol, isto para quem joga de mãos limpas. A formação do plantel, a rentabilização dos jogadores à sua disposição, o crescimento dos miúdos que lhe calharão em sorte também é importante. Mesmo quando não se ganha não tem que se perder tudo e a criação de valor com vista à sustentabilidade é quase obrigatória.
Uma equipa que honre a forma de ser e estar do Sporting: qualidade, abnegação, respeito pelo jogo, pelo adversário, pela camisola, pelos adeptos. Os Sportinguistas saberão reconhecer. Boa Sorte Leonardo Jardim!
Bom post, Leão. Só uma pequena correcção: Se contarmos o campeonato grego como título também podemos acrescentar a taça grega. A somar à Liga de Honra que ganhou com o Beira-Mar faz 4 títulos.
ResponderEliminarCaro Leão,
ResponderEliminarbreve nota: Jardim não saiu do Panathinaikos, mas sim do olympiakos.
O futebol bom pode ser possível, mas não será com Rolando ou Carlão, por exemplo.
E se subirem João Mário, Zezinho e voltarem André Santos e outros como os jornais, hoje dizem, então as saídas serão mais que muitas, inclusivé jogadores que queriamos juntamente no plantel, casos de Cédric e Martins.
Convem, também, estar atento ao negócio Porto-Mónaco. Creio que parte do orçamento e receitas que se queria com a venda de Moutinho deverá ir por água abaixo...
Pinto da Costa será só meio-cabrão e, se vier para Alvalade cerca de 3 milhões de euros, já será bem bom.
Leão da Madeira, obrigado. De facto essa ressalva era para ter ficado contemplada em post mas o adiantado da hora acabou por tê-lo feito ficar de fora.
ResponderEliminarSeguindo a linha de raciocíonio expressa no post de forma linear sim. Devia ter dito que é meu entendimento que o facto de a Taça ser uma prova a eliminar ter uma natureza diferente - 1 derrota não tem correcção possível - a distância alcançada por Jardim no campeonato já quase dava para ir ao alfaiate tirar as medidas para as faixas.
" A saída do Panathinaicos começou a ficar desenhada numa vitória de Pirro: ganha ao Arsenal mas fica de fora da segunda fase da Champions, com 9 pontos! Os adeptos gregos não gostavam da forma como a equipa ganhava os jogos, não lhes chegava o colosso de Rhodes que era a distância pontual, queriam nota artística. Um problema que, infelizmente, não é plausível virmos a ter no curto prazo..."
ResponderEliminarQuem treinou o Panathinaikos foi o Professor Jesualdo Ferreira.
O nosso treinador esteve no comando dos eu eterno rival Olympiakos.
Cantinho e Bandeira, obrigado, pensei uma coisa escrevi outra. E isto apesar da infografia :-)
ResponderEliminarMas não tinha sido referido pelo presidente durante a campanha de que o 3º elemento seria alguém a trabalhar no SCP e que por essa razão não podia referir o nome ?
ResponderEliminarNão dêem tanta importancia ao que os jornais vão escrevendo - são muitas paginas a cor que têm de preencher todos os dias.
ResponderEliminarAté agora mesmo não sendo oficial - penso que a vinda de Jeffersson será certa e parece-me uma opção melhor e mais barata que Joãozinho - optimo era conseguir sempre isso, mas não será nada facil.
Acho também que qualquer contratação não pode ser vista isoladamente.
Carlão não serve nem de perto para substituir o Ricky, mas se vier por exemplo Ghilas ou outra dessa qualidade - Carlão pode ser uma opção para quando se quer fazer um jogo mais directo - o tal pinheiro que nunca tivemos
Quanto a Rolando - sinceramente não desgosto mas depende sempre do acordo com o Porto
O trabalho que fez no Beira-Mar é elucidativo do treinador que acabámos de contratar.
ResponderEliminarComeçou por optar pelo Beira-Mar em deterimento do Gil Vicente, quando nada o fazia prever porque o clube de Barcelos era mais estável e tinha um orçamento bem superior.
O Beira-Mar era nesse ano para os aveirenses candidato à descida, no entanto com Jardim foi campeão.
O que me ficou do tempo do Leonardo Jardim no Beira-Mar foi a evolução constante da equipa e dos jogadores individualmente.
Desde essa altura que sonhava vê-lo no Sporting e confesso que foi uma surpresa que acontecesse agora porque pensava que estava destinado ao FCP.
Lda,
ResponderEliminarBom post. Destacaria na parte da missão "A formação do plantel, a rentabilização dos jogadores à sua disposição, o crescimento dos miúdos que lhe calharão em sorte também é importante."
Mais do que metas objectivas, espero crescimento táctico da equipa, valorização dos jogadores e atitude na procura da vitória em cada jogo.
Quanto a entradas/saídas, espero muito poucas contratações. Porque quanto menos, menor é o erro...e porque não há dinheiro. Há que aproveitar alguns jogadores que tiveram emprestados (e da equipa B) para colmatar as saídas de Capel, Rui Patricio, Schaars ou Adrien (um dos dois deverá sair...mais pelo ordenado), Miguel Lopes.
Rolando seria um erro na minha opinião. Não precisamos. O Sporting neste momento tem Ilori (enorme protencial!), Rojo, Dier e o regresso de Nuno Reis e será com estes que devia atacar a próxima época. Sem medos!
Mas fico à espero de um post sobre o plantel para a próxima época.
SL
ResponderEliminar"Em teoria não me parece saudável que o Sporting abdique logo de inicio da vontade pelo 3º lugar."
Não é em teoria. É de forma alguma. E cá vem o exemplo dado no post anterior de LMGM.
Se bem que é extraordinariamente difícil de obter os tais 70 pontos nas actuais circunstâncias, o enfoque mental de quem está neste Clube tem de ser o da obrigatoriedade da vitória.
Por regulamento sabemos que o Clube não defrontará nenhum dos seus eternos rivais antes da 5ª jornada.
Se cumprir a sua obrigação que é a de vencer os primeiros quatro (coisa que não acontece desde que a Liga é composta por 16 clubes), jogará o derby, seja ele qual for, no mesmo plano psicológico do adversário.
A questão orçamental é determinante, bem sabemos. Mas ela dilui-se a partir do momento que o universo de conquistas e participação desportiva se resume ao plano interno.
Não dará para comparar a exigência a que estarão sujeitos TODOS os que nos antecederam na tabela classificativa, não só pelo desgaste físico mas também ao nível das necessidades de construção do respectivo plantel.
Como tal a vantagem mora toda do lado de cá. Há que assumi-la.
Posso parecer utópico, bem sei. Mas estou em crer que se o arranque for a bom ritmo e não existir o "normal" 0-1 com os Rio Aves logo seguido do "espectável" 1-1 com os Olhanenses poderemos provocar uma surpresa.
É que nestas condições o 3º lugar é o mínimo dos mínimos que se pode exigir.
SL
Não me parece que se deva dizer que "o 3º lugar é o mínimo dos mínimos que se pode exigir." Com todo o respeito, acho que no máximo o que pode exigir é o 3º lugar. O que é diferente.
ResponderEliminarPorto e Benfica são hoje duas belíssimas equipas europeias. Se não estou em erro ficarão as duas no pote 1 da Champions, o que diz muito do trajecto das equipas nos últimos anos. O Porto é tricampeão e o Benfica, mantendo Jesus, continuará a um nível muito alto.
Infelizmente não me parece que se possa exigir que o Sporting compita com as duas. Até pelo muito significativo corte de custos que sofrerá na próxima época.
Mais do que metas objectivas, quero que o Sporting seja um clube sustentável! Claro que também o quero vencedor, mas temo que isso a curto prazo seja irrealista.
PM,é uma questão de perspectiva ou visão (positivo/negativo); o máximo é exactamente igual ao mínimo, não? Ou "Annus horribilis" tem um outro significado/objectivo?
ResponderEliminarO resto, é resto...
Falando da equipa técnica, vale muito a pena ler uma entrevista do Nélson Caldeira ainda na altura que estavam em Braga.
ResponderEliminarhttp://www.universidadedofutebol.com.br/Entrevista/10810/Nelson-Caldeira-treinador-adjunto-do-SC-Braga