Tinha
prometido que comentaria a saída de Jesualdo quando ela se tornasse definitiva
e é isso que este post versará. A afirmação em si e o facto de praticamente já se ter dito tudo sobre a matéria muito antes das comunicações oficiais também é esclarecedor do quanto se tinha tornado óbvio o desfecho ontem conhecido.
Erro
de avaliação técnica?
A
primeira resposta que ocorre é que só será um erro se quem o substituir for
pior. Não concordo inteiramente. O custo da mudança – perde-se o trabalho de
seis meses, perde-se a ligação estreita com os jogadores, entre muitas coisas
boas – obriga a que a troca tenha que ser feita por alguém que supere o que já
existia com Jesualdo. Ainda assim só mais adiante se poderá responder a esta
questão.
Mas
se
não é um erro é um risco. Da perspectiva de descida – se se mantivessem as
médias de pontos até à chegada de Jesualdo podia ter acontecido -
passamos a pensar na possibilidade de chegar às competições europeias.
Percebeu-se quanto a equipa cresceu,
apesar do contexto extremamente desfavorável. Percebeu-se que mesmo não
ganhando nada foi possível por a comunicação social, os adeptos em
geral, a olhar com gosto - e até suscitar o apetite do mercado - por um conjunto de
jogadores já
completamente desacreditados. Revelaram-se novos valores. Confirmaram-se
as
esperanças noutros.
Ninguém sabe o que vem a seguir. Pode até vir um
técnico
melhor em teoria, mas que não o confirme na prática. Nem todos os bons
treinadores servem para todos os clubes e em todos os momentos. Hoje alguém duvida das
capacidades de Jupp
Heynckes? Alguém se lembra do que fez no SLB?
Erro
estratégico?
Questões
técnicas à parte parece-me um erro estratégico. É hoje claro que Jesualdo não
continuou por falta de vontade do Sporting em acomodá-lo na sua estrutura. Do
lado de Jesualdo, se dúvidas houvesse, ficaram ontem bem claras, como ao longo
do último mês, que gostaria de continuar a desenvolver o trabalho que iniciou. Ao
não o reconduzir, o Sporting, o seu presidente em particular, prescinde do melhor
que recebeu da direcção anterior. Manter Jesualdo permitia uma primeira época
de avaliação e também de sossego. Ao dispensá-lo o presidente expõe-se caso não
encontre uma solução melhor. Este assunto criou incómodo, ruído e instabilidade. Tudo
menos o que precisamos.
Das
duas uma. Ou Bruno de Carvalho nunca contou com Jesualdo ou, como um arquitecto
inexperiente, projectou uma casa bonita no papel, mas onde não há espaço para o
fogão na cozinha ou o sofá na sala. A mim sempre me fui convencendo da primeira
hipótese. O presidente nunca foi muito convicto antes das eleições, pareceu-me
mais estratégia do que vontade. Após o acto eleitoral foi deixando correr o
assunto (2 reuniões, a última no inicio do mês) e o marfim cada vez mais afiado na comunicação social. Aqui, na comunicação, convenhamos que
não havia muita margem de manobra, atendendo ao que era o contexto em que se
debatia a equipa.
Legitimidade
A
legitimidade da decisão é incontestável. Conquistou-a esta direcção ao receber
a maioria dos votos e dos votantes – questão importante no nosso caso
especifico – mas, atenção, ela não é abstracta. Ao ser eleito todo e qualquer
presidente fica comprometido tacitamente a zelar pelos interesses do clube. A sua
legitimidade é nesse sentido, pode tomar toda e qualquer decisão, desde que ela
favoreça o clube e respeite os estatutos. É um argumento que não faz qualquer
sentido invocar.
Mas há muito quem o faça. Quem o faz deveria antes
preocupar-se em avaliar se as promessas eleitorais estão a ser cumpridas – os 20
milhões, os investidores, o contar com o Jesualdo, etc, etc – porque o seu não
cumprimento, ou tê-las feito por conveniência, ou sabendo da impossibilidade de
as realizar, já justificaria a abordagem da questão. No entanto não serei eu a
vestir o fraque de cobrador de dívidas difíceis. Nunca acreditei na exequibilidade
de algumas delas – os 20 milhões – nunca desejei outras – os investidores,
Freitas Lobo, por exemplo. Tem a palavra quem tomou uma decisão na hora de
votar esperando a sua concretização.
Última
coca-cola do deserto
É
interessante como se difunde uma doutrina. Argumento tantas vezes invocado em
muito lado. Jesualdo não é a última coca-cola do deserto. Ora o Sporting está
num deserto futebolístico. Cada vez mais longe dos rivais e mais acossado pelos
que outrora o seguiam de muito longe. Mandaria o bom senso que não atirasse a
coca-cola que tem na mão, para ir à procura de outra sem ter pelo menos chegado
a um qualquer oásis. O problema é que a travessia do deserto ainda está para
durar, como se anuncia pelas medidas draconianas que estão ainda por conhecer, mas que sabemos inevitáveis.
As hipóteses de que se fala
Leonardo Jardim à cabeça. Do ponto de vista técnico parece a melhor opção. Atendendo ao que foram os finais atribulados dos seus 3 últimos projectos torna-lo-iam pouco recomendável para um clube não menos atribulado. Como é Sportinguista de coração esse inconveniente dilui-se um pouco. Outros como os ainda treinadores do Paços de Ferreira ou Estoril são ainda uma boa incógnita. Já devíamos ter aprendido alguma coisa com o
sucedido com experiências anteriores, embora me pareçam melhor
preparados que alguns que por cá passaram. Mas até mesmo treinar o
Braga, o Guimarães continua ser muito diferente de o fazer no Sporting. E
os adversários não jogam contra nós como jogam contra eles.
Conclusão
Treinadores
há muitos. Não é um drama perder um treinador e ninguém se lembrará de
Jesualdo se o seu substituto trouxer resultados. É com eles que normalmente se
afere o trabalho de um treinador. Mas atenção! O parâmetro não é a época que agora acaba, a pior época de sempre terá que ser olhado como excepção e um exemplo a não seguir.
Mas é pelo menos inquietante ver o Sporting preferir o eterno recomeço em troca de um pouco de estabilidade. Jesualdo parecia-me o homem certo no lugar e momentos certos. Ninguém esperava o regresso ao titulo nacional ao virar da esquina. Existe o virar de agulha necessário nas mentalidades para se apostar na criação de valor, não apenas na formação de jogadores, mas na procura externa de talentos para crescerem connosco. O seu conhecimento e experiência poderiam ser uma ajuda importante na reorganização do departamento de futebol profissional e estender-se à Academia. Neste momento da sua carreira não está preocupado com a sobrevivência, o que é um factor importante na tomada de decisões. Nos últimos anos não tivemos ninguém que se lhe aproximasse em categoria. Oxalá o encontremos agora.
o 1º grande erro de BdC. Cabelos brancos precisam-se na nossa casa. Esta decisão não foi em prol do Sporting.
ResponderEliminarMais um começar do zero! Mais um renovar de esperança! Mais umas quantas expectativas sobre como será o futuro treinador! Mais entusiasmo de pré-época sobre o que é desconhecido (sabemos o quão difícil pode ser pôr em pratica o que é bom na teoria)! Só espero que esse entusiasmo não dure apenas uns poucos meses depois da bola começar a rolar. Tínhamos ao nosso alcance estabilidade, credibilidade e competência. Preferimos mudança, renovação. Assim se alimenta o Sporting. De constantes rewinds e resets!
ResponderEliminarA minha opinião por pontos, que o tempo não é muito.
ResponderEliminar1- Também preferia que Jesualdo ficasse, como já o disse.
2- Contrariamente à maioria, tenho dúvidas que Jesualdo quisesse ficar. Só uma pergunta, no Porto tinha a autonomia que reenvindicava agora?
3- Acho Leonardo Jardim muito bom treinador! Que diferença vamos sentir face a Sá Pinto que preparou (?) esta época. Só ainda não percebi as saídas dos 3 ultimos clubes. Feitio dificil?
4- Não gosto de Inácio, não me parece que acrescente nada como diretor desportivo. É daqueles que fala muito. Fartou-se de dar entrevistas e no final o Moreirense acabou por descer.
Reafirmo, o sporting tem e penso que vai ser presidençialista, como os rivais.Risco é colocar poder nos treinadores.
ResponderEliminarLata, é preciso muita lata. Não só para dizer que se conta com o treinador para sacar uns votos e depois fazer 2 reuniões para deixar cair. E apresentar o novo treinador no dia seguinte. Negociaram quando?
ResponderEliminarMas maior lata foi o que vi ontem em Aveiro. O Bruno aos saltinhos com a equipa, sem qualquer vergonha. O Bruno a cumprimentar os sócios a quem sabe que mentiu com toda a lata do mundo.
Concordo completamente consigo quando afirma que a não continuidade de Jesualdo resultou de uma ausência de vontade do Sporting em acomodá-lo na estrutura que idealizaram.
ResponderEliminarSubscrevo igualmente que estamos perante um erro estratégico cujas consequências apenas poderemos avaliar lá mais para a frente. A questão não está no facto de Jesualdo ser, ou não, a “oitava maravilha do mundo”, longe disso. As razões são de outra natureza. Em primeiro lugar Jesualdo conferia-nos uma vantagem competitiva, sobretudo pelo conhecimento do plantel e da realidade complexa do clube e do futebol português, que minimizaria o handicap com que partimos para a nova época. Além disso Jesualdo mostrou avant la lettre as ideias certas que devem nortear o futebol do Sporting nesta fase difícil. Trabalhou com esta equipa nos últimos meses e criou uma dinâmica positiva que tinha todas as condições para ser melhorada. Uma dinâmica construída a partir de uma situação caótica, confrangedora, com níveis de confiança paupérrimos e uma qualidade exibicional confrangedora. Jesualdo apostou em Drier, Ilori, Bruma, recuperou André Martins, fez Rojo parecer um bom jogador, tornou o Sporting uma equipa capaz de discutir qualquer jogo contra qualquer adversário. Os jovens que sustentaram a recuperação, interrompida por Capela e Proença, valorizaram o clube e valorizaram-se como nunca. Jesualdo mostrou em seis meses ser o homem certo para promover o capital humano que abunda na Academia. Por outro lado a sua continuidade aconteceria no contexto da mudança da estrutura de gestão que irá liderar o clube. Nada melhor do que contar com alguém que colabora juntando um conhecimento actualizado sobre a realidade desportiva que, provavelmente, ninguém na estrutura deterá.
No Sporting está instalada uma espécie do "Mito do Eterno Retorno". Por mais que se viva apenas se consegue repetir os erros já cometidos, sofrer as mesmas desilusões, voltar outra vez ao princípio, voltar a trilhar o caminho do fracasso já percorrido e de novo anunciado. Pensemos no inicio da época passada e veja-se como foi necessário tomar um conjunto alargado de pequenas medidas para assegurar/garantir o descalabro que se seguiu. Mas, enfim, espero que as coisas corram bem desta vez.
"2- Contrariamente à maioria, tenho dúvidas que Jesualdo quisesse ficar. Só uma pergunta, no Porto tinha a autonomia que reenvindicava agora?"
ResponderEliminarA mim parece-me evidente isto. No Porto é bolinha baixa que há muitos títulos e guito para se ganhar, sem custo algum.
Aqui armam-se em pavões, cheios de princípios e verticalidades. É bom que os tenham, mas parece que escolhem sempre as piores alturas para o demonstrar. Ou melhor, quando o deveriam mostrar, não mostram.
LJ é um óptimo treinador e BC está a apostar em sangue verde. É um estilo.
O projecto de BC começa agora, nem fazia muito sentido ficar com o JF, contratado por Godinho.
Já é oficial: Boa sorte, Leonardo Jardim!
ResponderEliminarSobre JF reafirmo o q escrevi na cx de comentários do post anterior.
FORÇA SCP!
SL!
Leonardo Jardim é o novo treinador.
ResponderEliminarIndependentemente da natureza do acto que levou à não continuidade de Jesualdo, esta direcção revelou destreza e eficácia na sua substituição.
Bem diferente do que se passou até à, essa sim, erro estratégico, contratação de Vercauteren, ou às negas consecutivas que parecia nova sina do Clube.
Como tudo que só se deve julgar à posteriori, cá estaremos para avaliar.
Sai um num dia. Longa vida, Professor. A melhor das sortes.
Entra outro. Seja bem vindo, Mister. A partir de agora é consigo. Recursos não abundam. Mas desta vez, que me lembre, tem tempo como nenhum outro.
Ah! E foi a primeira opção.
Pelo menos que se soubesse. O que é muitíssimo importante.
SL
E ninguém coloca a ideia de ser o JF a não querer ficar...?
ResponderEliminarA sua entrada no Sporting contou com o apoio dos adeptos, que reconheceram o trabalho que conseguiu fazer e a recuperação..
Não conseguimos a Europa, que teria sido possível se por acaso não tivéssemos levado com um capela qualquer...
Mas mesmo assim o treinador não deixou de contar com o apoio generalizado...
Mas o próprio JF o reconheceu...: o próximo ano vai ser uma "annus horribilis"...e tenho dúvidas que o JF quisesse entrar nessa lotaria... que é uma parte significativa dos adeptos verdes, que perdem facilmente a paciência e passam do aplauso ao assobio e à ofensa verbal...
O JF creio, não quis ser sujeito a esse enxovalho e assim preferiu ficar com os loiros conquistados, neste período que passou à frente do Sporting...
A ser despedido a meio da época se os resultados não fossem os que alguns esperariam...
Gostei do post, um ponto de vista interessante, mas que discordo em alguns aspetos. Pela primeira vez em muitos anos, sai alguem que fica com uma porta aberta, pelo excelente trabalho que fez e pela forma como a sua saída foi processada. Devo dizer que tennho pena que tenha saído, mas percebo a decisão. Esta teve a ver não com o desempenho do professor, mas com compromissos já assumidos pelo presidente e a não cedência de ambas as partes em alguns aspetos. Na minha opinião Jesualdo era o homem certo, volto areferir.Outro aspeto positivo que se retira disto foi a velocidade com que se resolveu a situação do treinador com uma alternativa credível, ao contrário do que acontecia em anos transatos.É obvio que os resultados é que vão ou não validar a questão. Pelo menos nota-se um rumo bem defenido.Não é possivel em boa verdade dizer se é o melhor, só o futuro o dirá, mas penso que o presidente tem estado à altura do desafio. Vamos ver agora como o plantel vai ser composto,as verbas e os objetivos para a proxima época.
ResponderEliminarGostei do post, um ponto de vista interessante, mas que discordo em alguns aspetos. Pela primeira vez em muitos anos, sai alguem que fica com uma porta aberta, pelo excelente trabalho que fez e pela forma como a sua saída foi processada. Devo dizer que tennho pena que tenha saído, mas percebo a decisão. Esta teve a ver não com o desempenho do professor, mas com compromissos já assumidos pelo presidente e a não cedência de ambas as partes em alguns aspetos. Na minha opinião Jesualdo era o homem certo, volto areferir.Outro aspeto positivo que se retira disto foi a velocidade com que se resolveu a situação do treinador com uma alternativa credível, ao contrário do que acontecia em anos transatos.É obvio que os resultados é que vão ou não validar a questão. Pelo menos nota-se um rumo bem defenido.Não é possivel em boa verdade dizer se é o melhor, só o futuro o dirá, mas penso que o presidente tem estado à altura do desafio. Vamos ver agora como o plantel vai ser composto,as verbas e os objetivos para a proxima época.
ResponderEliminarEntão e o 3º elemento é o próprio BC?? Houve uma pequena alteração?? Isto promete...
ResponderEliminarDesejo muita sorte para o Leonardo Jardim e é o meu treinador a partir de hoje mas este projeto está tão bem delineado como o meu testamento. Assim de repente, e tendo em conta que o programa eleitoral não era assim tão diferente nos pontos principais do programa que tinha nas eleições que perdeu, como é possível passar de um perfil Van Basten para um perfil Leonardo Jardim???
Da mesma maneira que se passou de um perfil Domingos Paciência para um Sá Pinto, para um Vercauteren e para um Jesualdo. Continuamos a navegar sem um rumo definido! Estou pessimista.
A Média de pontos antes de Jesualdo apontaria a cerca de 30 pontos finais.
ResponderEliminarDaria para 11º lugar.
Quem desceu, desceu com 24.
Concordo plenamente com o Post, que em meu entender analisa correctamente a situação com clareza e intuição. Parabéns.
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