Convido os leitores a deixarem aqui a opinião sobre importante entrevista de JJ ao jornal Record. Certamente que alguns acharão muito redutor fazer caber em apenas três pontos os pontos positivos e negativos (ou menos agradáveis, se quiserem) um documento tão extenso. Mas precisamente pelo volume da informação contida é que me parece ser importante ter dado algum tempo para a digerir.
Eu aproveito a publicação para fazer o mesmo, juntando apontamentos pessoais com frases que servem sustento ao exemplo dado.
O MAIS
Identificação
Um dos aspectos mais importantes da peça, e que certamente tranquilizará os Sportinguistas, é a ideia de que existe uma comunhão de ideias e interesses entre o presidente e o treinador. Porque esta é essencial para o sucesso e porque estaremos todos escaldados pelo que sucedeu o ano passado.
Não faço nada no Sporting, dentro da minha área, que não seja em sintonia com o presidente
Ele (BdC) estar no banco não me incomoda nada. Zero! Ele já percebeu a minha
forma de trabalhar e eu também já o conheço. Sabemos quais as
responsabilidades de cada um. Quando é matéria de presidente, ele é o
chefe. Quando é matéria de treinador, sou eu quem decide e mais ninguém.
Isso (Carrillo) é uma situação mais complicada e o presidente também o vai
perceber. Temos de ter, os dois, os mesmos interesses. Não é uma decisão
fácil nem para ele nem para mim, mas temos de defender os interesses do
Sporting.
Realismo
Nada como conhecer a realidade para a poder mudar. O Sporting é grande pelo seu passado e pelo número e qualidade dos seus adeptos, mas os últimos anos não têm sido muito felizes. No que diz respeito ao futebol, JJ demonstra conhecer a realidade interna e o meio envolvente.
Chamou-me particular atenção a parte em que se refere à estrutura, que há muito tempo, e em especial nos últimos anos, praticamente se dissolveu. Há muito tempo que o Sporting é dos três grandes aquele que trabalha de forma mais desconexa os vários aspectos da retaguarda de uma equipa de futebol, desde o planeamento, até à execução. E isso estende-se a outros sectores fundamentais para a sustentabilidade do clube, como é o marketing, publicidade, e área corporate, p.ex.
Por exemplo, a prospecção de jogadores: quantas vezes terão sido observados o imenso lote de jogadores que o ano passado desaguaram em Alvalade? Ou apareceram em cima das secretárias de Alvalade em DVD? Quem deu o aval para a sua contratação? Por muito que nos custe, exemplos como Pongolle continuarão a existir, e eles proliferam em todos os clubes. Se JJ tiver sucesso na implementação das suas ideias seguramente que continuaremos a não acertar em todas as contratações, porque falamos de uma das actividades mais contingentes no futebol, mas a percentagem de insucesso tenderá a descer. É muito por aqui que a contratação de JJ pode vir a ser um momento de inversão na história do nosso futebol.
no Sporting será mais difícil, porque ao longo dos últimos anos este clube perdeu muito tempo para Benfica e FC Porto
O que é que o Sporting tem ganho ao longo destes últimos anos? E não é só o ganhar, é chegar lá, aos momentos de decisão
Outra é não contares para nada
O Sporting hoje é um grande clube pela força do seu passado, dos Cinco
Violinos que ganharam 4 campeonatos seguidos até 1954, ano em que nasci
No Benfica, houve um ano em que fui campeão [2009/10] e fiquei 28 pontos
à frente do Sporting. 28? Isso não existe... Não quero esse Sporting,
quero o do passado, que orgulhe os adeptos, que os faça saber que pode
não ser campeão, mas que vai disputar o título até ao fim. Isso vai.
o FC Porto tem uma estrutura de 30 anos; o Benfica tem uma estrutura de 6
anos; o Sporting tem uma estrutura que só agora está a começar a ser
preparada para estes desafios....
o que é a estrutura? É a forma como estruturas as pessoas em função das
ideias do treinador. Achava que isso não existia no Sporting e, depois
de lá entrar, tive a certeza.
O Sporting tem sido forte na formação, mas não na prospeção. Não vimos,
ao longo destes últimos anos, o Sporting valorizar jogadores de
prospeção e esse é o desafio, porque também foi isso que fez com que o
Sporting nos últimos anos não ganhasse nada.
A estrutura é curta, é pequena. Esse departamento não pode estar
resumido a dois scouters em Portugal. Tem de conhecer o mercado da
Argentina, do Brasil, Uruguai, Chile, Colômbia, enfim, países onde ainda
consegues ir buscar jogadores de nível, dentro do preço que podes
pagar.
Responsabilidade e ambição
Um dos maiores defeitos apontados a JJ é de um ego mastodôntico. Goste-se ou não, é acompanhado por uma dose idêntica de ambição e de responsabilização pessoal. Os objectivos são assumidos de forma clara bem como as responsabilidades, sem desculpas. Sem dúvida que o Sporting tem pouco ou nenhum poder institucional, que muitas vezes contribui para um tratamento por parte dos diversos intervenientes que o prejudicam.
Mas não é menos certo que o excesso de queixas e queixinhas tende a desculpabilizar os erros próprios, o que não ajudará muito a percepcionar a necessidade de ser todos os dias um melhor que ontem. Se entre adeptos não é muito salutar, isto pode ser particularmente perigoso se interiorizado dessa forma pelos seus profissionais. A forma como JJ analisa o fracasso no apuramento para a Champions League é exemplar.
estou aqui para assumir o risco. Um treinador do Sporting não pode fugir à responsabilidade face à história do clube
O falhanço no apuramento para a fase de grupos não pode ser apenas desculpado com os árbitros. A culpa também foi nossa...
Um jogador quando não
rende, a culpa nunca pode ser dele. O treinador é que o mete a jogar.
Havia alguma expectativa, principalmente em relação ao Labyad e ao
Capel, mas depois de começar a trabalhar achei por bem tomar outras
decisões.
O Ciani foi uma decisão minha.
O MENOS
É óbvio, pelo discurso de JJ, que ele sente o Sporting como um ponto de passagem. Isso percebe-se pelo silêncio sobre o FCP. E que pode ser reforçado pelo facto de ter rejeitado liminarmente a possibilidade de o seu contrato contemplar uma cláusula de rescisão. E como será quando as circunstâncias que o fizeram chegar ao Sporting - falta de um clube internacional que lhe garanta o sucesso/FCP com a cadeira de treinador ocupada/saúde do pai - terminarem? E se for já no próximo ano?
Também não gostei do excesso de referências ao SLB. Por um lado compreendo que foram os últimos seis anos da sua vida e que o antigo clube, não digerindo ainda a forma inepta como o colocou no nosso colo, o transformou como alvo a abater. Por outro é demasiado tempo e energia que espero não lhe tire o discernimento que precisa no muito que o Sporting precisa que ele faça. Se fosse a primeira vez ainda vá lá, mas tem sido recorrente.
Mais:
ResponderEliminar1) a ambição que traz para o clube assente no seu know How.
2) a identificação com o projecto.
3) a capacidade de se referir aos adeptos de forma única, mobilizadora.
Menos:
1) ressentimento com o slb, e a continuação da história que todos conhecemos.
2) a ideia de que no scp tudo foi mau e que agora com ele tudo e bom.
Caro Leão de Alvalade
ResponderEliminarBom desafio… voltei a ler a entrevista e encontrei aspectos (positivos e negativos) que me escaparam numa primeira leitura. Lendo de novo…
Mais:
- O elogio à capacidade de aprendizagem e de adaptação do plantel ao que o treinador pretende
- A avaliação às causas dos erros da arbitragem na 1ª Liga
- A clareza (possível) da abordagem relativamente a determinados jogadores (Gelson, Carrillo, Ciani, Ruiz, Douglas, Capel e Labyad)
Menos:
- A mágoa que revelou por não ter continuado no Benfica e a ambiguidade relativamente ao FC Porto
- A avaliação ao grau de desenvolvimento dos jogadores com ele e com outros treinadores
- A redução de André Martins à função de segundo avançado
Mais:
ResponderEliminar1) Preocupação em demonstrar sintonia com Bruno de Carvalho
2) Dá sinais que está pronto a levantar o véu sobre algumas estratégias subterrâneas do benfica.
3) Confiança no projecto do Sporting.
Menos:
1) Demasiadas referências simpáticas para o antigo clube e respectivos jogadores.
2) Pouca vontade em ferir susceptibilidades do fcporto.
3) Demasiado "Eu" e pouco "Nós".
Um abraço conterrâneo!
Menos:
ResponderEliminar1. A Martins não contar para o meio campo. Jogou com 3 médios contar o CSKA e nenhum médio suplente pq AM é "segundo-avançado".
Mais:
Ambição e frontalidade. Sem nenhum rodeio p.ex. nas questões do Danilo, Ciani, Naldo.
E, claro, a qualidade do trabalho que se nota bem nos apontamentos técnicos.
LdA, há uma coisa no post que não percebo.
ResponderEliminarA circunstância de JJ rejeitado liminarmente a possibilidade de o seu contrato contemplar uma cláusula de rescisão não é benéfica para o Sporting?
À partida, sem cláusula de rescisão, diria que JJ só poderá sair com o acordo do Sporting ou com justa causa.
Não seria pior se JJ tivesse exigido uma cláusula de rescisão? Foi à custa de uma cláusula desse tipo que o AVB mandou a cadeira de sonho às nalgas.
Jô,
Eliminarquando JJ não aceita a imposição de uma cláusula de rescisão está a dizer que não aceita que lhe condicionem as opções e que sairá quando bem entender. Isso é essencialmente bom para ele.
1 - Positivo. Jorge Jesus, fala claro e mija direito, junta a estes factores ter ambição e trabalho em conformidade com a sua personalidade.
ResponderEliminar2 - Negativo. Excesso de referencias ao passado, Jorge Jesus ainda não assume o Sporting como "seu", ainda não percebeu onde está e ao nível a que nós o podemos levar. Precisa urgentemente de o fazer, seja porque alguém lho impõe, seja por se deixar apaixonar por nós. Se a segunda hipótese se realizar, temos treinador até ao fim da sua vida.
3 - Positivo. Excelente articulação com o Presidente. Bruno de Carvalho tem agora uma missão difícil, fazer com que um egocêntrico se apaixone por outrem. Não é fácil, mas é possível.
P.S. - Leonardo Jardim, tinha clausula de rescisão, era Sportinguista desde pequenino e saiu quando quis por um valor inferior ao da clausula.