Amorim e o pecado (muito) original
Com Amorim o Sporting deu um salto qualitativo enorme e isso não se afere "apenas" pelo titulo conquistado. Mesmo até numa época mal conseguida como esta ficaram registos de exibições de elevado quilate, das quais, curiosamente, as das competições europeias são o expoente máximo.
Isso deita por terra as avaliações de que temos um "plantel fraco", uma vez que aqueles registos foram conseguidos com adversários de outros campeonatos: ligas onde abunda o dinheiro e, por consequência, onde pontuam os melhores jogadores e treinadores. Na recente eliminatória acabamos por ser eliminados por detalhes, mas onde globalmente fomos iguais ou superiores na maior parte das duas partidas. Não foi por isso apenas um jogo, sem exemplo.
É certo que os italianos têm aquele "jeito meio estúpido de ser e de fazer coisas que nos podem magoar e ofender", como a Juve, de forma cínica, nos fez. Mas podiam muito bem estar agora a pensar se os quinze pontos vão serão suficientes para chegar à Liga dos Campeões, ao invés de olharem para a Liga Europa como um atalho a explorar. "Bastava" que as várias oportunidades escandalosas de Turim e Alvalade tivesse sido concretizadas. No mínimo dariam o direito - merecido, diga-se - a prolongar a decisão para lá do tempo regulamentar.
Embora haja muito entendido, doutorados em verdades insofismáveis, que consiga afirmar que "se tivéssemos mais um avançado tínhamos passado", ninguém o poderá garantir. Por exemplo, na época 17/18 tínhamos Bas Dost, Doumbia e Freddy Montero e também não conseguimos ganhar à Juventus. E quem marcou o nosso único golo foi o... Bruno César.
Mas que mais um avançado faz falta julgo ser consensual. Resulta aliás do uso de bom senso e isso sim, é surpreendente num treinador que entrou no Sporting e se distinguiu justamente pelo acerto nas decisões tomadas. Como seria surpreendente se só tivéssemos um guarda-redes, um lateral e por aí fora.
E tornou-se mais evidente ainda com a lesão de Paulinho e a total impreparação de Chermiti para estas andanças. E se todas as razões já evidentes não fossem suficientes, a conferência de imprensa de Amorim ontem demonstram o quanto o tema desgasta e expõe desnecessariamente o treinador. De tal forma que Amorim acabou por ser infeliz quando usou o exemplo de Liedson, Slimani e Derlei.
Não há nenhuma explicação lógica que sustente a decisão em não querer mais um avançado. Nem o episódio desagradável e desestabilizador com Slimani. É uma decisão que limita as soluções e que algumas vezes nos poderá, quem sabe, terá impedido de fazer golo(s) e ponto(s). Espero que Amorim continue por muitos e bons anos, algo que imagino seja muito dificil de conseguir. Mas espero obviamente que se livre deste pecado original de ter apenas um verdadeiro "9" no plantel.
E quero-o porque, tal como disse acima, o Sporting cresceu muito com Rúben Amorim. Não só pelos troféus que conquistamos e que este ano não conseguimos igualar, mas por muitas outras razões. Por perceber muito bem o Sporting e as suas idiossincrasias. Pela mudança de mentalidade que nos permite encarar qualquer jogo como uma vitória ao nosso alcance.
Porque quanto ao jogo de ontem e até de toda a campanha europeia só tenho razões para me orgulhar do caminho percorrido. Jogos como os de ontem continuarão a ser uma montanha dificil de escalar para nós. Mas aqui e ali conseguiremos, como já o fizemos anteriormente.
Dizem que estes jogos se decidem nos pormenores. Não, a maior parte destes jogos decidem-se antes de começar, quando os orçamentos permitem o acesso aos melhores. E os melhores normalmente marcam mais, falham menos. Foi assim com Higuain em 17/18 e Rabiot ontem...
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