Voto electrónico: porque não posso votar?
Vai a votação a alteração estatutária que visa permitir o voto eletrónico aos associados do Sporting. O voto eletrónico já é uma realidade, mas apenas é possível localmente, no decurso das assembleias electivas. O que agora se pretende é que o voto seja possível à distância, isto é, onde o associado se encontrar fisicamente, sem necessidade de deslocação a Lisboa.
Sendo um anseio de há muito tempo e de muitos que, por viver em longe de Alvalade, se vêm impedidos de participar activamente nas decisões do clube ou para isso terem que suportar elevados custos, esta alteração deveria merecer não só a melhor atenção, como ser recebida com particular carinho por todos. Afinal somos o Sporting Clube de Portugal e não o Sporting Lisbon. Mas infelizmente não me parece que assim tenha sucedido, o que registo com imensa pena.
Mas falamos do Sporting e não vale a pena ter veleidades: aqui tudo é objecto de discussão acalorada e num clube profundamente balcanizado, cheio de grupinhos e grupetas, sobressaem imediatamente os argumentos a infundir o medo, a teoria conspirativa e claro, o receio atávico da mudança. Haverá sempre um “mas” para quem não quer apreciar a alteração apenas pelo mérito e por ela significar um avanço. Depois quem detém o privilégio de votar quando quer e ir às AG’s se lhe apetecer não vê aqui um verdadeiro problema.
Ao apresentar esta proposta o CD cumpre uma das suas promessas, o que deve ser saudado. Mas se procura que esta tenha sucesso, e conhecendo como ninguém a realidade interna, creio que poderia ter atalhado à partida muitos argumentos conspirativos e de grupos que tradicionalmente se opõem “porque sim”, pugnando pela votação pura e simples da possibilidade do voto eletrónico à distância, comprometendo-se oportunamente a sujeitar à aprovação dos sócios:
- O parceiro electrónico que construirá a solução
- A entidade que prestará o serviço de auditoria, publicando a forma como ela será exercida
- Um regulamento claro, onde fique bem definido o papel das listas candidatas às eleições, nomeadamente o acesso a todo o processo
Esta informação é crucial para validar a alteração pretendida. Ainda há tempo para o fazer em sede de AG, emendando a proposta e sujeitando-a a votação para posterior regulamentação, de forma que esta não seja mais uma oportunidade perdida. Liderar é também saber construir consensos.
Ouvi e li muitos argumentos contra esta proposta. Compreendo e partilho grande parte das preocupações. Mas lamento que grande parte dos argumentos se preocupem mais em infundir o medo do que em criar condições para oferecer a todos a possibilidade a todos de nos sentirmos sócios de corpo inteiro e não apenas meros contribuidores de quotas. Alguns desses argumentos representam aqui e ali uma menorização intelectual dos sócios ou até mesmo à sua honestidade.
O voto electrónico não presencial é já exercido em alguns países e em várias organizações. Não se conhecem até hoje exemplos de adulteração de resultados. Contudo mesmo tendo isso em conta, que não é pouco, não os invocaria como exemplos. Muito menos considerações de outras organizações que nada têm a ver com a nossa realidade.
Se nos quisermos concentrar apenas nas possibilidades de iludir a
segurança de todas as formas de votar encontraremos sempre motivos para
receios. Não há sistemas inexpugnáveis. Mas acredito convictamente que o
Sporting, é capaz de construir uma solução não apenas satisfatória mas
confiável.
Uma das soluções preconizadas para evitar o voto electónico seria o envolvimento dos núcleos, no que seria uma descentralização da votação. Porém tal parece-me mais tentativa de protelar as decisões, adiando para as calendas uma decisão. Desta forma é mais provável termos um novo aeroporto em Lisboa, adiado consecutivamente há 50 anos, do que encontrada uma alternativa inclusiva á actual forma de exercer o voto.
Quem conhece a realidade dos núcleos sabe que poucos têm infraestruturas humanas e técnicas para um processo deste tipo e alguns nem condições de dignidade para o acto.
Acresce que a necessidade de tornar o processo acima de qualquer suspeita obrigaria a uma solução técnica desse teor, o que seguramente oneraria os custos e seria acrescido por um factor de multiplicação por todos os locais onde fosse instalada. Ao contrário de uma solução centralizada, que terá que existir sempre mas é apenas uma.
Mas pior ainda seria ficar a meio caminho do que se pretende, uma vez que não significaria uma verdadeira solução a todos, mesmo considerando que seria possível uma mesa de voto por distrito, o que, na realidade actual se afiguraria até difícil.
Na próxima AG não votarei, tal como muitas outras anteriormente. E provavelmente assim continuarei. Se assim for isso significará que o Sporting perdeu uma oportunidade de se aproximar dos sócios e de se modernizar. Mais, perderá uma boa oportunidade de liderar pelo exemplo.
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