De vez em quando é importante fazer uma pequena revisitação ao passado, especialmente quando as épocas caminham para o seu final. Essa é talvez a melhor forma de percebermos o que foi feito das promessas feitas e também o que aconteceu com as nossas próprias expectativas. Foi isso que fiz hoje é dessa retrospectiva que nasce o artigo de hoje.
As promessas da direcção
A nove de Abril do ano passado Bruno de Carvalho prometia, à saída de um jantar com o "grupo parlamentar Sportinguista", "
mexidas cirúrgicas para a próxima época". Um tema amplamente debatido já por ocasião da primeira época ao comando dos destinos do clube e que se tem mantido entre os assuntos mais polémicos.
Ora a promessa de "mexidas cirúrgicas" saldou-se pela aquisição de André Geraldes, Nabby Sarr, Paulo Oliveira, Rábia, Jonathan Silva, Orioll Rosel, Ryan Gauld, Slavchev, Sacko e Tanaka, num total de dez jogadores. A estes somou-se uma única incorporação de um jogador oriundo da formação, João Mário. Tobias Figueiredo é chamado já numa segunda fase, para cobrir a saída de Maurício para Itália. Nani é de outro campeonato e por isso tem parágrafo à parte.
A ideia mais comum de "mexidas cirúrgicas" acabou suplantada por uma abundante intervenção. Porém, os resultados desta enxertia de novos órgãos estiveram longe de serem felizes, sendo notória a existência de um número muito razoável de rejeições ou nulo aproveitamento.
Vejamos: se a Gauld ninguém negará o talento, pode-se colocar a utilidade da sua contratação para um plantel onde já havia Medeiros e num clube que tem que administrar o dinheiro ao cêntimo. Mas, enfim, jogadores de talento têm sempre lugar e não podem ser considerados inutilidades ou muito menos maus investimentos. Sobre
Nabby Sarr não escrevo nem mais uma linha, o presente faz-me a justiça necessária aos comentários aqui deixados sobre a opinião emitida oportunamente. Ao central francês podemos juntar Rábia, Slavchev Sacko, que desperdiçaram todas as oportunidades concedidas para justificar a preferência. Geraldes não se percebe e o exotismo de Tanaka não se traduz na qualidade que é exigível.
Mas mais importante do que fazer a demonstração do acerto de um juízo emitido oportunamente, é verificar que, para um grande número de jogadores chegados o ano passado, já cá havia jogadores melhor habilitados para o desempenho das mesmas funções. A comparações foram feitas já várias vezes ao longo da época, pelo que é fastidioso repeti-las: (André Geraldes/Esgaio/Cédric/Miguel Lopes - Sarr, Rabia/Tobias, Semedo, Reis - Slavchev/Wallyson, Sacko/Chaby, Podence, Martins, só para falar nos mais óbvios).
Paradoxalmente a direcção haveria de realizar de forma surpreendente aquilo que se pode considerar uma cirurgia de elevado acerto: Nani. O que é difícil de perceber aqui é o critério. Obviamente que não temos possibilidade de contratar jogadores de valia semelhante para a defesa, meio-campo e ataque. Mas parece acima de discussão que o critério que prevaleceu foi a da quantidade e não o da qualidade. Acontece que a segunda é indispensável para cumprir as promessas de "lutar pelo título" de podermos partir da tão famigerada "pole position". Quer uma quer outra estiveram sempre muito longe de poder suceder.
As promessas de Marco Silva
No dia da sua apresentação Marco Silva proferiu uma afirmação que subentendia uma ideia base para o futebol que queria que a equipa praticasse:
Não deixando de ser uma ideia genérica, também não deixava de ser apelativa, antes pelo contrário. Porém, a sua colocação em prática sofreu vários engulhos, o que redundou em perda de pontos numa fase muito precoce da prova. Cedo se conseguiu vislumbrar que as dificuldades pela frente iam ser muitas e disse-o aqui ao fim de quatro jornadas:
No que diz respeito ao trabalho especifico do treinador pode-se considerar como atenuante o facto de, pelo menos em hipótese, não estarem ainda devidamente interiorizadas as ideias preconizadas. No entanto, sem desculpas, a falha principal residiu sobretudo no equilíbrio.
Geralmente a equipa, nos jogos domésticos, foi quase sempre ambiciosa, procurou dominar os jogos em posse e de tendência atacante. No entanto, aponto três falhas cruciais que contribuíram para resultados comprometedores:
1- Sobretudo nas primeiras jornadas vimos uma equipa a subir no terreno, procurando pressionar alto e reduzir os espaços, sem contudo conseguir controlar o espaço sobrante nas suas costas. Tal falha deveu-se em grande parte à (i) qualidade dos intervenientes (Maurício e Sarr, sobretudo), sobretudo à deficiente leitura de jogo que lhes permitisse antecipar os movimentos dos adversários. Mas também (ii) às suas características, que os deixava em desvantagem em relação aos adversários mais velozes. Um treinador tem de perceber as limitações dos seus jogadores, de forma a, ao invés de as expor, lhes potenciar as qualidades.
Essa proposta parece ter sido progressivamente abandonada por Marco Silva, sendo notório nos últimos jogos uma linha mais descida. Esta mudança, conjugada com o facto de qualquer um dos defesas centrais actuais serem melhores do ponto de vista técnico, contribuiu para estabilizar o sector. Valha a verdade que ter que jogar com oito duplas de centrais diferentes deve ter constituído um sério obstáculo à consolidação de processos.
2- Várias foram as vezes em que a equipa ficava desequilibrada e não sabia responder de forma adequada ao momento da perda da posse de bola. É verdade que o recomeço de William chegou a ser penoso, registando erros comprometedores e pouco habituais nele. A isto somaria muitos erros de Adrien em posse e de posicionamento. Aqui convém salientar que, com Marco Silva, a sua área de intervenção se alargou, o que não estou certo que esteja de acordo com o que o jogador pode dar.
3- Várias vezes se falou na falta de jogo interior. Neste aspecto há que conceder que nenhuma equipa em Portugal tem o seu jogo atacante tão bem estruturado e é tão eficaz como o SLB. Por exemplo, quem tiver presente o primeiro golo deles no último jogo (Gil Vicente) percebe o que tento dizer. É nesse sentido que deveria crescer o nosso processo ofensivo, e isso depende muito do trabalho do treinador, da operacionalização do treino mas também muito da qualidade e talento individual dos jogadores. Ambas as condicionantes deveriam crescer para o Sporting poder estar à altura das suas ambições.
Acho que há alguns jogadores que podem fugir um pouco à lógica do desperdício. Slavchev acima de todos. Pareceu-me ser uma jogada de risco, mas é como tudo podem correr bem ou mal. Foi um jogador que deu nas vistas no seu campeonato, é internacional (por uma selecção hoje em dia pouco relevante) mas tinha e tem características que poderiam pressupor qualidade. Acho que é mais um caso de inadaptação pura e dura. Depois foi mal gerido internamente. Por mais que não correspondesse na B teria de ter mais sequência, mais jogos, mais minutos. É com o jogo que as coisas correm melhor, que os jogadores aprendem e que crescem.
ResponderEliminarDe resto estou geralmente de acordo. Marco Silva começou por atacar bem e defender mal. Hoje faz mal a primeira e é razoável na segunda. Houve também um excesso de conservadorismo em algumas opções, que acabaram por esgotar fisicamente alguns jogadores, Adrien acima de todos.
SL
Dimitris Nalitizis,
EliminarCasos como o de Slavchev podem suceder a qualquer um. Mas acontecem mais vezes quando se arrisca num jogador jovem como ele e oriundo de um campeonato "emergente". O problema do Slavchev é que também não se adaptou a Inglaterra e à Premier. Há vários jogadores que só são profetas na sua terra. Mas devo dizer que sempre me pareceu um jogador muito Youtube. Espero não estar a ser injusto.
Relativamente à utilização na B as circunstâncias também não o ajudaram. Quando foi utilizado a equipa registava grandes dificuldades e o treinador não pôde ficar à espera e teve que se valer de quem lhe dava garantias. Felizmente para o Wallyson e creio que para nós e para a nossa formação.
Eu acho que houve aqui uma aposta mais ou menos declarada em jogadores jovens a baixo custo, com algum potencial, que não entrariam num primeiro momento na primeira equipa do Sporting, mas que trabalhados em Alcochete poderiam lá chegar num médio prazo.
ResponderEliminarTalvez aquilo que se faz no Ajax por exemplo, onde muito dos jovens lançados foram estrangeiros contratados depois de terem dado nas vistas nos seus respectivos campeonatos.
Assim acho que se pode explicar Sarr, Rabia, Sacko, Slavchev, Gauld, ¨Jonathan, etc...
J. sim é isso mesmo, mas a questão é se o Sporting devia fazer isso.
ResponderEliminarNós já somos "produtores" de jovens jogadores a baixo custo, se a politica de compras é idêntica à do clube que mensagem se dá aos "da casa"?
Se a qualidade que já cá temos dentro é em geral boa (igual ou melhor do que a dos contratados), porquê investir fundos que são escassos em "produtos" de igual ou maior risco?
Não seria mais óbvio gastar cirurgicamente, como foi anunciado, em jogadores me menor risco e que tenham maior influência imediata na produtividade global da equipa?
Eu acho que ainda é cedo para discutir isso.
EliminarVisto os resultados do primeiro ano, está claro que foi uma estratégia falhada.
Agora resta saber se foi por falta de qualidade dos jogadores em causa, falta de capacidade em trabalhar esses jogadores, ou até falta de experiência ou maturidade institucional em fazer este tipo de trabalho.
O certo é que teremos que ser capazes de fazer melhor este tipo de trabalho. Por 2 razões:
- Não podemos apenas viver da formação clássica de jogadores que passam pelos escalões de formação do clube antes de ser lançados nos seniores;
- Não temos capacidade de ir buscar jogadores já formados e que façam a diferença num curto prazo;
É sem dúvida uma discussão muito interessante. Mais até, que discutir jogador A ou B
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ResponderEliminarRelativamente a Marco Silva. Não me passa pela cabeça que se contrate um treinador por 4 anos e saia ao final do primeiro após cumprir minimamente a sua missão, digna prestação europeia com exibições superiores aos resultados, boa condução da política do clube relativamente à Taça da Liga, final da Taça de Portugal e pódio no campeonato.
ResponderEliminarMarco Silva é um jovem nestas andanças e o Sporting tem limitações inultrapassáveis relativamente aquilo que pode oferecer a um treinador.
Mas... há sempre um mas... continua a "não evolução" da equipa, desde há muitos anos com pouquíssimas excepções o futebol das nossas equipas não ganha maior dimensão, seja em que capitulo for. As bolas paradas continuam a ser lances inúteis, as perdas de bola em lançamentos laterais são constantes, os cantos a morrerem antes da bola chegar sequer à pequena área, repetem-se os mesmo movimentos com uma mesma dinâmica e esperamos resultados melhores...
Ontem, na meia final da Champions, vi Ronaldo a marcar um lançamento lateral rápido, não me parece que aquilo seja treinado ou faça parte de qualquer exercício especifico de treino é apenas paleio de grupo, se há uma oportunidade de explorar um desequilíbrio não vamos ficar tranquilamente a aguardar que seja o lateral a marcar o fora enquanto damos todo o tempo do universo para o adversário se posicionar correctamente...
Nani quando chegou ainda vinha com ritmo Inglês e várias vezes marcou ele lançamentos laterais rapidamente para Jefferson, agora ... está igual aos outros e só recebe bolas de lançamentos com um ou dois adversários em cima. Depois só consegue manter a posse se recuar a bola até aos centrais e iniciar o ataque outra vez... Irrita.
Não sei se a culpa é do Marco Silva, mas também é dele... e o treinador é sempre o elo mais fraco.
"Não seria mais óbvio gastar cirurgicamente, como foi anunciado, em jogadores me menor risco e que tenham maior influência imediata na produtividade global da equipa?"
ResponderEliminarPois sim...
"Esquisito" é quem não queira entender isso e insista em bater na mesma tecla. A politica de contratações seguida por esta SAD não é de risco, é, com a excelsa licença dos indefectíveis de BdC, parva... Como, aliás está bom de ver.
MS e BdC já reuniram para preparar a próxima época? Ou estamos à espera do resultado do jogo do próximo dia 31?
LMGM,
ResponderEliminarO que é um jogador de baixo risco? Pode dar 2 ou 3 exemplos?
Olha, o Messi é sem dúvida de baixo risco. Coitado do Boateng! :-)
EliminarBaixo risco do jogador não se afirmar ou baixo risco de se atirarem milhões pela janela?
EliminarNo 1º caso o problema é passar da teoria à prática.
Teoricamente seriam jogadores que já tivessem apresentado rendimento consistentemente elevado em Portugal ou em campeonatos mais competitivos.
Na prática jogadores como Heldon e Vitor não se afirmaram, isto para não recuar mais uns anos com inúmeros casos em que o baixo risco se transformou em negócios ruinosos.
Concordando com a generalidade do post, parece-me que o problema será mais ao nível da gestão de expectativas e da incapacidade de presidente e treinador assumirem as limitações do clube, não só no discurso mas também na acção. Vamos por pontos:
ResponderEliminarPara se fazerem contratações cirúrgicas, avaliando antecipadamente as lacunas do plantel e contratando para essas posições jogadores com grande probabilidade de serem um acrescento efectivo de qualidade, é necessário dinheiro que o Sporting não tem. Descontando os casos excepcionais Nani (cujo custo ainda poderá ter que vir a ser corrigido) e Ewerton, que foram "negócios de ocasião", e Paulo Oliveira, inicialmente destinado a 4º ou 5º central e que por circunstâncias várias se fixou a titular, verifica-se que as restantes contratações pouco acrescentaram esta época.
Marco Silva que começou por prometer futebol atractivo esqueceu-se que os adversários não jogam em Alvalade da mesma maneira que na Amoreira, que o plantel não tinha a profundidade para repetir uma época em que não houve participação europeia e em que fomos eliminados precocemente na Taça, não esquecendo a teimosia em manter como titulares alguns jogadores em sub-rendimento o que, apesar de ter permitido a venda de Maurício, custou preciosos pontos no campeonato e a eliminação na CL.
Quanto às contratações, concordando que existiam jogadores de valia semelhante ou superior na equipa B e até nos juniores, face à idade e falta de contacto com realidades mais competitivas creio que também não houve a paciência e compreensão necessárias dos adeptos. Obviamente que não é o caso de André Geraldes (contratado quando a situação de Miguel Lopes não estava definida e antes da contratação de Jonathan) mas no caso de Sarr, que me recuso ainda em classificar como um Sambinha mais caro, estamos perante um jogador com características físicas inexistentes no plantel do Sporting, titular nos sub-20 de França campeões do mundo em 2013, que comparativamente com as 1ªs épocas de Reyes e David Luis ou com os meses de Pepe no SCP não se pode considerar assim tão mau.
Terminando em modo wishful thinking, quer-me parecer que estes comportamentos já foram rectificados, não só pela não contratação de ninguém em Janeiro (não se repetindo Heldon, Shikabala e Tiziu), como pela atitude mais pragmática de Marco Silva na 2ª metade do campeonato, recordo-me que no último ano em que fomos campeões destacavam-se nas alas jovens irreverentes e sem experiência como Quaresma e Ronaldo (ok, também estavam lá Barbosa, JVP e Jardel) pelo que ver jogadores como Gelson Martins, Iuri Medeiros, Wallison e Mateus Pereira faz-me ter confiança na próxima época, apesar de consciente que partiremos atrás dos principais rivais.
FCS, posso dar variados exemplos, fundamentalmente são jogadores já com experiência competitiva (de preferência no nosso campeonato), qualidade e que ainda não estejam lançados em termos mediáticos. Continuo a pensar que Evandro, Derley, Sami e Rafael Martins, jogadores em que foi noticiado o interesse do Sporting no inicio da época, teriam sido boas contratações neste sentido de baixo risco, eram baratos, não precisavam de tempo ou adaptação e caso falhassem teríamos facilidade em encontrar solução para as suas carreiras noutros clubes.
ResponderEliminarLMGM,
ResponderEliminarInfelizmente sabemos bem da dificuldade que o Sporting sente em contratar cá dentro. Ora desviados ou porque são totalmente inflacionados. O caso Hassan e anteriormente o Ghilas são exemplos claros.
Dos jogadores que refere, gostava bastante do Evandro mas assim que apareceu a hipotese FCP...
O Derley custou mais de 2,5M seria sempre um risco, que de resto está longe de justificar.
O Sami parece-me outro Heldon....
Enfim não é fácil com as limitações que actualmente existem.
Para quem continua a clamar por jogadores mais caros e de "baixo risco", aconselho a leitura do comunicado da UEFA sobre o Fair-Play Financeiro acabadinho de sair.
ResponderEliminarO FCS e o Tugarao escrevem o resto. No mercado nacional acaba quase tudo por estar muito inflacionado. É o mesmo que lembrar o que foi o Ghilas e como alguns terao clamado que se tinha perdido ali o novo Benzema para o Sporting.