Hoje a Revista Sábado publica um artigo sobre a "vida dupla do fundador
do Sporting". Acontece que o Sporting não teve um fundador mas vários, como abaixo se explicará.
Quanto ao artigo propriamente dito, não ponho em causa o seu rigor histórico porque não tenho dados para contraditar. Mas só quem não conhece a nossa história social é que pode ficar espantado como que por lá se escreverá. Fico a aguardar um artigo de teor idêntico sobre os estudantes que fundaram o Sp. de Braga, poderia ser uma final de costumes muito interessante de ler.
Fica aqui um pedaço
da história do nosso clube, retirada desse indispensável espaço que é a Wiki Sporting.
"O futebol foi introduzido em Portugal pelos irmãos Pinto Basto quando regressaram dos seus estudos em Inglaterra, lançando a modalidade junto da aristocracia da época. Reza a história que o primeiro jogo foi realizado em Cascais em Outubro de 1888, e daí para a frente a moda alastrou por todo o País.
Em Lisboa a aristocracia tinha o Clube Lisbonense, jogando em Cascais no Verão, em Belas e Sintra em Setembro, e na Capital no resto do ano, mas não deixavam jogar os mais novos.
Emblema do Sport Club de Belas. Faixa azul orlada a ouro sobre campo branco com as iniciais SCB bordadas também a ouro.
Foi assim que, a 26 de Agosto de 1902, os irmãos Gavazzo resolveram fundar o Sport Clube de Belas cuja existência foi curta, realizando apenas um jogo que ganhou por 3-0 a uma equipa de Sintra. Contudo, este jogo teve a honra da presença do Rei e, consequentemente, destaque na imprensa da época, relatando que ao evento assistiram mais de quatro mil pessoas, cheias de animação e de interesse, e qualificando o Belas como um grupo de jovens de boas famílias.
Com o fim do Verão e o regresso a Lisboa de quase todos os participantes desse jogo, o Belas morreu. Dois anos depois a ideia foi reactivada numa tertúlia na Pastelaria Bijou, e como quase todos residiam na zona do Campo Grande, decidiram refazer o clube, agora com o nome de Campo Grande Football Club.
Sede do Campo Grande Football Club no Solar dos Pinto da Cunha, situado no Campo Grande.
Durante dois anos este Clube desenvolveu intensa actividade não apenas desportiva, com as modalidades de Futebol, Ténis e Corridas e Saltos, mas principalmente bailes e festas, o que motivou a cisão, pois havia um grupo que defendia que deveriam dedicar-se exclusivamente ao desporto.
A polémica atingiu o seu ponto alto durante um piquenique realizado na Quinta do Correio Mor em Loures a 12 de Abril de 1906, o que motivou a marcação de uma Assembleia Geral do Clube, para o dia seguinte.
Nessa histórica reunião José Gavazzo que também representava o seu irmão Francisco, ausente no estrangeiro, demite-se seguido de um grupo que ficou conhecido como "os dissidentes", entre os quais José Alvalade, que logo prometeu: "Vou ter com o meu avô e ele me dará dinheiro para fazer outro Clube".
Dito e feito, no dia 15 de Abril os dissidentes juntam-se pela primeira vez para fundar o novo Clube, cuja primeira sede funcionou provisoriamente na Mansão dos Alvalade.
A este grupo juntaram-se outros elementos, alguns dos quais também oriundos do Campo Grande Football Club, de tal forma que a primeira lista de sócios, que poderão ser considerados como os Fundadores, conta com 36 nomes, que no final do ano ascenderiam a 45.
É nessa Assembleia Geral que são estabelecidas as primeiras normas clubísticas, atribuídos privilégios aos dez sócios fundadores principais, e formulado o histórico voto "Queremos um Clube tão grande como os maiores da Europa".
O que se publica num jornal ou revista possui sempre uma intencionalidade. Nada acontece por acaso nesses espaços e, neste caso, de uma forma canhestra pretendeu-se atingir a dignidade e a honra do Visconde de Alvalade.
ResponderEliminarNo fundo, a revista Sábado é uma coisa um pouco mais elaborada do que o Correio da Manhã, tal como os seus leitores.
A revista viu no Visconde uma hipótese de melhorar as tiragens, coisa que já tem feito muitas vezes com outras pessoas. E vai sobrevivendo porque haverá sempre quem compre.
Na verdade, a história que é publicada a propósito do Visconde de Alvalade era uma realidade mais frequente do que se imagina na 2ª metade do século XIX e primeiras décadas do século XX. Adultério, pedofilia, homossexualidade e outros conceitos do género tinham um significado diferente dos nossos dias.
O adultério era grave se praticado pela esposa, a pedofilia não era censurável e em Portugal foi largamente praticada atá à década de 1940-50 e em alguns países a homossexualidade estabelecia a pena de morte ou prisão até às primeiras décadas do séc. XX. O Oscar Wilde que o diga.
O que eu pretendo afirmar é que não se pode avaliar comportamentos de há um século atrás com o "grelha" social, cultural, política e moral dos nossos dias. De resto, a nossa obrigação é sermos cultos, informados e termos bom senso, integrando em cada época e nos seus padrões dominantes o que se passava.
Na Europa feudal, a noite do casamento da jovem serva da gleba era passada com o senhor feudal e não com o marido. Um escravo era pertença do proprietário. No século XVII ou XVIII na corte o rei passava por uma senhora e fazia-lhe sinal para nessa noite ir aos aposentos reais.
Se formos desenterrar a vida de grandes personalidades ficaremos boquiabertos e chocados com padrões de vida que eles praticavam com normalidade que decorriam dos quadros mentais da sua época.
Pessoalmente, fiquei satisfeito pelo facto do Visconde ter recompensado quem lhe deu amor numa fase relativamente avançada da vida dele. O normal era essas mulheres serem abandonadas e acabarem na mitra ou noutra instituição de caridade.
A história que é escrita sobre o Visconde, no essencial, corresponde à realidade. Mas, basta lermos o Camilo ou o Eça para percebermos como aquilo que é descrito na Sábado era, afinal, uma banalidade nos usos e costumes da época.
Zargo.,
EliminarExcelente comentário. Só por curiosidade, estive para mencionar precisamente o Eça de Queirós.