O Sporting é uma fonte quase inesgotável de surpresas, não é? Então não é que um jogo quase a feijões nos aproxima novamente do abismo, faltando ainda saber o quê e quem se sumirá por ele abaixo? É que é me é difícil perceber tanto drama e tanto horror por causa da derrota com o Belenenses.
Porque não perdíamos em casa com eles há mais de seis décadas?
Porque era Dia da Mãe?
Porque era dia de festa?
Ah é, por tudo isso? Então vejamos:
É certo que não perdíamos em casa com o Belenenses há 62 anos, mas sejamos práticos. Algum dia tinha que acontecer e por isso quando mais depressa melhor. É que se acontecesse no próximo ano já não seriam 62 mas 63. Um bocado pior, não? E se tem que acontecer é preferível que aconteça quando o resultado tem uma importância menor. Seria incomensuravelmente pior se à triste quebra do record ficasse associado por exemplo afastamento do título, facto há muito consumado. Eu não me importaria de perder todos os anos com o Belenenses, ou mesmo com o Tondela, se fossemos campeões. E como eu todos os Sportinguistas, por certo.
O que me parece digno de preocupação é estarmos a jogar para coisa nenhuma há já muito tempo. Este ano e em muitos outros que compõem os já quase 16 anos sem ver o título. E este ano em particular, depois do investimento feito - que afinal já descobrimos que era apenas despesa... - não me lembro de ver reações equivalentes quando fomos paulatinamente entregando nas mãos de outros os nossos objectivos e ambições.
Quem sabe se "abanássemos a barraca" com o vigor agora empregue, mesmo que em forma de posts (alguns nitidamente encomendados...) nas redes sociais quando perdemos com o Rio Ave por 3-0. Ou quando fomos empurrados quase com desdém da Europa pelos polacos. Talvez esta derrota - esta com o Belenenses e toda esta época, bem entendido - não tivesse acontecido. Mas as maviosas promessas do "ainda vamos lá", sucedâneo com provas dadas do "para o ano é que é" não nos deixavam ver o que era cada vez mais evidente.
O argumento de ser Dia da Mãe também não colhe. Se há alguém bem preparada para lidar com o desgosto são as mães sportinguistas. A minha não é, nem gosta de futebol, aversão que os dirigentes desportivos se têm empenhado em justificar com grande empenho. Mas nem preciso de lhe dizer nada quando o Sporting perde. Ainda hoje, com a idade que já tenho, é toda compreensão e carinho perante o meu semblante carregado e sorumbático e há poucas pessoas que entendam como ela como a minha dor é real.
"Ah, e tal, era dia de festa", que o clube tinha preparado especialmente. É um bocado estranho que um clube que acaba de torrar uma soma verdadeiramente aterradora de dinheiro e dele fique quase nada para o futuro, encontre razões para festa. Mesmo que seja sob o pretexto de a fazer por uma das mulheres mais importantes, senão a mais, da nossa vida. Cheira mais a comício-festa de desagravo do regime, para entreter os parolos, enquanto os rivais nos vão comendo na cabeça as papas e os bolos.
"Ah, e coitados dos miúdos pequeninos, que até choraram." É cruel, sim senhor. Mas para o crescimento é importante também a dor e o revés. Muitos grandes Sportinguistas temperaram assim o seu amor pelo clube, quem sabe até o fortaleceu. Porque ser do Sporting é muito mais do que ganhar, por muito importante que seja. Ser do Sporting é TUDO! E tudo o resto seria na mesma, e os dias passariam aparentemente iguais, só que menos aquela qualquer coisa que se sente aqui no peito e não se pode explicar, apenas sentir.
E é preferível uma desilusão do que viver enganado. E a verdade crua e nua é que aquela que muitas vezes apelidamos de "maior potência desportiva nacional" o é em elevado grau de feitos e responsabilidade de muitas das gerações que nos precederam. Fosse por nós e não o seria, por tardamos muito em voltar encontrar o pé e o bem saber fazer. No fundo, em reencontrarmo-nos.
É no mínimo estranho que de adeptos devotos e fervorosos seja tão difícil extrair dirigentes competentes e sagazes. Porque no fundo é disso que inevitavelmente estamos a falar. Ou a evitar falar, como queiram. Um caso de estudo e de cuja resolução depende o retorno ao sucesso ou a permanência no eterno âmbar do "agora é que é" ou, numa versão pior, o anestésico que se administra em doses certas e metódicas.
Por isso, se tragédia da época estava já consumada, porquê tanto horror? Só se for por antecipação dos dramas que agora já se advinham e que colocam o nosso clube num lugar que tão bem conhece: o da crise e convulsões permanentes, onde os únicos títulos que se podem ambicionar são as das capas dos jornais.
"E é preferível uma desilusão do que viver enganado. E a verdade crua e nua é aquela que muitas vezes apelidamos de "maior potência desportiva nacional" o é em elevado grau de feitos e responsabilidade de muitas das gerações que nos precederam. Fosse por nós e não o seria, por tardamos muito em voltar encontrar o pé e o bem saber fazer. No fundo em reencontrarmo-nos.
ResponderEliminarPor isso se tragédia da época estava já consumada porquê tanto horror? Só se for por antecipação dos dramas que agora já se advinham e que colocam o nosso clube num lugar que tão bem conhece: o da crise e convulsões permanentes, onde os únicos titulos que se podem ambicionar são as das capas dos jornais."
Muito bom!!
Obrigado, grande LEÃO!
(cá estaremos, novamente, para mais uma temporada de Circo. Verdade seja dita, é isto que nós bem conhecemos [e devemos gostar.. só pode]).
um abraço
Cantinho, mais uma vez obrigado!
EliminarGostei. Muito bom.
ResponderEliminarA luz do teu texto como vês as declarações do presidente no fim do jogo?
ResponderEliminarVejo de forma muito crítica. Mas falarei disso em pormenor amanhã.
EliminarA principal razão para o horror e tragédia é o desviar das atenções pelo facto do seu principal rival, para o qual olham há 100 anos com ares de superioridade mas também com inveja, está a ponto de fechar o seu primeiro tetra, algo que o SCP sempre combateu desesperadamente com sucesso, até agora.
ResponderEliminarEssa terá sido a principal razão para esconder os verdadeiros "feelings" que inundaram a alma sportinguista e obrigou a encontrar um "surrogat" para a revolta, a derrota com o Belenenses.
Tão evidente que até ofende. A mim não que já previa isto.
ResponderEliminarExcelente Leão de Alvalade. Muito muito bom.
ResponderEliminarO «post» de ontem já me deixara desconfiado. Ao contrário de nós, tens acesso a informação privilegiada. Só não te chamo sortudo :)
Quem vem então para o lugar de Jesus? Vamos ver ...
E a confirmar-se a saída, quero ver o que dirão os brunecos que chamaram tudo e mais alguma coisa a PMR quando este anunciou que com ele Jesus tinha os dias contados.
Pessoalmente, não consigo ver a sua saída como uma boa notícia.
Melhor do que Jesus o Sporting não arranjará ...
E lá foi o lord pedir desculpas pelo mordomo ao treinador. Manda quem pode, obedece quem deve! E os sócios e enquanto ainda é possível, no lugar de questionarem o capital da SAD junto da MAG do SCP e da CMVM, até com o copo de água do mordomo se entretêm.
ResponderEliminarP.S. Só uma palavrinha para a última cimeira da verdade desportiva em Lisboa. Sem direito a vouchers mas com direito a fruta. Um nojo!
O drama estava todo lá para os sportinguistas como o LdA. Não para os antibenfiquistas que querem ganhar a qualquer preço e que ainda conseguem ser piores que os lampiões porque pensam que o SCP é isso. E para esta malta, que passa a vida às cambalhotas para segurar um chico-esperto qualquer, o drama começou com JJ a sacudir a água do capote pela enésima vez. E com isso a ameaçar e de que maneira a Champions de Gestão. Claro que o chico-esperto não os podia deixar a falar mal do melhor do mundo e arredores até domingo sozinhos.
ResponderEliminarEu que nunca pude com treinadores que se acham sempre acima dos clubes, até sou capaz de concordar que apesar do orçamento record temos menos soluções que o Benfica. Mas para ultrapassar essa diferença é que JJ ganha mais monstruosamente que o Rui Vitória - que nem era treinador mas já lhe limpou 2 campeonatos. E com o Vitória de Guimarães à perna. Vitória que gasta menos numa época que ganha JJ. É capaz de ser curto. Como vergonhosa foi mais uma campanha europeia. São derrotas atrás de derrotas de dois bazófias. Qualquer um deles capaz de hipotecar uma época inteira só pela boca. Ninguém é campeão porque diz que quer ser campeão. Assim como ninguém é o melhor treinador do mundo porque acredita mesmo nisso. Primeiro criam-se condições. E se não havia condições para contratar um treinador que quer sempre mais como JJ não se contratava. Alcochete agradecia.
A prioridade é sempre criar condições. O tal projecto que os bazófias nunca têm, limitando-se a navegar à vista. Eu, por exemplo, já tenho a certeza que o SCP não vai ser campeão na próxima época. E mais, devido a duas ou três saídas, na próxima época não fazemos melhor de certeza. Não que eu pense que há jogadores insubstituíveis mas é preciso sempre tempo para tudo. Tempo que existe cada vez menos neste Sporting. E orçamentos para lá do limite têm sempre destes imponderáveis.
E para responder ao Tetra, uma cartilha a meias com o FCorruptos do Porto.