Rúben Amorim: aproveitar enquanto há
“O Sporting foi ontem uma equipa enorme.
Contra a arrogância e contra a ideia de que há impossíveis, eliminou o Arsenal e foi épico o golo de Pote e toda e a exibição feita de coragem do Sporting. Permite-me destacar, mais do que o virtuosismo dos jogadores, a inteligência e enorme capacidade de Rúben Amorim.
Ele não é o novo Mourinho ou outra coisa qualquer, sei sim que é único, sei que o seu discurso é só dele, que a sua capacidade de fazer acreditar, de descomplicar discursos, de lutar contra as marés adversas é extraordinariamente eficaz.
E sei que os adeptos sportinguistas, apesar de Rúben ter tido muitas dificuldades nesta época e na época passada, não o trocariam por nenhum outro treinador. O que é obra. Regra geral, quando não se ganha os treinadores são os primeiros a ser questionados. Com Rúben, isso raramente aconteceu. Por alguma coisa será. E é muito impressionante quando aparece alguém assim.
Alguém que no momento em que começa a falar, no momento em que sorri para jornalistas habituados a gente que faz cara feia, no momento em que responde às perguntas (mesmo as mais difíceis) com a naturalidade das coisas que são verdadeiramente simples, não nos trata como se fossemos inferiores, ignorantes ou adereços.
Rúben Amorim apareceu e percebeu-se logo que não era, que não é, como a maioria dos outros. Pela confiança que transparece no modo como olha, como nos fala, como comunica com o mundo, como convence os seus jogadores que a vida não se pode viver com mais medo do que esperança.
Pelo modo seguro como parece encarar a vida - sem dar muita importância ao que não tem importância, sem carregar o mundo às costas, sem ter de tratar mal alguém ou sacudir a "água do capote" como as nossas avós diziam.
Há pessoas assim. Capazes de pela força da sua confiança passar coisas boas aos outros, fazê-los crer na possibilidade de o impossível poder deixar de o ser se todos acreditarem ao mesmo tempo.
Rúben tem mau feitio, não é um santinho.No campo, quando as coisas não correm bem, protesta, indigna-se e já foi muitas vezes expulso - bem ou mal, não interessa.
Mas depois diz o que tem a dizer e não se desculpa - "sou um mau exemplo" chegou a confessar na época passada ou "não tenho moral para falar" continuou ele sempre com o sorriso que desarma, o sorriso com que coloca cada coisa no seu lugar, cada pessoa no seu lugar.
Rúben Amorim tem menos de 40 anos. Foi jogador, é treinador e sempre me pareceu ser diferente.
Estou um bocadinho farto do que é negativo, dos que insistem em ver as coisas sempre pelo lado negro, dos ressentidos, dos que regam as sombras.
Por isso dedico-lhe este postal.
Rúben ensinou-nos, mesmo aos que não gostam de futebol, e mesmo aos que não são do Sporting (como eu) que vale a pena acreditar nas possibilidades que a vida nos coloca no caminho.
Que vale a pena acreditar que é possível virar tudo do avesso e convocar o espanto, mesmo que seja nos penalties. Que vale a pena viver com um sorriso que é o modo mais eficaz de esconjurar invejas e ervas daninhas.
Muitos parabéns, Rúben.”
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