"Os "hobbies" pessoais e intransmissíveis (de Boaventura e Paulo Gonçalves)
Apesar de dizer o óbvio o artigo de André Pipa tem a coragem de sair do "mé mé mé" habitual na imprensa quando o tema é incómodo para SLB:
O agente César Boaventura foi formalmente acusado pelo Ministério Público (MP) de tentar corromper jogadores (três do Rio Ave e um do Marítimo) para perderem com o Benfica em jogos da reta final do campeonato de 2015-16, que o Benfica, treinado por Rui Vitória, ganhou com dois pontos de vantagem sobre o Sporting de Jorge Jesus. O agente Boaventura não fazia a coisa por menos: chegou a oferecer 100 mil euros por amarelo, penálti e vermelho - um dinheirão! – a um jogador do Rio Ave que não aceitou a sua primeira proposta, mais modesta («apenas» 80 mil).
Felizmente, os jogadores em questão não se deixaram corromper e denunciaram o corruptor. A SAD do Benfica escapou à acusação porque o MP não encontrou indícios suficientes de que o agente «tenha sido incumbido de qualquer tarefa e, desde logo, por alguém com uma posição de liderança na estrutura do Benfica». Isto, a despeito de o agente Boaventura ter mencionado expressamente o nome de Luís Filipe Vieira (então presidente do Benfica) na abordagem que fez ao um jogador do Rio Ave (Lionn), dias antes do jogo com o Benfica: «(…) o presidente Luís Filipe Vieira quer pagar-lhe 80 mil euros para ser penalizado com um cartão amarelo na primeira parte, fazer propositadamente um penálti e ser expulso na segunda parte, batendo com a mão no chão», lê-se numa escuta constante do despacho de acusação.
Temos então que o agente Boaventura, na ótica do MP, embora tenha agido em benefício do Benfica, não agiu em nome ou por conta do Benfica. Podemos então concluir, em face do que ficou apurado, que corromper futebolistas era um hobby pessoal e intransmissível do agente Boaventura, da mesma maneira que corromper funcionários judiciais era um hobby pessoal e intransmissível do antigo braço direito de Luís Filipe Vieira, Paulo Gonçalves (foi, aliás, condenado por isso, ele e só ele).
Caramba, que esquisitos eram os hobbies dos próximos de Luís Filipe Vieira!
Depois há a questão bicuda da proveniência dos largos milhares que o agente Boaventura se dispôs a oferecer aos jogadores que tentou corromper (e aqui parto do principio de que, pelo menos nos negócios, ele era um homem de palavra: se propôs pagar-lhes aquelas verbas era porque tinha meios de o fazer). Era ele, caso os jogadores tivessem aceite os subornos, que pagava esses milhares do seu bolso? O seu, digamos, afeto pelo Benfica, chegava ao ponto de se dispor a pagar 480 mil euros (pelas contas do MP) a um quarteto de jogadores só para ver o seu clube ganhar jogos importantes para o título?
Se assim foi, que extraordinário (embora ilícito) exemplo de amor clubístico deu o agente Boaventura a todos os benfiquistas, em particular ao presidente Luís Filipe Vieira, que, aparentemente, não suspeitava que o agente Boaventura tinha um hobby esquisito, muito semelhante ao de Paulo Gonçalves. Que raio de azar!
Temos então de partir do princípio que esses largos milhares eram do agente Boaventura, da mesma forma que todo aqueles milhões do Eng.º Carlos Santos Silva eram mesmo dele e não, como a Justiça teimosamente continua a insistir, do primeiro-ministro José Sócrates.
É que se o dinheiro não fosse do agente Boaventura, então estávamos a falar do quê?!?
Pois.
Temos, em conclusão, um agente reconhecidamente próximo do ex-presidente do Benfica com fortíssima simpatia pelo clube encarnado - doutra maneira não se explica a tentativa de corrupção de jogadores adversários em jogos cruciais para o título. Um agente certamente rico e generoso, como se infere do hobby invulgar e dispendioso de tentar corromper, por conta própria, jogadores para perderem com o Benfica. Um hobby ainda por cima arriscado - e se alguém desse com a língua nos dentes, como efetivamente veio a acontecer?
(suspiro prolongado)
Todo este nojo faz parte do futebol português que acompanho vai para 40 anos. Um futebol que tendo indiscutivelmente gente boa, séria e civilizada a tentar tirá-lo do atoleiro, continua, por outro lado, povoado de traficantes, vigaristas e esbirros que continuam a prevaricar na mais completa impunidade. Este, meus caros leitores, é o futebol que também consumimos. O futebol do vale tudo. Do truque. Da moscambilha. Da deslealdade. Dos sistemas. Dos incendiários. Das histórias mal contadas e das tentativas de encobrimento, quantas vezes ridículas de tão óbvias, por parte de quem devia ter a coragem de chamar os bois pelos nomes, seja qual for a cor envolvida. Anoto também, com tristeza, a degradação pronunciada de um certo jornalismo (com letra pequena) cego pela clubite e por outros interesses inconfessáveis. Episódios como este do agente Boaventura dariam vontade de rir se não metessem nojo. Mas metem. Mesmo!... … e não há forma de os maquilhar. Ou diminuir.
Em face de tudo isto, parece-me óbvio que Luís Filipe Vieira tem de vir a público esclarecer por que razãoo agente Boaventura utilizou o seu nome na abordagem aos jogadores que tentou corromper; assim como me parece óbvio que a direção do Benfica deve acionar judicialmente o agente Boaventura por danos reputacionais, já que este senhor tentou corromper jogadores em nome do clube — mais especificamente, em nome do próprio (ex--)presidente do Benfica!!! E deve fazê-lo imediatamente, em defesa da sua reputação, tão danificada pelo somatório de casos!..., e sem medo do que o agente possa vir a replicar.
Se Vieira e o Benfica não fizerem isto num caso com esta gravidade, então há qualquer coisa que não bate certo.
Aguardemos.
In "A Bola" por André Pipa
É tudo bo agente, em negócios de milhões............
ResponderEliminarFalta escrever “alegadamente” em todo o longo texto no qual articula uma narrativa… essa sim, não alegadamente, mas indubitavelmente… ficcional.
ResponderEliminarEstá no seu pleno direito de criar essa novela. Não tem é suporte em factos. Nem sequer na alegada transcrição do que foi alegadamente apanhado em escutas… visto que essas escutas não são públicas… estando portanto ao abrigo de… segredo de justiça (essa coisa que, quando violada, às vezes - mas só às vezes - resulta em processo crime).
Também erra profundamente nos princípios de um Estado de Direito quando exige que LFV, ex presidente do Benfica, venha a público esclarecer ou comentar o caso. Não é assim que um Estado de Direito funciona, meu caro. Todos - todos mesmo - somos inocentes até prova em contrário. O que redunda no seguinte: não compete a ninguém fazer prova da sua inocência, em momento algum. Compete, sim, à acusação (no caso, o MP), provar que há culpa, com factos obtidos durante a investigação. Ora, no caso, a investigação - não obstante ter acesso a escutas dos envolvidos, todos os e-mails do Benfica, mais todos os documentos obtidos nas inúmeras buscas presenciais que foram feitas - não conseguiu deduzir acusação alguma ao Benfica ou qualquer dos seus dirigentes.
Já está por isso feita justiça, no que ao Benfica diz respeito. Na ausência de acusação… há inocência, cabal. O caso nem sequer existe.
Quanto à eventual culpa de Boaventura sobre a alegada tentativa de corrupção, resta-nos aguardar o desenvolvimento do processo.
Para já, o que se pode deduzir é que, vindo a serem provados os alegados crimes… Boaventura era um muito incompetente corruptor. Capaz até de tentar corromper jogadores lesionados. E, fazendo jus à primeira versão da história, tentando até corromper jogadores que já nem jogavam em Portugal.
Não esquecendo, finalmente, que existe também, em paralelo com este processo, um outro processo… movido por Boaventura contra Lionn… por difamação, por alegado falso testemunho.