Perante o impacto do anúncio de novas medidas de austeridade que irão onerar grande parte das famílias portuguesas (que já se encontravam sobrecarregadas com medidas anteriores) parece quase ridículo vir falar das preocupações causadas por um relatório e contas de uma SAD de um clube. Acontece que para alguns milhões de contribuintes que agora vêem a sua vida mais complicada existe um cordão umbilical ligado a esse clube e, para alguns milhares desse universo de milhões, o Sporting faz parte da sua vida diária. Para esses em particular, o contacto com a realidade dos números expressos no relatório de contas anual significa um significativo agravamento das preocupações. Neste caso, e transpondo para a moeda actual a célebre frase de que "um escudo é um escudo", estes 45,947 milhões de euros prejuízo equivalem a igual número de preocupações, que vêm a acrescer a um passivo que também é motivo de preocupação.
Os números não deveriam constituir particular surpresa se atendermos ao número de jogadores adquiridos no período em causa e o respectivo aumento de despesas com pessoal, que passou de números inferiores a 30 milhões/ano para mais de 42 milhões actuais. Qualquer Sportinguista responsável não deixará de se interrogar se esta estratégia expansionista será a correcta, quando o clima económico aconselha a prudência e retracção. A magnitude dos números ofuscam pontos positivos do exercício que, noutras circunstâncias, mereceriam outro destaque.
Manifestar surpresa, como me parece ser a reacção generalizada, me parece fazer pouco sentido: senão estes números exactos mas pelo menos a tendência estavam já pré-anunciados de há um ano a esta parte(ver entrevista de 26/05/12 aqui): A SAD comprou com dinheiro que não tinha e praticamente não vendeu, pelo que não deveria haver lugar a qualquer surpresa. Pese a diferença quantitativa, isto não é mais nem menos do que acontece na economia doméstica com que todos temos que lidar no dia a dia.
É difícil dissociar estes números de duas outras variáveis que também merecem consideração: os resultados desportivos e os resultados da concorrência. Do ponto de vista desportivo o dinheiro gasto e os resultados alcançados produzem uma sensação de desperdício: não é preciso gastar tanto dinheiro para ficar em 4º lugar, o que, grosso modo, representa um retrocesso em relação ao ano anterior. Por comparação, o Braga precisou de gastar muito menos para nos superar na classificação. Ainda sobre a concorrência, é inevitável que muitas das análises sejam feitas sobre o recente sucesso alcançado nas transferências de Hulk, Witsel e Javi Garcia, que nos parecem uma miragem. É ainda face a estes resultados que se verifica o intenso escrutínio sobre o vencimento dos administradores da SAD.
Outro item a suscitar polémica são as percentagens dos passes dos jogadores detidas pela SAD e as entretanto alienadas. Ao contrário da opinião geral, não diabolizo essa alienação. Julgo que se olha apenas para o lado negativo da questão, não se levando em linha de conta o facto de os fundos servirem também como parceiros no esforço do investimento e do próprio risco inerente à compra de passes de jogadores, sempre tão contingente. Ao abrir o plantel ao investimento de terceiros o Sporting não antecipa apenas receitas, está também a partilhar o risco de alguns desses jogadores não se valorizar como o esperado, facto tão comum no futebol e cujos exemplos são vários. Se há alguma coisa a lamentar é que o Sporting tenha chegado a esta realidade muito tempo depois dos seus principais competidores.
Como sair deste ciclo vicioso?
Para a solução não contam os que apenas gritam e esperneiam, são estes os que mais atrapalham numa situação de emergência.
A resposta parece-me óbvia: tem sido o futebol a tirar tem de ser o futebol a dar. E por isso é necessário melhorar as prestações desportivas a dois níveis: desde logo a produção da sua equipa de futebol. O Sporting pode até não conseguir títulos, mas a sua equipa mais representativa tem de estar a um nível muito mais elevado e mais consentâneo com os pergaminhos do clube e da tradição do clube. Subindo esse nível o Sporting promove os seus activos mais importantes que são os jogadores, estando assim mais perto de realizar as tão necessárias mais-valias para a sustentabilidade do negócio da sua SAD. Dessa forma estará também mais próximo de alcançar os resultados desportivos que tanto necessita para satisfazer a sua enorme falange de sócios e adeptos, factor essencial para manter e alargar a sua base social de apoio. Sem isso é impossível sair do actual estado e, se tal acontecer, a actual estratégia constituirá um factor agravante da nossa condição actual.
Falamos pois de dois factores essenciais e complementares- desempenho desportivo e realização de mais-valias com passes de jogadores - para o indispensável "potenciar a marca e aumento de receitas". Esta deverá ser a preocupação primordial dos actuais corpos sociais, porque nos últimos anos temos assistido ao movimento inverso, com a marca Sporting a sofrer uma considerável depreciação aos olhos do mercado e da sua falange de apoio. Essa é a única obrigação destes ou de qualquer outros corpos sociais, uma vez que, em alta competição, não há ninguém que possa garantir a conquista de títulos. E, conseguindo, estaremos sempre mais perto de ganhar.
Olhando para o que é hoje o plantel do Sporting e comparando com o de anos anteriores não tenho dúvidas que estamos muitos níveis acima do registado em anos anteriores. Não sendo por si só garante de melhores resultados é pelo menos um factor de esperança na inversão da actual conjuntura que, não há que escamotear, é potencialmente perigosa aos mais diversos níveis.
Este prejuizo, na sua maioria, é motivado pelo investimento em novos (e finalmente bons) jogadores e não em actos de má gestão (salvo melhor opinião).
ResponderEliminarAgora é ganhar e ganhar, para ser reconhecido o clube e consequentemente os jogadores e assim passar a vender bem.
Infelizmente, este projecto a 3 anos tem tudo para acabar...antes de cumprir os 3 anos.
ResponderEliminarComeçou mal no dia das eleições.
Continuou mal com a saída de figuras que foram essenciais para o referido projecto, uns mais que outros (Domingos, Carlos Barbosa, Paulo Cristovão, etc).
Acumula passivo a uma velocidade cruzeiro.
Compra um lote de jogadores razoáveis, mas em boa parte deles já vendeu percentagens significativas dos passes.
Promete uma equipa para ganhar o campeonato em 3 anos mas pelos resultados do 1º ano e pelo caminho que segue a equipa este ano, nada nos leva a crer que seja cumprido tal designio.
Em resumo, boa sorte a Sá Pinto e que nos saiba tirar deste buraco sem fundo para onde nos têm guiado nos últimos 10 a 15 anos.
E digo Sá Pinto, porque no dia em que este sair, também esta Direcção estará condenada a cair.
SL
José
Nos jogos do Sporting há sempre problemas de transmissão. VERGONHA!!!!!
ResponderEliminarRTP. PRIVATIZEM JÁ!
Nem uma informação em rodapé.
ResponderEliminarQue falta de respeito.
Se me permitem, deixo aqui uma pergunta. Nao faria sentido ter vendido agora o Patricio e ter feito aqui algum dinheiro, sendo que temos no Sporting uma alternativa igual ou melhor?
ResponderEliminarCaro Lda, em primeiro lugar aplaudo a sua 1º frase.
ResponderEliminarFalando sobre o futebol do Sporting, como não votei nesta lista, estou à vontade para dizer que me parece que o rumo até aqui tem sido o correcto.
No ano zero do projecto remodelou-se completamente o plantel, investindo-se bastante em jogadores internacionais e nalgumas promessas como Carrillo, Rubio ou Arias. O investimento foi muito significativo principalmente porque a equipa principal deixada por Bettencourt era manifestamente fraca. Os resultados desportivos do 1º ano de Godinho não foram positivos. Confesso que Domingos foi uma desilusão.
No ano 1 aguentou-se as principais figuras da equipa, diminui-se o orçamento para de 40M para 36M e criou-se a equipa B. Os jogadores formados no Sporting continuam a ser aposta, o que defendo como algo fundamental! Veremos os resultados desportivos. Não temos de ser campeões mas temos de apresentar uma equipa consistente...o que não vejo já há alguns anos.
Sobre os rivais acho que será insustentável continuarem com orçamentos de 100M (Porto) e de 50M (Benfica). Com a crise instalada também no futebol, penso que ambos os clubes voltarão a colocar os pés na terra e invariavelmente diminuirão orçamentos (aliás não é por acaso que que fala em salários em atraso e fecho de algumas modalidades no Porto). Vejamos por exemplo o caso dos laterais do Porto. Danilo e Alex Sandro terão custado perto de 25M se não estou em erro. O Sporting tem para os seus lugares Cédric e Insua que, na minha opinião, não são piores. Cédric foi formado em Alvalade e Insua veio a custo zero. O que quero dizer é que mais importante que o dinheiro é...a competência.
Posto isto gostaria de lhe fazer as seguintes perguntas e saber a sua opinião...daqui para a frente como será no Sporting? Com a equipa B fará sentido comprarmos “Elias” e “Rojos”, jogadores internacionais com muita qualidade mas caros, ou deveremos apostar nos jovens da equipa B (mantendo a totalidade dos seus passes) e apenas comprar “Carrillos” e negócios de ocasião como Schaars? O que defende para ano 2 deste projecto?
PM
PM,
ResponderEliminarDo que foi apresentado aos sócios aquando das aquisições do ano passado o objectivo seria elevar a qualidade individual do plantel de forma a estar à altura das responsabilidades do clube, interrompendo um longo período sem estratégia e sem coerência nos investimentos. Isso não significaria o desinvestimento na formação pretendia-se, isso sim, que os jovens saídos da formação não fossem obrigados a assumir demasiadas responsabilidades num período ainda embrionário da suas carreiras.
Isso pressupunha que o Sporting não precisaria tão cedo de investir fortemente na reconstituição do plantel, o mesmo não é dizer que o Sporting passaria a estar ausente do mercado, faria apenas aquisições pontuais. E também não pode fechar os olhos a jogadores como Carrillo.
A existência da equipa B e de um bom plantel obriga, isso sim, a um critério mais apertado na hora de comprar. E o sempre necessário sucesso desportivo conseguirá alavancar as receitas necessárias para adquirir os grandes jogadores, ao nível que é possível aos nossos clubes.
Dito isto passo ao que é a minha opinião sobre a matéria,agradecendo desde já as questões.
O Sporting tem que desejar sempre ter grandes jogadores como Elias e Rojo. A sua preocupação deverá ser adquiri-los para lugares que estejam em aberto no plantel e que não podem ser recrutados no clube.
Relativamente à equipa B julgo que para já é ainda tempo de nos "esquecermos" dela no imediato como fonte de recrutamento para a equipa principal, com raríssimas excepções. Essas parecem-me ser Pedro Mendes, eventualmente Rúbio, já que Nuno Reis saiu para o Olhanense. Aos outros fará bem continuar a jogar mais 2 épocas, ganhando ritmo e maturidade.
Claro que tudo isto é muito dinâmico,uma lesão prolongada, uma venda irrecusável podem significar uma oportunidade que não se descortinava. Isto porque olhando para o actual plantel vejo cada lugar muito bem preenchido com 2 elementos por lugar.
E isto ainda me parece fazer mais sentido se atendermos a que é o primeiro ano da equipa B e alguns dos seus jogadores têm ainda idade júnior.
Obrigado pela resposta LdA. Estou curioso também para ver a temporada do Bruma na equipa B porque vejo ali um talento puro. E apesar de ser muito novo (17 anos) lembro-me de outros predestinados ascenderem à equipa principal com essa idade, como Dani, Quaresma ou Ronaldo. Esta época está muito bem na B...na próxima não sei!
ResponderEliminarPM