Como é do conhecimento geral, o Sporting decidiu em boa hora proceder à instalação de um novo relvado. A medida era imprescindível, uma vez que o anterior "tapete" não só nunca teve a qualidade mínima exigida, como ainda por cima estava contaminado por uma praga que lhe dava aquele aspecto malhado. Como diria o grande Vasco Santana se cá estivesse "aquilo são problemas de fígado".
O que talvez não seja do conhecimento da maioria dos adeptos é que o Sporting entregou a empreitada justamente à empresa que instalou o primeiro relvado no novo estádio José Alvalade, a RED. A empresa é talvez o nome mais conceituado no meio, sendo de sua responsabilidade projectos muito bem sucedidos como os excelentes relvados dos rivais FCP e SLB.
Ainda deve estar na memória de muitos a discussão sobre a necessidade de resolver com caracter definitivo os crónicos problemas que foram sucedendo com os nossos relvados, ao ponto de, no tempo de Bettencourt, se ter equacionado a possibilidade de instalar um relvado sintético. Na altura, com o sentido de esclarecer as discussões que então foram ocorrendo, nem sempre tendo em conta aspectos estritamente racionais, auscultei as referências de então nesta matéria.
Do lado da "solução sintético" ouvi o responsável da empresa (
LINK) que havia instalado o relvado no Bessa, entretanto removido por força da lei que impede o uso de sintéticos na I Liga. Do lado da "solução natural" o sócio gerente da RED (
LINK), entrevista que abaixo será novamente editada. Da conversa resultou uma impressão de vincado profissionalismo nos argumentos, longe dos habituais palpites e "achismos" e muita objectividade.
Em breve saberemos o resultado da decisão agora tomada. Numa primeira impressão, parece-me que o Sporting escolheu o parceiro certo, embora nunca seja demais lembrar as contingências a que estão sujeitas estas realizações, tais como o tempo (clima) e o facto de estarmos a falar de seres vivos (embora nos esqueçamos com frequência, os vegetais também o são).
Por outro lado, o sucesso deste novo investimento não se limita ao momento da replacagem (a solução adoptada, creio), ou a sementeira do novo relvado. A sua correcta manutenção é também factor que contribui para o sucesso da operação.
A entrevista deve ser lida tendo em conta as alterações que poderão ter ocorrido de 2010 para cá).
“Alvalade
tem as bancadas demasiado inclinadas, o sistema de ventilação é mau, a
iluminação escassa. As altas temperaturas do Verão, o tempo excessivo de
exposição solar no Topo Norte, o que motiva que o lado Sul chegue a ter
uma diferença na ordem dos 10 graus”,
são os problemas estruturais comummente apresentados como justificação
para que os relvados (6 em sete anos) de Alvalade não terem qualidade.
Estas afirmações fazem sentido?
Estas
afirmações fazem sentido. Os problemas registados no verão na metade
Norte são replicados no inverno na metade Sul, embora com outra
natureza, por falta de luz solar. Deve-se no entanto dizer que estes
problemas são comuns à maior parte dos estádios modernos, diferindo de
caso para caso conforme forem as condições construtivas de cada um e
climatéricas de cada local.
Essas
condições impedem em definitivo a colocação e manutenção de um bom
relvado ou há procedimentos capazes contornar essas dificuldades?
Há
diversos tipos de actuação que podem ser levados a cabo, e que já foram
testados noutros estádios. Por exemplo, há baterias de ventoinhas que
se colocam ao nível do relvado para promover o arejamento, e sistemas
de iluminação, também ao nível do relvado, para que se faça a
foto-síntese e se criem assim condições para o bom crescimento da
relva.
Se
o argumentos do calor e da diferente exposição solar são válidos, como é
possível que em cidades como Sevilha e Madrid, e em estádios também
fechados como o Olímpico e o Barnabéu não existam problemas semelhantes?
Não
existem esses problemas noutros locais semelhantes porque foram
encontradas as soluções adequadas, e a qualidade da manutenção será
diferente.
A
vossa empresa é responsável pelos melhores relvados actualmente em
Portugal, como são os casos dos estádios do FCP, SLB e SCB. O estádio do
Dragão e de Braga são, do ponto de vista da arquitectura, da
localização e do clima, distintos do de Alvalade. Mas o estádio do SLB
tem as mesmas condições climáticas. A diferença entre os relvados
resultará das diferenças arquitecturais?
Em
primeiro lugar, queria informar que a nossa empresa já não é
responsável pelo relvado do Estádio de Braga há bastante tempo, por a
Câmara local ter decidido utilizar meios próprios. Em todo o caso,
consultam-nos com alguma frequência. Devemos reconhecer que as condições
arquitectónicas em Braga e no Dragão são diferentes para melhor, por se
tratarem de espaços mais arejados. Quanto ao Estádio da Luz, tem
condicionantes semelhantes às de Alvalade, embora o estádio, por ser
maior, não seja tão fechado. Em todo o caso, também na Luz medimos
diferenças de temperatura assinaláveis, e testemunhamos problemas
distintos no relvado conforme o local. Há que cuidar da manutenção tendo
em conta esses factores.
Quanto tempo de utilização têm estes relvados de que falamos e dos quais são responsáveis?
O
relvado do Dragão foi construído em 2003, e daí para cá já foi mudado
total ou parcialmente por mais de uma vez, tendo a última ocorrido no
defeso de 2009. As substituições foram efectuadas não por o relvado não
estar em boas condições, mas em consequência de eventos que o
inutilizaram (concerto e corrida dos campeões). Quanto ao Estádio da
Luz, começamos o nosso trabalho no início da época 2009/2010, e no
último defeso procedemos à substituição integral do relvado por a
superfície do anterior se encontrar bastante irregular. Um relvado
natural, uma vez instalado, e sendo bem mantido, tem uma longa duração.
O
facto de o clima no Norte do País ser tradicionalmente mais chuvoso,
mas, em contrapartida, ter menos horas de sol, é uma vantagem ou
inconveniente para o vosso trabalho quando lidam com essas duas
realidades distintas?
É
naturalmente uma desvantagem nos meses de inverno. Um relvado jogado à
chuva sofre maior desgaste, e as temperaturas mais baixas com menos sol
desfavorecem a sua recuperação. Nos meses de verão, as temperaturas
menos altas poderão ser vantajosas, mas o que acontece é que são
suficientemente altas, e com elevado grau de humidade, para provocar o
aparecimento de doenças.
Em
Janeiro deste ano, no período de grande invernia, o relvado da Luz
apresentava problemas bem evidentes. Mas a sua recuperação acabou por
acontecer e quase passou despercebida. Parece-lhe possível realizar
trabalho semelhante em Alvalade sem remover o relvado actual?
Não
podemos emitir uma opinião definitiva sem proceder a uma inspecção, mas
em princípio não deverá haver problemas que impeçam a sua recuperação. O
que aconteceu na Luz no início do ano foi a consequência do relvado não
ter sido devidamente recuperado durante o defeso, e ainda da natureza
do relvado que então existia. Só iniciamos o nosso trabalho em cima do
início da época.
Há diferenças entre a aplicação/sementeira de um relvado no Verão ou no Inverno? Quais?
A
diferença essencial que existe é que um relvado durante o Inverno
cresce mais devagar, o que significa que no caso da replacagem o
desenvolvimento das raízes é mais lento, e no da sementeira acontece o
mesmo com o estabelecimento das novas plantas. O mesmo acontece com a
sua recuperação pós cada utilização. É ainda necessário notar que a
replacagem exige rotinas de manutenção distintas.
Estas diferenças podem ser controladas por aditivos hormonais ou são meramente ambientais?
Como
se diz atrás, as diferenças são provocadas pelo clima. Importa por isso
programar tratamentos que as tenham em conta, e que sejam dirigidos
para suplantar as dificuldades de cada momento.
Há soluções mistas entre sintético e natural, ou as opções são unicamente entre lidar com a natureza e o industrial?
Não
há nenhuma solução mista, com excepção do sistema Desso Grassmaster,
que já foi aliás instalado em Alvalade. Trata-se de uma solução em relva
natural, com implantação de fibras sintéticas que visam dar maior
estabilidade ao relvado.
Pela vossa experiência o sistema de drenagem do Estádio José de Alvalade é eficaz?
O
sistema de drenagem do Estádio de Alvalade foi por nós construído, e
ficou totalmente eficaz. Penso que nunca foi mexido, mas desconheço se
existem colmatações provocadas pelas diferentes intervenções no relvado.
A este respeito, deve-se notar que os problemas de drenagem existem
frequentemente na camada superficial do relvado, por falta de manutenção
adequada, e não no sistema de drenagem propriamente dito.
A
RED esteve ligada ao primeiro relvado do estádio de Alvalade,
lembrando-se ainda os Sportinguistas do jogo inaugural, onde se viu
muita relva solta. Terá sido na sequência desses acontecimentos que
terminou o fim da vossa relação com o clube. Pode dar-nos a vossa versão
dos acontecimentos?
A
RED teve a seu cargo a construção do relvado original do Estádio de
Alvalade, no verão de 2003. Esse verão foi anormalmente quente, razão
pela qual o estabelecimento do relvado não ocorreu no espaço de tempo
previsto. Por outro lado, o Clube necessitou de o utilizar antes de
estar pronto, por razões de calendário. Gerou-se assim uma situação de
conflito, que levou à nossa saída antecipada da obra. O SCP resolveu
nessa altura proceder à sua substituição integral por um outro relvado,
baseado num sistema de relva natural com implantação de fibras
sintéticas, solução esta que, apesar do seu elevado preço, não se
revelou duradoura.
A semana passada o especialista Lafayete Machado, dizia à RR que "se
o Sporting decidir pelo artificial está a cometer um grave erro… porque
o que tem acontecido é que não acertou com as pessoas certas, para ter
um relvado de excelência em Alvalade." Quer comentar esta afirmação?
O
comentário que nos merece é de concordância, porque é evidente para
toda a gente que um relvado sintético nunca é idêntico a um natural.
Estamos particularmente à vontade para o afirmar, porque construímos
indiferentemente relvados dos dois tipos, ao contrário do que acontece
com quem apregoa insistentemente as vantagens dos relvados sintéticos.
De resto, a análise do que acontece em todas as 1ªs Ligas Europeias
demonstra isso mesmo. A pergunta que faço é: se no Reino Unido vemos
relvados naturais impecáveis em Estádios fechados, com condições
climatéricas de Inverno muito mais adversas, porque será?
Se
o Sporting contactasse a vossa empresa, ou abrisse um concurso para a
colocação de um relvado natural, onde o contrato incluísse cláusulas
indemnizatórias em caso de insucesso, a RED estaria disposta a
apresentar propostas?
Não
nos podemos naturalmente pronunciar sobre perguntas hipotéticas, cujo
conteúdo carece de ser concretizado. O SCP conhece o trabalho que temos
desenvolvido no FCP e no SLB, pelo que daí poderá concluir se tem ou não
interesse em conhecer a nossa opinião.
Quando se fala de diferenças de custos entre relvados sintéticos e relvados naturais estamos a falar de quê?
Estamos a falar de um custo de construção que é de 2 ou 3 para 1, dependendo da base que for escolhida.
Confirma a veracidade dos estudos que
indicam que os relvados naturais tendem a proporcionar mais lesões do
tipo ligamentares, ocorrendo nos sintéticos mais lesões musculares e
meniscais?
Não
estou em condições de confirmar, porque nem sou médico desportivo, nem
tenho dados estatísticos para isso. Parece-me porém evidente que a maior
dureza dos relvados sintéticos não poderá deixar de ser prejudicial
para todas as lesões que envolvam desgaste das articulações, tendinites,
etc.
Vivemos
uma época de aparente transição. De um lado os que recusam liminarmente
os sintéticos, do outro os que apontam o sintético como o futuro,
sobretudo pelos inconvenientes trazidos pelos estádios mais recentes.
Pode-nos dar a sua perspectiva sobre a matéria?
A
perspectiva que tenho é simples: dos pontos de vista ambiental e
estético, o relvado natural é bem preferível; do das condições de jogo,
idem aspas. Os custos de construção do sintético são maiores, e de
manutenção menores. Por outro lado, o relvado sintético admite maiores
cargas de utilização, o que é benéfico no caso dos clubes pequenos que
não possuem áreas suficientes para treinos, especialmente para a
formação.
Concluindo
e fazendo jus ao titulo deste artigo acredita que é possível os
Sportinguistas verem em Alvalade um relvado muito bom e simultaneamente
natural?
Claro que sim!
O Estadio do Corinthians tem um sistema de climatização para manter a temperatura da Relva em bom estado..esse tb podia ser o caminho do Sporting para não trocar tanto a relva..
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