Não se pode dizer que haja razão para grandes estupefacções perante o empate da selecção portuguesa ante a Islândia. Para perceber este resultado, e antes de olhar para o jogo em si, há que olhar para o percurso recente das equipas e não para todo o seu historial. E aí verificamos que já em 2014 a qualificação da Islândia para o campeonato do Mundo foi esticada até ao play-off com a Croácia, conseguindo este ano pela primeira vez participar num torneio de selecções ao mais alto nível, neste Europeu de França.
O jogo de ontem só veio confirmar que já não há equipas fáceis de bater bem como as nossas tradicionais dificuldades com equipas com abordagem mais defensiva. Mas talvez o mais importante seja a confirmação daquilo que já todos devíamos saber e parece que poucos apreenderam ainda: Portugal é uma selecção mediana com um grande jogador, pelo que afirmações sobre favoritismos ou candidaturas da nossa parte são um rotundo exagero.
Sobre o jogo propriamente dito, vou fugir um pouco à tentação de sobrepor a minha opinião pessoal à do seleccionador, no que diz respeito à escolha deste ou daquele jogador. Mas aproveito a titularidade de Danilo como um exemplo prático da mentalidade conservadora de Fernando Santos Prefere a segurança a todo o custo, sem qualquer ousadia ou atrevimento. O mais que ganhou foi expor as limitações daquele jogador e, ao invés de potenciar o melhor dos outros, limitou-os ou até os atrofiou.
Por isso é que a discussão à volta de "quem devia ter jogado no lugar de quem" me parece estéril ou apenas se justificar para dar curso às tradicionais clivagens clubisticas. O problema começa na cabeça do seleccionador, no que é agravado pela mediania, em termos individuais, dos nossos jogadores, excepção feita a Ronaldo, claro está.
O futebol "à engenheiro", muito certinho mas pouco audaz de Fernando Santos é particularmente insuficiente ante equipas que se encolhem atrás. Ora, passar um jogo a privilegiar os cruzamentos pelo ar ante uma equipa recheada de directos descendentes dos altos e espadaúdos vikings é reciclar a táctica da fé na Srª do Caravágio. Não foi por acaso que o nosso único golo nasce de uma jogada em que a bola circula pelo chão. É por aí que as qualidades técnicas dos nossos jogadores ganham poder diferenciador sobre as melhores capacidades atléticas dos demais.
Infelizmente não me recordo de nenhuma tentativa de fazer circular a bola pelo chão e dentro do bloco defensivo dos islandeses. Ou de nenhuma jogada pensada com o intuito de desposicionar a sua defesa. Movimentos dos alas (laterais ou extremos) para interior com bola ou em desmarcação para receber também não, ou de alguém aí colocado para oferecer uma linha de passe, para progressão. Ora para jogar em correrias pelas laterais não é a João Mário ou André Gomes que se tal se deve pedir. Desta forma, o melhor que se consegue é tornar Ronaldo, sem espaços, num jogador vulgar e frequentemente dado ao desespero de sentir a obrigação de fazer tudo sozinho.
Não há também razões para o pessimismo lusitano, que tradicionalmente se segue ao confronto com realidade. Mas não duvido que a qualificação, perfeitamente ao nosso alcance, se tido em conta o valor dos adversários que restam, poderá ser complicada. Quer a Hungria quer a Áustria têm mais argumentos tecnicos que os islandeses mas a mesma disposição de jogar lá atrás, à espera de um erro nosso. É bem possível que a contratação de um matemático, sempre esquecida, se confirme mais uma vez necessária.
Bastava ouvir o treinador depois do jogo para perceber que nunca foi nada do que acabou por acontecer que o treinador pediu aos jogadores. Ou ver algum jogo bem conseguido para trás. Já concordo que a clubite aguda é o grande cancro do futebol português. Como por exemplo alguns sportinguistas não pararem de reclamar pelas rotinas do 4x3x3 do meio campo do Sporting quando a selecção joga em losango. A clubite e a forma como se passa de bestial a besta num ápice. Foi assim depois da Inglaterra e voltou a ser assim depois da Estónia. E assumir que vamos ao Euro para ganhar não quer dizer muito mais que vamos dar sempre tudo e que confiamos muito nos nossos jogadores. Como a Alemanha e a Espanha. Algo com que eu também concordo e que o ranking da selecção justifica.
ResponderEliminarDepois disto dizer que efectivamente o jogo não correu bem ontem. E por duas ordens de razão diferentes. Por demérito de Portugal e por muito mérito da Islândia. A defender, sejamos claros. Como o próprio post refere Portugal nunca conseguiu jogar dentro do bloco adversário, logo sempre com muito pouca gente na frente. E com Ronaldo desinspirado. Como todos sabemos o losango aparece sobretudo pela falta de pontas de lança. E nenhum losango sobrevive sem jogo interior. E depois vemos os alas a cruzar, função que no losango cabe aos laterais. Sob o risco de estarmos a cruzar para ninguém. O primeiro jogo correu mal, ponto. E ainda sofremos um golo à custa de uma grande azelhice. É futebol, acontece. Como e ainda assim bastava concretizar metade das oportunidades e podíamos estar agora a falar de um jogo totalmente diferente. Sobretudo urge corrigir o menos bom. Mas nunca há dois jogos iguais.
P.S. E ainda há quem nem aceite a ansiedade da 2ª parte. Porque os islandeses é que nunca tinham participado no Euro. Mas à Islândia o jogo correu quase sempre de feição e quando assim é vai-se ganhando é confiança.
Anónimo,
Eliminara clubite é um fenómeno generalizado, não me parece que faça muito sentido referi-la aqui como se fosse um exclusivo. Infelizmente o que não faltam por aí são maus exemplos.
Quanto ao resto é possível sobreviver sem jogo interior, há muitas equipas que o conseguem mas o caminho mais rápido e eficaz para a baliza continua a ser o centro.
Já na antecâmara deste Europeu, Portugal deu sete à Estónia em Lisboa e a bi-campeã da Europa perdeu com a Georgia em Madrid.
ResponderEliminarÉ um facto que o nosso golo foi fruto de uma (aliás, excelente) jogada pelo chão, mas também é um facto que as nossas duas maiores hipóteses de golo, tirando aquela que foi convertida, foram dois remates de cabeça (Nani e Ronaldo). Se a movimentação for eficaz e os avançados fugirem às marcações, o jogo pelo ar pode resultar, mesmo contra defesas enormes. O mal mesmo é a falta de uma ideia global de jogo, de uma movimentação coerente dos jogadores (grande parte a actuar fora de posição), e até de rotinas defensivas (o posicionamento de Vieirinha e Pepe no golo é inaceitável e repetiu-se várias vezes). É que, como diria "La Palisse", se a Islândia não tivesse tido nenhuma oportunidade de golo (e teve, seja a que marcou, seja de fazer o 0-1, seja de fazer o 1-2) tínhamos ganho 1-0, como ganhou a Espanha (para não falar da Itália ou da Alemanha). Depois de um ano a ver o SCP de JJ (uma vintena de vezes ao vivo), este futebol sem pressão, sem apoios e de posse de bola lenta e em zonas recuadas custa um bocado. Até acredito que Portugal passe (até porque Fernando Santos é um treinador com sorte q.b.), mas (i) não acredito que tenha 4 pontos quando defrontar a Hungria e (ii) se passar, ficará pelos oitavos de final. Imagino que, para quem andou a ouvir os "media" projectar como pré-campeão europeia uma equipa que não faz um jogo realmente entusiasmante há mais de três anos (desde o play-off com a Suécia em Estocolmo), e apenas porque o Quaresma engatou contra uma formação experimental da Estónia, deve ter sido chocante. PS: os adeptos portugueses no estádio conseguiram ser mais amorfos do que a equipa. E não era fácil. JPT SL!
ResponderEliminarNota prévia, Portugal está qualitativamente num patamar muito superior aos seus adversários de grupo e só não se qualificará para a fase seguinte por mero azar.
ResponderEliminarTerminada a nota prévia sobre o jogo de ontem, conforme supunha no meu comentário anterior Fernando Santos montou a nossa selecção de forma conservadora e o resultado final foi espelho da equipa. Na primeira parte fizemos mais do que suficiente para resolver o jogo logo ali e mesmo na segunda parte, onde o numero de oportunidades desceu a pique, Ronaldo tem uma daquelas oportunidades em que normalmente não falha. Falhou, falhámos, nada perdido siga a rusga.
Ver Portugal a jogar faz-me recuar ao Sporting de Marco Silva, está tudo muito bem muito certinho e equilibrado, mas se falha a eficácia lá empatamos com um Paços de Ferreira, Marítimo ou outra equipa qualquer manifestamente mais fraca. Ao contrário o Sporting de Jesus varre tudo o que lhe aparece pela frente, joga à campeão (independentemente de o ser ou não) e acrescenta ao equilíbrio, risco, sufoco pressão ofensiva seja contra que adversário for.
As decepções sucessivas que tenho com a nossa selecção passam por aqui, não sabemos jogar à candidato ao titulo, subir a equipa no terreno os metros necessários para dominar o espaço no terreno do adversário e não recuar sem estar garantida a vitória.
Se calhar os equilíbrios e conservadorismo do actual treinador até são os correctos para a valia da equipa e permitem disputar os jogos palmo a palmo com os verdadeiros candidatos, mas é curto para as Islândias e Azerbeijões desta vida que também têm o direito de marcar um chouriço e cerrar os dentes a defender.
Nani fez uma exibição do outro mundo para um jogador que está numa posição completamente anti-natura e não há ponta de lança a sério para meter ali, tem mesmo de ser ele e Ronaldo a inventar jogo no último terço. As oportunidades até vão surgindo mas não há sufoco, sobras para aproveitar, nunca se desequilibra a defesa adversária por completo, a criatividade está "isolada" na finalização.
Agora vem a Áustria. Até assim é possível de vencer por 1-0, mas o que eu quero é que Portugal solte os cães em cima deles!
LMGM,
Eliminarpor azar ou manifesta azelhice se se mantiver o actual registo.
eu rio-me.antes do jogo já a mim me palpitava que dificilmente a vitória seria nossa.digo isto porque um selecionador ou treinador que coloca em campo 4 médios centro e mesmo assim deixa de fora o melhor deles todos esta época,Adrien,e ainda por cima lembrou-se de armar um ataque sem ponta de lança,por muito mau que éder seja tem de jogar,só podia dar no que deu.resta dizer que nesta fase da época,colocar ronaldo e nani ou quaresma a fazer o papel de ponta de lança,rotinhos como estão,é mesmo dizer que o treinador é bem burro...o que já se sabia.enfim.
ResponderEliminarAzar? No Portugal v. Albânia (0-1) que determinou o despedimento do anterior seleccionador, tivemos 19 remates contra 2 e, que me lembre, 1 bola ao poste e 2 lances para grande penalidade não assinalados (e 10 cantos contra 2). E o Sr. PB foi para a rua. Neste jogo, contra a Islândia (com um coeficiente FIFA semelhante), tivemos 27 remates contra 4, com a diferença que, das nossas, apenas 3 foram oportunidades claras e, das deles, foram 2 (cantos foram 11 contra 2). E, neste jogo, contámos com Ronaldo, o que não sucedeu nesse "vergonhoso" Portugal v. Albânia. Nada, racionalmente, faz supor que o nosso futebol irá melhorar de nível e que iremos ganhar à Áustria, que tem muito melhores jogadores do que a Islândia e também precisa dos pontos (a não ser, claro, que, por isso, "joguem à Tarzan") PS: "na mouche", todavia, a comparação entre o SCP de JJ e o do anterior treinador. JPT
ResponderEliminar