Quem é Nélio Lucas e como a Doyen lucrou 300% com o Sporting
Em pouco mais de uma década, Nélio Lucas saiu da Aldeia da Mata para a ilha de Malta, e para as offshores, e hoje é o CEO do fundo mais global e diversificado a operar no futebol: a Doyen Sports Investment. É uma história invulgar que nos traz à cabeça o ideal e o ideário do american dream, o sonho americano à portuguesa de um rapaz obviamente inteligente, mas pobre, filho de dois pequenos agricultores de um lugar de Condeixa-a-Nova, que partiu para os EUA à procura de uma vida melhor. Este é o seu perfil, feito através do cruzamento de artigos de jornais com fontes próximas e com a análise aos documentos do Football Leaks — e revela o percurso improvável deste agente.
O caminho
Coimbra, Aveiro, Cape Canaveral, na Florida, Beverly Hills, em Los Angeles, Madrid e Londres. Nélio Lucas esteve em todo o lado e conheceu toda a gente; ou, pelo menos, diz ter estado em todo o lado e conhecido toda a gente, gente importante como Mariah Carey ou Bruce Springsteen, do qual foi road manager na Creative Artists Agency — revelou-o ao “Libération”, numa rara entrevista em que ele conta aventuras do seu passado. Uma delas é esta: Nélio garante ter feito um teste de QI cujos bons resultados o levaram a trocar a família e a Mata por uma família de acolhimento na Florida; não foi possível confirmar esta informação. Outra: Nélio diz ter estudado comunicação, marketing e política internacional na Universidade da Califórnia (UCLA), em LA; contactada pelo Expresso, a instituição assegura não ter nos “seus registos” nenhum “aluno com o nome de Nélio Lucas” ou “Nélio Freire Lucas”, de seu nome completo.
Vamos aos factos comprovados: aos 18 anos, em 1997, abriu uma empresa chamada 100% Produções Arte & Espectáculo para organizar festas e outras variedades, e, depois, a L.D. World Football Management, com a qual inaugurou o novo estádio do Beira-Mar, em 2003. Aveiro ter-lhe-á ficado na cabeça, porque foi lá que apareceu outra vez como representante da britânica Stellar Group, de Jonathan Barnett, um agente que dividia a meias um negócio com Pini Zahavi, o superagente original. A ideia era simples: colocar jogadores ingleses no Beira-Mar. Correu mal para o clube, que desceu de divisão, mas bem para Nélio, que começou a colaborar com Zahavi na Soccer Investments & Representation (SIR). Em Londres.
“Durante nove anos”, disse Nélio ao “Libération”, “trabalhámos juntos. Ele tinha contactos em Inglaterra, eu no resto do mundo; eu encontrava os jogadores que ele procurava e fechava o negócio”. Ganhava 450 mil euros por ano, mais 10% por cada contratação. Pelo meio, Nélio também fez uma perninha como “técnico em gestão de casting de atores”, e há um vídeo a correr na internet em que este é entrevistado a propósito disto mesmo.
As offshores
Em 2010, Nélio decidiu separar-se de Zahavi, e, em 2011, esteve na origem do aparecimento do fundo Doyen Sports Investments, o braço ‘desportivo’ da Doyen. Nélio conhecera o filho do dono do grupo, Refik Ari, nos EUA, tornaram-se íntimos e quando o fundo quis diversificar a sua atividade o português foi chamado para dar a cara. Segundo conta um amigo, terá sido a própria Doyen a pagar “um milhão de euros a Zahavi” para a rescisão do contrato. Nélio juntou-se a Amadeu Paixão, um misterioso português radicado em Inglaterra, e a Juan Manuel López e Mariano Aguilar, ex-jogadores do Atlético de Madrid dos tempos de Paulo Futre.
Os quatro fundaram a Assets 4 Sports, em Espanha, pela qual receberiam os pagamentos da Doyen Sports Investment. Nélio, Amadeu, López e Aguilar trabalhariam numa espécie de regime freelance para o fundo. Em 2011, a Assets 4 faturou 150 mil euros e 75 mil euros em 2012; em 2013 a Assets 4 foi extinguida quando Nélio e a sua entourage optaram por sociedades offshore: a Vela, a Principal Sports Management, a Wood Gibbins & Partners Limited, a Denos, a Rixos a PMCI, um complexo esquema de empresas em paraísos fiscais pelas quais passaram a ser feitos os pagamentos relativos às comissões mas também aos custos do ofício, como viagens ou estadias.
Foi através da Wood Gibbins & Partners Limited que Nélio assinou contrato para comprar o tal iate de 3,2 milhões de euros, por exemplo; sobre a Vela, detida a 50% por Nélio e outros 50% por Aguilar, o Football Leaks demonstra que cada um deles recebe 450 mil euros anuais e 10% de comissão sobre os jogadores transacionados. Foi igualmente pela Vela que Nélio pagou a festa do seu 35º aniversário, em Londres, que custou €162 mil, com uma lista de convidados a fazer lembrar uma gala da FIFA. Basicamente, constavam lá todos os que são alguém.
Um salto quântico. Em menos de dez anos, Nélio Lucas passou a viajar em jatos privados, a frequentar as festas mais exclusivas nos lugares menos inclusivos, a dar-se com Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, ou Adriano Galliani, CEO do AC Milan, a ter lugar nos camarotes do Barcelona, Benfica, FC Porto, Real Madrid, na O2 Arena, a almoçar nos melhores restaurantes com os melhores diretores desportivos e a dar bacalhaus aos melhores futebolistas do mundo. E, segundo Nélio ao “Libération”, a servir como um facilitador de negócios expedito, dando conselhos aqui e acolá pelos quais também cobra — ou tenta cobrar.
Em Portugal, este benfiquista dos sete costados amigou-se com Alexandre Pinto da Costa, filho do presidente Pinto da Costa, com o qual intermediou o negócio de Imbula, do Marselha para o Dragão. Ambos são vistos em jantares na zona de Matosinhos, nos quais Nélio, que tem um fraco por mocassins de pele de crocodilo e por relógios caros, come habitualmente bacalhau ou polvo sem tocar numa gota de álcool. Ele gosta da ostentação. Recentemente, num colóquio internacional sobre fundos e futebol, Nélio foi convidado para ser um dos oradores principais e interveio via videoconferência diretamente de uma piscina. Um conhecido de longa data resume-o: “Deixou de contar tostões para contar milhões.”
Este é Nélio Lucas, o mais curioso e ambíguo dos superagentes. E é português.
Nada neste texto me parece ilegal. Não é ilegal abrir empresas, é até elogiável o empreendedorismo, porque sem ele iriamos todos para a falência, não é ilegal ganhar dinheiro, desde que dentro das leis, não é ilegal ter lucro nem fazer contratos, ilegal é não cumpri-los.
ResponderEliminarTanto assim é que o Supremo Tribunal da Suíça aceitou a Doyen como uma empresa legal, como uma instituição com validade jurídica. E tanto assim foi que lhe deu razão num acordo em que quem transgrediu, não cumpriu a lei foi quem não pagou aquilo que tinha sido assinado de livre vontade.
Não percebo a intenção do texto a não ser uma tentativa vã e espúria de tentar diabolizar alguém que eu não conheço, mas fiquei agora a conhecer melhor, mas que até merece elogios. Subir na vida deve ser um objectivo de toda a gente e não deve ser objecto de censura.
Só conheço os comunistas para criticarem este tipo de pessoas.
No fim de contas qual é a diferença entre Nélio Lucas, Cristiano Ronaldo ou Jorge Mendes, 3 portugueses que subiram na vida graças ao seu próprio esforço, competência e visão?
Acham que a maneira como Bruno Carvalho está a subir na vida é mais objecto de elogio?
Você não conhece o personagem mas eu conheço muito bem... Não seja ingénuo!
EliminarA grande diferença para o Bruninho é que o Nélio parece ser muito mais espertalhão...
ResponderEliminarLdA,
ResponderEliminarNão é preciso ver muitos filmes para se saber como pode acabar a história do Nélio...
O momento em que sai esta publicação do Expresso também tem muito que se lhe diga...
Abraço
Carlos
Finalmente tenho tempo para comentar sobre os últimos episódios relacionados com o SCP e só me ocorre escrever o seguinte sobre o caso Doyen:
ResponderEliminarOu seja, conseguimos perder mesmo com o apoio da UEFA e da FIFA!!! É obra...
Um portento este Bruno de Carvalho!
#QuantoMaisFalaMaisSeEnterra
#Looser
Se o aldrabaozinho não tivesse feito a trapaça, qual seria o lucro do Sporting? Também 300%.
ResponderEliminarO Lucro do Sporting foi exatamente o mesmo que o lucro da Doyen. Lucraram na proporção do investimento que fizeram na aquisição do Rojo
EliminarQualquer artigo baseado na realidade é bom para desmascarar um aldrabão. No caso sobre fundos. Em 2011 e depois de dois mandatos do Ricciard, mais que falidos, havia que trazer os adeptos de volta ao Estádio. E o SCP, entre muitos outros internacionais, contratou Rojo ao Spartak por 4M. Sem dinheiro, a Doyen entrou com 3M, além do empréstimo de 1,57M e ficou com 75%. Nada mais normal. E na altura da venda, por 20M ao United, o Bruninho achou que era tudo dele. Entre muitas outras aldrabices já no Sporting. Como por exemplo a outra comissão também relatada no artigo e também já julgada. Se calhar achou que 25% do Rojo era pouco. Coates, Markovic ou Campbel vão deixar muito mais. E perguntem ao Jesus se importava muito de treinar o plantel de 2011/12?
ResponderEliminarOs Fundos são um grande atentado aos direitos dos jogadores. Que não são mercadoria. Para os clubes são uma fonte de financiamento como outra qualquer. E funcionam mais ou menos todos da mesma maneira. Entram com dinheiro para ganhar dinheiro. Quando o retorno previsto no contrato é alcançado o clube vende ou cobre. E depois há o Bruno. O fiel depositário.
Eu gostava era que o Expresso escrevesse sobre as contas consolidadas do Sporting. Isso é que eu gostava. Felizmente estou a cagar neste momento e, por isso, já estou sentadinho. É giro ver o Expresso tão diligente a responder ao repto do seu presidente sobre as contas consolidadas. E agora parece que se esqueceram do assunto. Tá fixi.
ResponderEliminarMais importante do que pesquisar a Doyen (que é um assunto arrumado, com prejuízo acrescido para o Sporting pela forma como foi gerido pelo Bruno) é pesquisar a Traffic. Este sim é um assunto actual e incompreensível. Sporting sempre, hoje pomos o Braga na ordem!
ResponderEliminarAss JPA