Mais tarde ou mais cedo as novas tecnologias acabarão por chegar ao futebol, quanto mais não seja por fenómeno de arrastamento provocado pela sua adopção e respectivos benefícios por outras modalidades igualmente populares à escala mundial. Falta apenas saber quando e com que grau de profundidade. Ficar-se-á apenas pelas "bolas inteligentes" capazes de nos dizerem se foi ou não golo ou se avançará para a análise de lances de maior complexidade é o que falta ainda estabelecer.
É verdade que os primeiros testes efectuados esta semana não podiam correr pior para a credibilidade das soluções, o que colide precisamente com os objectivos pretendidos: justiça desportiva e transparência. Mas estamos ainda a dar os primeiros passos e, a menos que não seja essa a vontade das cúpulas, ou não haja o bom senso indispensável, as tecnologias de apoio à decisão dos árbitros acabarão por ser uma realidade. É igualmente imprescindível muito rigor para as soluções a implementar estejam acima de qualquer suspeita para que o seu uso não tenha exactamente o efeito oposto ao pretendido.
Há no entanto que o dizer com toda a clareza, até para que as expectativas não sejam defraudadas: as novas tecnologias não substituirão a soberania na decisão dos árbitros, não mudarão nada na apreciação do respectivo trabalho por parte dos observadores, não farão as nomeações, não designarão os internacionais, etc, etc. Como certamente já perceberam estou a referir-me a aspectos muito particulares do futebol português que, permanecendo como estão, tornarão a introdução das tecnologias no futebol numa inutilidade.
Para sustentar a afirmação feita no parágrafo anterior socorro-me do sucedido no último dérby. Basta ver o que disseram comentadores e sobretudo árbitros consagrado sobre a evidência dos lances para se perceber como a classe está comprometida com interesses de terceiros ao ponto de não possuírem condições essenciais ao exercício da função de julgar: independência e imparcialidade. E que dizer da nota do árbitro, quando quem o avalia fica indiferente ao que observa na televisão?
O Sporting fez deste tema uma importante bandeira, apropriando-se de um tema que já vinha de há muito (e que conheceu desenvolvimentos a partir do Mundial de 2010 ) mas sem lhe dar grande profundidade, porque é claro que há outras decisões complementares a ser ponderadas. Mas esqueceu-se deste "pormaior" que é afinal o ecossistema do futebol português e por isso os principais problemas que contribuem para a suspeição de que enferma continuam exactamente como estavam. E assim continuarão com ou sem tecnologias.
Eu sei que é mais fácil ir discursar lá fora, mas é cá dentro que as mudanças têm que ser levadas a cabo. E sei também como elas são difíceis de acontecer, mas todos os dias sem dar um passo são dias perdidos. O que conseguimos realmente mudar nestes últimos quatro anos? O que fizemos de facto para promover a mudança, se considerarmos que não a podemos fazer sozinhos? O nosso discurso e e postura promovem as alianças que precisamos? Quantos aliados podemos conquistar para esta causa?
Para consumo interno (clube) e para estratégia de poder manifestar indignação pelo inclinação dos relvados em momentos decisivos resulta, mas a longo prazo não muda nada. E não ter mudado nada é afinal a constatação de que como a estratégia até agora seguida não está a resultar.
"É verdade que os primeiros testes efectuados esta semana não podiam correr pior para a credibilidade das soluções,"
ResponderEliminarPorque assenta todo o raciocínio nesta falácia? Um golo mal anulado que foi validado, e um penalti não assinalado que foi corretamente assinalado. O que correu mal na sua opinião?
Independentemente da base estar errada, concordo com a ideia geral do post - o video árbitro não vai per si resolver os problemas de fundo no futebol português. Vai até resolver poucos. E há outros problemas, como no caso único do futebol português, o Clube que manda nisto tudo, transmite os seus próprios jogos e controla as imagens a seu bel-prazer. Não sei como se ultrapassa isso.
No entanto, não me parece que tenhamos alguma coisa a perder e pode ser que agite as hostes para consequências mais profundas.
SL
Eu acho que a validade do videoárbitro tenderá a ser descredibilizada por via de polémicas em lances em que foi utilizado, com a indecisão aparente que os árbitros ainda mostram em campo quando há um destes lances, e será metida na gaveta por mais uns tempos.
ResponderEliminarO estranho é que no Rugby, um desporto onde tanto pormenorzinho é descoberto pelos videoárbitros, a coisa funciona lindamente...
A utilização de um video arbitro ajudará a tornar evidente que o problema não é apenas o homem do apito mas o conjunto de regras que ele tem de aplicar. As regras do futebol deixam uma enorme margem para... o critério do árbitro, que não é uma regra mas naquele momento faz lei.
ResponderEliminarO último derby tem uns exemplos fantásticos, os lances de queixa "mão" facilmente teriam diferentes interpretações conforme o analista de momento. Aqueles lances são ou não são penalty conforme o critério do árbitro, não há ali nenhuma regra a ser aplicada, porque pura e simplesmente não é possível filmar a intenção...
Voltamos a um lance antigo (2013) em Alvalade de um corte fantástico de bola para golo, onde o brilhante Xistra dizer a Adrien, "Eu vi, não foi mão! Eu vi!" o problema na larga maioria das vezes não é não ver é mesmo aquilo que se quer ver. Nenhuma imagem iria alterar o critério do Xistra naquele lance, tal como acredito que nenhuma iria alterar o critério do árbitro do anterior derby, ele viu e achou tudo normal... e há nestas imagens margem suficiente para a dúvida.
O video árbitro, com o actual conjunto de regras do futebol, só ajudará a definir lances evidentes, como a bola dentro ou fora da baliza, a falta dentro ou fora da grande área e mesmo aqui penso que surgirá sempre uma nova interpretação que consiga aplicar um conjunto de regras selectivo, p.ex. sobre atrasos ao guarda redes, faltas fora da área mas onde o atleta adversário cai dentro.
O Rugby, antes do video-árbitro, alterou diversas vezes as suas regras, tornando o jogo mais dinâmico e a trabalho do árbitro mais objectivo, só depois dessa evolução foi possível incluir o video árbitro que jamais deve ser a primeira medida a ser tomada.
E naquele do Ricardão contra o Leiria, com a bola tipo dois metros dentro da baliza do Sporting e não foi golo, qual seria a decisão?
EliminarE na jogada entre o Slimani e o Samaris, que depois deu origem a demissões no Conselho de Disciplina e que foi apenas decidida no defeso (tudo indica que para evitar que o jogador ficasse suspenso numa fase decisiva da época)?
Ficam aqui a debitar uma série de coisas como se fossem as únicas pessoas no mundo. Ainda no outro dia foram dois ou três penáltis perdoados ao Marítimo - bem, na jogada com o Nélson Semedo o árbitro marcou falta... do Semedo LOL - e não vi ninguém a estrebuchar. Porque quase ninguém falou sobre isso.
É que vocês têm um problema de coerência: clamam por contas consolidadas e não as mostram, têm um novo investidor na SAD que ninguém sabe quem é, dizem que são prejudicados isto e aquilo e depois jogam a 90 por cento e já a pensar na final da Liga Europa e perdem com um miserável Legia, atiram-se contra um contrato assinado sem coação e são, naturalmente, condenados a cumpri-lo (depois de terem utilizado esse dinheiro para pagar outras contas) - e no dia em que é conhecida a decisão sem recurso associam-se à Traffic (?????), querem despedir o Marco Silva por justa causa e mandam os cães de fila abatê-lo em público (e estes cães chegam a tribunal e confirmam que apenas disseram o que a administração lhes tinham pedido para dizer LOL), não pagam juros e recebem milhões de bancos à beira da falência e intervencionados com dinheiro público em VMOCS, ao mesmo tempo que pagam cerca de 8 milhões brutos a um treinador, que agora manda em todo o edifício do Sporting para ir buscar o Petrovic, o Elias, o Meli e o Markovic da Michelin.
É realmente um manicómio. Mas por acaso é giro, temos o Voando Sobre um Ninho de Cucos ao vivo e em tempo real.