Algures entre o final da época passada e até ao pontapé inicial da presente quem poderia vaticinar que quase a meio do campeonato o Sporting estaria tão longe do primeiro lugar? Mas não está apenas longe, ocupa o quarto lugar, a quatro pontos do segundo classificado? Tal quer dizer que, no momento em que estas linhas são redigidas, já não depende apenas de si para melhorar a sua classificação e tem atrás de si, menor distância, a dupla minhota Vitória de Guimarães e Braga. Como entender esta decepção, que ocorre precisamente quando regista talvez o maior investimento da sua história, isto contando com aquisições e massa salarial?
Há duas respostas para a pergunta acima e estão umbilicalmente ligadas: as saídas de Slimani e de João Mário não encontraram reposta adequada na rol de entradas que se seguiram. De igual modo, apesar da escolha ter aumentado no número, o mesmo não se pode dizer relativamente à prontidão e qualidade. Isso é que se pode verificar pelo número minutos jogados pelos jogadores chegados este ano, com honrosa excepção de um jogador e meio: Bas Dost por inteiro, Campbell pela metade:
Para que se tenha uma ideia dos tempos de utilização em função dos compromissos até agora cumpridos, foram realizados 25 jogos, num total de 2.250 minutos e o jogador mais utilizado é William, com 2.013 minutos jogados. No quadro acima chamam a atenção os números de Alan Ruiz, um jogador que tarda a justificar a preferência e o custo envolvido. O facto do treinador não lhe ter confiado sequer um minuto que fosse na competição mais exigente, a Liga dos Campeões, diz alguma coisa e o tempo em que apostou nele, sem grande sucesso, pode ajudar a explicar porque não está encontrado melhor companhia para Dost no ataque. E se Campbell tivesse merecido a preferência e o mesmo tempo logo de inicio?
Que razões podem ter concorrido para este aparente fracasso nas contratações? Razões de quantidade, oportunidade e de qualidade seguramente, todas elas e não apenas uma, como abaixo se tentará explicar.
A quantidade
No final da época mercado, entre vendas e aquisições, o Sporting ficou com um plantel próximo das três dezenas de jogadores. Destes apenas são efectivamente convocados dezoito, o que deixa "fora-de-jogo" um valor muito semelhante. Um jogador que não compete com regularidade não oferece respostas imediatas, ao nível dos jogadores que o fazem. Os recém-chegados acumulam essa desvantagem não apenas com o desconhecimento das especificidades do nosso campeonato, mas sobretudo do quão exigente é o modelo de jogo de Jorge Jesus e o que este exige aos seus jogadores. O tempo de integração para muitos deles também não terá sido por isso o ideal e necessário, algo que escapou à análise no planeamento da época. Quando os compromissos mais importantes começaram a surgir ficou claro em quem Jesus confiou e de quem se socorreu: à excepção de Dost, aos jogadores que conhecia da época transacta.
Oportunidade
Aqui inscrevem-se questões de critério, relacionadas com as características dos jogadores, bem como das necessidades da equipa a colmatar. Ao contrário do que parecia à medida de que os nomes dos novos jogadores iam chegando, não houve uma substituição à altura para João Mário. Por outro lado, as opções para substituir jogadores nucleares na manobra colectiva não se revelaram eficazes quando chamados à titularidade. Isso ficou bem claro aquando da lesão de Adrien. E a companhia para Bas Dost está ainda por encontrar e afinar, estando ainda por perceber os problemas de Markovic, até agora a maior decepção. Acresce que é um pouco incompreensível que mais de 20 milhões de euros gastos e não se tenha resolvido o problema das laterais, cujo rendimento tem penalizado particularmente a equipa.
Qualidade
A questão sobre a qualidade dos reforços acaba por ser inevitavelmente questionada quando grande parte dos jogadores chegados no inicio de época recolhem tão pouco tempo de jogo em função do que era esperado. Apesar de tudo o que possa ser dito, apenas Meli me suscita dúvidas que resultam sobretudo do desconhecimento do seu valor. No mais a generalidade dos restantes, aquando da sua aquisição tinham aquilo que me parecia o essencial: potencial. Ora o futebol está cheio de exemplos de jogadores que não triunfam num determinado contexto e que noutro acabam ser felizes, muitas vezes de forma surpreendentemente, contra todas as melhores perspectivas. Exemplos que acontecem em clubes que se movimentam em nichos de mercados onde os valores a pagar tornam os falhanços quase proibitivos e por isso mesmo aparatosos, ao ponto de encherem cabeçalhos e primeiras páginas de jornais. Nos mercados a que o Sporting pode aceder a escolha é ainda mais reduzida, face à infinidade de clubes para tão poucos valores seguros que o dinheiro de cada um deles possa pagar.
Agora que se fala tanto em mercado, a próxima janela será interessante para ver como o Sporting tentará resolver senão todos, alguns dos problemas que Jorge Jesus tem em mãos. O simples facto de os adeptos suspirarem por esta época quase tão ansiosamente como pelas prendas de Natal diz muito da decepção que o mercado de verão deixou em muitos deles e seguramente também em Jesus. Laterais e pelo menos um avançado para jogar fazer companhia a Dost é talvez a exigência menor. Perceber o que falhou para não voltar a repetir os mesmos erros é fundamental.
Nota: este artigo foi escrito ao abrigo de uma parceria do autor com o
Portal FairPlay, onde poderá ler ainda sugestões de reforços para os lugares considerados mais prementes.
Permita-me, enquanto benfiquista racional e que gosto de ter uma boa discussão saudável, de questionar algumas das opções de JJ. Não tenho a certeza absoluta mas o JJ já fazia isto no Benfica. Algumas das contratações falhadas do Benfica como Fariña, Kardec, Bruno Cortez, Jara, Éder Luis, Carole, Patric, etc podem ter sido avalizadas pelo JJ. Penso que o scouting do benfica os identificou com potencialidade, como a dezenas de outros jogadores que são seguidos em permanência, e que apresentaram-nos ao JJ que propôs a sua contratação. Tirando Siqueira, os melhores defesas laterais que ele treinou já lá estavam antes do JJ: Maxi Pereira e Coentrão. Parece-me que ele gosta de ter muitas opções para depois escolher os mesmos. É do tipo jogador de ténis, que pede três bolas e deita fora sempre uma. Das duas uma. Ou o scouting do Sporting ainda não tem um nível de desenvolvimento adequado às exigências (o que não acredito) ou o JJ mantém a mesma filosofia que implica uma enorme disponibilidade financeira do clube. Votos de um bom ano.
ResponderEliminarPedro Martins
Antes de mais obrigado pelos votos de bom ano, que retribuo.
EliminarDe facto situações como as que hoje vivemos aconteceram também no SLB. Coincidência ou não, se a minha memória não me falha, precisamente no segundo ano de JJ. Talvez como hoje algum deslumbramento depois de uma época muito boa, que do nosso lado só não foi melhor por manifesta infelicidade.
Sobre o departamento de futebol do meu clube sou particularmente critico. Não apenas de agora mas de há muitos anos. As sucessivas alternâncias de dirigentes acabaram por produzir os seus resultados a todos os níveis. Quando JJ chega ao Sporting é imediatamente consentida uma preponderância que num clube com uma SAD e departamento forte e com profissionais competentes não aconteceria de forma tão expressiva. Acontece que quer as infraestruturas humanas quer mesmo físicas existentes eram de menos para os galões que JJ ostenta e daí se explique também o que aconteceu com as aquisições.
O que
Caro anónimo Benfiquista....
EliminarDe todos os jogadores que mencionou, apenas Carole não foi contratado com aval de JJ, aliás ele tinha pedido o puto mas só para o final da época, mas visto que o puto teve problemas com o clube e estava impossibilitado de treinar, o Benfica pagou mais 1 milhão para desbloquear a situação, o puto ainda fez uns jogos durante entre Janeiro e Julho pelo Benfica A, e toda a critica falava de que havia qualidade no puto, so que estranhamente JJ na época seguinte mandou o puto embora com a frase de que "não tem qualidade" a mesma que ele usou para definir Wass contratado nos mesmos moldes...
Concordo com o anónimo benfiquista. Sempre foi um problema no benfas o "director desportivo JJ". O nosso presidente actual, infelizmente, deixou-se levar pela onda e não aprendeu com os erros dos outros. Uma infelicidade tremenda para o sporting, que claramente deu um passo atrás em termos de qualidade e soluções do plantel (para além da saúde financeira).
ResponderEliminarAlgumas das contratações então chocam pela negativa: elias, andre, alan ruiz, petrovik (nem falo do meli porque nunca o vi) não jogam (por muita qualidade/potencial que se lhes atribua e que eu francamente não discerno) a uma velocidade de futebol de topo. Básicamente como o JJ gosta de dizer "não têm andamento" nem para portugal quanto mais o resto.
Queria também acrescentar o Teo à lista das saídas que não tiveram substituto à altura.
Confesso que estou com bastante renitência em aceitar de antemão que a generalidade dos reforços falharam, aceito que aqueles de que mais se esperava não resultaram mas parece-me cedo para juízos finais sobre vários deles.
ResponderEliminarHá uma certeza, Bas Dost, acertámos em cheio, Campbell tem um problema na vida, chama-se Gelson e ninguém lhe tira o lugar por isso o rapaz, que até é emprestado e por este andar vai perder mais um ano da sua vida, ou rende noutra posição ou veio encher pneus e tirar selfies ao lado do Gelson.
Os grandes erros, Markovic e Elias, por norma não gosto nada destes regressos ao passado, principalmente com jogadores que também pouca mais valia tiveram noutras paragens (vá Elias no Brasil rende, mas o ar europeu faz-lhe mal...), estes dois seriam os jogadores para pegar de estaca e ... pouco ou nada.
Do lote seguinte, André, Castagnios, Petrovic, Méli, Alan e Spalvis, acho que é cedo para grandes avaliações, o modelo de Jesus é difícil, os jogadores vindos da América do Sul costumam ter períodos de adaptação mais longos, tem-se verificado evolução nos que foram mais utilizados (André, Alan e Petrovic) por essa razão não os descartava já. A lesão de Spalvis foi o grande revés da pré-época e obrigou a alterar modelos de jogo e acelerar contratações e entrada de jogadores na equipa.
O Sporting não tem qualquer controlo sobre a programação da pré-época, pode marcar um conjunto de jogos e pouco mais, quais os jogadores que vão cumprir esse período de trabalho é hoje uma enorme incógnita. Por exemplo se eu tivesse responsabilidades neste assunto e me aparecesse alguém a propor condicionar o planeamento da pré-época porque iríamos ser campeões europeus eu dava uma boa gargalhada e continuava a reunião a falar de problemas mais previsíveis como a possibilidade (que ocorreu) de várias entradas e saídas no último dia de mercado.
Parece que são pormenores de pouca relevância mas o Sporting foi a equipa mais afectada com a excelente prestação da selecção, e se calhar continua a ser, o seu núcleo duro esteve ao seu mais alto nível até ao final da competição e poucas férias teve até voltar a ter de render ao mesmo nível com propostas "fabulasticas" do mercado pelo meio.
Agora vamos à razão pela qual eu acho que temos falhado, surpreendentemente estamos a falhar na defesa que foi o sector com menos mexidas, saíram Naldo, Everton e Boeck, entrou Beto e Douglas, com estas variações e sem necessidade de mexer nos titulares da época passada passamos a sofrer uma enormidade de golos (comparando com a época passada). Dado que os titulares não são diferentes (e não ficaram piores) não me parece correcto serem eles os culpados, aquilo que sinto é que o modelo de jogo mudou e que a equipa está mais exposta ao contra-ataque se a isto juntarmos um ataque que não consegue fazer render em golos o domínio avassalador que imprime estão reunidas as condições para a situação actual onde se apontam dedos indiscriminadamente ao culpado de ocasião sem surgirem as soluções por apenas mudar o A pelo B.
Resumindo, temos um plantel para jogar em 433 e andamos a experimentar variações Jesuítas do 442 com muita posse de bola, sem killer instinct e com a defesa abandonada à sua sorte.
Venha lá o próximo jogo que eu não gosto nada dos acertos de Janeiro.
Uma boa e necessária reflexão sobre as razões que aqui nos conduziram. Apenas uma reserva relativamente às saídas. Como o Leão de Alvalade mais do que ninguém aqui defendeu a saída do Teo e antes dele de Montero retiraram qualidade à equipa. Trocar Slimani+Teo+Montero por Dost é, pese embora a qualidade do holandês, ficar a perder por muitos. Trocar João Mário por 1/2 Campbell é levar uma cabazada. O plantel é francamente pior do que na época passada e essa degradação da qualidade tem dois defeitos: em primeiro lugar custou muito dinheiro (entre aquisição e salários, descontando Dost e Campbell, cerca de 20 milhões)e em segundo lugar em muitos casos não haverá retorno de nenhuma espécie. Acresce o facto de estarmos perante jogadores que tapam o progresso/exposição a jogadores da Academia.
ResponderEliminarDos jogadores propostos os laterais dinamarquês - parece um jogador bom para ligar com Dost - e brasileiro iriam por si só melhorar muito a equipa. O ponta-de-lança móvel já me pareceu menos interessante. Com Campbell atrás do ponta de lança apostava todos os trunfos no regresso de Ryan Gauld e dava-lhe a utilização que Jesus deu muitas vezes a J.Mário, jogar na ala do lado direito ou atrás do ponta-de-lança. No Vitória está a atingir um nível muito elevado, como mostrou ainda no último jogo frente ao Tondela. [Haverá alguém que consiga editar o vídeo em que à Messi, Gauld toca a bola para trás da defesa vai ele receber e depois remata ao poste?].
Mas para contratar - uma inevitabilidade - é necessário começar por dispensar em primeiro lugar. Eu vendia todos os que são do Sporting - Ruiz, Elias, Petrovic, Douglas, Castaignos e André - e devolvia os emprestados - Markovic e Melli - e tentava obter qualquer coisa acima dos 10 milhões por esse "pacote". Comprava os laterais referidos na peça e mandava regressar Geraldes, Iuri, Gauld e Palhinha. Bastaria isso para fazer um final de época de boa qualidade, vencer as duas Taças e lutar até ao fim pela Liga e pela qualificação para a Champions.
Presumo que não vai ser assim. Não há coragem para reconhecer o fracasso da campanha aquisitiva da pré-época.
Um bom ano para todos os desportistas e para os sportinguistas em particular e um bom ano de crónicas e de bom e esclarecido debate como é apanágio aqui do A Norte de Alvalade.
Viva,
ResponderEliminarGosto de acompanhar o blog pois não tem problemas em colocar o "dedo" na ferida e avaliar com distãncia a realidade do clube, parabéns.
Sendo benfiquista o que mais desejo é um SCP forte, faz falta ao futebol nacional e ao nosso campeonato.
Não sou muito entendido em futebol e muito menos no "dia a dia" do SCP mas penso que a grande diferença em relação à época passada tem muito a ver com o aspeto defensivo, se é verdade que Dost está a ter rendimento, factual a verdade é que o mesmo não oferece o mesmo que Slimani a nível defensivo. O mesmo se passa com João Mário, Gelson é um prodígio e joga muito mas defensivamente não oferece o mesmo.
Depois sim concordo as saídas de Montero e mais tarde Teo não foram devidamente colmatadas.
Agora o que realmente custa e embora reconhecendo que em pouco mais de ano e meio de JJ já lançou a titulares dois jovens da formação, Gelson e Ruben Semedo, há muitos talentos que podiam estar aqui e fazer, acredito, melhor figura que muitas destas contratações, que me desculpam se penso mal, mas Podence, Geraldes, Palinha, Matheus, Tobias Figueiredo e acredito outros meninos podiam ser melhor aproveitados
Desejo a todos um bom ano e continuem o bom trabalho
Paulo Dores
E Douglas ? Um namoro e uma novela tao grande para estar no banco ? Só o Douglas ganha mais por mês que o Tobias, o Palhinha e o Ruben Semedo juntos.
ResponderEliminarTJS
Eu sinceramente não sei se falhou alguma coisa. Partindo do princípio que a definição de falhar é igual para todos. Porque ao nível de contratações no actual mandato foi mais do mesmo. Ou seja, a falhar desde o 1º minuto. Com a agravante do grande contributo de JJ esta época. O mesmo JJ que no SLB para acertar duas falhava mais de dez.
ResponderEliminarO problema é evidente, é um problema já visto noutras paragens. Uma das várias razões que levaram à saída do JJ do Benfica foi o facto do senhor não perceber que não percebe nada de scouting, de mercado, e de avaliação de jogadores fora do ambiente de treino.
ResponderEliminarAo contrário do que JJ gosta de se vangloriar, ele não é nada a estrutura. Ele não percebe nada de estrutura, até porque tem dificuldades de relacionamento e de trabalhar em equipa. Ele acha que é o cérebro mas isso é tudo palavreado rasca. O cérebro dele é muito forte ao nível do treino - o que é fantástico. Mas não chega.
No Benfica passou por várias fases e depois da segunda época deixou de ser importante na contratação da maioria dos jogadores. Felizmente. Até porque os clubes organizados não contratam em função do treinador, contratam em função do perfil. Os treinadores passam e os clubes ficam. Só isto faz sentido, o resto é pessoalizar as organizações.
Por exemplo, dizia-se que o JJ descrevia o Markovic como um jogador para a equipa B. Porque não foi ele que o escolheu. Nem o conhecia. Todos os sérvios incluindo Matic não foram ideia do treinador. Outro exemplo da sua tacanhez é o fantástico Bernardo Silva.
No Sporting, juntou-se a incompetência a este nível à desorganização. JJ é até pelas palavras do presidente o director desportivo em funções. O resultado está à vista - contratações de FM, de cromos repetidos, com o perfil errado (ou não servem para o modelo de jogo ou não têm potencial económico e sempre com a idade e as características físicas sobrevalorizadas).
O Sporting enquanto clube não conhece o mercado, não trabalha de forma convincente no scouting (mesmo internamente e na formação, especialmente, onde foram competentíssimos e inovadores, já foram ultrapassados) e contrata em função de ideias pessoais e de influências de empresários e comissionistas.
Suspeito que não é com JJ e muito menos com a actual direcção que os erros serão corrigidos.