Não podia deixar passar sem aqui fazer referência a um dos nomes mais importantes do futebol português no qual foi futebolista, seleccionador nacional, treinador, dirigente e jornalista e cujo nome estará para sempre ligado ao melhor período do futebol do nosso clube. Falo de Cândido de Oliveira a quem, de forma mais do que justa, a FPF em boa hora decidiu atribuir o seu nome à competição que inaugura cada época futebolística, a Supertaça. A oportunidade surge agora ao "cruzar-me" por mero acaso com um documentário co-produzido pela RTP e FPF que merece cada minuto da nossa atenção.
Dele realço o episódio da sua passagem pelo Sporting, e a forma superior como ele e um dirigente do Sporting resolveram o que podia ser um complicado problema, surgido pela ocasião de um jogo decisivo de um campeonato que se disputaria com o eterno rival SLB. Não tivesse sido assim solucionado e provavelmente faltariam hoje algumas páginas brilhantes na nossa história.
Cândido de Oliveira era benfiquista e o alinhamento que preconizou para a partida suscitou dúvidas de favorecimento ao seu clube de coração por parte do referido dirigente, agravadas certamente pela necessidade de um resultado de pelo menos 3 golos de diferença para o Sporting ganhar vantagem na disputa do título.
Mestre Cândido tomou conhecimento da contestação, manteve as suas ideias e o Sporting acabaria por vencer por 4-1, o que lhe daria o titulo, que a história consagraria como o titulo do pirolito, justamente por ter sido conseguido por um golo de diferença.
No final do jogo o treinador apresentou a demissão por entender que, ao ver colocada a sua integridade moral em causa lhe faltava a condição mais básica para continuar a ocupar o cargo. O referido dirigente tentou demovê-lo do sua intenção e, penitenciando-se pelo seu erro, entendeu que quem se devia demitir era ele. Cândido dos Reis impôs então uma condição para se manter no cargo: a continuidade de ambos.
Acabariam por celebrar juntos o primeiro tri-campeonato do futebol nacional e esse jogo seria decisivo para o desempate, uma vez que o Sporting e SLB chegariam com os mesmos pontos ao final do campeonato. O desempate fazia-se então tendo em conta os jogos disputados entre si e como, no jogo disputado na primeira volta, em casa do SLB, tínhamos perdido por 3-1 o campeonato era nosso.
Como nota de curiosidade fica o registo de que ambos os clubes ainda perderiam mais um jogo. O Sporting contra o Vitória de Setúbal por 1-0 mas o SLB perderia com o Elvas por 2-1. Do jogo de Setúbal dizia-se à época pelos "mentideros" que os dirigentes do SLB tinham prometido a cada jogador setubalense, em caso de vitória, um fato novo. Consta que os jogadores sadinos, cientes do dever cumprido, exigiram que o acordo fosse honrado, o que terá sucedido.
Confesso que comecei por achar o que escrevias tendencioso, provavelmente devido ao clima de guerra civil que se vive entre a massa adepta do nosso clube, com particular foco na blogosfera.
ResponderEliminarA verdade é que desde há uns tempos tenho acompanhado o que escreves aqui, e tenho percebido que a tua posição é tudo menos radical.
Excelente post este, obrigado por partilhares esta bonita história. Faço também mea culpa pela minha opinião anterior.
SL
Ensinou a Académica a ser grande, a jogar à grande, a ter uma mentalidade maior que resultados. Foi um homem raro, vertical e que marcou todos os locais por onde passou pela acção. Na antecâmara do jogo de sábado é uma figura com um legado sobre a qual, quer a Académica, quer o Sporting deviam refletir...
ResponderEliminarFoi irreverente e criativo, um homem muito à frente do seu tempo que introduziu várias inovações no treino, no jogo e nos clubes por onde passou, um por exemplo:
"Numa altura em que ainda não era normal a presença de médicos numa equipa de futebol, Francisco Soares, que se encontrava a assistir ao treino da Académica, vê o recém-chegado Jorge Humberto a fazer uma luxação num joelho e salta da bancada para o campo, de forma a auxiliar o jogador. No final do treino, Cândido de Oliveira, treinador da Académica, quer saber de quem se trata e, a partir daí, Francisco Soares torna-se médico da Briosa."
Outros tempos... Outra gente!
ResponderEliminarEterno e saudoso Cândido de Oliveira!
SL!