A censura ao trabalho de Abel
A não continuidade de Abel à frente da equipa B parece um facto consumado, o que constitui um sinal claro de censura ao seu trabalho na época que findou. Devo dizer que também não gostei do que vi do resultado do trabalho do treinador, mas não serei tão severo, ao ponto de lhe assacar em exclusivo as culpas por muito do mau futebol exibido ao longo do ano.
Há factores que dependem em exclusivo da sua esfera de actuação em que Abel falhou rotundamente mais que uma vez, como foi o exercício publico da disciplina sobre alguns jogadores. A sujeição do factor individual na procura de soluções para a equipa são também a demonstração clara da falta de trabalho técnico adequado ou esclarecido.
Mas uma avaliação justa obriga também a reconhecer que o plantel posto à sua disposição no inicio da temporada sofreu uma importante depreciação de valor, acrescida de enorme instabilidade proporcionada por entradas, saídas e rodagem de jogadores da A.
Se possível voltarei a este tema (a equipa B) de forma mais detalhada. Mas fica desde já a ideia, a merecer reflexão, se o primado do empirismo, revelado com a entrada de jogadores "achados aqui e ali", sobre a planificação e a perseverança que as idades de formação requerem, é o melhor modelo para a equipa B. As dúvidas estende-se por isso também à virtude - ou justiça,se preferirem - do modelo não apenas para o treinador, mas também para os jogadores. Este juízo inclui obviamente não apenas os que partiram mas também os que chegaram.
A nega de Litos
O facto de um treinador desempregado e ainda por cima assumidamente Sportinguista recusar o lugar de treinador da equipa B - cuja importância é muito maior e mais complexa do ponto de vista estratégico para o clube que a secundarização da designação leva a supor - tem obviamente um significado importante. É pelo menos revelador de uma situação mal pensada e as palavras de Litos confirmam-no: a equipa B tem um treinador e chama-se Abel Ferreira.
Confesso desde já que a memória que guardo do trabalho de Litos como treinador não regista nada que mereça grande destaque a não ser um marco importante, como foi o regresso do Portimonense à Primeira Liga. Mas isso não diz muito sobre o seu modelo de jogo e a respectiva aplicabilidade e interesse na equipa B do Sporting. A sua passagem por um campeonato como o moçambicano também não me parece ter sido factor de evolução e aprimoramento de faculdades. Mas fica o registo das suas qualidades como homem. Outro no seu lugar não se importaria de assumir um compromisso que no imediato lhe garantisse o rendimento, independentemente das consequências que o futuro reservaria. E homens assim são raros hoje e é uma honra que os tenhamos entre nós, Sportinguistas.
Soluções
Ao contrário do que possa ser uma certa tendência para considerar o lugar de treinador de equipa um cargo de aprendizagem, e que por isso pode ser ocupado por um treinador em formação, talvez o lugar deva ser considerado mais a sério. Isto se de facto a formação e a equipa B também assim sejam consideradas.
Tenho para mim que a equipa B é crucial para o sucesso de um clube que projecta na formação uma importância vital para o seu sucesso. Mas, para que resulte, não devem existir preocupações excessivas com outros resultados imediatos - o futebol (os seus adeptos) tem pouca paciência para projectos com projecção de resultados a muito longo prazo - que não sejam a progressão mais segura dos jogadores saídos da formação base (júniores), de forma a manter um regular fornecimento de jogadores para a equipa principal.
Este "regular fornecimento" refere-se sobretudo ao número, à quantidade, crendo que os jogadores que atinjam esse estádio já passaram pelo indispensável crivo de qualidade que os faz ombrear sem receios com os demais. Jogadores de valor excepcional devem ser "esperados para colher" como devem ser todas as colheitas excepcionais: não há todos os anos. Ora isto representa uma preocupação menor com os resultados, observando contudo que há valores mínimos a preservar, como sejam a manutenção do lugar na II Liga, bem como evitar "figuras tristes" que manchem a reputação do clube.
Independentemente da filosofia há um ponto que o Sporting nunca deveria abdicar relativamente à sua equipaB e esse é o crescimento e a valorização dos seus jogadores, na qual o papel de um treinador é crucial. Devo dizer também que ser Sportinguista não seria para mim uma prioridade na escolha de um treinador, antes sim um factor de desempate em igualdade de circunstâncias.
Por nomes nas soluções é por vezes a melhor forma de contaminar uma discussão, uma vez que quase todos têm os seus preferidos e muitos dos nomes trazem consigo demasiados anti-corpos. Um nome que me parece interessante, pelo perfil sereno, pela experiência e pelos resultados alcançados é o de Van der Gaag. Esteve inclusive para ser treinador adjunto de Van Basten, se Bruno de Carvalho tivesse ganho as eleições em 2011. O técnico holandês teve trabalho meritório na formação do Marítimo, onde fez aparecer vários jogadores, e a sua subida com o Belenenses à primeira liga, com uma equipa jovem, foi impressionante.
Obrigado LdA, excelente post.
ResponderEliminarM. eu que é tenho que agrader. Muito obrigado.
ResponderEliminar"Agradecer"
ResponderEliminarUma boa análise sobre o trabalho de Abel. Sobre Litos, na realidade nada fez de relevante como treinador, e talvez pense que poderá ter outra visibilidade num outro clube, uma vez que recusou ser treinador do Sporting. Vi a entrevista no CMTV, e não vi da sua parte uma grande vontade de abraçar o projecto leonino, apenas se escudou que não queria ser envolvido em problemas, e que o a equipa B do Sporting, tinha treinador. Heráclito disse, "Ninguém entra no mesmo rio uma segunda vez, pois quando isso acontece já não se é o mesmo, assim como as águas que já serão outras". Será que Litos vai ter uma segunda oportunidade?
ResponderEliminarHá dois aspectos intrigantes na entrevista do Litos: o primeiro sao os elogios generalizados à gestao actual do clube uma entrevista cujo principal tema é precisamente uma decisao criticada e por isso rejeitada por ele (devido ao respeito pelos profissionais, momento e recursos à disposiçao), que é o convite para integrar a estrutura.
ResponderEliminarO outro aspecto é esta ambiguidade de reafirmar que o treinador do B merece respeito e se chama Abel Ferreira numa entrevista em que voluntariamente se presta a fragilizá-lo, comunicando publicamente que foi convidado e que rejeitou por vários motivos, nao apenas pelo trato dado a Abel. A opçao mais respeituosa para com a posiçao de Abel nao seria o silêncio?
Nenhum destes factores (o trabalho de Abel, a perda de confiança nele, o convite a Litos, o actual "reforço" da equipa) augura um futuro interessante para a equipa B ao menos como plataforma de transiçao entre a formaçao e a equipa principal.
saudaçoes leoninas,
tiago