Há que dizê-lo sem subterfúgios: esta equipa está a dever apenas a si mesma - e , por conseguinte, aos adeptos - uma situação bem mais confortável e vantajosa do que aquela que está a ocupar na Liga dos Campeões. O mesmo se pode dizer relativamente ao campeonato.
Sejamos também claros no que às ambições do Sporting diz respeito: em teoria, o terceiro lugar deve ser considerado uma normalidade aceitável. Na prática, e atendendo ao que vimos em campo ontem e em Madrid, somos obrigados a ambicionar mais do que derrotas épicas ou o regozijo um bocado pacóvio de "obrigar o Dortmund a fazer anti-jogo" ou assobiar o hino da Liga dos Campeões.
A astúcia também é uma componente essencial nas grandes equipas e a nossa não a tem tido. Ou estamos na presença de falta de maturidade ou da soberba de pensar que os jogos se ganham apenas a fazer reviengas e chicuelinas para bancada aplaudir. Com astúcia ou, se preferirem, a matreirice, não teríamos perdido em Madrid ou dois pontos em Guimarães. Este é um dos muitos aspectos por onde a equipa tem que crescer. Astúcia é saber parar o jogo quando o adversário está por cima, para refrear ímpetos. Ontem na primeira parte quase não fizemos faltas
Quem viu a primeira parte do jogo facilmente foi levado a concluir que aquele não foi bem preparado ou os jogadores não cumpriram o que lhes foi pedido. Seja qual tenha sido a razão, é de todo inadmissível a prestação da equipa quando os alemães vieram fazer exactamente aquilo que se previra. Não por acaso, o golo surgiu cedo, mas a forma como ele foi pré-anunciado, sem qualquer reacção para obstar às movimentações do Dortmund, dão bem a ideia do quanto andou a equipa à deriva.
Ainda antes do golo já Zeeglaar abria a cancela ao corredor esquerdo, tornando-o mais parecido com uma autoestrada alemã sem limite de velocidade. No lance do golo, foi Semedo que ficou mal na fotografia, mas muito por culpa de William, ao perder a bola em local e momento proibidos, apanhando o defesa esquerdo em contra-pé, obrigando o central a acorrer ao lance, onde chegaria décimos de segundo atrasado. A movimentação de Aubameyang foi em tudo a precisamente a esperada.
Seguiram-se vários outros lances de perigo com cheiro de golo e este acabaria por surgir com naturalidade. A forma descansada com que a equipa saiu a jogar, um dos trunfos consabidos do seu jogo, diz tudo sobre a nossa impreparação para lhes fazer frente.
Vale a pena visualizar a prestação de Weigl neste curto vídeo [
LINK]para se perceber o quão ineficazes fomos. Imagens onde é bem clara a total ausência e inutilidade de Markovic, a quem cabia o condicionamento do médio alemão na saída de bola. Ele estava sempre lá, é um facto, mas apenas com o olhar e na falta de intenção e intensidade com se opôs.
Foi assim que sofremos o segundo golo, onde William está mais uma vez envolvido no lance, mas a forma como Zeeglaar lhe endossa a bola é um convite a perdê-la. A tudo isto assistiu impávido e sereno Markovic que, ao invés de olhar para ontem, deveria ter acompanhado o movimento do médio alemão. Elias estava bem posicionado, em contenção, não se justificando as criticas aqui.
E assim oferecemos a primeira parte, onde o árbitro foi também um precioso aliado dos alemães. Não apenas nos lances capitais como o da não marcação do penalty - estava bem colocado - ou do golo anulado porque o guarda-redes chocou com o Bas Dost, mas nos pormenores que revelaram tendência.
A segunda parte aconteceu para nos lembrar duas coisas:
- A ambição de ganhar era perfeitamente justificada. A equipa alemã nesta fase estava perfeitamente ao alcance daquilo que achamos que a nossa é capaz de fazer no seu melhor.
- A este nível não se pode falhar tantas vezes. Se na primeira parte oferecemos os golos, ma segunda desperdiçámos oportunidades que, certamente, o lado contrário não o faria. Esta foi a grande diferença entre as equipas e que contribuiu para a frustração de sentir este resultado como injusto.
Creio que, a esta altura, se justificam algumas considerações:
- A conversa dos laterais está já um pouco gasta mas a cada jogo ganha sempre mais um motivo para voltar a ela. Para quem acha que eles não têm importância na equipa veja-se quanto jogo atacante se perde sem conseguirem fazer uma assistência, mesmo com jogadores bem colocados, como várias vezes aconteceu ontem com Schelotto, ou quantos buracos se abrem nas suas costas, como vimos com Zeeglaar e quanto isso nos está já a custar em apenas dois meses de competição.
- A conversa da ausência de Adrien está também estafada mas à medida que o tempo passa cada vez mais é evidente que é algo mais do que apenas a ausência de um jogador. Hoje é fácil culpar William e Elias mas gozassem William e Elias da liberdade de Weigl e demais alemães ao invés de estarem quase sempre em minoria e em esforço... E depois, convenhamos, num plantel tão extenso como o nosso não haver substitutos à altura ao ponto de nos deixar expostos só pode ser considerado mau planeamento.
- Onde andam os reforços de que tanto se esperava? Para lá de Dost, jogamos praticamente sempre com os mesmos do ano passado mas sem João Mário e Slimani, quem muita falta estão a fazer, embora à primeira vista não pareça. Markovic está com a natural falta de confiança mas estará onde quer? Quem é veio para o lugar de João Mário, um jogador determinante no equilíbrio da equipa? Ruiz, um grande jogador, vai jogar sempre, mesmo passando ao lado dos jogos?
- É impossível não reagir com frustração ao resultado de ontem, bem como de alguns que o antecederam. É o sentimento natural de quem acredita que esta equipa pode fazer muito mais. É ela e o treinador que têm agora a palavra para que as razões de crença não passem afinal apenas de sonhos de um adepto. Mas o tempo não espera e essa resposta terá que surgir imediatamente, sob pena de vermos a esperança de uma época de sonho transformar-se num enorme pesadelo.
Quantas vezes já vimos exactamente o mesmo tipo de desequilíbrio nas equipas de JJ? E há quantos anos também anda a queimar putos da formação pelas vedetas que contrata pela televisão?
ResponderEliminarNão vou fazer grandes análises porque não vi o jogo inteiro, vi apenas 20 min da primeira parte e depois resumos, crónicas e troca de SMS com malta que foi ao estádio.
ResponderEliminarNuma opinião geral do que tem sido esta equipa até agora parece-me que a 1 de Setembro ficamos órfãos de coração. Esta equipa vendeu o coração ao mercado e ainda não apareceu quem o substitua.
A ver o inicio do jogo e alguns ressumos da nossa reacção na 2ª parte, ontem com o buraco negro de futebol em que se transformou Markovic - cada saída de jogo terminava ou numa falta ou em perda de bola - lembrei-me de Derlei, seria tecnicamente muito menos evoluído do que Markovic, mas ninguém tinha sossego à sua volta quer em condução, quer em recuperação.
Quantas vezes não é este coração que alguns jogadores possuem que galvaniza toda uma equipa a transcender-se. Adrien faz falta pelo futebol mas também por esta razão, é ele o único que demonstra emoção, coração. Elias, Markovic, etc., parecem mercenários, correu bem muito bem, correu mal acontece... A reacção emotiva à adversidade desapareceu com Slimani (valeu uma Taça de Portugal p.ex.).
Tenho percebido alguma soberba, não nestes jogos de penacho, mas contra os da nossa liga, mais uma vez serviços mínimos, 1-3 em Guimarães está resolvido, vamos agora só passear, jogadores como Derlei, Slimani, Sá Pinto, João Pereira, etc., não admitiam aquilo e transmitiam isso aos seus colegas pelo exemplo, e aposto que também no balneário. Gostava de ser mosca para ter visto o balneário ontem ao final do jogo, e principalmente no sábado antes do jogo com o Tondela.
Vamos reagir ou continuar a pensar que somos os maiores da nossa rua sem o demonstrar em campo? É pelo que se faz naquele rectângulo verde que isto se torna verdade, não é pelo salário nem pela camisola.
Leão e LMGM,
ResponderEliminartenho tantos pontos em comum com estes vossos posts.
Temo que o pesadelo ainda esteja por começar. A reacção já deveria ter surgido há muito e até para isso o tempo já urge.
Quem viu o jogo percebia que jamais ganharíamos. Os (maus) sinais estavam todos lá.
O lance do Dost, a ser o 2-2, seria brutal. Mas nem sei se chegaria para empatar o jogo, tal era a facilidade com que eles chegavam ao nosso último terço.
Tem de existir a humildade em reconhecer que desaproveitámos uma pré-época e abordámos mal o mercado.
Não é de hoje que Schelotto não é jogador de futebol, ou até mesmo o Marvim (que é um Sarr, mas a def.esquerdo). Tal como não será por ter menos 10kg (será?) que A. Ruiz sirva para jogar na Europa (ou justifique os 8M). E mesmo no dia que Petrovic tire os pesos dos tornozelos, não será por aí que seja algo que sirva.
No final da época o Sporting tinha um bom 11. Perdeu 3 titulares. Tinha de os substituir. Não o fez. Depois, tinha jogadores a evoluir na B e emprestados que vieram de grandes épocas e que, além de qualidade, podiam trazer Emoção e Orgulho de jogar no Sporting (algo que as contratações não demonstram, excepto Dost; e que Elias nunca demonstrou...). O que se fez a esses jovens? Adeus ou volta para a B!
O desequilíbrio é enorme. William olha para o lado e vê um Elias (que deve ganhar mais que ele). Gelson deve ser o jogador mais mal pago da linha da frente. Isto não pode estar bem.
um abraço
Tal como em Vila do Conde, demos a primeira parte de avanço. E depois quando acordamos já fomos tarde. Um Dortmund sem algumas das suas principais peças e que durante o jogo ficou sem outras tantas, acabando o mesmo com várias adaptações. Mas para "arrumar" o Jesus é suficiente. E por falar em Jesus, se ele está castigado porque raio fala antes e depois do jogo? Não podia ter passado essa função ao adjunto? Sim, é pertinente falar dos reforços que até ver não o são, mas o que dizer de Semedo e William? Péssimos! Perdidos, cheios de erros, inseguros.
ResponderEliminarMas aquilo que todos devemos pensar é termos um presidente que no dia deste jogo anda a dar conferências de imprensa para comentar um comunicado do SLB. Mas querem milagres?!?