O Circo de Ronaldo
A seleção de Portugal, que recentemente descobriu, por intermédio do novo seleccionador, uma nova vocação (a de recuperar jogadores com problemas na carreira) juntou-se para novo ciclo no apuramento para o próximo europeu. Até agora os jogadores que comparecerem nas habituais conferências de imprensa têm sido instados a pronunciarem-se sobre o que todo o mundo teve ocasião de ver do que foi o triste espetáculo no dragão. Creio que desta vez a expressão "todo o mundo" se aplica de forma literal, tal foi a repercussão do número circense lá desempenhado por alguns dos artistas em palco e, pelo que se depreende, de outros nos bastidores.
Vitinha disse que se fala pouco de futebol mas esqueceu-se que o que se passou no dragão é futebol. É o que temos. mas é futebol. A menos que ele também já tenha percebido que o Taremi tem tanto de jogador de futebol como de mergulhador. As performances do seu ex-colega iraniano têm essa virtude: para as apreciar em toda a sua extensão é necessário uma visão multidisciplinar que vai para lá do futebol e que versam também a nota artística para os mergulhos olímpicos até ao teatro, seja nas suas versões de farsa ou comédia.
"Circo" foi precisamente a definição encontrada por Cristiano Ronaldo para classificar o futebol português. Mas, se Cristiano Ronaldo tem algum interesse pelo futebol nacional e quiser mesmo fazer alguma coisa para que seja melhor, tem de se deixar de frivolidades aproveitando a exposição mediática para um intervalo para publicidade enganosa à Liga que o importou, cumprindo assim, talvez, uma das cláusulas do seu principesco contrato. Ou, já que estamos em "literalidades", um contrato das arábias.
Para separar desde já as águas convém lembrar Cristiano que, na sua miserabilidade, a Liga Portuguesa tem pelo menos a virtude de ser possível a todos os seus actores directos e indirectos dizer o que lhes vem à cabeça. Na Liga onde Cristiano joga a possibilidade de ficar sem ela é real e também literal. Basta para isso desagradar à realeza. Por muito menos, isto é, por dizer verdades incómodas Mohamad bin Salman, o príncipe herdeiro, estendeu o seu longo braço para mandar esquartejar um súbdito seu na Turquia. Mais propriamente Jamal Kashoggi, jornalista saudita do Washington Post e exilado por ter sido pribido de escrever no seu próprio país.
No contexto em que falou Ronaldo não tem que, nem podia fazer uma análise exaustiva ao futebol português, obviamente. Mas convenhamos que também é dispensável dizer umas dizer umas vacuidades e sobretudo meter tudo e todos no mesmo saco. É que é precisamente um dos grandes problemas da nossa Liga, é que todos constatam os problemas, todos conhecem as suas origens, quem gere o circo, mas todos têm medo de por o nome aos animais. Até o Ronaldo, que vive longe e, não dependendo de ninguém, pode dizer o que quiser.
O futebol português tem um problema de credibilidade há mais de quatro décadas. E a sua descredibilização tem actores concretos e há muito identificados. Um - O FCP - há mais de 40 anos e outro - o SLB - mais recente. E ambos são os menos interessados em mudanças reais e estruturantes porque a sua vida corre. Limpeza quer o Sporting, mas não a consegue fazer porque não tem quorum. Não que não haja outros clubes desejosos dela, mas o medo subsiste. Basta ver o que aconteceu recentemente no Rio Ave - FCP. Tirando duas frases do treinador ouviram alguém reclamar? Se o adversário tivesse sido o Sporting a reacção seria igual?
Uma voz autorizada como a de Ronaldo poderia fazer quase tanto pelo futebol nacional como os inúmeros golos que já marcou pela selecção. Não que ele tenha essa obrigação, mas também lhe parece faltar vontade. O que é pena. Porque de Ronaldo espera-se sempre o melhor, foi ele que nos habituou a isso.
A porcaria está feita. Por vezes é melhor não mexer porque o cheiro é insuportável...........
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