Deixa que eu explico.
É absolutamente lamentável a forma como se vem atirando para o foro psiquiátrico as explicações para as reacções de alguns Sportinguistas, decepcionados pelo futebol miserável que a equipa vem exibindo no inicio da presente época e na continuidade do que lhes tem sido oferecido nas 2 anteriores. E podemos observá-la nas mais diversas proveniências, assumindo contornos mais graves quando esse insulto provém de outros Sportinguistas, seja de forma velada ou assumida claramente. Como se para se gostar do Sporting fosse obrigatório fazer um pacto com a mediocridade.
Parece que se tornou vulgar chamar histéricos, acusar de depressivos ou classificar como bipolares aqueles que responsavelmente revelam a sua preocupação e decepção pelo estado do nosso futebol. Pior ainda quando se enfiam no mesmo copo misturador os ingredientes da habitual euforia vermelha, destinada a esmorecer antes do do S. Martinho, com reacções legítimas a um futebol sem rasgo ou ambição, desorientado e anárquico, num falso colectivismo que tolhe os que foram abençoados com algum talento. O resultado só podia ser a mistela que hoje li no “O Jogo”, num comentário de um dos seus jornalistas, sob o título "da histeria depressiva":
“O futebol é incompreensível. Não as tácticas, (…) mas, sem sombra de dúvida, as razões suscitadas pela paixão. É certo que a paixão não se explica, por isso é tão inexplicável a histeria vivida pelos lados da Luz: chegaram Saviola, Keirrison e Javi García? Nos anos anteriores tinham chegado Suazo, Reyes e Aimar, Cardozo, Di María e Adu, e as águias nada ganharam. Ainda assim, é mais fácil compreender esse entusiasmo desenfreado do que a deprimente reacção neste início de época à equipa que ficou à frente do Benfica nas últimas três campanhas.”
Quem não percebe as razões para as reacções que são acima apontadas, desde logo me parece estar, senão no jornal errado, pelo menos na secção errada. Comentar automobilismo, xadrez ou canasta talvez fosse mais indicado, mas felizmente que não tenho que me ocupar com esses assuntos: há quem na Controlinveste ganhe bom dinheiro para o fazer.
Compreendesse melhor o fenómeno sobre o qual escreve, o jornalista perceberia que a ligação do adepto de futebol ao seu clube é essencialmente de natureza emocional. A contratação de jogadores de qualidade, num clube arredado das conquistas, não lhe garante as vitórias, mas devolve-lhe a esperança perdida algures na época anterior. Essa esperança recrudesce ao constatar que o técnico recentemente contratado revela mais acerto num mês que os que o precederam em épocas inteiras anteriores. É essa esperança que os leva a comprar ou renovar os bilhetes de época, regenerando a ligação umbilical decomposta pela amargura dos resultados.
Os Sportinguistas não têm, é um facto, um sem número de contratações milionárias que justifiquem manifestações esfusiantes, e até se conformam com isso. Não podemos ter, dizem-nos, a bem de um passivo que não para de aumentar. (Oferecer Romagnoli, Purovic, Stojkovic para que os seus vencimentos não façam engordar o monstro, deve ser uma inovadora medida de gestão.) Mas não nos peçam é que saiamos de Alvalade triunfantes, e desçamos a Fontes Pereira de Melo em direcção ao Marquês, por sentir que este futebol não nos leva a lugar nenhum. Como não nos levou nos anos anteriores, pelas mesmas razões e com os mesmos sintomas.
Parece que se tornou vulgar chamar histéricos, acusar de depressivos ou classificar como bipolares aqueles que responsavelmente revelam a sua preocupação e decepção pelo estado do nosso futebol. Pior ainda quando se enfiam no mesmo copo misturador os ingredientes da habitual euforia vermelha, destinada a esmorecer antes do do S. Martinho, com reacções legítimas a um futebol sem rasgo ou ambição, desorientado e anárquico, num falso colectivismo que tolhe os que foram abençoados com algum talento. O resultado só podia ser a mistela que hoje li no “O Jogo”, num comentário de um dos seus jornalistas, sob o título "da histeria depressiva":
“O futebol é incompreensível. Não as tácticas, (…) mas, sem sombra de dúvida, as razões suscitadas pela paixão. É certo que a paixão não se explica, por isso é tão inexplicável a histeria vivida pelos lados da Luz: chegaram Saviola, Keirrison e Javi García? Nos anos anteriores tinham chegado Suazo, Reyes e Aimar, Cardozo, Di María e Adu, e as águias nada ganharam. Ainda assim, é mais fácil compreender esse entusiasmo desenfreado do que a deprimente reacção neste início de época à equipa que ficou à frente do Benfica nas últimas três campanhas.”
Quem não percebe as razões para as reacções que são acima apontadas, desde logo me parece estar, senão no jornal errado, pelo menos na secção errada. Comentar automobilismo, xadrez ou canasta talvez fosse mais indicado, mas felizmente que não tenho que me ocupar com esses assuntos: há quem na Controlinveste ganhe bom dinheiro para o fazer.
Compreendesse melhor o fenómeno sobre o qual escreve, o jornalista perceberia que a ligação do adepto de futebol ao seu clube é essencialmente de natureza emocional. A contratação de jogadores de qualidade, num clube arredado das conquistas, não lhe garante as vitórias, mas devolve-lhe a esperança perdida algures na época anterior. Essa esperança recrudesce ao constatar que o técnico recentemente contratado revela mais acerto num mês que os que o precederam em épocas inteiras anteriores. É essa esperança que os leva a comprar ou renovar os bilhetes de época, regenerando a ligação umbilical decomposta pela amargura dos resultados.
Os Sportinguistas não têm, é um facto, um sem número de contratações milionárias que justifiquem manifestações esfusiantes, e até se conformam com isso. Não podemos ter, dizem-nos, a bem de um passivo que não para de aumentar. (Oferecer Romagnoli, Purovic, Stojkovic para que os seus vencimentos não façam engordar o monstro, deve ser uma inovadora medida de gestão.) Mas não nos peçam é que saiamos de Alvalade triunfantes, e desçamos a Fontes Pereira de Melo em direcção ao Marquês, por sentir que este futebol não nos leva a lugar nenhum. Como não nos levou nos anos anteriores, pelas mesmas razões e com os mesmos sintomas.
Não precisamos de psiquiatras, mas sim de bom futebol, que nos devolva a esperança de sucesso e não apenas de uns brilharetes. Mesmo que muitos de nós já se contentem apenas com uns resultados, como se cada ida ao futebol nos tenha que remeter para o terror de arrancar um dente sem anestesia. Não cortaremos os pulsos por causa disso, seguramente, mas quantos não riscarão do seu mapa o caminho para Alvalade? Não é essa a minha opção, mas posso censurá-los?
Espero ter ajudar a esclarecer alguns espíritos. Teria feito um desenho, se soubesse.
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