De que são feitas estas vitórias
Quando o suposto “Projecto Roquette” nos foi apresentado, todos ficámos com a ideia de que se tratava de algo totalmente inovador e que poderia revolucionar o futebol nacional. Não compreendendo a maioria das suas vertentes, certo é que três foram os pilares aos quais os sportinguistas ficaram rendidos:
1981-1995
Um campeonato
Duas Taças de Portugal
Duas Supertaças
Presença na Meia-Final da Taça UEFA (1991)
1995-2009
Dois campeonatos
Três Taças de Portugal
Quatro Supertaças
Presença na Final da Taça UEFA (2005)
Cinco presenças na Liga dos Campeões
Portanto, é um facto afirmar que desportivamente, o Sporting nos últimos anos tem procurado consolidar a sua posição no panorama do futebol nacional, sendo o clube que mais vezes este perto de conseguir fazer frente à hegemonia do Futebol Clube do Porto, cujo modelo desportivo tem sido elogiado em diversos quadrantes do desporto nacional.
Importa no entanto não esquecer os primeiros anos de política desportiva. Uma total ignorância por parte do líder do Sporting em termos desportivos fez com que entregasse a direcção do futebol a pessoas a quem hoje só consigo apelidar de incompetentes. Simões de Almeida e Paulo de Abreu foram os responsáveis pela aprovação de dezenas de (más) contratações, indicadas pelo rei da prospecção, Luís Norton de Matos. Apenas com a entrada de Luís Duque na estrutura SAD do Sporting é que conseguimos verificar uma liderança forte em termos de futebol e que encaminharam o Sporting para o fim do jejum e para a preparação da base da equipa que viria a ser campeã em 2001-2002.
Longe de loucuras de outros tempos, o Sporting começava a entrar nos carris sem trocar de treinador duas a três vezes por ano nem contratar cerca de uma dezena de jogadores por época (exceptuando a época de 2000-2001). Estabilidade exigia-se há algum tempo e parecia que havia trabalho nesse sentido, comprovada na manutenção de Lazlo Boloni apesar de um péssimo início de campeonato e uma série de mais resultados na sua segunda época.
Associados a estes resultados desportivos e principalmente às duas vitórias nos campeonatos, quais as evidências do segundo pilar do “Projecto Roquette”? Bem, na conquista de 1999/2000, Beto era o único jogador dos escalões de formação com estatuto de titular e no ano de Jardel, JVP & C.a., além do camisola 22, também Ricardo Quaresma e Hugo Viana foram peças fundamentais na vitória.
Aposta na formação
É um orgulho ver a nossa equipa entrar em campo com 6 ou 7 jogadores formados no clube e isto pode ser algo a que nos habituámos graças ao projecto mas importa não esquecer que noutros anos também tivemos equipas com Damas, Laranjeira e Inácio ou Litos, Mário Jorge, Mourato e Carlos Xavier, entre outras gerações.
Há tempos, em conversa com um ex-atleta do Sporting, bicampeão pelo nosso clube neste período, ele afirmou-me: “Esta aposta na formação é em larga medida uma fachada para justificar o desinvestimento no futebol”. Basicamente, contentamo-nos com a aposta num jogador muitas vezes mediano da casa, pelo simples facto que já não temos capacidade para arranjar melhor.
Após termos sido campeões com Boloni, vendemos Hugo Viana e essa verba foi destinada para pagar uma Academia que está situada num terreno que ainda estamos a pagar através de leasing. Ao mesmo tempo, perdemos por diversas razões Phill Babb, André Cruz, João Pinto e Jardel ao que o plantel foi reforçado com Pablo Contreras, Marcos Paulo, Ricardo Fernandes e Kutuzov. Só alguém que vive no outro planeta é que não constata que ficámos a ganhar em qualidade e isso verificou-se no futebol produzido.
Novo estádio
O Projecto Imobiliário tem o seu expoente máximo no novo Estádio José Alvalade. Edificado na zona dos antigos campos de treino, foi-nos apresentado com um sem número de pontos fortes que permitiriam ao Sporting amortizar o investimento facilmente graças aos diversos contratos de exploração.
O novo estádio trouxe conforto e comodidade. A pala total faz com que as pessoas deixem de ter receio de se deslocar ao estádio pois já não estão sujeitas às intempéries proporcionadas pelo antigo estádio onde por vezes tínhamos apenas cinco mil pessoas, mas onde também tínhamos um pavilhão (a Nave), uma pista de atletismo e uma Sala de Sócios.
Três anos depois da sua inauguração, 4 fracções de todo o projecto imóvel já estavam a ser negociados ficando o Sporting sem 4 objectos que supostamente proporcionavam os contratos de exploração que permitiriam a amortização do investimento.
Conclusões
Ao longo de uma série de anos, acumulamos expressões de “Este ano é que é”. Apesar de simbolizarem uma certa pobreza de espírito ou então uma esperança infundada que resultaria em frustração, não é menos verdade que as pessoas deslocavam-se ao estádio com orgulho para ver jogadores como Figo, Balakov ou Amunike a jogar.
Nos anos dos títulos, o fervor em torno de cada uma das equipas era sustentada por equipas que ora jogavam com coração e atitude ou com enorme talento e eficácia.
Dos anos pré-Roquette, recordo-me de derrotas altamente vergonhosas como o 3-6 ou eliminações europeias perante adversários mais fracos. Nos anos mais recentes, derrotas por 3-0 com Gil Vicente e Paços de Ferreira em nossa casa ou contra o Marítimo no Funchal, são também recentes derrotas por 4-0 por duas vezes na Mata Real ou em Vila do Conde, são encaradas como normais ou acidentes de percurso, quando noutros tempos além de raras seriam mais do que meros “acidentes de percurso”. E como podem ver, nem sequer preciso de entrar no descalabro dos resultados europeus de um passado não muito distante.
O Projecto Roquette trouxe-nos uma aposta em jogadores da nossa formação que tanto nos orgulha mas que resulta de um claro desinvestimento nas nossas equipas. Ponderação e respeito pelos compromissos são argumentos louváveis e pertinentes. A realização de mais-valias em atletas formados no clube é fundamental para honrar os compromissos com os credores mas é triste constatar que as nossas principais mais-valias com jovens formados no clube (Simão, Cristiano Ronaldo, Hugo Viana e Quaresma), nem sequer foram formados na nossa Academia e Nani pouco tempo lá passou.
Nos tempos que conseguimos realizar mais-valias, elas foram quase sempre canalizadas para os mesmos fins. Hoje, capacidade negocial é praticamente nula para os lados de Alvalade.
O Projecto Roquette torna engenharias financeiras, injecções de capital e vendas patrimoniais como vitais para a solvabilidade do clube deixando no entanto cair no esquecimento o facto de Kmet, Hanuch, Sá Pinto, João Pinto, Tello, Jardel e Niculae representarem cerca de 40 milhões de euros gastos em transferências sem um único euro de retorno. Ou seja, quase 60% do valor das VMOC’s que hoje dizem que temos de emitir.
Não posso mentir: Os anos a que apelidamos “Dinastia Roquette” deram-nos um sem número de alegrias e diversos motivos para nos sentirmos orgulhosos com o nosso clube. Dois jogadores formados no Sporting considerados os Melhores do Mundo pela FIFA, uma selecção nacional na Alemanha com 13 jogadores que passaram pelo nosso clube, várias transferências valiosas, muitos mais troféus do que em igual período de anos anteriores. Mas que Sporting temos agora?
Qual o nosso património?
Qual a nossa margem de negociação?
Qual o valor da nossa marca?
Todo um modelo baseado em grandes valores empresariais e de gestão serviu para deturpar uma imagem e uma tradição de um clube centenário e que a cada dia que passa pactua com a mediocridade e acumula discursos de conformismo que a meu ver resultam de uma série de más políticas e más decisões que o Sporting herdou … do Projecto Roquette.
- Sucessos desportivos
- Aposta na formação (alicerçada na construção da Academia)
- Novo estádio
1981-1995
Um campeonato
Duas Taças de Portugal
Duas Supertaças
Presença na Meia-Final da Taça UEFA (1991)
1995-2009
Dois campeonatos
Três Taças de Portugal
Quatro Supertaças
Presença na Final da Taça UEFA (2005)
Cinco presenças na Liga dos Campeões
Portanto, é um facto afirmar que desportivamente, o Sporting nos últimos anos tem procurado consolidar a sua posição no panorama do futebol nacional, sendo o clube que mais vezes este perto de conseguir fazer frente à hegemonia do Futebol Clube do Porto, cujo modelo desportivo tem sido elogiado em diversos quadrantes do desporto nacional.
Importa no entanto não esquecer os primeiros anos de política desportiva. Uma total ignorância por parte do líder do Sporting em termos desportivos fez com que entregasse a direcção do futebol a pessoas a quem hoje só consigo apelidar de incompetentes. Simões de Almeida e Paulo de Abreu foram os responsáveis pela aprovação de dezenas de (más) contratações, indicadas pelo rei da prospecção, Luís Norton de Matos. Apenas com a entrada de Luís Duque na estrutura SAD do Sporting é que conseguimos verificar uma liderança forte em termos de futebol e que encaminharam o Sporting para o fim do jejum e para a preparação da base da equipa que viria a ser campeã em 2001-2002.
Longe de loucuras de outros tempos, o Sporting começava a entrar nos carris sem trocar de treinador duas a três vezes por ano nem contratar cerca de uma dezena de jogadores por época (exceptuando a época de 2000-2001). Estabilidade exigia-se há algum tempo e parecia que havia trabalho nesse sentido, comprovada na manutenção de Lazlo Boloni apesar de um péssimo início de campeonato e uma série de mais resultados na sua segunda época.
Associados a estes resultados desportivos e principalmente às duas vitórias nos campeonatos, quais as evidências do segundo pilar do “Projecto Roquette”? Bem, na conquista de 1999/2000, Beto era o único jogador dos escalões de formação com estatuto de titular e no ano de Jardel, JVP & C.a., além do camisola 22, também Ricardo Quaresma e Hugo Viana foram peças fundamentais na vitória.
Aposta na formação
É um orgulho ver a nossa equipa entrar em campo com 6 ou 7 jogadores formados no clube e isto pode ser algo a que nos habituámos graças ao projecto mas importa não esquecer que noutros anos também tivemos equipas com Damas, Laranjeira e Inácio ou Litos, Mário Jorge, Mourato e Carlos Xavier, entre outras gerações.
Há tempos, em conversa com um ex-atleta do Sporting, bicampeão pelo nosso clube neste período, ele afirmou-me: “Esta aposta na formação é em larga medida uma fachada para justificar o desinvestimento no futebol”. Basicamente, contentamo-nos com a aposta num jogador muitas vezes mediano da casa, pelo simples facto que já não temos capacidade para arranjar melhor.
Após termos sido campeões com Boloni, vendemos Hugo Viana e essa verba foi destinada para pagar uma Academia que está situada num terreno que ainda estamos a pagar através de leasing. Ao mesmo tempo, perdemos por diversas razões Phill Babb, André Cruz, João Pinto e Jardel ao que o plantel foi reforçado com Pablo Contreras, Marcos Paulo, Ricardo Fernandes e Kutuzov. Só alguém que vive no outro planeta é que não constata que ficámos a ganhar em qualidade e isso verificou-se no futebol produzido.
Novo estádio
O Projecto Imobiliário tem o seu expoente máximo no novo Estádio José Alvalade. Edificado na zona dos antigos campos de treino, foi-nos apresentado com um sem número de pontos fortes que permitiriam ao Sporting amortizar o investimento facilmente graças aos diversos contratos de exploração.
O novo estádio trouxe conforto e comodidade. A pala total faz com que as pessoas deixem de ter receio de se deslocar ao estádio pois já não estão sujeitas às intempéries proporcionadas pelo antigo estádio onde por vezes tínhamos apenas cinco mil pessoas, mas onde também tínhamos um pavilhão (a Nave), uma pista de atletismo e uma Sala de Sócios.
Três anos depois da sua inauguração, 4 fracções de todo o projecto imóvel já estavam a ser negociados ficando o Sporting sem 4 objectos que supostamente proporcionavam os contratos de exploração que permitiriam a amortização do investimento.
Conclusões
Ao longo de uma série de anos, acumulamos expressões de “Este ano é que é”. Apesar de simbolizarem uma certa pobreza de espírito ou então uma esperança infundada que resultaria em frustração, não é menos verdade que as pessoas deslocavam-se ao estádio com orgulho para ver jogadores como Figo, Balakov ou Amunike a jogar.
Nos anos dos títulos, o fervor em torno de cada uma das equipas era sustentada por equipas que ora jogavam com coração e atitude ou com enorme talento e eficácia.
Dos anos pré-Roquette, recordo-me de derrotas altamente vergonhosas como o 3-6 ou eliminações europeias perante adversários mais fracos. Nos anos mais recentes, derrotas por 3-0 com Gil Vicente e Paços de Ferreira em nossa casa ou contra o Marítimo no Funchal, são também recentes derrotas por 4-0 por duas vezes na Mata Real ou em Vila do Conde, são encaradas como normais ou acidentes de percurso, quando noutros tempos além de raras seriam mais do que meros “acidentes de percurso”. E como podem ver, nem sequer preciso de entrar no descalabro dos resultados europeus de um passado não muito distante.
O Projecto Roquette trouxe-nos uma aposta em jogadores da nossa formação que tanto nos orgulha mas que resulta de um claro desinvestimento nas nossas equipas. Ponderação e respeito pelos compromissos são argumentos louváveis e pertinentes. A realização de mais-valias em atletas formados no clube é fundamental para honrar os compromissos com os credores mas é triste constatar que as nossas principais mais-valias com jovens formados no clube (Simão, Cristiano Ronaldo, Hugo Viana e Quaresma), nem sequer foram formados na nossa Academia e Nani pouco tempo lá passou.
Nos tempos que conseguimos realizar mais-valias, elas foram quase sempre canalizadas para os mesmos fins. Hoje, capacidade negocial é praticamente nula para os lados de Alvalade.
O Projecto Roquette torna engenharias financeiras, injecções de capital e vendas patrimoniais como vitais para a solvabilidade do clube deixando no entanto cair no esquecimento o facto de Kmet, Hanuch, Sá Pinto, João Pinto, Tello, Jardel e Niculae representarem cerca de 40 milhões de euros gastos em transferências sem um único euro de retorno. Ou seja, quase 60% do valor das VMOC’s que hoje dizem que temos de emitir.
Não posso mentir: Os anos a que apelidamos “Dinastia Roquette” deram-nos um sem número de alegrias e diversos motivos para nos sentirmos orgulhosos com o nosso clube. Dois jogadores formados no Sporting considerados os Melhores do Mundo pela FIFA, uma selecção nacional na Alemanha com 13 jogadores que passaram pelo nosso clube, várias transferências valiosas, muitos mais troféus do que em igual período de anos anteriores. Mas que Sporting temos agora?
Qual o nosso património?
Qual a nossa margem de negociação?
Qual o valor da nossa marca?
Todo um modelo baseado em grandes valores empresariais e de gestão serviu para deturpar uma imagem e uma tradição de um clube centenário e que a cada dia que passa pactua com a mediocridade e acumula discursos de conformismo que a meu ver resultam de uma série de más políticas e más decisões que o Sporting herdou … do Projecto Roquette.
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