Dos três resultados possíveis a vitória do Benfica era o que eu menos desejava, o empate seria o mais favorável por razões óbvias e a hipótese de vitória do FCPorto o mal menor. É verdade que esta, a acontecer, poderia ter um efeito moralizador. Porém, e porque o jogo dos azuis deixou a confirmação de inúmeros problemas para resolver, esse efeito não teria a força que se poderia verificar em anos anteriores.O nosso empate no Estoril acabaria por ser demasiado penalizador, uma vez que não era imerecido ter dobrado o campeonato no primeiro lugar. O melhor ataque e melhor defesa são factos acessórios mas importantes para lembrar qual foi a equipa mais regular e consistente até ao momento.
Pode o facto de Benfica, acabado de se sagrar campeão de inverno, sair por cima da concorrência?
Não tenho dons adivinhatórios e fazer estimativas em futebol deve ser das actividades mais condenadas ao fracasso. Daí que responder a esta pergunta tenha pouco interesse, a vantagem alcançada é por hora escassa, não assumindo por isso qualquer carácter definitivo. Acresce ainda o facto de, neste momento, o mercado estar ainda em aberto durante cerca de 15 dias, podendo os plantéis sofrer ainda alterações substanciais e com elas a respectiva competitividade.
É preciso coragem tanto para mudar como para manter
Disse-o a um amigo benfiquista ainda durante o verão, ainda sofriam os nossos rivais as dores excruciantes de três derrotas no final de três competições: manter Jesus era uma aposta de risco mas a melhor que o SLB podia fazer. O SLB perdeu consecutivamente mas, à excepção da derrota final no Jamor, perdeu sempre por pequenos detalhes. Pelo menos o campeonato esteve ali à mão de semear.
O titulo de campeão de inverno não tem qualquer significado, mas representa um pequeno prémio para a coragem de LFV em não mudar. E recorde-se que aguentou Cardoso também e ainda reforçou significativamente a equipa. Não parece por isso fazer agora qualquer sentido que abra agora mão da medula que representam Matic, Garay e Rodrigo na espinha dorsal. (Sim, incluo o hispano-brasileiro porque ele representa o futuro que Lima e Cardozo não podem dar). A vantagem de ter o melhor plantel da Liga pode deixar o ser. Só a pressão da tesouraria o justificaria e esta parece ser grande. Mas, mesmo mesmo que se venham a registar algumas saídas, continuo a pensar no SLB como o principal candidato. Isto desde que Jesus continue ligado ao chão e não sucumba, como anteriormente, à tentação de caminhar triunfalmente sobre as águas, sem ainda nada ter ganho.
Santos da casa fazem milagres
A imagem de Vítor Pereira no Dragão e o processo que levou à sua saída demonstram duas realidades: (i) o resultado do seu trabalho e sobretudo as condições em que foi obtido nunca foram devidamente valorizados. (ii) O tão incensado departamento de futebol azul-e-branco já trabalhou bem melhor do que agora.
Perder jogadores cruciais como Falcão, Hulk, ou até Guarin, não obstou a que a equipa continuasse a ganhar mas os méritos das conquistas só indirectamente chegaram ao treinador. A ideia de que naquele clube qualquer treinador ganha, menorizando por isso o seu papel, foi ganhando raízes de há anos para cá e ganhou foros de certeza com Vítor Pereira. Talvez por isso ele se tenha fartado e batido com a porta. E talvez também por isso se deve ter pensado que o treinador mais à mão servisse para o papel. Não é bem assim.
Com isto não quero dizer que a principal razão das actuais aflições portistas se concentrem nas aptidões, ou falta delas, de Paulo Fonseca. Como é evidente ele não se pode furtar ao escrutínio das suas opções. Mas é também claro que a estratégia seguida para o reforço da equipa sofreu variações de filosofia e que tantos elogios mereceu anteriormente. A preferência de jogadores em fim de carreira - Lucho, Liedson, Izmailov e agora Quaresma - com jogadores de cartel e preço elevado - Alex Sandro, Danilo - tem igualado ou até suplantado o recurso a jogadores promissores para valorizar e vender caro posteriormente. Este ano alguns jogadores de características e/ou valor aquém das necessidades para as saídas e lacunas a preencher, cuja aquisição não foi da responsabilidade do treinador, só com muita dificuldade não expõem outros actores que não apenas o treinador. A falta de resultados em linha com os anos anteriores é muito provável vir a agitar as águas para os lados do Olival.
Outsiders as usual
Pesadas, de forma superficial, as vantagens e fragilidades dos nossos adversários, onde ficamos nós? No mesmo lugar de outsiders. Sendo indiscutível o nosso bom campeonato até ao momento, também o é o facto de, este ano, os adversários terem perdido mais pontos do que nos anos anteriores. (SLB tem menos três pontos e o FCP menos 6). É também cada vez mais consensual que o plantel sofre de muitas limitações de qualidade e quantidade sobretudo no último terço e que isso não vai mudar significativamente nesta janela de mercado.
É uma afirmação um pouco "lapalissiana", mas é verdade que as nossas ambições vão depender tanto de conseguirmos manter o nível até agora registado como do que os adversários venham a fazer. Se a média de pontos se mantiver em linha com o obtido haverá campeonato até ao fim, tendo nós direito a papel de protagonistas até ao final.
Os próximos jogos serão importantes na (re)definição dos nossos objectivos/pretensões. A equipa vive um momento de algum stress por falta de concretização. (Isto porque o golo limpo de Slimani não pode entrar nas contas). E esse stress justifica-se muito mais com a incapacidade de criar oportunidades do que pelos golos falhados, o que pode ser um sinal de alguma saturação competitiva e melhor conhecimento por parte dos adversários. Quanto mais tempo durar mais difícil se torna de gerir, criando um nível de dificuldade extra aos jogadores. É por isso de vital importância que a equipa não descole dos lugares da frente até dia 9 de Fevereiro, data do derby. Se o conseguirmos voltaremos a falar então, assim que o resultado seja conhecido.
Sou do benfica, mas a cronica está excelente! Abraço!
ResponderEliminarAnálise muito lúcida. Parabéns.
ResponderEliminarO pormenor de o autor preferir uma vitória do Porto a uma vitória do Benfica é sintomático e, pode dizer-se, é um sentimento comum a muitos sportinguistas. Tantas vezes eu, como benfiquista, torço para que o Sporting derrote o Porto! Ainda recentemente, na Taça da Liga, gostaria que o Sporting tivesse ganho ao Porto (espero que, apesar do mau resultado, ainda consiga ficar à frente do Porto). Nos anos 70 eu preferia uma vitória do Porto a uma vitória do Sporting, mas isso modificou-se.
A pessoa chave que alterou o futebol em Portugal foi o treinador Pedroto que a dada altura se ofereceu ao Benfica e ao Sporting e nenhum dos clubes aceitou as suas condições. Só o Porto aceitou. Veio a saber-se mais tarde que ele queria 2 ordenados, um para ele e outro para pagar a árbitros. Foi o ponto de viragem no futebol português. E esta cultura de "compra de árbitros" ainda não está erradicada do futebol português. Espero que o Sporting recupere e que o Sporting e Benfica colaborem para "limpar" o futebol Português e colocar o Porto no lugar que merece: terceiro.
Saudações desportistas.
Sérgio.
Sérgio
ResponderEliminarEu diria que qualquer sportinguista que ontem preferia a vitória do FCP versus a vitória do SLB tinha apenas um motivo para tal: é que o FCP neste momento é uma equipa muito mais frágil que o SLB. Não tem a ver com "ódios", é apenas a conveniência de preferir a vitória de quem tem mais probabilidade de perder pontos no futuro.
Sérgio,
ResponderEliminaro desejo do autor numa vitória do porto prender-se-á, a meu ver, com o reconhecimento de que, neste momento, o porto está menos fulgurante que o benfica. Nada tem a ver com anti-benfiquismos.
Quanto às alianças entre Sporting e benfica para "limpar" o futebol português não resultarão pois o benfica (os seus dirigentes) não querem acabar com o sistema e sim substituir quem nele manda por pessoas da sua cor. E, nesse caso, o Sporting continuará, sempre, a ser o mais prejudicado neste nosso "futebol" bicéfalo, onde muitos acreditam que apenas há lugar para dois grandes. E esse pensamento, infelizmente, irá ser o "Carrasco" do futebol em Portugal, fim para o qual caminhamos a passos largos...
Ora bem JPDB e Gr33n C0d3r, obrigado pelo esclarecimento.
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