O mundo, o do futebol em particular, recebeu com choque e consternação a noticia do falecimento de Tito Vilanova. Eu não lhe fiquei indiferente.
O meu coração não tem espaço para dois amores. O Sporting, no que a clubes diz respeito, não apenas o preenche na totalidade como frequentemente o transborda. Por isso não tenho segundo clube, aí sou o mais promíscuo e devasso. Hoje gosto de um, amanhã de outro e a maior parte das ocasiões não chego sequer a gostar. Mas há uma linha condutora nessas preferências de ocasião há quase sempre pontos em comum: ou a paixão contagiante dos adeptos, ou um jogador ou treinador da minha preferência, quase nunca o facto de ganhar muito ou pouco e quase sempre o futebol praticado. O Barcelona pelo privilégio de ter visto jogar a melhor equipa de sempre, até por razões de afinidade com a cidade e região, é um desses amores. Por isso o choque pela morte de Tito Vilanova também me chocou mais do que a morte de alguém muito conhecido.
Do antigo treinador conheço apenas o que é público. A imagem que construí dele corresponde inteiramente à que hoje vejo projectada nos órgãos de comunicação social: mais do que um grande treinador, um bom ser humano. Sei o quanto isto é comum dizer-se de quem acaba de morrer, os cemitérios estão cheios não só de insubstituíveis mas também de defuntos magníficos que em vida fizeram, muitos deles, questão de ser precisamente o oposto. Não será certamente por acaso que o Barcelona elegeu a fotografia de um Tito de polo, calças de ganga e sapatilhas. Tito deu sempre ares de grande descrição.
Tito deixou a sua marca no futebol espanhol. Como adjunto de Guardiola conheceu todas as vitórias possíveis. Na fugaz passagem pelo posto de comando conseguiu a tão famosa Liga de todos os recordes, tendo no seu encalce nada mais nada menos que o Real de Mourinho, por muitos considerado o melhor do Mundo. Se há mérito que deve ser reconhecido ao "marquês", como era conhecido, é o facto de ter recebido uma obra prima e assim a ter continuado, sem a desvirtuar. Daí o titulo do post. Tito foi um marechal que sobriamente soube perceber e preservar as ideias mestras onde o sucesso do seu clube se construiu. Isto quando muitos esperariam que, com a partida do criador, tudo se desvanecesse.
Seria o pior e mais impiedoso dos adversários a derrubá-lo, com toda a indiferença e crueldade que se lhe conhece: o cancro. Justamente no momento em que se pareciam abrir para ele as portas de uma carreira de sonho no clube do seu coração.
No futebol não há insubstituíveis, the show must go on. Por isso os meus pensamentos vão para os familiares e amigos, que terão que lidar com a perda irreparável. Tito deixa dois filhos ainda bastante jovens e para eles não há banco, plantel e contratações como recurso, ninguém poderá substituir o que Tito representaria para eles.
Se é nos pormenores que nos revelamos Tito deixou-nos algumas pistas. Seja na carta de despedida do cargo de treinador, que pode ser lida
aqui, como na forma como decidiu marcar os seus últimos momentos. Antes de ser internado, certamente sabedor do que o esperava, Tito foi capaz de um
pormenor revelador da sua natureza: pediu a um amigo que fizesse as diligências necessárias para poder oferecer à mulher um presente - um relógio - que certamente sabia ir marcar a sua despedida.
45 anos... maldita doença.
ResponderEliminarTito fica na história do futebol espanhol e pq não?, mundial... Foi parte integrante do Barça mais marcante de sp: o Barça do futebol total. Do tiki taka que tinha tanto de belo, como de eficaz... Ao contrário do que se diz para aí, nunca me chateou ver futebol bem jogado que ainda por cima era eficaz... Jogadores como Iniesta (o meu preferido), Xavi, Pedro e claro Messi não deixam indiferentes quem gosta de ver virtuosismo técnico e a inteligência não só vencer como dar autenticas "rabetas" sobre o estilo de futebol mais fisico, atlenico e /ou de ferrolho (ou, como agora se costuma dizer: tipo autocarro). O Inter de Mourinho, p.e., tb pode ser eficaz, como se viu... mas esse sim: é chato e sonolento.
Faleceu Tito e, confesso, passou-me um bocado ao lado, mais do que devia, pq desaparece num dia especial para mim e que normalmente concentra toda a minha atenção: 25A. Talvez por isso o impacto tenha sido menor, mas apesar disso não deixou de marcar.
Que descanse em paz.