Devo dizer que me surpreendeu o desfecho do caso Elias.
Surpreendeu-me o timing, porque não me parecia provável que o negócio se consumasse já com o mercado fechado.
Surpreendeu-me o valor da transferência, pelo facto de se tratar de um jogador que completará meio ano sem competir e que tem quase 29 anos.
A maior surpresa porém vem do facto de os ordenados passarem a ficar a cargo do Corinthians, precisamente pelo facto do clube brasileiro não poder contar com o jogador até Julho.
Um excelente negócio para quem, como eu, entendia que o mal menor que representava vermo-nos livres do jogador apenas pelo valor poupado nos vencimentos já era bom.
Aproveito o encerrar deste caso para reflectir sobre o que poderá ser o modelo de negócio do Sporting, ficando para um post posterior análise mais pormenorizada sobre as relações com os diversos intervenientes no meio, nomeadamente os empresários, investidores, fundos e mesmo os jogadores.
Que modelo para o Sporting?
O segundo ano da actual actual administração ajudará a perceber melhor qual o modelo que adoptará para desenvolver o seu negócio no que diz respeito aos investimentos. O ano passado, por força das circunstâncias, deve ser considerado um ano zero. A falta do palco europeu não significou apenas ausência de receitas. Constituiu também seguramente um forte corrente contrária e dissuasora junto de alguns dos alvos definidos para o reforço do plantel, que se somava à incerteza do que seria o Sporting este ano, depois do "anno horribilis". Certamente que jogadores como Rafa teriam olhado para a proposta do Sporting com outros olhos se tivesse dons adivinhatórios. Atrevo-me mesmo a dizer que provavelmente Ghilas teria também ponderado de outra forma a decisão que tomou se soubesse tudo o que sabe hoje.
Mas não foram apenas os jogadores que temeram ligar-se ao Sporting. Conseguir parceiros de negócio que dividissem os riscos também não seria muito fácil e mesmo os empresários e clubes não teriam grande predisposição de negociar com um clube em profunda reestruturação. Isso mudará substancialmente no próximo ano, com maior acuidade se o Sporting conseguir o que todos tanto desejamos: o apuramento directo para a Liga dos Campeões.
Salvo melhor opinião o Sporting necessita, para melhorar a sua competitividade face aos seus concorrentes directos, de encontrar forma de aumentar as receitas disponíveis, de forma a reinvesti-las na sua actividade principal e motor de toda a vitalidade do clube. Só dessa forma conseguirá manter os melhores jogadores que forma mais tempo e disputar os jogadores que lhe interessam no mercado.
Salvo também melhor opinião, pode fazê-lo de 2 formas:
- Apenas com receitas próprias, geradas pela venda de jogadores, bilheteira, receitas de publicidade, televisão, etc, sem envolver capital alheio à SAD e clube.
- Recorrendo a investidor(es) e fundos
Ficando pelas receitas próprias, o que significaria também não partilhar os valores dos passes de jogadores, o Sporting contará apenas com as mais-valias que for capaz de gerar para refinanciar o seu negócio. Idealmente este é o meu preferido, e que se aproximaria da identidade de um clube formador. Muito próximo do que faz o Barcelona, que recorre ao mercado apenas para suprir o que os ciclos de formação não lhe proporcionam.
Ao contrário do que se vai julgando e por vezes até afirmando, o Sporting nunca seguiu exactamente a mesma cartilha. Ao contrário do clube catalão, os jogadores que o Sporting forma têm sido, por força das vicissitudes, chamados a desempenhar responsabilidades mais cedo do que o desejável e até do exigível. A criação da equipa B foi uma excelente medida para suprir uma falha importante, mas é demasiado recente e, quanto a mim, requer ainda correcção de trajectórias para se poder considerar uma aposta ganha.
Quanto à segunda possibilidade, não me parece que o Sporting possa atrair no futuro próximo, e provavelmente nenhum clube português, um sheik árabe, seguindo o modelo inglês ou do PSG. Não vejo Bruno de Carvalho a partilhar o poder nem a última palavra e não acredito que haja quem invista sem dela dispor. Este é também o modelo que mais me desagradaria, detestaria ver o Sporting com dono.
Os fundos têm sido o principal parceiro de negócio dos nossos rivais e concorrentes directos. Graças a eles o FCPorto conseguiu encostar-se a uma classe média alta de clubes europeus chegando mesmo a dois títulos europeus. Uma boa prospecção de mercado tem encontrado disponibilidade financeira para concretizar negócios. O sucesso desportivo proporciona valorização. A respectiva realização de mais-valias ajuda a suprir a falta de receitas para aguentar planteis dispendiosos. O SLB não tem sido tão feliz mas é inegável que a sua competitividade subiu e que se aproximou do FCPorto.
Inegável é também que o mesmo tipo de operação não correu bem no Sporting. Creio que tal não se deveu propriamente ao modelo mas sim à gestão ou ausência dela. Com todas as desvantagens que acumula, o Sporting tem pelo menos uma vantagem por estar novamente na casa de partida: não precisa, não deve, cometer os mesmos erros. Os seus e os dos seus rivais, especialmente no que respeita à acumulação de passivo.
Mesmo com todos os riscos que hoje sabemos, creio que o Sporting não se deve auto-limitar, impondo a si mesmo restrições que lhe tolham as perspectivas, considerando todas as possibilidades que o jogo do mercado lhe coloca à disposição. O contrário seria tão nefasto como, no relvado, a equipa do Sporting não saber/poder usar todas as ferramentas do jogo para chegar ao golo e consequentemente às vitórias. Seria o mesmo, mal comparado, que não poder/saber marcar um canto ou até mesmo concretizar um penalty.
A visão do nosso presidente, pelo menos do que tem dito, e da minha e a de vários sportinguistas, é, independentemente de existir mais ou menos dinheiro, o que foi seguido este ano. O modelo do benfica e do porto, não é nem poderá ser o nosso. Alguns fazem crer que o que é nosso não é bom, mas não é verdade.
ResponderEliminarExcelente post.
ResponderEliminarBruno de Carvalho e a sua equipa ja provaram que sabem o que querem para o Sporting.Todas as suas decisoes ate agora defenderam sempre o Sporting com unhas e dentes.Os empresarios e os proprios jogadores teem de saber que o grande Sporting deixou de ser a vaca leiteira onde todos mamavam como queriam.Agora parece existir ordem e disciplina valida para todas as partes.quem nao quiser pagar o leitinho nao mama e ponto final.Forca Bruno.Vivo Sporting
ResponderEliminarhá muito boa gente que engoliu um grande sapo com este negócio (alguns Sportinguistas incluídos)...mais uma vez Bruno de Carvalho volta a dar uma chapada de luva branca aos seus críticos...o Sporting está bem e recomenda-se, com a melhor direcção que eu já tive o prazer de conhecer nos meus 24 anos de vida (não sou do tempo do João Rocha)
ResponderEliminarGrande negócio! 4 milhões de euros a pagar em prestções pelo jogador que foi considerado o melhor médio do Brasileirão?
ResponderEliminaros nosso vizinhos venderam um jogador (Kardec) por 4 milhões de euros, sendo que o mesmo jogava na 2ª divisão brasileira.
Elias estava bem valorizado no mercado brasileiro e só a insistência de colocar o jogador na equipa B sem jogar e dizer-se que não havia condições para pagar o salário é que desvalorizou o mesmo.
O SCP não tinha já rescindido o contrato relativo aos direitos de imagem do jogador em Setembro? Mas agora surje o montante de "poupança" incluindo este contrato que já não existia!
Não haver condições para pagar salários é muito relativo. O dinheiro que gastamos na compra do Heldon pagava o salário de Viola e sobrava.
Piris veio ganhar menos que Arias? Jogador que já é pretendido peo MU !
Anónimo das 15:28, não sei como o teu Godinho não conseguiu vender o "grande" Elias (não confundir com o restaurante), já que era tão fácil fazer um grande negócio.
ResponderEliminarLdA, desta vez discordamos. Até percebo que olhando apenas ao negócio realizado ontem e às circunstâncias atuais, possamos dizer que é um bom negócio, se considerado isoladamente.
ResponderEliminarMas para o Sporting, entidade que adquiriu 50% dos direitos económicos por 8M€ e ainda suportou, ao que consta, aproximadamente 4M€ em salários durante este período, foi, apenas, o negócio que era possível fazer.
Custa-me apelidá-lo de "bom". Ainda bem que foi feito, ainda bem que BC percebeu que a prioridade era não um bom negócio mas evitar o acumular de um prejuízo, mas para o Sporting não foi um bom negócio.
E há alguns argumentos muito pertinentes do Anónimo das 15:28, nomeadamente o tema do contrato de direitos de imagem...
Um abraço
O modelo do Sporting (ou aquele em que está obrigado a trabalhar) é das coisas mais simples que existe, como vive num mercado altamente deficitário, as receitas são claramente insuficientes para suprir as necessidades de despesa para competir ao mais alto nível (conquista de títulos), é obrigatório no fecho de cada ciclo de competição realizar mais valias com a venda de activos que anulem o défice cronico.
ResponderEliminarResumindo, é preciso comprar barato e vender caro, no caso de comprar caro ... tem de vender caríssimo!!!
O fulcro deste modelo de negócio é - prospecção - se ela aparentemente já funciona bem a nível nacional (e mesmo aqui temos vindo a perder posição), há muito a melhorar no capitulo internacional e a equipa B pode ser um observatório de segurança fundamental para minorar os flops.
Antes como agora há uma distância enorme entre nós e os nossos rivais e maior ainda para clubes como o Barcelona que nos "limpou" p.ex. Quaresma e Simão, e ainda faz queixinhas sobre os modelos de City e PSG. Fosse o Sporting, ou melhor, o futebol nacional capaz de gerar receitas suficientes para os clubes nacionais não serem permanentemente espoliados dos seus maiores talentos e ... outro Leão rugiria!!!
O sucesso de qualquer direcção vai ser medido pelo tempo que consiga manter um talento como Ronaldo, William Carvalho, Moutinho, Eric Dier, etc., no seu plantel gerando paralelamente sucesso desportivo e mais valias económicas.
P.S.- O negócio Elias é um bom acto de gestão e um péssimo negócio para o Sporting, nunca conseguimos retirar deste jogador a sua mais valia desportiva e ainda menos financeira. É o exemplo perfeito daquilo que deve a todo o custo ser evitado no futuro, neste aspecto preocupa-me a necessidade de firmar contratos de longa duração com atletas como Shikabala que tanto podem revelar-se heróis como vilões dificilmente descartáveis.
caro anónimo
ResponderEliminaro kardec foi vendido por 4 milhões por 100% do passe..o elias foi 4 milhões por 50% do passe...até para se criticar é preciso saber dos factos, coisa que tu não sabes ;)...mas valeu pela tentativa
Ultimamente anda a faltar-me poder de síntese, mas felizmente o LMGM resumiu tudo numa frase:
ResponderEliminar"O negócio Elias é um bom acto de gestão e um péssimo negócio para o Sporting".
Grande credibilidade dizer que o Elias só sai pela cláusula de 40M e nem um ano volvido 4M.
ResponderEliminarKoba,
ResponderEliminarconcordo com o reparo. A adjectivação do negócio é em função das circunstâncias descritas nos primeiros parágrafos do post. Vender por 4 milhões um jogador parado há tanto tempo, a fazer 29 anos e ainda por cima sem poder jogar é um óptimo negócio. Se fossemos adeptos do Corinthians certamente que não nos deixaríamos pelo menos de interrogar porque teríamos que ainda por cima pagar os ordenados. Há ainda outra razão para avaliar assim o negócio: não o julgava possível agora.
De qualquer forma uma correção ao que disse acima: queria dizer que no total suportámos 12M€ (8M€ transferência + 4M€ salários), tedo recuperado 3.85M€ + 4M€.
ResponderEliminarDo que escrevi parecia resultar um prejuízo de 8M€ e não de 4M€.
Koba ,
ResponderEliminarOnde vais buscar esses 12M€? sempre ouvi falar em 9M€
Anónimo das 16:27,
Quem falou que só saia por 40M€. Inventar não custa.
Koba fui confirmar e são exactamente 8.85M€
ResponderEliminarhttp://web3.cmvm.pt/sdi2004/emitentes/docs/FR35335.pdf
Koba desculpa, eu é que me espaldei todo...
ResponderEliminarFalas em 12M€ somando compra e salários. É o que faz acelerar demasiado nas curvas finais.
É com certeza um bom negócio.
ResponderEliminarElias na Europa estava tapado. Não deu no Atlético, não deu no Sporting, e assim dificilmente teria mercado na Europa.
Fora da Europa, podia vir alguma proposta das Arábias, mas veio apenas uma China.
Bastante boa por sinal, mas não do agrado de Elias.
Restava o quê?
Pois o Brasil nê!!!
E quem está mais atento a este mercado, sabe que o nível de salários subiu muito nos ultimos anos, mas não subiram tanto assim os valores das transferências (salvas raras excepções que estarão mais ligadas a questões de Marketing eg:Pato).
E depois, claro 29 anos, sem jogar, etc....
Alguém dissem por ai:
"O negócio Elias é um bom acto de gestão e um péssimo negócio para o Sporting".
Eu reformulo:
"O negócio Elias foi uma boa venda, mas uma péssima compra"
Sim senhor. Bom negócio na venda de Elias. Era o que se pedia e finalmente foi concretizado. Era improvável que viesse a acontecer antes de Junho e que o Corinthians assumisse o salário do jogador sem o poder usar nos próximos meses. No fundo, transferimos esse problema para o clube brasileiro... Como se costuma dizer: vale mais tarde do que nunca.
ResponderEliminarSobre o Modelo a adoptar: acho que se deverá apostar essencialmente na nossa formação e potencia-la ao máximo. A(s) parceria(s) com Fundos, no entanto, não deverá ser esquecida e aproveitar sempre que haja possibilidade, principalmente financeira, mas tb numa mais valia desportiva, leia-se jogador(es) para colmatar lacunas no plantel que tenha(m) efectiva qualidade. Nem sempre é fácil conciliar as duas situações. Para já seria prudente não arriscar demasiado na segunda vertente.
Mais um bom post, LdA.
Gde Abç!
"Elias só sai pela claúsula de rescisão"
ResponderEliminarhttp://desporto.sapo.pt/futebol/primeira_liga/artigo/2014/01/25/bruno_de_carvalho_elias_s_sai_.html
Elias falou pela primeira vez, após assinar com o Cortinthians. O ex-jogador do Sporting esteve a treinar a parte em Alcochete desde dezembro, depois de ter entrado rota de colisão com Bruno de Carvalho, presidente dos Leões. Na hora da partida, o brasileiro lançou algumas "farpas" ao líder leonino.
ResponderEliminar"O Sporting é muito grande comparado com as pessoas: os jogadores passam, os jornalistas passam, os presidentes passam e o Sporting continua. Nunca vou ter mágoa pelo clube. Na primeira época em que joguei cá conseguimos voltar a lutar e a atrair os adeptos ao estádio, mas a segunda foi má. A vida de jogador é assim: não dá certo aqui, dá noutro lugar. Vou procurar voltar a ser feliz", disse o médio ao jornal Abola.
Só foi por 4 milhões, e já foi bom, porque o jogador não aceitou ir para a china. Querer induzir que o negócio foi mau, só os nosso rivais o podem achar, porque sportinguistas, só por má vontade.
ResponderEliminarOs anos ZERO não existem em parte nenhuma.
ResponderEliminarNunca se contou uma dezena a começar por...0,1,2,3,4,5,6,7,8...9!
Um ano contou-se sempre ao fim de 12 meses.Até lá existem parcelas de tempo, que se chamam meses.
Deixem-se de aberrações, que podem influenciar muitos dos mentecaptos que circulam na Net.
O modelo do FC Porto e do Benfica é semelhante e deu óptimos resultados para o FC Porto, além de ter catapultado o Benfica para um patamar muito superior relativamente ao tempo do Quique e do Koeman, por exemplo.
ResponderEliminarMas, parece-me impossível, em Portugal, 3 clubes basearem o seu modelo económico e desportivo neste sistema: comprar caro, servir de incubadora, ganhar, vender ainda mais caro.
Provavelmente, nem para 2 clubes chega, em Portugal. Talvez em Espanha, Inglaterra... por cá, não dá.
Seguir este caminho era um risco para o Sporting, um risco demasiado elevado.
António Gomes, entretanto esclareci o que pretendia dizer, estava a por os salários pagos na equação
ResponderEliminarSL
Só se ouve dizer, que o Sporting faz maus negócios. Os nossos rivais é só ver vender por 30M, 25M, 15M, etc., etc. Mas os seus passivos estão sempre a aumentar. Então eu pergunto: Onde andam os milhões? no bolso de algum dirigente?
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