Apresento desde já as minhas desculpas aos leitores por, com a colocação deste post, entrar em incumprimento ao que aqui havia prometido ontem. Porém sou permeável à actualidade, especialmente quando ela nos traz temas tão fracturantes e que me são caros como o racismo, a xenofobia ou a pena de morte.O post sobre as contratações cirurgias virá a seguir.
Começo pela atitude exemplar de Dani Alves. Sem queixinhas e sem perder a concentração deu uma lição de superioridade moral ao seu agressor - sim, o racismo é uma forma de agressão - a quem terá dado muito que pensar. Uma atitude seguramente impensada, reacção à flor da pele, mas de grande alcance.
Depois, a medida drástica e exemplar do Villareal, identificando o autor e banindo-o do clube, ao extinguir a sua ligação como associado. Atitude merecedora dos mais rasgados elogios pela prontidão, mas também pouco reflectida.
E se no próximo jogo em casa os sócios do Villareal, ou pelo menos os que partilham do mesmo sentimento do ex-sócio, se solidarizam e repetem o mesmo gesto?
Expulsam todos ou demitissem os corpos sociais?
Quem ganharia com o que sucederia?
Provavelmente perdiam todos, porque ninguém sairia satisfeito com o desfecho, incluindo o próprio Daniel Alves.
Há muita hipocrisia e demasiado "politicamente correcto" quando se abordam estas matérias e o futebol não constitui excepção, apesar dos bons exemplos que dá com frequência. Já vivi o suficiente para perceber que entre tiradas grandiloquentes e as reacções emocionais e primárias quando temos que lidar directamente com as questões deste tipo vai uma grande distância. Costumo dizer entre amigos que só sabes se és racista quando o teu filho(a) entrar em tua casa com um individuo de outra raça como namorado(a) ou noivo(a). Esta questão é válida para pessoas de todas as raças, pois o racismo não é exercido exclusivamente de brancos para negros.
Sou obviamente contra qualquer tipo de exclusão, sectarismo ou intolerância, especialmente nas que se baseiam nas diferenças da cor da pele, da origem, do credo politico ou religioso. Mas sou suficientemente perspicaz para perceber que a sua origem radica numa amalgama muito grande de factores socioeconómicos e até de ordem pessoal e cuja análise não cabe aqui. Temas que estão permanentemente no topo da actulidade em todas as sociedades, a espanhola de forma muito particular. Não podia deixar de ser de outra forma, num país que tem no seu seio uma legião de desempregados e está permanente pressionado nas suas fronteiras por uma outra legião: a de auto-expatriados africanos.
Por assim perceber o problema entendo também que estas matérias carecem de pedagogia adequada que escapa às atitudes drásticas como a que foi tomada pela direcção do Villareal. Atitudes que na prática significam a condenação à morte da ligação afectiva mais importante que um adepto pode ter com o seu clube do coração: ser sócio de pleno direito. O futebol não ganha nada com penas de morte e o radicalismo não se combate devolvendo o mesmo tratamento.
Quando o clube espanhol identificou o seu associado tinha outra possibilidade, antes de tomar a decisão que tomou. Dar a oportunidade ao seu associado de se redimir, pedindo desculpas a Daniel Alves, lembrando-lhe que a sua atitude, perpetrada no seu próprio estádio, mancha a imagem de todo um clube.
É algo como isto que espero que o Sporting faça, caso algum dia seja chamado a lidar com um problema semelhante. O futebol, mesmo que ainda muito remotamente, é desporto e o desporto é das actividades que mais tem contribuído para o aprimorar o sentido de Humanidade e para a existência de um mundo mais suportável.
Aproveito o tema para falar em Rúben Semedo. Sendo grave a atitude que tomou na sequência da sua expulsão, terá que se haver inevitavelmente com as consequências. Que estarão longe da irreversibilidade das apressadas sentenças de morte que o acto, feio e impensado, está longe de justificar. Pergunto-me muitas vezes se quem profere estas sentenças alguma vez teve a idade do Semedo ou, se teve, perdeu entretanto a memória para ter autoridade para ser agora tão implacável.
Aguarde-se pela decisão da SAD para ver se o episódio merece mais comentários*. Tão importante como exercício da disciplina é também a avaliação da importância da reincidência deste tipo de comportamento, percebendo as razões que as motivam. Esta é a mesma instabilidade que se nota também no desempenho em campo, alternando, por vezes no mesmo jogo exibições de grande potencial com reiterados erros de palmatória de jogador vulgar.
*P.S.- O Abel, tão veloz em anteriores episódios, talvez até de menor gravidade, foi tão lesto a crucificar os intervenientes que, mandaria o bom senso, dissesse qualquer coisinha mais do despachar para canto o que se passou à frente dos olhos.
Sou claro contra qualquer acto de racismo como o que aconteceu com o jogador Dani Alves
ResponderEliminarNo entanto e não querendo desculpabilizar o "senhor da banana" - acho que devemos reflectir sobre contra quem na realidade foi cometido esse acto
Na minha opinião e à semelhança de quase todos os actos do genero no futebol, mais do que o odio sobre determinada raça, prevaleceu aqui o ódio ou provocação sobre determinado jogador ou clube
Ou seja provavelmente na sua vida quotidiana, a pessoa que atirou a banana nem é racista - tem amigou de outras raças e apenas viu nesse acto uma forma de provocar o jogador e o clube
O tema dá pano para mangas... Tenho para mim que a raiz principal do racismo e suas derivações é a ignorância, tantas vezes ouvi coisas do género "Não gosto de espanhóis mas os que conheço são uns gajos porreiros.", e quando não eram espanhóis eram pretos, amarelos, ciganos, brasileiros, muçulmanos, punks, etc...
ResponderEliminarHá "racismos" para todos os gostos e feitios, o desporto tem sido sempre um desmistificador de diferenças e de superioridades "cientificas", como foi bela a lição de Jesse Owens em plena Alemanha Nazi. É raro encontrar locais com tanta diversidade cultural como o desporto (a última vez que disse isto apareceu uma série de pessoas a dizer que o seu local de trabalho era assim, ainda bem, ainda são poucos), quantas religiões, credos, tons de pele e diferentes experiencias de vida estão reunidas no plantel do Sporting? De Slimani a Carlos Mané, ou de Shikabala a Cédric Soares.
Li há pouco Del Bosque a afirmar, "No futebol não há racismo.", engana-se, há racismo em todo lado, em campo e no treino é mais difícil do racismo permanecer ou florescer a tal questão da ignorância desmorona, mas ainda devem existir uns que são racistas "excepto" contra os seus colegas de equipa, esses são uns gajos porreiros.
Não faço a mínima ideia se o sócio do Villareal é racista, terá praticado um acto racista, mas não sei se a base desse gesto é rácico ou apenas a tentativa (parva) de perturbar o adversário. Haverá jogos no El Madrigal onde não joguem jogadores das mais variadas origens e feitios? São estes actos reincidentes? Há manifestações de racismo contra jogadores da própria equipa?
Nos campeonatos de Leste tem existido diversas manifestações graves de racismo contra jogadores da própria equipa, Hulk já se queixou p.ex., será que queremos tratar deste fenómeno a sério ou apenas dar destaque a alguns casos mais mediáticos onde estes casos são raros e casuais?
Será que quando a Juve Leo afirma a alto e bom som que a minha cidade é merda devo pedir a expulsão de todos os seus membros por xenofobia? Ou será isto apenas uma provocação (parva) que se extingue no apito final do árbitro?
António Oliveira, dizia que não havia nem racismo nem homossexuais no futebol, há, ou melhor, continua a existir, nomeadamente porque só veem grandes manifestações de indignação nos pormenores mediáticos e pouca acção nos fenómenos graves e perante isso é mais seguro esconder, reprimir e deixar andar a carruagem.
O brasileiro quando a seguir diz o que diz de Espanha, para onde decidiu emigrar, é tão animal como o adepto. Talvez por isso tenha sido tão lesto a acudir ao instinto de comer a banana.
ResponderEliminarO racismo faz parte do nosso mundo, e vai continuar a fazer. Porque a ignorancia tambem continuará a existir.
ResponderEliminarAlias, temo que com as crescentes dificuldades economicas que começam a existir cada vez mais em alguns paises "pacificos" como o nosso por exemplo, o racismo para com aqueles que não "são de cá" só vai aumentar. Porque as pessoas tendem a extremar o pensamento mediante as dificuldades que vão tendo.
No futebol, penso que actos como aqueles que aconteçeu com o daniel alves (que como jogador pelo menos considero um individuo sujo), estão a aconteçer mais por uma questão de moda. Porque é fixe apareçer no facebook. Um pouco como as selfies.
Não me preocupo muito com os que mandam bananas, ou fazem "uh uh uh". São uns bartolos, mas não passam disso...
Preocupo-me mais com os que estão na sombra...e que se calhar não se limitam só a chamar nomes a alguem diferente...
E preocupa-me tambem mais que tanta gente fique indignada com a banana, mas depois não se fique com os milhares de crianças que morrem a fome em africa...
Nós andamos iludidos e não, é pouco. Porque pensamos que por termos inventado o iphone, termos internet de fibra, ou porque vamos ao espaço, já evoluimos muito enquanto especie...
É tudo mentira...continuamos(a maioria) na mesma como sempre fomos...ignorantes, primários e sempre a procura de lixar o parceiro.
Se o "Brasileiro" tiver noção de que o País dele também não é perfeito, então tambem nao se pode considera-lo um animal.
ResponderEliminarAté porque no fundo a Espanha é uma ilusão....basta ver na final da taça do rei o lado do adeptos do barcelona....bandeiras de Espanha nem ve-las...era tudo da Catalunha.
Espanha é uma bomba relógio.