Selecção: As nacionalizações e o PREC
Na Dinamarca a selecção jogou grande parte do seu destino no Campeonato do Mundo de África. Muito dificilmente passará do hall de entrada e, confirmando-se o cenário, espreitaremos pelo ecrã o salão nobre da competição entre selecções. A confirmar-se, será a todos os títulos lamentável que não se tenha conseguido capitalizar a favor das nossas pretensões colectivas a categoria individual de jogadores como Bosingwa, Alves, Carvalho, Pepe, Deco, Ronaldo, Danny, Quaresma, Moutinho, Veloso, Liedson, Nani e Veloso. No contexto do nosso grupo, quem se pode vangloriar de melhor qualidade de recrutamento?
Esta jornada iniciou-se sob o recrudescer da polémica das “nacionalizações” de jogadores, por graça de Liedson. A minha discordância pela sua presença pouco interessa agora face aos precedentes e perante a evidência da lei. E se a língua é a nossa Pátria sem dúvida que percebo melhor Pepe, Deco e Liedson do que Alberto João ou Pauleta, por exemplo. O que me interessa agora é que o recurso à nacionalização de jogadores não faz sentido se deles não for retirado o rendimento que eles prometem. Tendo Queiroz optado por começar a jogar em 4x4x2, não se percebe a titularidade “daquele cujo nome me recuso pronunciar”. Não porque tivesse receio de o ver, escariotes como é, de lágrima no olho, a dizer-se dinamarquês desde pequenino e para todo o sempre, porque os escandinavos nada têm para lhe dar que lhe interesse. Naturalmente e apenas porque Liedson era o melhor jogador do grupo naquele lugar. O mesmo se aplica ao lugar ocupado por Pepe. Veloso seria capaz de igualar a sua capacidade de destruir jogo adversário, ser útil a defender naquela posição e significaria valor acrescentado na hora de gerir a posse de bola e criar jogo. Pelas mesmas razões, isto é, porque é melhor na função, Pepe ficaria melhor que Bruno Alves, que teve um jogo manifestamente abaixo do que é capaz.
Uma divergência temporal entre a minha existência e a presença dos Magriços em Inglaterra fez-me perder a melhor prestação de sempre de uma selecção das quinas. Habituei-me a ver desperdiçado o talento de muitos jogadores nos finais de 70 do século passado. Platini arruinou-me um S.João, Humberto fez-me sonhar, Oliveira quase era capaz do melhor como foi do pior. Ser 2º em casa era bom antes de começar, mas soube a pouco, face às circunstâncias. Ou seja, já vi de tudo e por isso estou preparado para este Processo de Regressão em Curso (PREC). Voltamos às contas, mas sobretudo aos “ses”. Queirós fala de falta de sorte ignorando que esta não quer nada com a incompetência. Se o futebol fosse apenas falado, seríamos, pelos predicados do seleccionador, candidatos a campeões do Mundo. Mas é preciso muito mais que bonitas palavras e ter o melhor do Mundo não parece suficiente. Até porque, de quinas ao peito, Ronaldo não tem sido mais do que uma ilha, deserta no seu egocentrismo. Jogamos bem contra os Dinamarqueses? Não o suficiente. Um bom cozinheiro não recebe prémios se se esquecer ou não acertar nos temperos. Na hora de por o sal - os golos- a selecção nunca foi competente. Sem golos não há bom futebol, no máximo veremos um bom número de circo.
Hoje, para descobrir o caminho para o Mundial da África do Sul, já não basta matar o nosso atávico adamastor futebolistico, é preciso contar com erros de terceiros. O que pensarão de tudo isto os nossos milhares de compatriotas, muitos deles conterrâneos de Ronaldo, a viver o mais a sul no continente africano? Na terra da Boa Esperança, a nossa ausência será, pelo menos, um desencontro com a História.
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