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Ronaldo é o expoente máximo da formação do Sporting |
No day-after da conquista de mais uma Bola de Ouro por um atleta formado no Sporting, parece-me fazer todo o sentido falar novamente sobre a formação do Sporting. Uma reflexão que é ainda mais oportuna num momento em que existem alguns sinais que justificam pelo menos a preocupação, exigem questões e respectivas respostas. Para tal elaborei um questionário muito simples, de quatro perguntas apenas (a bold), que André Carreira de Figueiredo* se disponibilizou para responder.
- Os resultados deste ano lançaram o alarme sobre a formação, que a recente não qualificação dos juvenis veio acentuar. Os resultados dos jogos, sobretudo os títulos, na formação são assim tão importantes ou deve ser feita uma leitura mais abrangente, como exibições, valores emergentes, etc?
Falar em "a melhor formação" é muito subjectivo e por vezes depende daquilo que é conveniente para os adeptos e "máquinas de relações públicas" valorizarem após uma determinada vitória ou derrota, mas há que ter em conta vários factores:
1) Produzir individualidades para a equipa principal, portanto, formar jogadores (e não colectivos) e fazer um aproveitamento dos mesmos no "período pós-formação", ou seja, quando terminam a sua época Sub-19.
2) Conquistar títulos para incutir aos jogadores desde cedo uma "cultura de vitória" e a capacidade de sobressaírem no contexto de um colectivo.
3) Formar homens pois, sem um desenvolvimento social e emocional adequado, muitos jogadores não desenvolvem a maturidade necessária ou uma personalidade forte que lhes permita sobreviver às "depressões" que podem estar associadas a um empréstimo fora da "casa mãe" ou de uma passagem prolongada pelo banco de suplentes ou pela bancada.
Em termos de aproveitamento de individualidades da sua formação na equipa principal, o Sporting tem tido indiscutivelmente a "melhor pós-formação" (e tem recebido justificadamente a melhor imprensa) nos últimos 15 anos, mas, há que ter em conta que é mais fácil um jovem conseguir entrar num XI sénior como o do Sporting do que num XI mais competitivo como é o do Benfica. Portanto, a aposta em jovens por parte do Sporting nos passados 10-35 anos passa muito pelo facto de o Sporting ter quase sempre um orçamento mais reduzido que o do seu rival da 2ª Circular, e ter, na maioria das vezes, um XI titular menos competitivo na sua equipa sénior onde, portanto, é mais fácil os jovens conseguirem afirmar-se.
Há igualmente que ter em conta que os jovens da formação que o Sporting tem no seu plantel sénior são o resultado de um trabalho/investimento que vem de há muitos anos e que lentamente deu frutos, e não do trabalho desenvolvido nos tempos mais recentes.
Rui Patrício chegou ao Sporting há 17 anos descoberto pelo ex-Observador Técnico Sr. Artur Garrett, Nani chegou ao Sporting há 12 anos descoberto pelo Observador Técnico Sr. Carlos Braz, Cédric Soares chegou ao Sporting com 6 ou 7 anos de idade no final dos anos 90 quando o irmão mais velho (Kevin Soares) o trouxe para treinar, Adrien Silva chegou ao Sporting há 12 anos descoberto pelo Observador Técnico Sr. Gomes Ribeiro (que também descobriu Simão Sabrosa), William Carvalho chegou há 10 anos e chegou porque é um grande Sportinguista, pois tinha Bruno Maruta em sua casa com papéis para ele assinar pelo Benfica e William segredou ao seu então treinador (Ricardo Nascimento) no Mira-Sintra que preferia ir para o "seu" Sporting.
André Martins chegou há 12 anos descoberto pelo ex-observador técnico Coronel José Santos, João Mário Eduardo foi a Mãe dele a Srª Lídia Costa que o trouxe para o Sporting há 12 anos, Eric Dier foi a Mãe que o levou para o Sporting há 12 anos, Filipe Chaby é outro grande Sportinguista que foi descoberto para o Sporting pelo ex-Observador Técnico Sr. João Ruas há 9 anos. Francisco Geraldes é um jovem Sportinguista de 19 anos que está no Sporting há 12 anos.
Mesmo falando dos casos mais recentes de jovens que conseguiram algum espaço na equipa principal, o Carlos Mané está no Sporting há 14 anos, o Daniel Podence foi descoberto pelo Observador Técnico Sr. Carlos Braz no Belenenses, Tobias Figueiredo chegou ao Sporting há 10 anos, Ricardo Esgaio chegou da Nazaré há 11 anos e a avó dele vinha ver os jogos dele a Pina Manique e a Alcochete, Rúben Semedo, com idade Sub-16, foi observado pelo Mister Luís Dias num jogo de Juvenis A do "Fofó", onde eu também estava presente há 7 anos.
Mica Pinto chegou há 8 anos e jogou em pelo menos 3 posições (médio defensivo, avançado-centro e lateral esquerdo), Iuri Medeiros chegou há 11 anos, etc. Em suma, os atletas que hoje em dia vão surgindo da formação são o resultado de um "investimento" que foi feito há 6-18 anos nas estruturas de Prospecção e Formação.
Quando olhamos para um jogador temos que ter em conta dois aspectos, o seu valor desportivo actual e avaliar qual será o seu potencial a curto, médio e longo prazo. Enquanto o valor actual é relativamente fácil de aquilatar com a elaboração de um relatório técnico de avaliação, já o potencial a longo prazo depende de muitos factores, mas na minha opinião o mais importante é o psicológico. Por exemplo, depende da mentalidade dos atletas e como a mesma poderá mudar durante a puberdade, a personalidade dos seus encarregados de educação que poderão dar-nos uma indicação de como vai ser o jogador em termos de traços da sua personalidade, a potenciação física, técnica e psicológica que os profissionais da instituição poderão realizar com o atleta quer na Fase de Iniciação quer na Fase de Especialização, e hoje em dia também quando passam pelo Sporting B, etc.
Mas, não se pode confundir o valor desportivo ou o potencial com o momento de forma, pois há jogadores ou equipas que podem ter más exibições, mas as mesmas serem uma simples anomalia ou causada por factores exógenos, questões de Locus de Controle Externo (sorte, azar, incompetência ou falta de seriedade de terceiros, etc). No entanto, se os jogadores e planteis têm qualidade e se o treinador é competente e profissional, e os adversários são de igual ou inferior valia, é natural esperarem-se vitórias, títulos, e não apenas a potenciação das individualidades mais promissoras.
Tendo dito isto, o rendimento da geração de 1996 (actuais juniores) ao longo dos últimos 2 anos não reflecte o real valor desse lote de atletas nem eles evoluíram o que seria perfeitamente razoável esperar deles nestes passados 21 meses. Não são uma geração fabulosa de jogadores, nunca foram e isso já era óbvio quando eram Infantis, mas são claramente jogadores em nítido sub-rendimento nestes últimos dois anos, sobretudo na presente época, mas quem conhece estes jogadores sabe que eles valem MUITO mais do que isto, basta ver o seu historial entre 2008 e 2012. Em Janeiro de 2013 estavam à frente do Benfica, até há 2 anos nunca ficaram abaixo do 2º lugar quer em competições Nacionais quer em Distritais, inclusive foram campeões há pouco mais de 4 anos com o treinador Pedro Gonçalves. O “descalabro” verificou-se nos últimos 2 anos, é factual e incontornável.
Sempre achei que seria irrealista esperar o título nacional destes jogadores esta época, mas, era normal que se esperasse MUITO mais deste grupo de trabalho (e que obviamente envolve a estrutura) do que aquilo que têm produzido nos passados 2 anos e sobretudo na presente temporada. Não são "fracos" nem medíocres em termos de talento, mas realisticamente, o grupo (jogadores e não só) tem sido medíocres esta época, e bons jogadores entre 2008 e 2012 não desaprendem a jogar em 2013, 2014 e 2015. Há da parte dos "adultos" responsáveis que tirar ilações, algumas delas particularmente introspectivas.
Relativamente à geração de 1998 (actuais juvenis), sempre fui da opinião que eram uma boa geração, mas não excepcional (e alertei há 18 meses que não havia espaço para deslumbramentos), e na qual eu via talvez 3 jogadores (Telmo Costa no início de época falou em 5 ou 6) com capacidade para chegar aos seniores a seu tempo. Os restantes eram incógnitas, pois a sua evolução para mim dependia de demasiados factores. É verdade que foram campeões nacionais com relativa facilidade há 2 anos, mas, como se costuma dizer, "só podemos vencer quem aparece à nossa frente", ou seja, a equipa era melhor que os adversários, mas, nunca achei que fossem uma "Super-Equipa" como muitos julgavam pelos resultados (e título), enquanto eu me limitava a avaliar a qualidade e potencial a longo prazo dos jogadores.
Foi uma equipa que sofreu alguma “delapidação” nos passados 2 anos e que em parte por causa desse "empobrecimento", ao fim de 3 anos consecutivos a conquistar títulos, acaba de assinar a pior época alguma vez registada por uma equipa Sub-17 do Sporting na já longa história desta competição. Mas, não é por causa deste "fiasco" que este lote de jogadores de 1998 deixa desportivamente de valer menos do que valia há 6 meses, da mesma forma que para mim não valiam mais depois de serem campeões nacionais em 2013.
Esta época registou-se claramente algum sub-rendimento por parte destes jogadores, eles poderão arcar com alguma "culpa", mas nunca com toda. São um bom plantel, que não rendeu o que seria de esperar deles, mas, tal como com os de 1996, também não me parece que a culpa seja única e exclusivamente dos jogadores e equipas técnicas. Poderão haver muitos factores, desde quebra psicológica, mau ambiente de trabalho devido a alguma opressão social que possam sentir, falta de gratificação (questões económicas) comparadas com colegas, falta de motivação, falta de auto-confiança, falta de empatia para com quem os rodeia, desânimo, falta de organização (na equipa e fora dela), etc.
Se o único factor a ter em conta para a próxima época for a qualidade dos jogadores (em vez da equipa técnica, estrutura, condições de trabalho, acompanhamento, etc) não acredito que a equipa de Juniores seja muito mais competitiva que as dos últimos 2 anos, pois ao longo dos passados 6-8 anos a Geração de 1997 não deu indicações de que fosse superior à Geração de 1996.
Quanto à Geração de 2000 que presentemente competem nos Sub-15 e terminaram a 1ª Fase 9 pontos na retaguarda do Benfica, se formos a julgar unicamente pela qualidade dos jogadores, temos claramente qualidade para sermos campeões nacionais. Mas, exactamente o mesmo podia ser dito (e foi, por mim) sobre a Geração de 1999 que na época transacta passou pelos Iniciados A e nada conquistou. E em ambos os casos estamos a falar de gerações campeoníssimas, com 7 títulos conquistados antes de chegarem aos Sub-15.
- Estes resultados são meramente circunstanciais e coincidentes ou são sinais que evidenciam problemas?
De forma alguma são circunstanciais ou fruto do azar. Eles evidenciam problemas de ordem estrutural, organizativa e de falta de competência, experiência e sensibilidade em posições chave, sobretudo na gestão dos recursos humanos. Claramente, as Gerações de 1996, 1998 e 1999 foram todas elas afectadas nos passados 2 anos. É uma questão estrutural e que está relacionada com questões de competência, experiência e sensibilidade para o trato com os jovens, desorganização, excessiva acumulação de cargos, alguns deles por pessoas de competência "amadora", e isto resulta de dois factores: a menor folga orçamental e a má/insensata gestão de recursos humanos.
- Quais são os problemas que identificaria como sendo específicos de cada escalão e quais os que resultam da própria organização?
O Sporting necessita de um Director Geral da Formação que conheça o meio em que se movimenta, que conheça os jogadores e treinadores (dentro e fora do Sporting), que seja sobretudo um agregador de competências, que saiba liderar, que saiba criar e gerir uma dinâmica social que permita extrair o máximo potencial profissional de todos os seus colaboradores, e não obstante ser ele o líder máximo, que dê valor à opinião das pessoas competentes que o rodeiam. As Hiperlideranças “asfixiam” quem as rodeiam, e só funcionam quando o Hiper Líder é alguém de inquestionável competência.
O Sporting necessita de um Coordenador Técnico da Formação que para além da competência possua capacidade de liderança (e algum carisma) para se impor e ser respeitado pelos seus superiores hierárquicos e consequentemente conquistar a sua autonomia dentro da estrutura.
O Sporting tem que apostar nos melhores treinadores, nos José Limas, nos Pedros Gonçalves, nos Tiagos Capazes, nos Tiagos Fernandes, nos Nunos Lourenços (é inconcebível que esteja a treinar os Sub-13 quando tem mais capacidade e experiência do que alguns em Alcochete), os Pedros Pontes, etc. Tem que ser capaz de atrair os Brunos Lages, os Luíses Nascimento, talvez um Luís Araújo, de trazer de volta o Bruno Freitas, de potenciar um Bernardo Bruschy, de ir buscar as 4 ou 8 pedras basilares que lhe permitam reerguer o seu Departamento de Recrutamento para os níveis em que estavam em 2005-2007, etc.
Relativamente ao Professor João Couto que agora regressa ao Sporting, gostaria de dizer algumas coisas. É um amigo, é um Sportinguista com "S" grande, é um Homem com "H" grande e, em condições ideais, é um treinador muito acima da média.
O Professor João Couto foi Professor de Educação Física na minha velha Alma Mater, o Colégio São João de Brito, é alguém que foi campeão nacional de Juvenis duas vezes pelo Sporting (em 2004/05 com a geração de 1988 e em 2005/06 com a geração de 1989), bem como campeão nacional de juvenis pelo Benfica em 2007/08 com a geração de 1991.
Mas, do passado vivem os museus, e o Professor terá que demonstrar nestes novos tempos, com outros constrangimentos (orçamentais e não só) e com outros jogadores, o que consegue fazer. Na globalidade ele é um grande reforço, não apenas pela sua qualidade enquanto treinador, mas igualmente como ser humano, é uma pessoa afável, amiga dos jogadores, disciplinador quando necessário, é um bom psicólogo, e é um Mister que sabe ter os jogadores com ele.
Espero que os Sportinguistas não queiram fazer do João Couto um "São João", ele é em condições normais INQUESTIONAVELMENTE uma mais-valia, mas ele sozinho não fará milagres. Esqueçam isso, ele não tem nenhuma varinha mágica, ele é apenas mais uma peça (neste caso, uma boa peça) na engrenagem, mas os Sportinguistas não se podem esquecer que os Joões Coutos e os Luíses Martins foram campeões com gerações de jogadores muito acima da média, não foi com jogadores medianos nem com coordenadores medianos.
O João Couto tem qualidade, mas necessita igualmente que lhe dêem qualidade para ser trabalhada e necessita de estar rodeado na estrutura de outros elementos de qualidade. Para mim, o Professor João Couto é indiscutivelmente uma referência, tal como é o Mister Luís Martins, o Mister Bruno Lage, o Mister José Lima, e outros que também têm muita qualidade profissional e humana, mas que infelizmente nem sempre recebem o reconhecimento que tanto mereciam.
- Quer apontar algumas medidas de curto prazo que tomaria para devolver alguma normalidade já na próxima época a este sector tão querido dos Sportinguistas?
Muitas vezes se tem falado que "o Sporting forma bons jogadores, mas não forma bons homens" e em relação a isso gostaria de dizer o seguinte, que tanto uma formação como a outra não é complicada de se atingir, desde que os jovens tenham em seu redor os profissionais e as personalidades certas.
Como se formam os bons jogadores?
Antes de mais, é necessário ter boa matéria prima e é aí que entra um bom Departamento de Recrutamento e cujo trabalho (bom ou mau) nunca pode ser descurado e que pode ter repercussões (positivas ou negativas) que só se sentirão 5-12 anos no futuro. Tendo já jovens talentos, para formar bons jogadores é imperativo essencialmente ter os melhores treinadores, os melhores nutricionistas, os melhores especialistas em treino de força e em Prevenção/Reabilitação de lesões, os melhores psicólogos e as melhores infra-estruturas. É tão simples quanto isso, os melhores nas suas respectivas áreas para potenciar a melhor matéria prima aplicando-lhe as três traves mestras; o Treino, a Nutrição, e o Repouso.
Como se formam os bons homens?
Quando um jovem do sexo masculino entra na adolescência está numa fase em que a sua personalidade se começa a afirmar, e a sua personalidade será um reflexo das pessoas que o rodeiam. Todos os jovens necessitam de um forte exemplo masculino (o Pai) e um forte exemplo feminino (a Mãe) nas suas vidas, mas quando os jovens passam muito tempo longe dos encarregados de educação, é importante que tenham em seu redor homens sérios, homens leais, homens corajosos, homens íntegros, homens trabalhadores, homens sociáveis, todos eles valores importantes que os jovens possam assimilar.
Agora, se um jovem entre os 13 e os 19 anos estiver rodeado de homens introvertidos, intelectualmente desonestos, cobardes, nervosos, ansiosos, bajuladores, ordinários, sexistas, tabagistas, alcoólicos, narcisistas, etc, obviamente que esses maus exemplos mais do que provavelmente irão afectar negativamente o desenvolvimento da personalidade do jovem.
Isto aplica-se a qualquer colaborador que possa entrar em contacto com os jovens atletas, mas focando-me mais agora nos treinadores, os atletas precisam de treinadores que para além de competência e profissionalismo, precisam que esses treinadores sejam homens exemplares, pois quer tenham consciência disso ou não, esses treinadores têm nas mãos uma enorme responsabilidade, pois estão a ter um profundo impacto na formação da personalidade desses jovens.
Eu prefiro que atletas entre os 7 e os 12 anos sejam acompanhados por psicólogas e de preferência psicólogas relativamente jovens, com idades compreendidas entre os 25 e 35, e que para além da ciência da psicologia, que venham igualmente dotadas de humanismo. Mas, para acompanhar jogadores adolescentes ou adultos prefiro que esse acompanhamento seja feito unicamente por psicólogos. Não faz qualquer sentido um jogador de 14-17 anos andar a ser acompanhado por uma mulher de 20-35 anos, para mim isso é uma "farsa". A capacidade de empatia é reduzida, e as psicólogas nunca poderão nem deverão tentar assumir o papel pouco ético de "mães substitutas".
Quando falo em psicólogos e psicólogas, estou obviamente a falar dos melhores e não de profissionais medianos ou medíocres, pois esses apenas representam mais um nome e mais um "peso" na folha salarial e pouco ou nada têm a oferecer em termos de contribuição para a formação do homem ou do atleta. Se alguma coisa, estarão a acrescentar o nome “Sporting Clube de Portugal” ao seu CV, para que mais tarde possam tentar monetizar essa experiência acumulada ao serviço da instituição.
Que fique claro que considero que existem boas psicólogas e com capacidade para lidarem com adolescentes do sexo masculino e com homens mas, com o devido respeito, essas na sua maioria são profissionais com 25-30 anos de carreira. Estamos a falar das melhores, portanto, profissionais que devido ao seu talento e experiência já possuem capacidade para entender a psique masculina de um adolescente.
Tendo dito isto, continuo a acreditar que o "Psicólogo Primário" deve ser sempre o treinador, e esta é uma área em que obviamente alguns treinadores têm maior sensibilidade do que outros, e que tem tanto a ver com conhecimentos adquiridos em Pós-Graduações em Psicologia, como tem a ver com a própria personalidade dos treinadores, pois há quem tire todos os cursos possíveis sobre Psicologia ou Psiquiatria, mas falta-lhes o humanismo ou as competências sociais necessárias para conseguirem compreender os seus “pacientes“.
Acredito igualmente que os jovens mais do que sessões de psicanálise enfadonhas e intrusivas ou de "elogios gratuitos", deviam ter a oportunidade de participar no maior número possível de actividades sociais e culturais. Na adolescência necessitam sobretudo de socializar, de fazer amizades, de arranjarem namoradas e de aprenderem por experiência própria a controlar as suas emoções, para evitar que mais tarde sejam adultos que sofram de desequilíbrios ou descontroles emocionais que, muitas vezes são interpretadas como sinal de imaturidade e revelam-se como um obstáculo intransponível para a sua afirmação no futebol ao mais alto nível. Estamos a tentar formar homens e não "robots" anti-sociais.
A medida primária que tomaria seria a criação de uma estrutura capaz de governar a Formação e Prospecção do Sporting, uma estrutura que reuniria competências diversas e que tornaria a estrutura mais flexível, moderna e pedagógica, com capacidade de se adaptar às contingências da Formação e Prospecção moderna, com gestão substancialmente mais lúcida, democrática e meritocrática dos recursos humanos disponíveis, e o desenvolvimento de uma verdadeira estratégia de optimização do Sporting B como plataforma competitiva intermédia.
Para que isto fosse possível seria necessária uma reestruturação de recursos humanos que envolveria a dispensa de vários colaboradores que não estivessem 100% comprometidos com o espírito do novo projecto, e seria igualmente necessária a entrada de profissionais de inequívoca competência e experiência nas áreas onde seriam chamados a intervir.
Post-Scriptum: O Sporting necessita rever o seu projecto "Férias Academia". É certo que o Sporting encara esse projecto mais pela vertente comercial, e os jovens que o frequentam mais pela vertente social, ou seja, nenhuma das partes está necessariamente interessada em formar jogadores ou em incutir bons hábitos que permitam a um jovem aspirar a ser jogador, mas, é inaceitável que alguns dos treinadores responsáveis pelos treinos estejam obesos (não estão gordos, estão obesos, e alguns nem 30 anos devem ter).
Há igualmente que ter maior atenção à forma dos jovens quando executam os exercícios durante os treinos de modo a evitar lesões. Mas o pior, é sem dúvida a alimentação que permitem a essas crianças e adolescentes; pequenos-almoços com Chocapic e Coca-Cola, almoços com bifes de vaca "encharcados" de molhos e acompanhados de batatas fritas e doces, e jantares em que podem consumir doses industriais de hidratos de carbono (será que isto os conduzirá a uma boa higiene de sono?), em suma uma alimentação péssima a todos os níveis e que pode ajudar a tornar esses jovens em futuros diabéticos quando atingirem a meia-idade. Irresponsável e inaceitável.
Saudações Leoninas,
André Carreira de Figueiredo.
*André Carreira de Figueiredo é o director do jornal desportivo online "Academia de Talentos e que há vários anos acompanha a formação do Sporting.