Não é fácil fazer uma avaliação justa de uma equipa que está a trabalhar há apenas 15 dias. A resposta dos jogadores nos jogos surge muitas vezes condicionada pelas dificuldades impostas no plano físico pelos primeiros dias de trabalho, mesmo que já estejam em desuso as grandes cargas físicas de outrora. A essas acrescentam-se a total compreensão do que lhes é pedido no plano táctico e o respectivo desempenho prático. Respostas que surgem de forma individualizada, porque cada jogador reage a todas estas condicionantes de forma muita própria. Por isso os primeiros jogos são sobretudo indicativos de determinadas tendências, que se podem vir a confirmar ou não.
No caso especifico do jogo de ontem creio que não é muito conclusivo. Marco Silva optou por manter a titularidade dos jogadores da época passada, com excepção de Rosell, que ontem foi uma espécie de William branco. Usando a gaffe da estreia da Sporting TV pode-se dizer com alguma propriedade que tivemos em campo um William Rosell.
Como interpretar o conservadorismo de Marco Silva? Há várias respostas possíveis, pode até dar-se o caso de não ser apenas uma, mas um misto de várias.
A primeira que ocorre é que o treinador quer servir-se da base de trabalho de Jardim, dos mecanismos deixados pelo anterior treinador, antes de introduzir o seu cunho pessoal. Dessa forma a equipa caminha sem grandes sobressaltos que a introdução de novos mecanismos podem suscitar. Outra resposta possível é que a atitude prudente do treinador visará que os novos reforços tenham uma introdução gradual, não os expondo numa equipa e futebol que ainda desconhecem. A menos desejável de todas é que os que chegaram não conseguem oferecer mais do que os que já cá estavam. Só o decorrer do tempo poderá esclarecer estas dúvidas.
Indo ao jogo de ontem em concreto, podemos dizer que teve duas partes distintas. A primeira, com a equipa preenchida com a quase totalidade de jogadores do ano passado, com acima foi aludido, o Sporting chegou ao intervalo com um resultado muito melhor do que a exibição produzida. Assinalem-se também a excelência dos golos de Wilson e Martins. Contudo, o que o 2-0 mascaram foi uma enorme dificuldade em ligar o jogo, com uma distância entre sectores a isolar os jogadores da frente, em particular Montero, que não foi servido uma única vez.
A dificuldade em contornar as 3 linhas que Lito Vidigal posicionou à frente da bola, a partir da linha do seu meio-campo só uma ou duas vezes foi ultrapassada pelo interior por André Martins, mas em jogadas que não tiveram sequência. Dessa forma o Sporting teve que "voltar"ao ano passado, bombeando bolas a partir das laterais, mas sem criar grande perigo. A forma compacta como o Belenenses defendia permitia-lhe sair com vários jogadores para o ataque, criando quase sempre perigo, numa defesa que se via a braços com dificuldades com os jogadores azuis a chegarem à sua frente sem grande oposição e com a bola controlada. Melhor o resultado, que penalizou os azuis, e que deu uma sensação enganadora de domínio, mas que não passou de controlo relativo, que a exibição produzida.
A segunda parte foi condicionada pelas muitas alterações introduzidas. Marco Silva ainda tentou diminuir o seu impacto no ritmo da equipa fazendo-as de uma assentada ao invés das entradas às pinguinhas. Mas, com o Belenenses a perder e com necessidade de correr atrás do resultado, o Sporting pressionou pouco permitindo várias chegadas à sua área com perigo, não conseguindo, por outro lado, fazer uso do maior espaço agora concedido à sua frente. A saída de Rosell acentuou um certo desnorte, deixando de haver respostas colectivas organizadas. Mais do que o golo consentido - Geraldes esteve muito mal, aquela postura nem numa peladinha, acabando por ser penalizado - foram a quantidade de oportunidades consentidas que mereceram destaque.
Estou convencido que Marco Silva terá gostado muito pouco do que viu nesse período. É também para isto que servem estes jogos, onde errar não tem o carácter destrutivo de um jogo a sério. Uma vitória sem brilho, o que talvez seja pedir muito nesta fase da época, mas a deixar várias interrogações para resolver na cabeça do treinador.
No plano individual, para lá do destaque feito a Rosell, assinale-se a prestação de Boeck e Dier. O guarda-redes brasileiro, sem ser um jogador excepcional, é bom no que faz. impressionando a sua postura séria e profissional nos treinos, nos aquecimentos, nos jogos. Dier esteve quase sempre imperial, quer a defender quer a tentar sair a jogar. Muita confiança exibida e disponibilidade física de André Martins, faltando uma unha, aqui e acolá, na forma como decidiu alguns lances.
Dos restantes reforços, fica a apreciação para próxima observação, uma vez que saem nitidamente prejudicados pelo momento pouco favorável em que participaram. Embora, como é óbvio, parte dessa responsabilidade lhes cabe a eles como protagonistas. Em jeito de agência de rating ficam sob observação Paulo Oliveira e Slavechev. Já Tanaka foi muito difícil descortinar o que esperar dele, se um 9 ou um 10...
Concordo com a análise. Foram, de facto, duas partes demasiado distintas. Gostei da primeira. Não gostei da segunda... perdemos completamente o meio campo, sobretudo após saída de Rosell (boa surpresa). A falta de entrosamento dos reforços que jogaram na segunda parte pode justificar a quebra de qualidade, pelo que analises aprofundadas dos jogadores com base apenas neste jogo não serão correctas.
ResponderEliminarContudo, não posso de deixar de confessar a minha desilusão perante um reforço em particular, uma vez que vinha rotulado como futuro central titular da selecção, o Paulo Oliveira. Pareceu demasiado frágil, sem mostrar grande capacidade de antecipação, a perder frequentemente duelos com os adversários, sem conseguir impor-se nas bolas aéreas... Enfim, espero que tenha sido apenas 45 minutos mal conseguidos e que melhore substancialmente no futuro. Tenho fé, pois apesar de não ter acompanhado suficientemente a sua carreira previamente à ingressão no Sporting, a quase totalidade da comunicação social elogiou a sua contratação. Mas terá de fazer bem melhor se quiser substituir Rojo a mesma qualidade.
No sentido inverso, claro que adorei ver Dier cumprir os 90 minutos. Bons sinais! Fez um bom jogo e estou novamente cheia de esperança que o miúdo inglês se mantenha de leão ao peito.
SL