A medalha do Prata para Domingos
A imprensa tem ainda destacado pequenos dados abonatórios, como a circunstância de a goleada (6-1) imposta ao Gil Vicente ter igualado o melhor resultado conseguido desde Novembro de 2004, quando o Sporting de José Peseiro bateu o Boavista de Jaime Pacheco. Acrescente-se o facto de ser o clube com mais faltas sofridas na Liga (factor que, a par do tempo de posse de bola, reflecte o domínio dos jogos), os quatro golos marcados na sequência de cantos (o que vinha sendo uma raridade no clube) e os seis golos apontados por jogadores que começaram os jogos no banco de suplentes. A maioria destes indicadores serve ainda para valorizar o papel do treinador.
Mas, em apenas mês e meio, o que é que mudou de tão substancial de forma a transformar uma equipa pouco sinfónica noutra que até sofre de incontinência goleadora? Alguns responderão que a diferença teve a ver com a melhoria do desempenho dos árbitros. Sendo verdade que o Sporting foi algo prejudicado nos jogos iniciais, isso não basta para justificar a forma desgarrada e errática como se apresentou nessa fase.
A iminência da desgraça e os 15 minutos memoráveis que evitaram a queda no precipício em Paços de Ferreira pareceram ter unido a equipa. Hoje, o Sporting mostra uma alma que contagia e até um certo vigor juvenil, expresso também na forma como vem marcando golos nos primeiros minutos, o que acaba por tornar os jogos mais fáceis.
Desde então, as hierarquias da equipa estão a ficar cada vez mais definidas e tudo parece funcionar de memória. E até a generalidade dos 17 reforços já parece sintonizada na mesma onda. Durante aquela fase difícil, foi importante o conforto dado pelo presidente Godinho Lopes. Mas bem mais determinante deve ter sido Domingos, que soube funcionar como um pára-raios quando as coisas começaram por correr mal e, depois, como um gestor motivacional.
O espanhol Juan Lillo disse um dia que um treinador deve ser como Deus: estar em todos os sítios, mas nunca visível. Domingos parece seguir essa cartilha. Percebe-se que se impõe no balneário com uma liderança tranquila, sem excessos de autoridade, mas com uma frontalidade e abertura desarmantes. Claro que nenhum treinador pode estar completamente formatado com 42 anos e somente cinco épocas no escalão principal. Isso nota-se, por exemplo, na forma demasiado transparente como ainda se expõe no “banco”, quando o semblante e os gestos revelam em demasia o peso dos resultados negativos.
Começar mal não é uma novidade para Domingos. Aconteceu-lhe o mesmo há dois anos em Braga, onde teve uma pré-temporada desastrosa (foi eliminado das provas europeias pelos suecos do Elfsborg) e chegou a ter o lugar em risco. E, há um ano, seguia a dez pontos do líder FC Porto logo à passagem da sétima jornada.
Tal como no Braga, Domingos começou, também em Alvalade, por ensaiar alguns desenhos tácticos. Antes de estabilizar no actual 4x3x3, passou pelo 4x2x3x1 e pelo 4x1x3x2. No último jogo, aproveitou a segunda parte, quando a vitória já era um dado adquirido, para testar o 4x4x2 clássico, com Elias e Schaars no meio e Diego Rubio e Carrillo a funcionarem como médios interiores/alas, sobrando na frente a dupla Wolfswinkel e Bojinov. É uma solução de menor equilíbrio, mas que pode vir a ser útil em determinados jogos em que seja necessário arriscar mais.
Tão ou mais importante do que a estabilidade táctica foi a definição da equipa. Domingos chegou a ser acusado de utilizar em demasia os jogadores que já estavam no clube. Mas isso, com o tempo, até resultou vantajoso: mostrou aos reforços que esse estatuto nada lhes garantia e provou aos outros que não iriam ser ostracizados. A mudança aconteceu em Paços de Ferreira, onde Rui Patrício e João Pereira foram os únicos “da casa” a sobreviver. A partir daí, a equipa foi subindo de produção, passando a dominar os jogos com soluções variadas: em posse, em pressing e com agressividade ou antes com uma dinâmica criativa, conforme as circunstâncias.
Durante esta travessia, algumas unidades mostraram ter um peso específico na equipa. Foi o caso de Patrício, mas também de Rinaudo, que trouxe uma agressividade e uma entrega contagiantes. Schaars garante geometria e boa execução nas bolas paradas. Elias é, obviamente, um caso à parte. Tem tudo o que os outros têm, mais a velocidade, a verticalidade e o virtuosismo que só estão ao alcance de uns quantos. Mas não deixa de ser verdade que o Sporting segue na Liga Europa só com vitórias, sem nunca ter podido utilizar o brasileiro...
A par de Elias, o reforço garantido com melhor selo de qualidade foi o jovem Jeffren. A lesão que tem afastado o extremo espanhol da competição permitiu a afirmação de Capel. Este não consegue jogar com a cabeça levantada nem tem a inteligência de jogo nem o pedigree do seu compatriota formado no Barcelona. Mas funciona como um agitador nato. Acaba por dar acutilância ofensiva e, mais do que isso, tornou-se num jogador-fetiche. Tem ajudado a encher as bancadas, tal como Carrillo, que promete transformar-se num craque de nível mundial. Mais do que enfraquecer a equipa, as saídas de Djaló e Postiga ajudaram a dar estabilidade ao plantel, agora livre de duas unidades malquistas por boa parte dos adeptos. Mais, a venda em saldo do ponta-de-lança teve a virtude de abrir caminho à afirmação de Wolfswinkel, a quem muitos, precipitadamente, tinham começado por torcer o nariz.
Os jogadores do Sporting valorizaram-se e valem claramente mais do que valiam há dois meses. Nessa matéria, Domingos deixou também a sua impressão digital. Porque tem sabido aproveitar as ausências forçadas ou a gestão do plantel para provar que Evaldo até pode ser útil como alternativa a Insúa. Porque soube primeiro valorizar Izmailov e, depois, reclamar a sua recuperação total. Porque tem sabido provar a utilidade de Pereirinha e a necessidade de dar tempo a jogadores em má forma física ou psíquica, como era o caso de Bojinov.
Mas Domingos é um treinador que está mais próximo da escola italiana do que da holandesa ou de outra qualquer que arrisque sempre num jogo franco – nesse aspecto, é mais parecido com Mourinho do que com Guardiola. As suas equipas assentam, primeiro que tudo, na estabilidade defensiva. Nessa vertente, a qualidade do seu trabalho salta à vista. Rodriguez, o central menos lento do plantel, tem estado quase sempre lesionado e Onyewu é muito alto, mas tem limitações evidentes.
Mesmo assim, o Sporting melhorou e passou a apresentar um comportamento defensivo elogiável. De tal forma que já ninguém repara que as coisas continuam a funcionar sem mácula quando há a necessidade de jogar com Polga e Carriço, que no ano passado foram apontados como os pais de tantas derrotas. Melhor seria, no entanto, que o Sporting aproveitasse a reabertura do mercado, em Janeiro, para melhorar este sector. Até porque as grandes batalhas internas ainda estão por travar.
Enquanto isso, Domingos vai ter de continuar a pôr água na fervura. Porque não é fácil treinar um clube com as limitações e o passado recente do Sporting e, ao mesmo tempo, ouvir o presidente da assembleia geral (Eduardo Barroso) dizer que o Sporting para passar a ser “o principal candidato ao título” só precisa de vencer o Benfica na Luz, dentro de três jornadas...
A defesa o ano passado foi injustamente acusada de problemas que começavam no meio campo que não marcava e defendia pouco. Tiveram a sua quota parte de responsabilidade é verdade mas também serviram de bode expiatório para muita gente ... De resto concordo em absoluto com a análise embora acrescente que mesmo no inicio da época com os maus resultados a equipa não estava a jogar tão mal como alguma imprensa apregoava (com as excepções dos jogos contra os dinamarqueses que foram realmente uma tristeza)
ResponderEliminarQual sera a média de espectadores em Aveiro ???
ResponderEliminarNão acho que o Onyewu tenha "limitações evidentes". Basicamente, desde que ele entrou o perigo das bolas pelo ar diminuiu imenso e os avançados levam com uma dose tal que chegam ao intervalo todos moídos. Eu diria que Onyewu é um central como já não tínhamos desde Phill Babb ou então de Enakharire, ainda que este fosse tecnicamente muito superior tanto ao Babb como ao Onyewu.
ResponderEliminarConcluindo, se há central que para mim neste momento é indiscutível é o Onyewu!
Fernando Vascondelos,
ResponderEliminarConcordo na generalidade. Como dizia ontem alguém a diferença do nosso jogo com o Olhanense e o de ontem foi que marcamos 2 golos limpos mas empatamos 1-1...
Quanto à média de espectadores em Aveiro li hoje algures que já teriam sido vendidos 9000 bilhetes.
LdA,
ResponderEliminarBoa análise! Saliento a estupidez da declaração de Eduardo Barroso. São daquelas declarações perfeitamente dispensáveis e que só podem causar mais danos do que dividendos seja qual for o resultado no jogo em questão.
Também me parece que o central americano tem limitações notórias. Acho isso muito evidente apesar das qualidades em alguns aspectos que também tem.
Eu dou o grande mérito da qualidade actual do jogo do Sporting ao nosso treinador. É indiscutivelmente um óptimo treinador. Finalmente temos treinador!!
(parece-me que ontem, os porcos tb se podem queixar de um penalti e de um golo mal anulado, apesar de nao serem tao evidentes e escandalosos como os nossos frente ao olhanense )
SL
Querem fazer troca de links? ja adicionei o vosso no meu blogrool, espero que façam o mesmo! obrigado. link : http://universoleonino1906.blogspot.com
ResponderEliminarEu concordo, mas indubitavelmente o Domingos equivocou-se no início da época. Ver a equipa titular que lançou contra o marítimo dá-me arrepios. Mas como excelente treinador que é deu a mão à palmatória e foi a paços com um onze completamente diferente. Os 15 minutos de paços foram importantes, mas não me parece que o "11" que jogou contra o marítimo conseguisse essa reviravolta. E ainda para mais num jogo que começa pessimamente, com tudo contra o Sporting.
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