Um jogo de características e eventos estranhos este com os bracarenses. A primeira nota de estranheza vai para a fraca afluência de público a Alvalade. As férias de Carnaval estão longe de ser um fenómeno generalizado entre a população activa, pelo que não explicam nada. O mau tempo também me parece explicação curta.
Uma das melhores épocas dos últimos anos não tem estado a merecer o acompanhamento que é habitual nos jogos em casa, facto que não se verifica com tanta acuidade nos jogos fora, tendo em conta os valores médios habituais. A merecer análise cuidada por quem de direito. Perceber as razões que estão por trás do aparente alheamento é fundamental para se proporcionar um novo e melhor enquadramento.
Segunda nota estranha para um dos jogos em que o Sporting mais tenha dominado o Sporting de Braga nos últimos tempos mas que, por comparação, lhe proporcionaram muito poucas oportunidades de golo. Na primeira parte a melhor oportunidade foi do Braga, que haveria de redundar no golo quase patético às 3 tabelas: Rafa, poste e pé de Patrício.
Esta é a terceira nota estranha, um golo como estes é raro, sobretudo ao nível de guarda-redes como Rui Patrício. Quanto a mim a única interpretação possível é que Patrício perdeu o contacto visual com a bola em algum momento ou foi traído pelo sentido do ricochete no poste. Um golo que o Braga pouco ou nada tinha feito para merecer. Uma punição imerecida e repetida em jogo consecutivo.
Como o futebol é um jogo de imponderáveis seria um penalty a repor alguma justiça no marcador, seguido de um golo de Slimani, de bem mais difícil execução e probabilidade de êxito do que outras oportunidades de que havia disposto. Um golo que aumenta as suas percentagens de eficácia/minutos de jogo e, dessa forma, coloca algumas interrogações sobre em quem recairá a titularidade no próximo jogo. Julgo que o presente jogo contudo serviu para reforçar as impressões anteriores: Montero e Slimani oferecem soluções diferentes à equipa, cabe ao treinador preparar a equipa de acordo com as características de cada um. Talvez, quem sabe, seja o momento de apostar naquele que está com melhor relação com o golo.
Uma palavra final para a estranheza final: é pouco habitual ver o Sporting a jogar em casa com a aflição com que ontem acabou o jogo e que já se tinha notado também em Vila do Conde. Jardim explicou-a com a falta de maturidade. Eu encontro explicação na forma como mexeu na equipa. Jardim foi à procura da vitória num determinado momento, mas, quando esta chegou, a equipa estava longe de ser a que melhor estava habilitada para gerir o jogo. Essa gestão implicava forte reacção à perda e gestão criteriosa da posse de bola. Com Martins, Vitor e Carrillo estaria, pelo menos em teoria, muito mais perto de o conseguir do que com Heldon, Magrão e Capel, embora a entrada do espanhol seja merecida e indirectamente responsável pela mexida na defesa de Paixão que haveria de ter influência no curso do marcador. É essa a importância tantas vezes subestimada de Capel.
Notas individuais:
Patricio - ficou quase tudo dito acima resta apenas dizer que soube mais uma vez responder ao infortúnio com grande serenidade, sendo importante ainda na manutenção da vitória.
Cédric - Faz quase tudo bem mas tem que tomar melhores decisões ao definir as jogadas e sobretudo centrar muito melhor. Muito do nosso jogo passa, por opção nítida de Jardim, pela execução desse tipo de lances pelo que só lhe resta aprimorar a sua execução.
Jefferson - centrar é o que ele faz melhor e desta vez estreou-se a marcar. Ficamos a aguardar pelos livres que o tornaram famoso.A defender tem de ser mais cuidadoso. Não que tenha falhado muito mas às vezes basta apenas uma vez e a de ontem podia ter comprometido a equipa num momento importante.
Maurício e Rojo - opto pela análise conjunta porque é nítida a empatia pessoal e o entendimento. Ontem foi um Rojo imbatível e concentradíssimo quem esteve por cima ao vir várias vezes limpar jogo à direita.
William Carvalho - Um caso em que o melhor é não dizer nada ou então tens que escrever muito. Imperial para o classificar parece quase um diminutivo.
André Martins - Não vou dizer muito mais do que já disse anteriormente. Continuo convencido, à semelhança do que disse no inicio da semana que, face à ausência de Adrien, o lugar podia ser dele, com ganho para a equipa.
Gerson Magrão - Compreendo as diversas razões subjacentes aos elogios de Jardim mas parecem-me exagerados face ao que produziu. Pouco intenso a defender, pouco exacto a definir, falta-lhe sempre alguma coisa. Nos momentos em que a equipa precisava de experiência é para jogadores com o seu estatuto que se olha. No caso de ontem "já não estava lá". Em seu abono fica a falta de ritmo, entrar e jogar ao mais nível é muito raro de se ver.
Mané - Jogador vital nos últimos jogos para a obtenção dos resultados. As suas acções directa ou indirectamente alteraram o curso dos acontecimentos. Que mais e melhor se pode dizer de um jogador da sua idade?
Carrillo - Um jogador especial e que merece atenção especial. No cantinho do meu sofá digo muitas vezes: ide assobiá-lo à ....
Slimani - Também já ficou quase tudo dito. Tem golos que têm valido muitos pontos. Chamar-lhe plano B nestas circunstâncias é ignorar que o A vem sempre antes do B, o mesmo é dizer que sem golos não 3 pontos. Para reflectir, sem dúvida.
Heldon - Não vou acrescentar nada ao que disse dele anteriormente, até porque o que fez ontem não trouxe nada de novo à colação.
Sobre a arbitragem uma palavra: gostei. Não que não tivesse isenta de erros pontuais mas percebeu-se da acção da equipa de arbitragem que não vinha com uma agenda escondida, como tantas vezes tem acontecido, até mesmo este ano em Alvaldade. Dizer isto do Soares Dias é um grande elogio, não é?
A maior nota de estranheza, e para rematar esta crónica, fica para o minuto de silêncio que não foi respeitado. O Sporting nunca foi isto e é uma pena que dê esta imagem de si mesmo.
Já o copiei para vários sítios, fica aqui tb...
ResponderEliminarÉ de Sir
http://1.bp.blogspot.com/-vCngo3vtzVQ/UxJpKzqHtTI/AAAAAAAACJU/GnLm6XNxvRs/s1600/william.gif
Chamo a isto memória futura....
Depois de ler o teu post (coloquei o comentário anterior ainda sem o ter lifdo) e ver a tua apreciação a Sir William, que melhor ilustração para o descrever que o GIF que eu copiei no comentário anterior..
ResponderEliminarConcordo com quase tudo, excepto com a apreciação ao heldon.
SL
Menos gente em Alvalade deve-se à conjunção de dois factores: dissipação da crença de que é possível chegar ao título entre muita gente e redução do poder de compra de uma parcela significativa de frequentadores mais ou menos habituais em Alvalade - os funcionários públicos, que sempre constituíram uma das principais fontes da procura dos estádios dos três grandes, acabaram de levar uma bordoada monumental nos seus rendimentos líquidos.
ResponderEliminarQuanto à cena "lamentável" das claques, não a subscrevo mas compreendo-a. Basta-me imaginar o que terá o conteúdo da interacção com benfiquistas a que os membros das ditas terão sido expostos nas últimas semanas desde o jogo da Luz. É difícil manter o "fair-play."
"Uma das melhores épocas dos últimos anos não tem estado a merecer o acompanhamento que é habitual nos jogos em casa, facto que não se verifica com tanta acuidade nos jogos fora, tendo em conta os valores médios habituais. A merecer análise cuidada por quem de direito. Perceber as razões que estão por trás do aparente alheamento é fundamental para se proporcionar um novo e melhor enquadramento."
ResponderEliminarPalavras que suscitariam certamente um debate interessante,mas a assistência reportada foi de 30 294,o que é uma boa casa.De facto,quando o estádio tem aquele aspecto,o resultado costuma andar em torno de 25 000.Não quero acreditar que não estejam a dizer a verdade, portanto foram... 30 294.
A média é de 33 022(só Liga Sagres,baixa se incluirmos as outras competições),também um bom resultado.Portanto ontem houve algo semelhante a uma ilusão de óptica,O estádio costuma parecer mais cheio quando tem mais de 30 000.
António Gomes,
ResponderEliminarFiquei sem perceber qual foi o motivo de desacordo relativamente à apreciação do Héldon:
"o que fez ontem não trouxe nada de novo à colação." foi o que eu disse enão creio que possa ser desmentido.
Anónimo:
Não é uma questão de fair-play é uma questão de identidade. Logo qualquer comparação com quem quer que seja não se justifica.
Leão G:
Duvido que estivessem 30 mil em Alvalade.
Eu tb tive duvidas nos números apresentados com o Arouca, Maritimo e Nacional, para citar 3 de alguns jogos onde estive...
ResponderEliminarDando de barato que é "uma questão de identidade", Leão de Alvalade, não existem identidades não relacionais. A "identidade sportinguista" é um produto de uma rivalidade com mais de um século de existência, rivalidade que, na rede em que se tecem as "identidades de claque", inclui uma gramática de vexação/humilhação. Pedir/esperar que ela seja neutralizada na hora de prestar homenagem a um dos "grandes" do "clube rival" é pedir/esperar algo que, em si, é uma enorme violência.
ResponderEliminarO ponto. Não vale a pena condenar estas formas inofensivas de boicote a esta "normalização normativa" a que os "bons mortos" sempre convidam.
À margem. Fui ontem a Alvalade, como antes fui a todos os jogos da Liga lá jogados esta época. Também eu duvido que estivessem 30 mil espectadores em Alvalade.
SL
Anónimo das 14:37,
ResponderEliminarcomentário pertinente, talvez até mais do que isso. Mas insisto na condenação. Coluna foi indiscutivelmente um grande símbolo benfiquista mas foi também um enorme jogador de futebol e um adversário leal, tanto quanto me foi transmitido. Mas justamente por reconhecer e descontar as questões relativas à rivalidade que não lhe dediquei mais do que 2 linhas incompletas.
Leão de Alvalade,
ResponderEliminarDe acordo em praticamente tudo.
Lamentável o comportamento no minuto de silêncio, em memória de alguém que sempre soube respeitar o Sporting. O Presidente tem tido uma influência importante e pedagógica no sentido de se diminuirem os estragos nos estádios adversários e as consequentes multas, penso que desta vez deveria vir novamente falar. Aquele comportamento não é à Sporting, e o mesmo diria se o minuto fosse em memória do João Gabriel...
Sobre o número de espectadores em Alvalade, eu só acredito no número que foi dado (30mil e tal), porque quem está no estádio pode reparar que as Superiores estão mesmo muito compostas. Este ano tem-se notado o vazio é nas centrais, sempre com muitas clareiras. Penso que a principal razão é que o preço das Gameboxes e, especialmente, de bilhetes de jogo para as centrais ser muito elevado. Diria que é um sintoma da crise. Além de que as centrais têm o problema de estarem cheias de lugares especiais, que estão "reservados" até 72 horas de qualquer jogo.
A minha sugestão é tentar preencher ao máximo as centrais com "Gameboxes família" (tipo as primeiras filas, ou sectores mais laterais), e ser mais "flexível" com os preços, e com as regras para composição das famílias (em vez de ser pai+mãe+filhos, poder ser avô+avó+tia+pai+sobrinha+primos). Acho que era útil, dava mais juventude e convívio ao estádio, e fidelizava-se muita gente desde tenra idade.
sobre o titulo arrisco a solução para as reticências: trabalho?...
ResponderEliminar:)
Sobre o minuto de silêncio, de acordo com a condenação e sublinho isto, escrito pelo JPDB: "Lamentável o comportamento no minuto de silêncio, em memória de alguém que sempre soube respeitar o Sporting."
Como ontem só pude ver a primeira parte, excuso-me de tecer comentários sobre o jogo, mas folgo com a vitória e os 3 pontos alcançados.
Publico: o facto de o próximo jogo em casa ser com fcp pode ter pesado na adesão a este jogo...
SL
Gosto muito deste blog, mas esforça-se tanto para ter uma análise imparcial, que às vezes é demasiado quer na visão dos jogos, quer individualmente dos jogadores. Vai um bocado atrás das modas dos rótulos aos jogadores.
ResponderEliminarAnónimo das 9:33,
ResponderEliminarAceito bem qualquer critica mas confesso que não percebi a tua, especialmente quanto às modas e rótulos aos jogadores, que me parece completamente desajustada, pelo menos.
30 mil espectadores numa noite como a de Sábado não é mau, é bom. Eu bem sei, que, mesmo na fila 29 da A, estava a apanhar chuva nos óculos, em vez de estar no quentinho da minha sala. Quanto às "teorias da conspiração", é evidente que estavam 30 mil no Estádio, o que se passa é que, em vez de, como é costume, estarem espalhados (parecendo mais), estavam concentrados nas filas mais altas, para não apanhar chuva, deixando muitas áreas vazias (as superiores da B estavam visivelmente lotadas). Exactamente o mesmo que aconteceu ontem no Restelo (entre outras coisas que nos deviam preocupar a todos). Muito bons o comentário ao jogo e a análise individual. O nosso treinador tem feito um trabalho extraordinário, construiu uma bela equipa e fez crescer jogadores, mas, se não mudar de atitude, arrisca-se a acabar como no Olympiacos. É que o Sporting, de facto, acabou o ano passado em 7.º, mas não é, nem nunca pode ser, um "timinho". SL!
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