A escolha
Não haveria muitos treinadores com perfil para caberem no restrito lote de seleccionadores nacionais. Neste não faria muito sentido incluir um técnico estrangeiro: nem os que estariam disponíveis constituíam uma opção aliciante, nem o apertado calendário recomendava uma opção por alguém que tivesse que vir e aprender quase tudo sobre o futebol português e os jogadores que teria que liderar. A escolha acabou por recair sobre Fernando Santos, treinador com curriculum de seleccionador, mas com um castigo por cumprir que, confirmado pouco depois da sua nomeação, fará com que não se sente no banco para jogos oficias praticamente toda a fase de qualificação que ainda resta. Não parece uma decisão prudente, sobretudo tendo em conta que, com o tempo escasso que um seleccionador tem para o treino, a sua função ficará praticamente limitada à escolha dos jogadores. Uma decisão de teor altamente discutível.
O critério pareceu ser o da figura consensual. Como já anteriormente havia sido quando se procuraram os serviços de Paulo Bento, escolha então tão elogiada como foi agora Fernando Santos. A FPF mais uma vez parece mais preocupada com os frágeis equilíbrios do que com o essencial, acabando por cair neste absurdo de ter contratado apenas "meio" seleccionador. Não fora esse importante pormenor e a escolha não mereceria qualquer contestação, mesmo sem entusiasmar - na verdade nenhum o faria - Fernando Santos seria uma escolha natural.
Teorias da conspiração
A chegada de Fernando Santos permitirá descobrir alguns "ovos de colombo" do futebol português: (i) a qualidade à disposição é reduzida, e que não há muitas alternativas ao grosso do que que eram as escolhas de Paulo Bento. (ii) A maioria dos jogadores seleccionados continuarão a sair do lote de jogadores agenciados por Jorge Mendes sem que isso signifique menor honestidade ou independência do seleccionador. Não foi por aí que falhou Paulo Bento porque é uma inevitabilidade a participação maioritária daquele empresário e porque não creio que haja, entre os seus colegas de profissão, quem lhe possa dar lições nesta matéria. Foi essa independência e desassombro que o levaram a afrontar Pinto da Costa, com as célebres "postas de pescada" e, quem sabe, muito concorreram para actual escolha de Fernando Santos, de quem não se esperam afrontas idênticas.
Milagres que não estão ao alcance de Santos
Não será preciso ter dons milagreiros para alcançar a qualificação apesar da hecatombe da jornada inicial. Bastará algum bom-senso, que não parece faltar a Santos mas que já parecia ter saído debaixo dos pés a Paulo Bento. Mas o trabalho pela frente será muito e difícil, uma vez que não poderá contar com a sorte de alguns que o antecederam no cargo, especialmente Humberto, Oliveira, Scolari e ainda que em menor grau, Queiroz. Estes antepassados não ficaram famosos pela qualidade e profundidade do seu trabalho, não deixando mais do que uma colecção de resultados quase obrigatórios, atendendo que a quantidade e qualidade era a que era então. Mas ideias estruturantes, estratégia e planeamento que contrariasse a habitual falta de visão, inércia e conformismo das direcções de Madaíl e que deixasse outro legado que aquele que escorreu com o passar do tempo não se viram. Confesso que as minhas expectativas para o mandato de Fernando Santos não são mais nem melhores considerando que, no imediato, devolver a selecção à razoabilidade de escolhas e exibições, voltando-a a colocar no caminho da qualificação será a principal preocupação.
Renovação ou revolução?
Renovação e a falta dela foi o chavão escolhido para justificar a triste presença em terras brasileiras. E parece que essa obrigação continua a ser exigida agora a Fernando Santos. A primeira convocatória permite perceber que Fernando Santos não se deixa levar pelos cantos das sereias. Fazer regressar Tiago e Carvalho, a que juntaria Quaresma, Bruno Alves e José Fonte demonstra que essa é a menor das suas preocupações. Estes nomes não merecem tratamento idêntico, mas remetem-nos para a realidade: a "geração de estrangeiros", composta por jogadores de qualidade e experiência - seja lá a importância que esse aspecto terá - onde a selecção alicerçou muito do seu sucesso, algum dele relativo, está no limiar da extinção do seu prazo de validade. Não há ainda valores seguros nos seus sucessores e Fernando Santos em Portugal terá que se contentar também com valores emergentes mas longe de oferecer a segurança dos há muito idos Figo, Rui Costa, Couto, Paulo Sousa, João Pinto, Nuno Gomes, Pauleta e outros. Não haverá milagres.
Nota importante: Este é o primeiro texto de uma parceria hoje iniciada com o Portal Bola na Rede. Apesar de me debater com imensas dificuldades em actualizar os conteúdos do "A Norte de Alvalade", não consegui resistir ao convite que me foi feito, porque é uma honra ver o meu nome associado a um projecto de qualidade acima da média.
O Bola na Rede "é um portal de opinião desportiva, cuja plataforma de distribuição de conteúdo é o online. Fundado a 28 de outubro de 2010, o projecto começou por ser apenas um programa de rádio dedicado ao debate semanal sobre a jornada desportiva.
Com a sua evolução gradual, o Bola na Rede começou a atrair convidados de renome no universo desportivo nacional para participar nas suas emissões semanais. De entre os vários nomes, destacam-se Bruno de Carvalho, Luís Freitas Lobo, Toni, Carlos Daniel ou Fernando Santos.
Depois de ter atingido um patamar de referência no panorama universitário, o programa acabou por avançar para uma nova plataforma no dia 2 de Outubro de 2013: o online. Conjugando um vasto leque de colaboradores ligados às mais variadas áreas do desporto, o projecto reestruturou-se, dando origem a uma inovadora conexão entre rádio e imprensa. A voz uniu-se à escrita e o resultado foi a criação de um website de opinião e debate ligado às mais variadas áreas do desporto nacional e internacional.
O Bola na Rede assume-se agora como um portal online, com objectivos claros de continuar a oferecer os melhores artigos e exclusivos de opinião desportiva aos seus leitores."
Mais do que os discursos nas conferências de imprensa, que até agradaram, contam as acções. E, para já, Fernando Santos conta com uma convocatória que não sendo perfeita (haverá alguma?) vem de encontro ao que se exige a um selecionador: compreensão dos critérios dos eleitos.
ResponderEliminarEle disse que só conta a qualidade e momento de cada jogador selecionável... Existem outros aspectos a ter em conta... É discutível contar apenas o momento pq, param mim, a idade (avançada) de alguns jogadores convocados é já bastante elevada para um horizonte que se pretende alcançar: de Junho de 2016. Mas respeito e compreendo. E perante as circunstâncias, até aplaudo alguns regressos. As revoluções, no futebol raramente dão bons resultados. Melhor opção será a evolução e a chegada parcial de novos valores que sejam integrados de forma sustentada.
Boa sorte, Seleção. Força, Portugal!
P.S. - Parabéns, LdA pela nova aventura! :) É mt bom qd vemos o nosso valor reconhecido. E tu, sem ponta de dúvidas, mereces esse reconhecimento, no caso, feito pelo convite que "Bola na Rede"te endereçou. Abç.
Virgílio:
ResponderEliminar"vem de encontro ao que se exige" é vir de encontrão?
Leão de Alvalade,
ResponderEliminarParabéns por esta nova viagem! Tudo o que possa melhorar a qualidade deste espaço é de saudar. Ainda mais, tal como o Virgílio disse, é mais um reconhecimento do bom (e difícil) trabalho aqui realizado. Parabéns!
Quanto à selecção, o que mais me preocupa é ficar sem jogadores para treinar tendo em 2 jogos muito importantes na definição da nossa motivação e realização de objectivos desportivos desta época. Adrien e João Mário deverão ir só fazer número (Tiago, Moutinho e o melhor jogador português de sempre que ainda se vai descobrir que 15M foi só por uma perna, visto que o Benfica é só bons e claros negócios, vulgo André Gomes, deverão rodar entre si, com William). Patrício, William, Cédric e Nani serão usados e abusados em vésperas de jogos importantes. O que me preocupa mais é a questão do Cédric, visto que Esgaio foi (uma casualidade) expulso no último jogo da Equipa B, havendo a possibilidade de, no Dragão, jogar o Miguel Lopes...
É melhor não começar a sofrer por antecipação.
Passei o fim de semana envolvido em atividades ligadas ao desporto de formação, com selecionadores, dirigentes, técnicos, atletas e o terror desta gente toda os pais :). Uma conclusão simples para entroncar no post, há tanto para fazer... e há para todos os gostos, coisas simples, coisas difíceis e coisas homéricas!
ResponderEliminarTenho bastante dificuldade em aceitar que o leque de escolha de um selecionador nacional de futebol é curto, já não tenho grande dificuldade em aceitar que a qualidade "premium" não abunda, mas ainda assim há mais e melhor do que salta à primeira vista. Claro que se tenho de aguardar que um atleta chegue a um clube de primeira linha (ou ao contrato com o Mendes) para entrar no lote de predestinados a minha escolha fica bastante reduzida, principalmente porque quem em Portugal assume e pratica a aposta em jovens nacionais na fase mais competitiva da modalidade é, apenas, o Sporting.
Fernando Santos não deve esquecer que foi contratado para selecionador nacional e não para treinador da equipa A, a urgência dos resultados imediatos, a qualificação para as fases finais das grandes competições são importantes mas, voltando à minha introdução, o fundamental é voltar a reconstruir o edifício formativo nacional de modo a criar escalões sucessivamente mais competitivos e aptos para o futebol senior.
Muito trabalho, muita determinação, muita lucidez.
Boa sorte Fernando Santos, um treinador que aprecio e que não esqueço a forma ultrajante como saiu do Sporting.
LdA, fogo à peça para o novo projecto, os senhores nem sabem com quem se meteram! Parabéns!