O Sporting Clube do Carvalho

O que pretende Bruno de Carvalho com a apresentação da providência cautelar, antecedendo a impugnação das eleições, e que implicações pode esta vir a ter no futuro imediato do clube? Julgo que as respostas a estas duas questões são as que mais interessam e preocupam os Sportinguistas neste momento. Sem conhecer o teor daquele expediente legal é impossível responder a qualquer uma das questões, mas as afirmações entretanto proferidas pelo candidato derrotado permitem vislumbrar sem grande dificuldade as suas intenções.


Convicção e Coerência
Pode-se dizer que BdC age em conformidade com as suas convicções, isto é, entende que “houveram desconformidades” e exige que se apurem os factos. Era bom que assim fosse, digo eu e, fosse apenas isso, até aguardaria “com toda a tranquilidade” os desenvolvimentos futuros. A interposição da providência cautelar revela que BdC não pretende apenas o apuramento dos factos ocorridos e,  pelas afirmações entretanto produzidas,  quer também que Clube e SAD fiquem de mãos atadas até à resolução do caso em tribunal. A irresponsabilidade desta acção, a imaturidade que lhe está subjacente,  bem como a imprevisibilidade das respectivas consequências foram já ontem antecipadas pelo PLF, na Bancada Nova, certamente lida por muitos de vós, pelo que não vale a pena repisar o assunto. 

Acrescentaria apenas que quem age por convicção não aceita meias decisões como seria a retirada de cena de Godinho Lopes e manutenção de Luís Duque na SAD. Se a eleição resulta de uma “inconformidade” estariam ambos maculados por esse facto, pelo que nenhum deles estaria habilitado a exercer funções. Tudo isto me leva a descrer das “boas intenções” do candidato derrotado, que como sabem, até nunca me mereceu grande crédito. Esta providência cautelar e  até a impugnação das eleições não passa de  uma “fishing expedition” legal, visando abrir uma janela que permita dar a volta a um resultado eleitoral desfavorável. Se com isso se arrasta pela lama o nome do Sporting é preocupação que não parece existir.

A convicção de BdC pode também ser aferida pela auditoria, um tema e uma luta de muitos e de há muito tempo, e um instrumento necessário para apurar a verdade e pacificar o clube. BdC não esteve presente,  não tinha que estar, mas podia e devia ter enviado um emissário, até porque este foi um dos seus adereços de campanha mais fortemente brandidos. Afinal BdC justifica a sua ausência porque “não reconheço a actual direcção e ainda mais grave não é preciso circo para se fazer uma auditoria, tem é de ser feita por pessoas independentes e externas.” A premência é agora transformada em maçada, promover o acompanhamento por Sportinguistas da auditoria a realizar por entidades externas um circo.

BdC também não prima pela coerência. A demonstrá-lo está a aceitação dos resultados para a AG, com a eleição de Eduardo Barroso, certamente porque crer que EB lhe pode vir a ser muito útil. As  inconformidades também podem ter geometria variável, umas serão maiores que as outras.


Estratégia
A estratégia de BdC revela as suas convicções. Os mais atentos devem já ter reparado que, além da providência cautelar já interposta e da impugnação que há-de vir, BdC e seus apaniguados promovem já também uma recolha de assinaturas para efeito de convocação de uma A. G. com o objectivo de destituir os órgão sociais em funções. Isto é, BdC está-se literalmente borrifando para qual venha a ser a decisão judicial que intentou contra o Sporting e certamente entende que todos os meios justificam os fins. E di-lo de forma velada, promovendo a iniciativa em curso “Se os sócios quiserem o processo será muito mais rápido. Eu apenas faço o que está ao meu alcance, que é através dos tribunais.” Vale tudo?...


Ou seja, BdC promove a destituição dos órgãos sociais, que ocorreria numa AG com 1 a 2  milhares de associados, anulando uma decisão tomada por quase 15 mil em sede de AGE. Dependendo do dia e da hora da sua marcação, muitos de nós, parte interessada, não poderíamos estar presentes, para defender com o voto, uma golpada abjecta cujas sequelas são impossíveis de antecipar. Alguém imagina o que pode ser uma AG assim? É este o respeito que BdC diz ter pelos sócios? É esta a mudança e a ruptura que BdC dizia representar? Não é isto apenas uma nova versão e em hard-core do desprezo pelo papel do associado que BdC dizia combater? Se há alguma coisa que para mim é muito clara é que, se algo assim suceder, esse é o dia em que para mim o Sporting morre e é enterrado.

Parabéns
Não termino sem dar os parabéns ao novo campeão nacional, que mereceu inteiramente o titulo. Os primeiros telefonemas de PdC devem ter sido para Costinha e Bettencourt, para lhes agradecer não só o preço de amigo de um dos jogadores fundamentais no titulo, como a “oferta” de AVB em bandeja de prata, por troca com Paulo Sérgio. Este titulo também é de Costinha e JEB. E para que os Sportinguistas percebam o que está a acontecer ao clube, lembro que, nas discussões ontem surgidas sobre a falta de fair-play,  alguém dizia que não recebia lições de um clube que tem eleições impugnadas por fraude.

Um Sporting forte
Faz falta um Sporting forte. Não só a nós Sportinguistas mas ao futebol nacional. Faz falta um clube que saiba ganhar e fazer a festa. Só o Sporting é capaz de fugir ao espectáculo deprimente que nos é proporcionado pelos outros rivais, cada vez que se defrontam. É essa a nossa diferença que os demais pressentem mas só nós sabemos consubstanciar.