Crise: antes de melhorar vai piorar?
(...) Segundo as contas de António Samagaio, professor do ISEG (Instituto Superior de Economia e Gestão), "a dívida financeira (empréstimos à banca e empréstimos obrigacionistas) da SAD do Benfica está em 157 milhões de euros, a do FC Porto em 98 milhões e a do Sporting em 95 milhões", o que totaliza 350 milhões de euros.
Uma parte importante dos empréstimos dos clubes de futebol é de curto prazo, o que os deixa muito expostos às actuais limitações dos bancos. Reflexo disso é também a subida das taxas de juro que os clubes pagam. "No seu relatório, o FC Porto revela que a taxa média anual dos empréstimos foi de 4,39% em 2010 e de 6,78% em 2011", aponta António Samagaio, considerando que, até mesmo nos empréstimos obrigacionistas, os "clubes estão a financiar-se a taxas proibitivas".
"O empréstimo obrigacionista do FC Porto é de 8% e do Sporting 9,5%. Eles não têm um negócio capaz de gerar rentabilidade para cobrir este custo de capital", avisa o professor do ISEG, acrescentando que a SAD do Benfica é a mais endividada. "O Benfica tem tido uma estratégia de endividamento significativa. Só em 2008-09, recebeu (em termos líquidos) 44 milhões de empréstimos." Hélder Varandas, especialista em finanças de futebol, salienta precisamente os encargos com juros que foram assumidos pelas SAD na época 2010-11: "Quase 14 milhões de euros (ME) no caso do Benfica e 5 ME nos casos de FC Porto e Sporting."
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Paulo Reis Mourão, professor de Economia na Universidade de Braga, a quem o PÚBLICO também pediu para analisar as contas das SAD, defende que o estado das finanças dos clubes deve "gerar uma séria preocupação nos adeptos": "A volatilidade do financiamento pode levar a que um clube, que antes poderia permanecer longos anos num alto patamar, fique descapitalizado rapidamente e possa mesmo cair no risco de desaparecimento." É que, segundo Reis Mourão, antes os clubes "estavam dependentes da economia local, mas agora o seu sangue está nos mercados financeiros".
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E se o Benfica é o clube mais exposto ao endividamento bancário, o FC Porto é aquele que mais depende do mercado de transferências. É que os "dragões", apesar de somarem lucros há cinco anos seguidos, só conseguiram equilibrar as contas graças a avultadas transferências de jogadores. "Desde 2005-06, o FC Porto teve um saldo positivo de transferências de jogadores de 135 ME. O Benfica tem um saldo positivo de 40 ME e o Sporting um saldo negativo de 15 ME", resume António Samagaio, para quem uma contenção dos custos é inevitável.
O professor do ISEG contesta ainda o argumento, frequentemente usado pelos clubes, de que os activos que têm são suficientes para cobrir os passivos. "O valor de mercado do plantel do Benfica, mesmo que vendessem todos os jogadores, não era suficiente para cobrir o passivo e o dinheiro que os accionistas lá colocaram quando constituíram a SAD", avisa.
Se os critérios do fair play financeiro já estivessem em vigor, o FC Porto (que teve lucros nos últimos cinco anos) era o único dos três "grandes" livre de preocupações. O Sporting, que acumulou prejuízos de 72 milhões nas duas temporadas passadas, estaria à mercê de punições da UEFA e o Benfica (prejuízos superiores a 28ME) estaria sob vigilância.
A estes prejuízos, no entanto, há que retirar todos os custos relacionados com a construção de estádios e centros de treinos, bem como com a formação, que não serão tidos em conta no âmbito do fair play. E esta nuance permite aliviar o peso que cai em cima dos clubes portugueses.
"Se considerarmos a infra-estrutura do Seixal e os custos da formação, o valor aproxima-se dos 5 milhões de euros anuais. E as amortizações do estádio totalizam 5 a 7 milhões por ano", explicou ao PÚBLICO Domingos Soares Oliveira, administrador da SAD do Benfica, acrescentando que, para efeitos de fair play financeiro, ao resultado líquido do Benfica teriam de ser abatidos pelo menos "10 milhões por ano."
O Benfica considera-se assim preparado para as novas regras da UEFA, embora admita que a "conjuntura económica" e o fair play financeiro "obrigam os clubes a terem de repensar o seu modelo ou a sua operação". "Em situações como estas, as SAD devem tentar potenciar receitas e reduzir custos. No nosso caso, temos uma situação em cima da mesa, os direitos televisivos, e acreditamos que esse incremento de receitas vai ser superior a qualquer redução de custos", aponta Domingos Soares Oliveira.
José Filipe Nobre Guedes, administrador da SAD do Sporting, também se mostra confiante que "o Sporting não vai ter problema nenhum": "Estamos a recapitalizar a SAD, mas por enquanto não posso dar pormenores", disse ao PÚBLICO, acrescentando até que o clube de Alvalade não terá de "baixar salários" se conseguir captar a receita esperada. Angelino Ferreira, administrador da SAD do FC Porto, não se mostrou disponível para falar ao PÚBLICO, mas em Janeiro tinha dito que o clube estava preparado.
Além das regras do fair play, que serão tidas em conta pela UEFA na hora de admitir os clubes nas competições europeias, há ainda outro problema em cima da mesa dos emblemas nacionais. É o facto de todos terem capitais próprios (diferença entre activo e passivo) inferiores a metade do capital social, o que os obrigará a tomar medidas, como o reforço do capital das SAD. O Sporting tem mesmo capitais próprios negativos, o que habitualmente se designa como falência técnica, e o Benfica está lá perto (apenas 136 mil euros nas contas individuais e 2,5 milhões no consolidado).
A par da questão do endividamento (ver texto sobre dívidas à banca) e das novas regras, os clubes terão ainda de enfrentar os efeitos da crise nos seus proveitos operacionais. "Haverá quebras nas assistências, na publicidade e nas quotizações", salienta Paulo Reis Mourão, professor de Economia na Universidade de Braga, para quem é "inevitável" que os clubes ajustem os seus custos, especialmente com salários, que consomem uma boa parte das receitas.
Neste assunto estou com a opinião de dois adversários, primeiro, não sei quantos destes milhões são "da treta" e quantos são reais, sendo que o Sporting só este ano faz a sua estreia nos milhões "da treta". O "mercado" teve sucesso em não deixar vingar projectos baseados na formação.
ResponderEliminarSegundo, sobre o Fair Play financeiro, será um treta ainda maior que o Fair Play desportivo na cabeça de Jorge Jesus. Aquilo que se assiste nos campeonatos europeu é o cavar de um fosso infinito entre 2 ou 3 clubes por cada liga e os restantes clubes que passam a servir para mero pano de fundo dos milionários "da treta".
Pode isto resultar na extinção de alguns clubes? Claro, e nós não estamos a salvo dessa possibilidade. Já o disse aqui e repito, o Sporting não encolhe para um Belenenses, ou existe grande e viável ou se extingue.
Há algo a fazer? Há! Em toda esta crise de défices bastava as entidades reguladoras terem actuado em devido tempo e com imparcialidade sobre os diversos agentes públicos, privados e cooperativos.
Ora a Liga de Futebol Profissional, nem um jogo com árbitros de 1ª categoria consegue organizar...
e não foi para passar a ter capitais próprios positivos que se proceder às VMOC´s e à recapitalização através da redução do valor nominal das acções e venda de outras tantas?
ResponderEliminareu não percebo nada disto mas se assim foi porque raio é indicado como tendo o c.p. negativo!
Isto é uma loucura... 5M€ por ano, só em juros... Qual é que será a receita que a nossa SAD terá este ano? E a despesa? Será que o saldo chegará para pagar... os juros???
ResponderEliminarA única solução que eu (ignorante na matéria) descortino é a produção de futuros Cristianos Ronaldos na Academia... e talvez valorizar os jogadores que compramos este ano... E talvez deixarmo-nos de merdas e aplaudir as vitórias de tds as equipas portuguesas na Europa para manter / subir uma posiçãozita no ranking europeu... Qts mais vezes tivermos acesso aos milhões da CL, melhor...
Outra coisa: nem sei bem o que pensar qd comparo as inúmeras dificuldades que leio dos 'experts' consultados pelo publico com as soluções que (não) leio do Nobre Guedes...
Não serve de consolo, mas os outros tb não apresentam gdes soluções... Vejamos: temos a receita de tv para o benfica (o JEB já ardeu com isso até 2017, certo?) e do porto um redondo e rotundo zero...
Uma ultima coisa: Ler estas artigos faz-nos bem ou faz-nos mal?...
LdA,
ResponderEliminarMuitas empresas (e particulares) chegaram ao fim da "festa do crédito" e o futebol não é diferente.
Curiosamente, a aposta do Sporting neste ano em jovens e promissores jogadores tem precisamente a ver com várias questões bem apontadas no post, por um lado, aproveitar os últimos cartuchos do crédito bancário, depois aproveitar os últimos dias do futebol europeu sem contas (porque como bem diz o LMGM, a liga não... conta).
Todavia, a situação é muito grave. Tal como o Virgílio realça, os cinco milhões / ano do empréstimo obrigacionista são efectivamente aflitivos, pelo que precisamos MESMO de bons resultados desportivos no futebol profissional para termos uma hipótese de ter resultados económicos satisfatórios.
Anónimo,
Penso que o reflexo dessas operações só terá impacto no ano que vem.
Virgílio,
Peço desculpa, mas nem nas competições europeias consigo torcer pelo recreativo de carnide. Até já tentei a bem do ranking nacional, mas não consigo mesmo. E confesso que uma das noites mais divertidas que tive a ver futebol num café foi com este jogo: http://www.youtube.com/watch?v=BdxLh8-FTj8
Um Abraço de Leão
O investimento possível deve ser não aquele que é conseguido na banca, que muitas vezes é contraído para outro vindouro presidente pagar, mas o que tem capacidade de pagamento possível, ou seja, um clube deve apenas poder investir um valor que corresponda a uma percentagem da sua receita total.
ResponderEliminarOs salários, por exemplo, devem ser limitados, e também utilizando o esquema acima descrito por mim. Um salário de um jogador não deve ultrapassar uma determinada percentagem de toda a massa salarial do plantel.
Virgilio, mais do que o empréstimo obrigacionista preocupa-me o vencimento das VMOC. Quando tal acontecer o que é os bancos vão fazer quando se tornarem nos accionistas maioritários do Sporting?...
ResponderEliminarLdA, se os bancos se tornarem accionistas maioritários do Sporting, vão fazer um acto maravilhoso de gestão, vão vender. O quê? Tudo o que for possível.
ResponderEliminarVirgilio, a conversa e principalmente a discussão faz sempre bem, pelo menos não se pode dizer depois eu não sabia. Esta inversão de actuação do Sporting no mercado está a correr bem a generalidade dos jogadores contratados tem qualidade, o pormenor é que não sei quando for o momento da venda qual a percentagem que realmente vai pertencer ao Sporting.
Tenho a certeza de uma coisa ao contrário do DiMaria, David Luiz ou Ramirez, em vez de teres os valores anunciados por bolo, tipo, o clube X vendeu por 36 milhões + 5 dependendo dos resultados desportivos, vais ter uma explicação exaustiva, com pontos e virgulas, sobre o destino de cada euro e que o que sobra para o Sporting é só Y quando o valor da venda foi X.
O Sporting continua a ser o clube que tem melhores condições para sobreviver a flutuações de mercado, só fico preocupado quando vejo interesse em jogadores como Labyad quando na academia há resmas melhores que este (como vimos agora em Angola).
LdA:
ResponderEliminarManifestei preocupações mais imediatas. Para as VMOC's vencerem ainda faltam alguns anos e, até lá e tal como isto anda, o mundo ainda pode dar mais uns trambolhões... Deus queira que para melhor...
LMGM:
A minha pergunta era assim um pc pró retórica... É sempre melhor estar informado, obviamente, mas o momento desportivo é simpático, favorável até e desviarmos as atenções para a questão económico-financeira do SCP não deixa de causar algum mau estar (mt preocupação). Foi mais nesse sentido que questionava a leitura do artigo do público.
Abraços!