Ao contrário do ano passado, nos meus posts deste inicio da época tem prevalecido a dúvida sobre o trabalho realizado pela equipa técnica comandada por Sá Pinto. Dúvida que não tem tanto a ver com os resultados mas sim com os processos de jogo e parece-me legítima em relação ao que se tem presenciado.
Mas hoje não vou voltar a repisar as mesmas ideias porque, além de fastidioso, não contribui em nada para dissipar as dúvidas e, sobretudo, não me interessa engrossar a espiral de amargura e negativismo que já assola grande parte dos Sportinguistas que se pronunciam sobre o tema.
Ter dúvidas não significa ausência de esperança. No futebol não há certificados de garantia e as decisões finais, em regra, só ocorrem quando soa o último apito do árbitro. Ao expressar as minhas dúvidas revelo preocupação e tristeza por que sei da importância que assumem os resultados nas dinâmicas internas do clube e como estas podem provocar turbulência nefasta em torno da equipa.
Como é óbvio não é me é indiferente que o Sporting ganhe muito ou pouco, mas os resultados não contam para pautar a minha ligação ao Sporting. Não me surpreende que aqui e ali (leia-se nas caixas de comentários deste blogue) me considerem de forma mais evidente ou velada como um sportinguista apócrifo, como por exemplo quando escrevo "José de Alvalade" ou me pronuncio sobre os efeitos da publicidade nas camisolas.
Não sou um sportinguista com "pedigree leonino", não tive ninguém que me ensinasse o que e quem era o Sporting, dei comigo a gostar do clube pelo seu espírito, pela forma de estar no desporto, pelas lições que ia recebendo. E, nos jornais onde, cada vez com mais afã, procurava diariamente noticias sobre o clube, era comum ver assim escrito o nome do nosso fundador. A publicidade parece-me um mal necessário em que se perde alguma coisa para receber outra em troca e o negócio tem de ser vantajoso para ambas as marcas, ou não se faria.
Fui sozinho pela primeira vez a Alvalade (e foi muitas vezes sozinho que vi os jogos do Sporting) e com dinheiro que juntei para o efeito. Não é possível descrever a sensação que foi ver um estádio inteiro a vibrar com a entrada da equipa mas apenas a certeza que era ali que queria estar, eu era um sportinguista.
Não dou lições de sportinguismo a ninguém, encontro sempre à minha volta quem tenha feito muito mais e melhor do que eu, sobrando-me sempre o sentimento, sem falsa modéstia, de que cheguei sempre tarde ou com demasiados hiatos e fiz pouco. Nem o facto de ter vivido sempre longe de Alvalade serve de desculpa, como constato à minha volta.
Mas a geração espontânea do meu sportinguismo tem pelo menos uma grande virtude: não tenho dúvidas sobre a forma como o quero exercer. Serei sempre sócio, uma conquista pessoal de valor inestimável, apesar de tardia, e que não dependerá nunca de quem for o presidente, o treinador ou de vitórias estrondosas ou copiosas derrotas. Aliás, apesar de "acreditar" que há algo de "destino" no facto de uma das grandes conquistas internacionais do Sporting ter sucedido no ano em que nasci, quando dei comigo a gostar do clube tenho a certeza que esse sentimento não foi produto de um título, vitória ou momento feliz. Quando me perguntam, muitas vezes com ironia de quem se acha melhor porque tem episodicamente ganho mais vezes, eu costumo retorquir com genuína convicção: mas há outro (clube)?
A existência deste blogue deve-se essencialmente a essa má consciência, (juntamente com a necessidade de criar um escape para a pressão de quem, como muitos, pensa todos os dias no seu clube): a de nunca ter feito o suficiente pelo meu clube e assim procurar, à sua reduzida escala, equilibrar o saldo devedor.
Apesar da consciência tranquila, sei que poderia ter sido melhor e ter feito mais. E não me orgulho de muitos posts desbragados ao tempo do "ciclo Bettencourt", (e ainda antes de se confirmar a sua eleição), isto apesar da história poder vir a justificar alguma brandura numa possível condenação. Mas, mesmo que tenha sido justo nas apreciações, era-me cada vez mais penoso falar do Sporting quase sempre pela negativa, e por vezes de forma ácida e corrosiva.
Infelizmente essa é cada vez mais única forma de estar de muitos dos meus consócios e adeptos como eu. As exibições desta pré-época vieram carregar nas tintas já de si bem escuras, depois daquela fatídica tarde no Jamor. Muitos não se recompuseram do choque de uma derrota quando já tinham celebrado antecipadamente a vitória que era impossível não alcançar. Não ignoro também que para alguns também seja conveniente (para a sua estratégia) o "quanto pior melhor" e que por isso ou aguardem em silêncio que tudo se desmorone para aparecer no seu cavalo branco, ou que bramam já alto e a bom som "já vimos este filme" ou "vem aí mais do mesmo". Creio, contudo, que a maior parte exprime como pode a sua apreensão, remetendo-se a uma defensiva que, em última análise, visa proteger um coração fervoroso mas com muitas cicatrizes.
É com tristeza que noto que para muitos o Sporting é hoje mais um vicio do que uma paixão. Não sei qual o seu valor numérico mas é pelo menos ruidoso e maligno. As expressões muitas vezes usadas entre sportinguistas superam em muito as que usam os nossos adversários e inimigos, porque também os temos. O nome do clube é muitas vezes referido como se se tratasse de uma substância aditiva perigosa mas que pouco ou nenhum prazer remunera aos que o "consomem". O Sporting, para alguns, parece ter-se tornado um vicio diário e um escape para as agruras de uma vida cada vez mais difícil e menos um prazer e uma paixão.
Embora, repito, não tenha lições para dar a ninguém, essa é uma postura que me lembra muito aquilo que, apesar das influências exercidas por familiares próximos e pelos resultados, eu não queria ser: pertencer ao clube em que a maior parte dos adeptos vive permanentemente descompensado, crendo-se sempre os maiores na primeira vitória e em profunda depressão porque a realidade os desmente a cada passo.
É por textos como este que este blog é, cada vez mais, uma referência na família leonina on-line.
ResponderEliminarBrilhante post!
Como é bom ler tanto bom senso num único texto, e ainda que o assunto seja Sporting....
O futebol não precisa de ser irracional, não precisa de ser de extremos.
E no Sporting, ou se é besta ou bestial. Ou somos os melhores, ou somos uma m*rda. Ou se é o franguício ou se é um dos melhores GR da Europa...
É urgente TODOS encontrarmos o meio termo naquilo que é o nosso entendimento do futebol, das escolhas, das opções, das exibições, dos resultados.
Apenas o meu apoio será sempre extremista. Quer ganhe, quer perca. Quer jogue bem, quer jogue bem. Porque apoiar quando a coisa não corre bem, não é conformismo, não é falta de exigência. É amor incondicional!
Ao me tornar independente financeiramente, tornar-me sócio do Sporting também foi um dos meus feitos marcantes, e enquanto eu for vivo aquelas quotas jamais deixarão de ser pagas, e o meu lugar no estádio jamais ficará sem "dono".
Parece que muitos dos que agora batem a torto e a direito, já não se lembram do jejum... Eu lembro-me, muito bem, aliás! Lembro-me das tardes no velho Alvalade, das fabulosas equipas, das gloriosas vitórias, dos robos de igreja, e das grandes derrotas.
Mas acima de tudo lembro-me do ORGULHO de ser Sportinguista. Desse sentimento sem preço, eo que me (nos?) levou à travessia daquele deserto de 18 anos.
Apelo a que todos os Sportinguistas se unam. Saibam filtrar o ruído e o excesso de informação que circula na net, alguma dela (para não dizer quase toda) é lixo. Não nos devemos deixar influenciar por esse lixo. Não devemos ser os principais inimigos de nós próprios.
Saudações Leoninas
RSNT
Boa escrita, sentida fé, vivida paixão, dogma de amor.
ResponderEliminarMuito bem.
Fique bem.
Outside
Obrigado a ambos.
ResponderEliminarPS- Só como nota de rodapé, e porque se falou no "franguicio" descobri há dias que havia um grupo no Faceobook chamado "Vamos exigir Hildbrand a titular" ou algo semelhante. Enfim...
Illuminator
ResponderEliminarEspero voltar a ver alvalade cheio com um grande ambiente já na 2a jornada-40 mil-independentemente do resultado em guimarães (que vai ser a nossa vitória
Leão de Alvalade, como te compreendo.
ResponderEliminarTambém eu sou um Leão, no meio de família 'lampiónica' e de colegas de trabalho com manifesto mau gosto clubistico.
Também eu, quando questionado acerca do meu apoio clubistico, respondo, com peito cheio: 'Sporting, claro! A opção seria ser um porco ou um cão!'.
Também eu juntei dinheiro para ir, sozinho, muitas vezes a Alvalade ver o meu grande amor, apesar dos olhares de soslaio e das expressões de desdém de outros.
Infelizmente a minha situação económica não me permite ir tão frequentemente como desejaria mas, o amor, esse, mantém-se cada dia mais forte... SPORTING SEMPRE!!!
Gr33n C0d3r
LdA,
ResponderEliminarExcelente texto, como (quase, quase) sempre :)
Duas notas:
- O "pedigree leonino" tem de começar em algum ponto, neste caso começou em grande;
- Podes ter feito o caminho para Alvalade sozinho, mas lá nunca estamos sós, como diriam os nossos "primos" do Celtic "You'll Never Walk Alone".
Quanto à cura do vício de alguns e ao reacender da paixão de outros, a solução está (como sempre) nos dois lados da paixão, por um lado, os adeptos tem de conhecer melhor o que foi e o que é o clube, só assim conseguirão abordar o presente com realismo, por outro, do lado do clube, têm de demonstrar que tudo fazem para corresponder a essa paixão, nomeadamente, no futebol profissional têm de fazer tudo o que está ao seu alcance para chegar à vitória.
Abç
10A, cuidado com as expressões, que essa dos primos do Celtic, é muito usada a poucos metros de nós!!
ResponderEliminarPrecisamos de mais sócios/adeptos como nós, que aconteça o que acontecer, o cartão de sócio e a gamebox estarão sempre presentes, sempre com orgulho em ser Sporting, mesmo na grandes derrotas.
Tirando os resultados, espero na nova época poder voltar ao Jamor, poder voltar a sonhar como na ida à Luz, poder voltar a ir a Bilbao, 3 anos depois ganhar aos rivais... e espero que a arbitragem não nos estrague tudo.
A ultima epoca trouxe-nos de volta aos sonhos, que esta época seja o regresso das vitórias.
EM FRENTE SPORTING!
Pois para mim o Sporting é simultaneamente um vicio e uma paixão. Um vicio no sentido em que não consigo passar um dia sem que o SCP me apareça a ocupar a mente e uma paixão pq desde sp o SCP, de alguma forma, não deixa de me provocar um brilhozinho nos olhos e/ou despertar o desejo de me encontrar com 'ele' na nossa (nova) casa o mais brevemente possível e que, diga-se de passagem, hj completa 9 anos. Ficam expressos desde já os meus parabéns ao Nosso santuário.
ResponderEliminarO texto não está apenas bem escrito, como é costume do LdA, tem tb intensidade e mt alma. E isso é bem mais difícil de conseguir transparecer. Apesar da origem do meu sportinguismo ser bem diferente, uma vez que tive a tremenda sorte de nascer no seio duma família com o gene leonino deveras dominante, este post transmite mt dos pontos em comum com a minha vivência leonina: a distancia geográfica do centro nevrálgico do nosso clube, a ida ao Estádio sozinho desde mt jovem(facto que ainda hj se verifica com frequência), o juntar dinheiro na adolescência para os bilhetes (da viagem de autocarro ou comboio e do jogo comprado previamente nas bilheteiras do velhinho José de Alvalade por familiares),já que para a bucha levava-se qlq coisa na mochila...; a decisão de me tornar sócio (apenas aos 24 anos) assim que comecei a ganhar pilim com maior regularidade e finalmente poder sentir-me mais útil e ajudar o SCP; a incompreensão de amigos e até familiares por prescindir de outros 'prazeres' e optar por mais uma deslocação a Alvalade; o orgulho (e a vaidade) em afirmar-me sportinguista em tds e quaisquer circunstâncias, mesmo qd a situação não é a mais favorável ou recomendável e principalmente qd noto estar perante esgares de desconfiança, desdém, gozo ou inveja de outros que não têm a categoria para ser do Sporting! Sim, pq como faço logo questão de dizer "o Sporting não é para qualquer um" ou "não é do Sporting quem quer, mas sim quem pode"; o conforto e a necessidade de me fazer acompanhar para td o lado do meu porta-chaves de eleição: com o fundo verde escuro, o emblema do SCP ao centro encimado pelo meu nome e uma mensagem em baixo a dizer "100% sportinguista". Imaginam lá o que foi a minha felicidade qd 'desencantei' um porta-chaves com o meu nome e o emblema do SCP em simultâneo. Pareceu-me uma raridade e transformei esse objecto, supostamente banal, no meu amuleto pessoal. É assim, ser-se do Sporting é ter-se a noção de que somos muito especiais e jamais deveríamos esquecer isso. Principalmente nos tempos difíceis. Para mim é uma questão de afirmação, faz parte de que sou e define-me tb enquanto pessoa. Tenho mts defeitos, sou teimoso, preguiçoso, impulsivo, nervosinho, mas tenho uma qualidade que compensa td isso: sou do Sporting.
Foi tb por sentir que este blogue partilhava muito do que eu sentia relativamente ao SCP, que aceitei, surpeso e bastante honrado, colaborar com o seu mentor, o LdA e com os restantes colegas redactores que já antes de mim por cá escreviam. Hj, depois de ler mais um excelente testemunho de sportigusmo, sinto, ainda mais, que depois da sorte de ter nascido numa família de leões tive a sorte de ser acolhido num blogue com leões como o "ANorte" tem. Ora digam lá, se não é tão bom ser-se sportinguista?
Ahhh, LdA, mais uma vez de acordo: é bem verdade que não nutro especial orgulho de alguns post's que publiquei durante o terror (de mandato) 'betencourtiano', mas tb é verdade que, apesar disso, não me arrependo de o ter feito... Infelizmente, ele fez por merecer, caraças...
ResponderEliminarSL!
Muito bem. Estes comentários são os de VERDADEIROS SPORTINGUISTAS, de descrevem o Sporting em que me revejo. Sporting até morrer. SL
ResponderEliminarNalguns aspectos temos um percurso semelhante. Também eu cresci no meio de adeptos fervorosos de outro clube.
ResponderEliminarTambém eu vivi a maior parte da minha vida longe de Alvalade.
Também eu considero que há muita coisa sobre o Sporting que não sei mas não é por isso que me sinto menos sportinguista. Não preciso ser uma enciclopédia verde e branca para sentir a mesma paixão que sentem os que sabem tudo sobre o clube.
Pode parecer estranho mas o facto de ser mulher e gostar de futebol foi sempre algo que fez com que algumas pessoas olhassem para mim como se eu fosse um caso de internamento...ainda não há muitos anos o futebol era considerado coisa só de homens.
Para mim o Sporting é um vício sim...mas misturado com uma enorme paixão que fazem com que eu sofra, vibre, fique eufórica, fique triste, enfim...tenha todos os sentimentos que são inerentes a quem vive intensamente o dia-a-dia do clube e não apenas os momentos bons.
A minha ligação a Espanha é conhecida mas talvez não saibas que em Espanha escolhi torcer pelo clube que tinha o equipamento mais parecido ao do Sporting.
"A minha ligação a Espanha é conhecida mas talvez não saibas que em Espanha escolhi torcer pelo clube que tinha o equipamento mais parecido ao do Sporting."
ResponderEliminarDina: és Bética?
Anónimo,
ResponderEliminarOs outros que dizem que são "primos" do Celtic, apesar que não lhes vejo qualquer traço de semelhança, só podem ser a demonstração que não podemos escolher a família, sendo certo que se fosse verdade eles seriam (são) sempre as ovelhas ranhosas (e não, não me enganei, neste caso não são ronhosas, são mesmo ranhosas) :)
Virgílio,
Durante o reinado de JEB, porque andaram a reinar connosco, as notícias do clube tiravam a paciência a qualquer santo. Eu confesso que também já não podia com aquilo.
Quanto ao resto eu não consigo ver o Sporting como um vício, mas sim como um hábito saudável que às vezes não nos alegra como deveria.
Dina,
É curioso o seu comentário. Quando há equipas que equipam de verde e outra de qualquer outra cor, torço sempre pela de verde. É mais forte que eu :)
Virgílio...por supuesto!!
ResponderEliminarEra a mais parecida no equipamento e era andaluza.
Muy Bien, joder! ;) Tb simpatizo com o Real Betis Balompié.
ResponderEliminarE para além de Sevilha e da Andaluzia tenho a ideia de o Betis ter uma forte implantação na Extremadura. :)
Adios!