Godinho Lopes esteve em força este fim-de-semana na comunicação social mas nem tudo correu bem. A entrevista ao Expresso foi feita pela rama e, quanto a mim, muito mal conduzida. Os primeiros indícios ficaram logo no formato, em que a fotografia ocupava tanto espaço como a entrevista propriamente dita. Longe vai o tempo em que este semanário era uma referência no que diz respeito à qualidade e pertinência dos assuntos abordados. A segunda entrevista, já a sério, foi publicada ontem no “Jogo”, um dia no mínimo estranho se pretende fazer chegar a informação o mais longe possível. Luis Filipe Vieira foi, sem dúvida, mais feliz, no que contou com a ajuda preciosa e habitual do jornal “Abola”. De qualquer forma a entrevista de ontem merece ser comentada. As notas entre parêntesis são minhas.
“A situação do Sporting é caótica, todos os dias são um drama pela falta de tesouraria”
(Isto só será novidade para os que se divertem a fazer listas de jogadores, a querer o fosso tapado ontem, as cadeiras verdes anteontem, etc. O Sporting tem um problema de tesouraria crónico, agravado pelos últimos anos em que muito se falou e pouco ou nada se fez. Os 2 últimos anos serviram para acentuar ainda mais o problema.)
“Herdámos um clube com tesouraria negativa, com custos superiores às receitas, resultados operacionais negativos, e para inverter esta situação havia duas formas de fazer: ou desinvestíamos, definhando o clube com menores prestações no futebol, menos receitas e entrávamos num ciclo vicioso; ou decidíamos investir e teoricamente aumentar os custos. Dá uma ponte intermédia de resultados negativos, mas garante-me a médio prazo ter um Sporting vivo, senão morreria.”
O Sporting já sabia que este ano iria fazer 50 ou 53 milhões de euros de vendas, vamos ficar na casa dos 50, mas o objectivo é chegar à casa dos 80 milhões sem venda de jogadores e sem Liga dos Campeões. (Valores mais próximos do que tem hoje em dia os rivais FCP e SLB, com quem temos que competir directamente)
Estamos perto das 26 mil vendidas (gameboxes) esta temporada, e agora estamos com novas vendas. No primeiro ano em que estive no Sporting, em 2003, fizemos 34 mil. Se pudermos repetir esse número, será excelente.
A primeira coisa é tentar que este investimento traga maiores receitas directas, que os próximos anos sejam melhores em termos de venda de Gamebox, camarotes e bilhética. (Por isso a época em curso é vital para repor o Sporting nos carris. Manter o interesse e a comunhão entre adeptos e equipa é fundamental, e que eles se prolonguem do final da presente época ao inicio da próxima).
“'Naming' para Alvalade está a ser trabalhado. É uma matéria que tem de ser avaliada em função do mercado e das oportunidades, de investidores que podem querer potenciar a sua marca. Tomando como referência o valor recebido pela Academia [1,2 milhões de euros/época], gostaria de multiplicar por dez [12 milhões de euros/ano]. (Uma matéria que certamente será tudo menos pacifica entre sportinguistas mas cuja ponderação terá que ser feita mais tarde ou mais cedo, face à necessidade de diversificar as fontes de receitas).
“No Sporting não basta ter parceiros, tem de haver liquidez diária. Podemos ter um parceiro que contrate o melhor jogador do mundo, mas se o salário for superior à média que temos, desarticula o plantel. Depois é preciso ter dinheiro para pagar os salários que os fundos não pagam. De que serve ter enormes fundos e parceiros se isso não influencia o dia-a-dia? É uma falsa promessa falar em fundos, isso não existe. Só ajudam na compra.” (Como é óbvio, os fundos são um recurso a que já chegamos tarde e que não resolvem o principal problema que é a escassez de receitas e consequente falta de liquidez).
"Tenho de ir à procura de capital para a SAD". (Este será um dos problemas que marcará a agenda do Sporting nos próximos tempos. Detendo 70% do capital da SAD, como poderá o Sporting chamar a atenção dos investidores sem perder a autonomia e a capacidade de decisão é uma pergunta difícil de responder. E, como se vê pelos exemplos de Man City, Málaga e PSG, o dinheiro está longe de resolver todos os problemas…).
"Pavilhão tem sido dificuldade adicional. Já não tem a ver com aprovações, mas com o aumento do endividamento do Sporting e a necessidade de criar condições para um pavilhão autopagável. (Um assunto onde se perdeu demasiado tempo e oportunidades nos últimos anos e que, no actual contexto económico, se afigura de resolução muito difícil).
“O Sporting sabe que necessita de aumentar as suas receitas, o que é diferente de ter de aumentar as suas receitas com a venda de activos. Queremos ganhar sustentabilidade e fazer com que a equipa do Sporting, a sua marca, tenha um valor diferente do que tem.” (O discurso correcto, para por em sentido potenciais interessados nos nossos jogadores, embora se afigure difícil não vender ninguém no fim do ano por uma boa proposta, mesmo que abaixo do valor da cláusula de rescisão).
O grande negócio que (o Sporting) fez foi a equipa que tem. Desde a equipa técnica, à estrutura do futebol e Direcção. Tudo o resto aconteceu com segurança, e os jogadores são uma consequência. Não tenho um jogador de que diga que estou arrependido de ter contratado. (Isto hoje parece-me consensual. Mesmo os jogadores que têm jogado menos quando têm entrado tudo têm feito para dar o seu melhor contributo e quando não são chamados não têm criado problemas. A comunhão de ideias e objectivos tem sido uma das imagens do actual grupo de trabalho)
eu li no site do jogo a entrevista completa. acho que foi uma entrevista segura e sem rodeios, em que disse o que tem de ser dito e na forma como tem de ser dita, ou seja sem ter ilusoes e realista das dificuldades economicas actuais
ResponderEliminarTambém li nesta entrevista o que o nosso presidente disse sobre fechar o fosso do estádio e gostava de saber melhor como será esse projecto... Existem mais algumas informações?
ResponderEliminarApenas para vos desejar um excelente ano novo gente boa
ResponderEliminar& um muito obrigado pela existência deste magnífico blog. Uma referência na blogosfera leonina
beijos & abraços
Claramente melhor que a do Expresso, mas também não seria difícil. A do Expresso não focou a profissão actual mas a personalidade de Godinho Lopes e a do OJOGO foi mais ao Sporting.
ResponderEliminarGostei da referência às carreiras que o jovens podem ter dentro do clube (há essa noção para uma longevidade produtiva para clube e atletas), mas gostaria que tivesse sido mais aprofundada.
Também gostei da forma como respondeu às renovações de Patrício, Carriço e Polga, mas gostaria de saber porquê que Pereirinha e Adrien ainda não o fizeram.
O Pavilhão é como o Izmailov. Infelizmente, não conto muito com isso. Se der, fixe. Se não tiverem lá, ao menos não me iludi (a desilusão é menor).
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ResponderEliminarAs entrevistas abordam a generalidae dos temas relevantes para o Sporting, desde a suas situação financeira até à competitividade da equipa, não esquecendo as questões relativas ao património.
ResponderEliminarNeste campo, para além dos abordados, penso que a questão da arquitectura do estádio deveria assumir-se também como um tema central. Goste-se ou não da arquitectura, a verdade é que o estádio é de péssimo desenho para algo essencial - O Relvado.
Os sucessivos problemas do relvado são algo que nos prejudicam financeiramente e desportivamente. O que podemos fazer? Como corrigir em definitvo este problema? Alguém duvida que este estádio tenha uma vida útil tão longa como a do anterior estádio?
se tiver razão, estaremos perante um gigantesco problema.
Um Óptimo Ano Novo para todos.