Sabe a quem pertencem os jogadores do Sporting?
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O PÚBLICO questionou a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) para saber se existe alguma incompatibilidade, algo a que o órgão regulador respondeu negativamente: "Nessa data, António Fernando Moreira de Sá não integrava os órgãos sociais da Futebol Clube do Porto - Futebol SAD." O PÚBLICO também tentou obter uma explicação do FC Porto (que recusou responder a perguntas) e de António Moreira de Sá, que não se disponibilizou para falar.
As movimentações em torno do passe de João Moutinho, porém, não ficaram por aqui. A dado momento (entre Outubro de 2010 e Agosto de 2011), esses 37,5% dos direitos económicos de Moutinho foram cedidos ao Soccer Invest Fund, um fundo registado na CMVM cujos nomes dos accionistas não são conhecidos publicamente (só o regulador sabe quem são). Este fundo é gerido pela MNF Gestão de Activos, uma empresa que tem entre os seus administradores João Lino de Castro, que à data da venda de Moutinho ao FC Porto era secretário da mesa da assembleia-geral do Sporting e em Setembro de 2010 foi cooptado para a administração da SAD leonina, então presidida por José Eduardo Bettencourt. Em Agosto de 2011, o Soccer Invest Fund vendeu 22,5% do passe de Moutinho ao FC Porto, por 4 milhões de euros, ficando com 15%.
Também aqui a CMVM recusa a existência de qualquer incompatibilidade, até porque "na data em que foi comunicada esta transacção entre o Soccer Invest Fund e a Porto SAD, João Lino de Castro não integrava os órgãos sociais da Sporting SAD." O PÚBLICO também tentou ouvir o ex-administrador leonino, mas não foi possível.
Na cada vez mais comum partilha de direitos económicos de futebolistas com terceiros podemos distinguir dois tipos de parcerias: uma são os fundos de jogadores registados na CMVM e as outras são negócios pontuais com empresas nacionais ou estrangeiras.
O Benfica e o Sporting constituíram fundos próprios, que são supervisionados pela CMVM e ambos geridos pela Espírito Santo Activos Financeiros (ESAF), uma empresa do BES. Publicamente não são conhecidos os investidores nestes dois fundos, embora a ESAF e a CMVM saibam quem são.
No caso do Benfica Stars Fund (40 milhões de euros), o relatório e contas revela que há seis investidores, um com mais de 25%, quatro com quotas entre 10 e 25% e um com uma parcela abaixo dos 2%. Oficialmente sabe-se apenas que clube da Luz detém uma parcela de 15%.
Paulo Gomes, membro do conselho de administração da Ongoing Internacional, admitiu ao PÚBLICO, em Outubro de 2009, que a empresa detinha uma participação no fundo do Benfica. "Temos uma participação razoável, mas não somos o maior", afirmou o administrador - fonte do mercado estimou que a participação rondará os 15 a 20%. Joe Berardo também confirmou ao PÚBLICO a sua participação, afirmando que investiu inicialmente um milhão de euros e que não tem a certeza se reforçou essa parcela. "Só sei que não vendi. É um investimento cultural."
Pouca informação
No caso do fundo do Sporting (15 milhões de euros), não se conhece nenhum investidor e o número de participantes só será divulgado no primeiro relatório e contas. Já o FC Porto cedeu os passes de alguns jogadores ao já referido Soccer Invest Fund, que tem apenas um investidor, segundo o último relatório e contas.
Fora da alçada da CMVM, embora o regulador supervisione os negócios efectuados pelas SAD, há várias parcerias. O Sporting cedeu parcelas dos passes de sete jogadores a um fundo sediado na Irlanda, que está ligado a Peter Kenyon, antigo director-geral do Chelsea e Manchester United.
O FC Porto, no entanto, é quem tem mais ligações ao exterior. Segundo os dados recolhidos pelo PÚBLICO, o clube portista tem, ou teve, parcerias com empresas sediadas na Holanda, Luxemburgo, Malta e Inglaterra. Em muitos casos, sabe-se pouco sobre estas empresas e o clube também não fornece dados sobre os parceiros. Questionada pelo PÚBLICO sobre se investigou as empresas que têm sido parceiras das SAD portuguesas, a CMVM respondeu que "não se pode pronunciar sobre esta matéria".
A Pearl Design Limited, sediada em Inglaterra, tem 25% do passe de Walter e é gerida por um empresário português, Mário Jorge Queiroz Castro, igualmente administrador de várias empresas em Espanha e Portugal. A agência Bloomberg chegou mesmo a noticiar que a UEFA estava a investigar este negócio, algo que foi depois desmentido pelo organismo que gere o futebol europeu.
O parceiro mais recente do FC Porto é o Doyen Group Investments, uma empresa sediada em Malta, que adquiriu 33,3% dos passes de Mangala e Defour. Esta empresa está ligada ao Doyen Group, a quem o PÚBLICO perguntou quem são os seus accionistas, mas não obteve resposta. O Doyen Group patrocina as camisolas de alguns clubes espanhóis (Getafe, Atl. Madrid e Gijón), tendo igualmente, segundo o diário espanhol El País, adquirido parcelas de jogadores como Pedro de León, Negredo, Reyes ou De Gea. O presidente do Getafe chegou a dizer publicamente que este fundo é gerido por empresários portugueses, mas não se sabe quem são. De outras empresas, como a Gol Luxembourg (que comprou 35% de James Rodríguez), a Maxtex (que deterá 5% do passe de Hulk) ou Jazzy Limited (que teve metade de Ramires), não foi possível recolher muita informação, mesmo em bases de dados de empresas.
Lucros?
O recurso a fundos e parcerias é, acima de tudo, uma forma de obter liquidez, numa altura em que o crédito bancário escasseia. No que diz respeito a lucros, há negócios e negócios. O Sporting, por exemplo, lucrou com a passagem de Jeffren, Capel e Rinaudo para o seu fundo. Por exemplo, o clube de Alvalade comprou o passe de Jeffren em Agosto de 2011 por 3,75 milhões de euros e vendeu 25% ao fundo, em Setembro, por 1,375 milhões - se fosse ao preço de compra, um quarto do passe valeria somente 937.500 euros.
Em sentido contrário, o Sporting pagou 8,850 milhões de euros por Elias, mas a metade vendida ao fundo Quality Football Ireland valeu apenas 3,850 milhões (e não 4,425 milhões). O FC Porto, por exemplo, vendeu 37,5% de Moutinho por 4,125 milhões de euros em Outubro de 2010 e quase um ano depois, quando recomprou 22,5%, já o fez por quatro milhões, bem mais caro do que havia vendido.
Na análise que fez aos relatórios das sociedades anónimas desportivas (SAD) do Benfica, FC Porto e Sporting e aos comunicados enviados à CMVM, o PÚBLICO deparou-se com algumas dúvidas sobre o paradeiro de partes de passes de jogadores dos três "grandes". É o caso de 5% de Hulk e 10% de James Rodríguez (FC Porto), 30% de Nélson Oliveira e 15% de Matic (Benfica), bem como de 20% de Rui Patrício, 20% de João Pereira e 25% de Matias Fernández (Sporting). Vamos por partes. O FC Porto detinha 90% de Hulk mas no último relatório anual aparece apenas 85%. A explicação é que os restantes 5% terão sido cedidos à empresa Maxtex, embora o clube não comente oficialmente. No caso de James Rodríguez, o FC Porto comprou 70%, depois vendeu 35% e recomprou 30%. Ou seja, deveria ter 65% e não os 55% que constam do relatório. No Benfica, o clube esclareceu que agora possui 100% de Maxi Pereira (antes só tinha 70%), mas não fez comentários sobre Nélson Oliveira e Matic. O clube da Luz tem 45% do passe do português, o fundo de jogadores tem 25%, mas não se sabe de quem são os restantes 30%. Já no caso de Matic o Benfica só tem 85%. Jardel também era uma das dúvidas (o clube da Luz tem 50%), mas um responsável da Traffic explicou ao PÚBLICO que a outra metade é do Desportivo Brasil, um clube detido por esta empresa que também administra o Estoril Praia e agencia vários jogadores. Já no caso do Sporting, o clube detém 80% dos passes de João Pereira e Rui Patrício, desconhecendo-se de quem são os restantes 20%. O mesmo acontece com Matias Fernández. Em Junho, o Sporting tinha a totalidade dos direitos económicos e no relatório do primeiro trimestre desta época comunica só ter 75%. O PÚBLICO tentou obter uma explicação da SAD leonina, mas não foi possível. A CMVM, por seu lado, diz que as SAD não são obrigadas a comunicar ao mercado as partes dos passes que não detêm. Ela só é feita quando a transacção tem impacto nas contas da SAD H.D.S.
Depois disto tudo interessará dizer que este expediente das percentagens dos passes tem os dias contados. E lá voltamos nós à formação de jogadores! Não há outro caminho para os clubes vendedores na Europa, pela simples razão que haverá sempre clubes compradores no mesmo espaço. E quem dita o que cada um é será sempre a capacidade de gerar receitas! Mesmo em monstros como o United 50% dizem respeito aos adeptos, ao fim e ao cabo o que faz a bola continuar a girar. Não há volta a dar a esta realidade! A grandeza dos clubes sempre esteve e estará na fidelização da sua massa adepta!
ResponderEliminarLdA, bom post.
ResponderEliminarNa indústria actual do futebol, pior no estado actual da economia mundial não há soluções simples.
Defendi em tempos que esta seria a alternativa para obter liquidez e reduzir passivo por oposição a vender património. Por duas singelas razões, património do Sporting localizado junto ao Estádio José Alvalade, no Campo Grande, Lisboa, Portugal só existia e só vai existir aquele é impossível criar outro, Velosos/Moutinhos/Liedson há muitos e nós temos uma fábrica deles são para ser rentabilizados desportivamente e transaccionados com a maior mais valia possível. Ainda uma terceira razão o nosso core business é (ou devia ser...) desporto e negociação de direitos desportivos, não é (nunca foi, nunca será) compra e venda de imobiliário.
O nosso património era uma garantia de solvência o clube, devia viver apenas do seu negócio.
Hoje já sem segurança para erros resta apenas ter sucesso no nosso negócio este tipo de operações vão ser mais vulgares e para já pouco rentáveis (estão a ser utilizadas para sobreviver) se conseguirmos evoluir economicamente é o modelo correcto se não... Não há alternativa.
interessante, mas bonito, bonito era a entrevista completa do schaars ao jornal sporting! Não se arranja? É que de numeros tou farto de falar, parecemos um banco.
ResponderEliminarO jornal do clube custa 1€!
ResponderEliminarLeon, Queres ler a entrevista vai comprar o jornal.
ResponderEliminarNo dia em que um blog Sportinguista colocar o jornal do clube para todos lerem é o dia que deixo de ler esse blog.
Quando é um jornal como a bola ou o record até concordo que é o que merecem, mas entrevistas ao nosso jornal quem quiser que o compre.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarJorge Placido e anterior:
ResponderEliminarInfelizmente o jornal do Sporting não chega a todo o lado e em particular ao estrangeiro, onde residem muitos sportinguistas.
Quando coloco aqui cópias de entrevistas dos jornais, sejam quais forem, é essencialmente a pensar neles que o faço.
É sabido que a net mata os jornais, apesar de muitos deles só se poderem queixar do mau jornalismo que oferecem aos clientes.
ResponderEliminarA forma mais inteligente de ler o jornal do clube é por assinatura, em qualquer lado! E o jornal do clube é património a preservar.
Da mesma forma que não podemos exigir bons jogadores se nem ao estádio vamos.
Tudo clarinho como a água...
ResponderEliminarQUAL A DIFERENÇA ENTRE 16 E 16?
http://quintadelduque.blogspot.com/2012/02/qual-diferenca-entre-16-e-16.html
Passe a publicidade, embora totalmente legítima, aproveito para dizer que o Jornal do Sporting é hoje uma publicação cuidada, com óptimo aspecto gráfico e conteúdo bem trabalhados.
ResponderEliminarExiste uma boa cobertura de temas de fundo, o últimos jogos disputados, a antevisão dos próximos jogos, as camadas jovens, as modalidades com destaque significativo, como merecem e o chamado Mundo Sporting, ou seja, a actividades dos núcleos e de tudo o que gira à volta do clube.
A melhor forma de o consumir e ajudar o jornal é subscrevendo-o. Custa 45 EUR por ano e é entregue na caixa de correio. Nunca falha.
Pedindo desculpa pelo off-topic, gostaria de informar o aparecimento de um novo blogue leonino:
ResponderEliminarBoca de Leão
http://bocaleao.blogspot.com/
Obrigado!
Não quero o jornal inteiro, queria ler a entrevista apenas.. Como sócio e residente a 400 km de lisboa já gasto imenso dinheiro com o clube para ir ver jogos, não tenho possibilidades de dar mais 45 euros por ano. É uma pena que em 500 blogs do Sporting, não haja um que publique a entrevista! ele ou é contas, ou é noticias requentadas, ou é polemica e bota abaixo. Apenas queria um pouco de bálsamo verde para a alma.
ResponderEliminarDesde já um obrigado ao A Norte, por algumas entrevistas dadas a pasquins que são aqui apresentadas.
SL
Nem de propósito, parece que hoje já se vendeu mais um pouco do futuro:
ResponderEliminarhttp://www.record.xl.pt/Futebol/Nacional/1a_liga/Sporting/interior.aspx?content_id=743783
Desta vez foi 5% do Betinho, 5% do Chaby, 4% do Arias!
Já agora deixo aqui também outro vídeo, que se calhar pouca gente viu:
http://www.youtube.com/watch?v=FgwWEfWU8L4&feature=digest_wed
A gestão de activos da Sporting SAD está a ultrapassar qualquer limite de mediocridade.
ResponderEliminarQuais os objectivos a curto prazo destes gestores? Já nem pergunto a médio ou longo prazo, não me iludo...
"Reflexivo Leonino disse...
ResponderEliminarA gestão de activos da Sporting SAD está a ultrapassar qualquer limite de mediocridade.
Quais os objectivos a curto prazo destes gestores? Já nem pergunto a médio ou longo prazo, não me iludo..."
Para a crise actual conheces outra?
APRESENTA-A!...
Anónimo das 11:10,
ResponderEliminarNão querendo expandir o âmbito da resposta a passados alternativos mais ou menos distantes, parece-me que a primeira prioridade da Sporting SAD deveria ser criar valor. Nunca desbaratar activos estratégicos mal avaliados (Betinho por 1M€?).
Criar valor desportivo para o futuro, criar valor para os seus adeptos e sócios, criar valor para os seus patrocinadores. Por exemplo, implementar uma política de estádio cheio que permitisse ter casas a rondar os 35-40 000 espectadores. Custasse o que custasse do lado da bilheteira.
Já que estamos a enveredar por uma estratégia de aposta forte, porque não comprometer a receita de bilheteira no presente para apresentar uma imagem mais forte junto dos patrocinadores e contribuir para o reforçar do espírito sportinguista com casas cheias apesar da crise económica e desportiva?
Ter 40 000 pessoas a pagar um preço médio de 5€ é incomparavelmente melhor que ter 20 000 pessoas a pagar um preço médio de 10€, mesmo com igual receita de bilheteiras.
O grande problema da alienação de passes de jogadores, principalmente dos mais novos, é também a razão pela qual são um bom negócio para os fundos: têm potenciais de valorização excelentes.
O que significa que se um clube entregar os passes dos seus elementos mais valorizáveis está a perder economicamente algo que só poderá reaver se tiver sucesso desportivo, o que é cada vez mais difícil de fazer tendo em conta o espaço de manobra e a margem de erro disponível.