Do Mundial para Alcochete
A discussão parece estar agora centrada no seleccionador e nas suas capacidades. Discussão essa que tem por base o percurso do seleccionador e o legado do seu antecessor. Não creio que o trabalho de Queiroz tenha a temer com as comparações, seja com Scolari ou mesmo com os que o antecederam. Cumpriu, quanto a mim todas as obrigações, não dispondo, a meu ver, de tanta qualidade em quantidade para recrutar como os anteriores seleccionadores. E foi a qualidade do seu trabalho que fomentou uma das gerações mais talentosas do futebol nacional, que não chegou a gerir na plenitude dos seus recursos.
É minha opinião que o futebol nacional tem muito a ganhar com a sua capacidade de trabalho e organização, mas nem tanto com ele sentado no banco. Se pudesse fazer uma parábola sobre Queiroz, diria que o vejo como um excelente despenseiro, que domina todos os segredos do economato, mas que não resiste á tentação de ser cozinheiro, lugar de maior exposição. Mas na hora de temperar (fazer equipas, ler o jogo e alterá-las em conformidade) falta-lhe a mão certa. Uma questão que o seu amor-próprio terá de resolver: ser um excelente despenseiro ou um bom cozinheiro.
Neste momento é indiscutível que Queiroz conseguiu já o mais “fácil”, que é dotar a equipa de uma estrutura defensiva sólida e se entendermos como fácil estar 18 jogos sem perder e 3 jogos num Mundial sem sofrer golos. Ser a equipa mais concretizadora é igualmente excelente, mas há uma sombra nesses números: foi alcançada ante a equipa mais fraca, num jogo só. Aos melhores não conseguimos marcar. Parece pois faltar o mais difícil, que é estender a equipa de uma área à outra e marcar. Se bem que para passar “bastará” não sofrer golos e não falhar nenhum penalty…
Por Alcochete já trabalha Paulo Sérgio há uma semana. Ao contrário de Queiroz, não tem passado que lhe pese ou que o recomende. Mas isso pouco ou nada importará se tiver valor. É indiscutível que tem uma tarefa difícil e começou-a da melhor forma, impressionando os Sportinguistas na primeira entrevista. Mas o vento dos resultados leva para longe as palavras e as boas intenções. Ao contrário de Queiroz, não lhe bastará começar a competição com uma boa solidez defensiva. As responsabilidades do Sporting exigem dominar os diferentes momentos do jogo com igual competência, até porque o campeonato, a nossa principal meta, ganha-se ante adversários que recuam atrás da linha da bola. E fazem-no, grande parte delas, com maior eficácia que a Coreia do Norte.
Depois das épocas anteriores terem diluído muito valor e da revolução no plantel em curso, é difícil de avaliar o que se poderia aproveitar de bom para a época já a decorrer. É por isso que aguardo com muita curiosidade os jogos que se aproximam.
Actualização: Paulo Sérgio em conferência de imprensa:
«Moutinho será um dos meus capitães»
«Jogadores podiam ter-se cuidado melhor nas férias»
(conta com Izmailov) «Entendemo-nos às mil maravilhas
Stojkovic não conta e «boa sorte» a Vukcevic
«Via com bons olhos o Hugo Viana»
Rapidamente: concordo com quase tudo salvo a comparação entre Queiroz e Scolari. Scolari tem uma enorme vantagem a nível de resultados e conseguiu algo que CQ não conseguiu e dificilmente o fará: ter a Nação, quase na sua totalidade, a apoiar a Selecção.
ResponderEliminarEm relação a anteriores seleccionadores, Humberto Coelho e Oliveirinha foram quem beneficiaram do melhor momento da geração de ouro.
JVL:
ResponderEliminarpara já CQ cumpriu: Qualificou a equipa para a fase final, e colocou-nos na fase a eliminar, que era nossa "obrigação". Scolari no entanto beneficiou de melhor momento social, melhor momento futebolistico, com a base de uma equipa do FCP formada por portugueses. Em 2006, a sua melhor campanha, pôde beneficiar de um grupo de trabalho com maior qualidade. É indiscutível que tinha outra capacidade para reunir as tropas.
Continuo a pensar que dos 2 grupos que liderou podia ter feito um pouco melhor.
LdA,
ResponderEliminarScolari beneficiou disso, como os anteriores beneficiaram do auge da "Geração de Ouro", como CQ beneficiou de outros factores. Outros tiveram hipóteses de fazer tanto ou melhor que Scolari e não o conseguiram. CQ teve uma fase de qualificação péssima, onde chegámos a estar fora do Mundial.
O que é um facto é que as melhores performances da Selecção foram com o Sargentão.
Não acho que CQ esteja a fazer nada de extraordinário com a Selecção mas espero que consigamos ir o mais longe possível.
JVL:
ResponderEliminarA última qualificação de Scolari, mais ao menos com os mesmos jogadores, foi ao mesmo nível da de Queiroz. E a qualidade do nosso futebol, antes e depois, nunca me deslumbrou.
A mim o que me parece é que a Espanha conseguiu ser campeã da Europa com a sua geração de ouro e nós continuamos sem ganhar nada. Por isso me parece que ao nível dos seleccionadores continuamos sem contar quem consiga potenciar o valor do futebolista português, como Aragonez conseguiu fazer em relação ao espanhol. Por isso digo que o trabalho de Queiroz está ao nível dos seus antecessores, embora seja ainda cedo para a avaliação final.
3 anos para o Alan? Pá, acho pouco!!
ResponderEliminarLdA,
ResponderEliminarSe a qualidade do futebol nunca deslumbrou, a qualificação para a prova nunca esteve em causa com Scolari. Nunca nos vimos (quase) fora dela, como aconteceu nesta com CQ.
Além disso, havia confiança em quem nos dirigia.
Quanto a Aragonés, e se bem me lembro, não era propriamente bem visto em Espanha. Ter ganho o Euro mudou um pouco isso.