Vivo num bairro de 16 moradias, sendo a minha uma das mais vistosas. Rivalizando com ela, há apenas mais duas, formando um trio que concentra em si a quase totalidade dos grandes momentos históricos da vida do bairro. À medida que se desce a rua podemos observar algumas casas interessantes, bem arranjadinhas, mas dessas, a que tem concentrado mais atenções no último ano, é de arquitectura moderna, um aproveitamento original feito pelo Sr. Salvador. Ao fundo da rua, as duas últimas casas são feias e desconfortáveis. Mesmo assim, e estranhamente, há choro e gritos cada vez que os inquilinos são obrigados a sair por acção de despejo.
Mas a conversa que agita o bairro de há um mês para cá recai sobre o quintal do Sr. Vieira. Começou por se comentar à boca pequena que o homem tinha perdido a cabeça, numa viagem a Madrid, não por uma espanhola geniquenta, cheia de salero, folhos e castanholas, ou por ter abafado um saco de caramelos ou colónias Puig num qualquer Corte Inglês. Ah, e a bem da verdade convém realçar que, desta feita, na deslocação ao País vizinho - realço desta feita – não consta que tenha havido qualquer assalto a bombas de gasolina. Isto antes que venha aí
gente mal formada insinuar o contrário.
Bom, não sei onde começou o rumor, mas o que é facto é que a notícia se espalhou: o Sr. Vieira tinha contratado um segurança espanhol, pelo qual havia gasto uma fortuna colossal. Consta também que a intenção inicial tinha recaído num brasileiro, de nome
Bruno, cujo perfil se entendia ser mais adequado à herança genética e às necessidades familiares. Mas parece que os problemas recentes sentidos na abertura de um talho clandestino, vão retê-lo do lado de lá do Atlântico por mais uns tempos. Um rude golpe - ou direi uma profunda catanada? - que não se podia repetir, uma vez que os impedimentos mais ou menos recentes do
ponta-de-lança de Santa Comba Dão, ou do
fura-redes de Telheiras já tinham atrasado a estratégia que se pretendia implementar.
Mas a vizinhança começou a desconfiar. Primeiro por causa de um desabafo do Sr. Costa, que, azul de gozo e raiva, comentou alto e a bom som, (enquanto se supõe que falava ao telefone com o merceeiro mais próspero do bairro, o Sr. Mendes) “oube lá, tu és um sinhore, carago! Óito milhuens e meio por um segurança! Hã, num é segurança? Intõn é o quiê, carago? Hã?! Olha depois falamos, tenho que ir com Nãodinha passear o Boby e o Tareco, porque ando descunfiado do motorista. Porquiê? Lembras-te de ter falado daqueles problemas nas antenas, que num me deixabam ver o Hot, quer dizer a TBI? Pois, desde que a Nãodinha e o Tião saem à noite para cumprar regueifas e só aparecem de madrugada, que comecei a apanhar a Aljazzira sem interferências!
Tudo se começou a clarificar, de repente, nas férias no Algarve da família Vieira. O imaginado segurança não se mexia, a não ser quando o vento soprava. O que, é bom de ver, pode ser bonito se estivermos a falar das saias da Orsi, em particular se estivermos lembrados do vento quente que soprou neste verão e das aulas de física, onde se dizia que as massas de ar quente tem tendência a subir. Mas falando de um segurança? Depressa se verificou que qualquer steward deste País poderia continuar, - repito, continuar – a fazer mais pela segurança de Vieira e respectiva família que o imaginado segurança. Foi aí que o acaso intercedeu em seu favor, da mesma forma caprichosa que um qualquer bolor ajudou a descobrir a penicilina.
Roberto – é esse o nome do segurança - foi chamado à presença do senhor, isto é de Jesus, o capataz da mansão da família Vieira. Para tal teve que atravessar o quintal em direcção aos arrumos onde Jesus, de forma circunspecta, recebia “inline” aulas do programa novas oportunidades. Estava o capataz a finalizar as primeiras linhas da sua redacção, começada 2 anos antes, quando é sobressaltado por enorme alvoroço. Toda a passarada que abundava na propriedade, milhafres, abutres ou simples piscos, fugia em sonora revoada, à passagem do segurança. Jesus, certamente abençoado pelo Espírito Santo, depois dos problemas que teve com o Banco Privado, percebeu finalmente: Vieira, por sua indicação, tinha comprado um espantalho!
Bom, o fim desta história está próximo. Todas as famílias do meu bairro, incluindo a minha têm histórias semelhantes a manchar a reputação, embora sem despender tanto dinheiro.
A solução será, ao contrário do que conseguiriam suspeitar, encontrada no próximo conselho de ministros. Sabemos que o ministério sediado no palácio das Necessidades – que nome tão apropriado quando se contam histórias do Sr. Vieira – já fez as primeiras diligências no sentido de devolver o espantalho à procedência. A razão deste envolvimento ao mais alto nível é mais que justificada. É que, de há um mês para cá, cada vez que se pronuncia o nome Roberto o nível de absentismo no País aumenta, as chamadas caem no INEM mais do que os prédios no Haiti, as urgências dos hospitais apinham-se como pulgas nos cães vadios. Ainda agora, confidenciava a um amigo, via telefone que ia fazer um post sobre o Roberto e, na casa ao lado, a do sr. Vieira, ouvi o baque surdo de mais um corpo tombado, transido por um chilique.
Muuuuito bom! :DDD
ResponderEliminarLOL! mil xs LOL!
ResponderEliminarDigno do mestre! :D
(Só faltou um bigode e umas orelhas no boneco, carago!)
Vá lá, LdA, lê a caixa de comentários da posta anterior e satisfaz o meu desejo (hmmm, isto não soou lá muito bem...)
ResponderEliminarBrilhante!!!!!!!!!!!!!!
ResponderEliminarFaçam uma assembleia geral de condóminos para expulsarem tão má vizinhança!
ResponderEliminarParabéns pelo post. Muito bom.
Muito bom post...é só espero que a noticia que vão emprestá-lo seja totalmente falsa...eheheheh
ResponderEliminarSL
LdA
ResponderEliminarSabes como é... Os novos ricos quando se apanham com dinheiro é só luxos.
Falsos ricos...
ResponderEliminarA PROPÓSITO DAS TOALHAS ATIRADAS AO CHÃO!
http://conselholeonino.blogspot.com/
Sabes o que eu te digo: deixa-te de poesias e dedica-te a esta pesca. Mt bom!
ResponderEliminarEh lá! Queres ver que o Mestre Bulhão era o LdA disfarçado? :)
ResponderEliminarExcelente texto!
Muito bom LdA.
ResponderEliminarAinda este fds, num grupo de 6 (2 do SCP, 2 do Vitória e 2 do slb) se comentava que por 8.5M€, só não se conseguia ir buscar um GK de topo (Buffon, Júlio César, Casillas, etc.).
Por mim, que continue por muito tempo.
E o sr. Costa, que acaba sempre por passar mais despercebido na coscuvilhice do bairro, também teve dificuldade em assinar contrato com o seu novo empregado de churrasco. 1 mês? Não costumam levar tanto tempo...
Brutal LdA.
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