Na grelha de partida

Começa já hoje a Liga Zon Sagres mas é ainda difícil fazer uma análise definitiva da valia dos plantéis. O mercado permanecerá aberto ainda mais 20 dias, o que pode introduzir mexidas substanciais em alguns deles. Face ao que se pode avaliar no momento, ( o futebol é muito o momento) e terminados os “treinos”, a primeira fila da grelha de partida a pole-position está entregue ao SLB. Não tanto por ser o campeão em título, mas por permanecer o principal obreiro da façanha, que foi, de forma indiscutível, Jorge Jesus. No entanto, o primeiro jogo da época lançou-lhe um aviso bem sonoro: a sua equipa continua forte mas já não surpreende tanto, pelo menos perante técnicos argutos como o que teve enfrentar na Supertaça. E são ainda muitas as indefinições que pairam sobre a versão definitiva do plantel, pelo apetite voraz que o mercado revela por alguns dos seus melhores valores.

Ainda na primeira linha, mas com um “segundo tempo”, colocaria o FCP. Noutro clube, a mudança técnica e a saída de um capitão com a preponderância de Bruno Alves, que se estendia do relvado aos balneários, poderia ser equivalente a uma revolução, no sentido de desarticulação ou fragilização das suas potencialidades. Mas a verdadeira estrutura que suporta o clube tem alicerces profundos e nem todos visíveis, embora tenha em Pinto da Costa e seu séquito a sua imagem de marca. O FCP vale sempre mais do que o valor absoluto do seu plantel e do futebol que produz em cima do relvado.

Na segunda linha de partida hesitei, mais pelo coração do que pela razão, sobre quem colocar com o “terceiro tempo”. Tendo ganho a razão, lá ficará o SCBraga, na minha opinião, o campeão do defeso. Vendeu muito bem e caro, comprou tão bem e barato. (Saliento a forma perspicaz como resolveu o problema das laterais defensivas, ganhando muito dinheiro à nossa custa). Independentemente do resultado final, dos quatro candidatos ao título, a estratégia arsenalista é indiscutivelmente a mais inteligente e adequada á realidade do futebol português. Domingos é o principal garante de uma boa época e pela sua permanência e das suas ideias é que não posso deixar de considerar o clube de Braga no rol de candidatos, mesmo correndo por fora. A recente eliminação do Celtic não foi, seguramente, uma casualidade como, estou certo, veremos mais adiante.

Embora o coração me pedisse, não pude deixar colocar o nosso Sporting no último lugar das candidaturas. E as razões são precisamente as inversas do que as atribuí à equipa de Jesus e Domingos: começamos tudo de novo e tendo como agravante partirmos de uma base sem qualquer solidez, se olharmos ao que têm sido as nossas últimas prestações na Liga, e em especial o que foi a época anterior. As alterações substanciais na estrutura do plantel exigem um tempo de consolidação que a competição implacável, que agora se inicia, não dará. E de fora deixo, nesta análise, a justeza de algumas decisões tomadas., por estarem já amplamente debatidas. A consubstanciação da nossa candidatura terá que se fazer mais pelos resultados do que pelas exibições, pelo menos numa fase inicial, para que a confiança sustenha o que deve ser alcançado por via do treino e do método. Por isso, estou em crer que grande parte da nossa sorte se jogará nas primeiras 5 jornadas, em que nos deslocaremos ao campo do actual campeão nacional. Nesse rol junto a próxima eliminatória da Liga Europa, que será, seguramente, muito mais complicada do que a anterior.

A Liga é uma corrida de resistência e por isso a posição na grelha de partida não é decisiva, uma vez que todos começam com zero pontos. Saber lidar com o estatuto de outsider pode ser uma vantagem para nós, sobretudo perante os adversários que nos são inferiores em valor, se eles prescindirem do respeito ou temor que usarão para defrontar os principais candidatos. E é nos jogos com os chamados pequenos que jogaremos o nosso lugar final desta Liga. E o primeiro jogo é de todo decisivo. Jogar em Paços de Ferreira é complicado, porque ao valor do adversário alia-se a dificuldade de um campo impróprio para grandes primores técnicos. Atenuada essa nossa vantagem, teremos que usar, com igual doseamento, de muita abnegação, inteligência, eficácia e paciência. Características essas que costumam distinguir os campeões dos… outros.

Força Sporting!